terça-feira, fevereiro 28, 2006

Os posts estão sem imagens, este não é o meu pc normal, resolvo na quinta... QUE NEURA! :P

Vice-Carnaval

E ontem esteve um dia glorioso. Véspera de Carnaval, céu azul, temperatura amena, perfeito dia de passeio com Sintra no horizonte. Destino, Quinta da Regaleira, local excêntrico de simbologia mística, espiritual e religiosa, concretizada nos finais do século XIX inícios do século XX. Tinhamos tempo, fomos almoçar. Que raio de local papa-turistas em que encalhámos, horas à espera de uns pratos do dia, que ainda discutiam comigo três horas depois de ingeridos, com um lombo de porco a saber a peixe (provavelmente por ter o mesmo molho que o salmão) e uma tarte de maçã que precisou ir ao microondas - e que mesmo assim ainda estava congelada no centro! Infeliz repasto de novo a caminho, já atrasados chegámos pouco depois da hora.
Já perdi a conta ao número de visitas que lá fiz ao longo dos anos, a última das quais com a minha classe de Yoga onde se fez a ponte entre os princípios postulados neste jardim temático e os princípios orientadores do Yoga. Desta vez não foi exepção, aprendi algo novo, pequenos pormenores, mas foi o pior de todos os guias, céptico, desinteressante, passando por cima de uma série de coisas que a Quinta tem para dar e desvalorizando com um tom depreciativo os aspectos mais controversos. Seja como for é uma visita que merece sempre ser feita.
À noite jantar lá em casa, pato assado (para o diabo com a gripe das aves e os 90 mortos desde o início da "pandemia" - devem ter morrido mais pessoas engasgadas no mundo em ossos de frango no mesmo período de tempo). Para sobremesa as famosas (para quem conhece a minha mãe) taças Ninette, com chocolate amêndoa e rum... Em primeiro lugar alguem me explica como se tiram o raio das penas de um pato que parece não ter outra coisa no corpo? Adiante, problema resolvida, forno com o bicho, e com o medo de o queimar deixei-o quase três horas a cozinhar em forno brando, mas valeu o esforço, no final estava comestível. A fome não era muita, entre pão, tostas, queijos e vinho tinto, foi-se enganando o estômago. Foi a inauguração, com visitas, da minha mesa de jantar apesar de ainda não ter as cadeiras...
Um dia de férias que mereceu o nome...

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Walk the line in Munich

Fim de semana de Carnaval e a perseguição continua. Olhei para o cartaz de cinema e tinha doze (!) filmes para ver, como tenho andado lento a apanhá-los, eles multiplicam-se e ameaçam vencer este pequeno jogo de gato e rato. Este fim de semana apanhei mais dois, e dos gordos, nomeados para Oscares e multi-premiados.
Comecei com Walk The Line do James Mangold, com Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon. Ambos são sérios candidatos ao Oscar de Melhor Actor e Actriz respectivamente, e Whitherspoon aparece inclusivé como a mais séria candidata da lista ao contrário do seu parceiro que deverá perder para Philip Seymour Hoffman em Capote. Walk the Line é um biopic que narra a vida do cantor Johny Cash e faz lembrar demasiado Ray do ano passado. A mesma construção narrativa, a mesma reprodução plástica por parte dos actores, até a história, a morte do irmão em ambos os casos, os problemas com drogas, as relações amorosas com pessoas que fazem parte do tour. É tudo demasiado parecido e demasiado longínquo. O filme não é mau, mas sai-se com a sensação de que se não conhece os personagens envolvidos, sabe-se os pontos altos da vida mas não se conhece realmente as pessoas, como se tivessemos apenas lido as parangonas dos jornais que contam esses mesmos pontos altos. No fim de contas quem é aquele homem, para alem daquilo que é já domínio publico? Como personagem de um filme é bi-dimensional. É um risco eu sei tentar ir mais alem com um homem que morreu apenas há dois anos e foi bem conhecido, mas do ponto de vista cinematográfico empobrece o filme.
Munich de Steven Spielberg conta a história da reacção de Israel ao atentado dos Jogos Olímpicos em Munique onde 11 atletas judeus foram mortos por terroristas palestinianos. Logo a após foi ordenada a morte dos responsáveis por esses atentados. Acima de tudo este é um filme, como todos os filmes de Spielberg, sobre pessoas, sobre gente normal colocada em situações extraordinárias, e tocante a vários niveis, interrogando-se, sem nunca tomar partido, sobre os imensos dilemas humanos e morais que tal situação coloca. Spielberg coíbe-se de fazer espectáculo (como é tambem seu cunho) nesta fita, como que se tolhido pessoalmente pela temática tão sensivel. No entanto apresenta-nos um filme poderoso, surpreendente, emocional e complexo, filmado com a mestria de quem já esqueceu mais sobre cinema do que a maioria dos cineastas alguma vez soube. Sem dúvida um dos filmes da temporada.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Before Sunset

Há quase uma década vi um filme chamado Antes do Amanhecer, realizador desconhecido e com um rapazinho que eu conhecia apenas do Clube dos Poetas Mortos, Ethan Hawke. Era uma pequena produção, uma história de amor de final indeterminado acerca de dois jovens que se conhecem numa viagem de comboio através da europa.
Before Sunset - Antes do Anoitecer, é a continuação desse filme, dez anos mais tarde, quando os dois se reencontram em Paris, por mero acaso.
É desde já uma delícia poder gozar da simplicidade de dois actores e uma câmara em suave deambulamento pela cidade. Ambos envelheceram e isso vê-se, não é maquilhagem, nem efeito, os actores realmente envelheceram ao ritmo dos personagens que encarnam, ganharam traços, até algumas rugas, ganharam vidas e passado, história e arrependimentos. Nenhum dos dois é já um sonhador apaixonado, apesar de, no fundo, nunca terem desistido do amor. É tocante acompanhar este reencontro, ver como uma noite pode ter um impacto tão marcante na vida de alguem, redescobrir velhos conhecidos com uma cumplicidade nunca perdida. É reconfortante saber que há actores capazes de um à-vontade, de uma naturalidade, uma descontração, sem no entanto serem superficiais nas emoções que transparecem, nem lineares na sua evolução. É bom saber que há quem queira e saiba escrever diálogos que nos prendem e cativam, sem grandes divagações ou excessos dramáticos.
Before Sunset é um projecto de conjunto e de um cunho intimista, pessoal, é confortável como uma noite em casa de velhos amigos de sempre... Sejam bem-vindos...

Zero 7


Foi em 2001, andava à procura de um som diferente, que fosse melodioso, suave, interessante. Foi então que descobri Zero 7 com o album Simple Things, recomendado por alguem na Fnac. Aqui fica, Distractions...

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Luz na Cidade

Está a sair de cena esta peça de Conor McPherson, irlandês de 35 anos e já autor consagrado, encenador, argumentista e inclusivé realizador de cinema. Tinha que a ver, compelido por boas críticas vindas dos mais variados quadrantes inclusivé familiar.
Um homem procura a ajuda de um psicólogo quando tem visões da sua mulher morta a vaguear pela casa. No espaço deste consultório desenvolvem-se cinco quadros onde quatro pessoas deambulam entre mágoas do passado, angústia, incerteza, arrependimento e culpa.
O texto é bem conseguido, apesar de desigual, e de não se assistir de uma forma fluida ao evoluir das situações e dos personagens, saltanto de quadro para quadro sem por vezes se sentir a conexão e a ligação entre os vários momentos.
A cenografia é interessante, mesmo que sem primar por uma originalidade extrema.
Agora a grande falha da peça reside na sua escolha de actores. Enquanto que Rui Mendes é credivel e por vezes bastante emotivo, Nuno Gil e São José Correia são pura e simplesmente desastrosos. O primeiro destroi a sua cena a partir do momento em que abre a boca, perguntam-lhe se quer vinho e ele responde "Sim". Uma simples palavra, mas que arruina qualquer hipótese de se levar a sério este homem como actor. O resto é condizente. Já São José Correia, apesar de expressiva fisicamente, é de um exagero dramático desmesurado, gritando e gesticulando as emoções que se devem sentir. Marco Delgado é neutro. Não que seja especialmente mau, é certinho, diz as falas, mas não convence. Foi então que reparei. Quando vi só me apeteceu rir. Ele NÃO RESPIRA!!! Tudo aquilo que o Thiago nos anda a martelar desde o primeiro dia no workshop, respiração. o homem não respira! Bloqueia o ar, as palavras, as sensações e sentimentos, criando um vazio mesmo em frente aos próprios olhos.
Saí desiludido, muito desiludido. Espero que o Beckett na Comuna seja bastante melhor


Conor McPherson, autoria;
João Lourenço, encenação;
Rui Mendes, Marco Delgado, Nuno Gil e São José Correia, interpretação.
de 2005/12/14 até 2006/02/26
Qua a Sáb: 21h30 Dom: 16h
Teatro Aberto
Praça de Espanha
1050-107 lisboa
Telefone: 213 880 096
Internet: www.teatroaberto.com

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Eu estou é com medo da gripe das árvores

Parece que foi detectado mais um caso de gripe das árvores, um carvalho gigante do Uzebaquistão morreu e foi transportado em sacos de super-mercado para um laboratório algures nos arredores de Londres onde lhe foi diagnosticado gripe das árvores.
O problema está a atingir proporções catastróficas e pode dar-se o caso de se transformar numa numa pandemia à escala mundial. A Quercos está no terreno, bem como a Greenpeace, a Associação de Apoio à Vitima, a SPA (sociedade protectora dos animais), a SPA (sociedade portuguesa de autores), a SPA (senhora portuguesa anónima) e as casas do Benfica de Castelo Branco e Freixo de Espada à Cinta. Em declarações a este blog o Ministério do Ambiente e da Saúde, num comunicado conjunto na pele da empresa de limpezas pede calma aos cidadãos. Teme-se que o virus possa mutar e contaminar toda a população de esquilos de Monsanto, com graves repercursões para os restaurantes chineses da área da Grande Lisboa.
Numa notícia relacionada fechou mais uma fábrica de embalagens de pinhão devido à baixa da procura causada por este fenómeno, a noz e o pinheiro de Natal ameaçam tambem ser afectados.
Todas as casas reconstruidas na rua de S. Bento foram queimadas por ordem do Presidente da Camâra de Lisboa após conferência com um delegado de informação médica de uma empresa de Queluz de Baixo, devido à suspeita de terem sido usadas tábuas infectadas com a doença.
Numa notícia relacionada o Chiado voltou a arder, as causas ainda não são conhecidas.
Cinquenta crianças de uma escola de Ranholas foram internadas após usarem lápis com gripe das árvores. As crianças não apresentavam quaisquer sintomas mas foram postas em quarentena por precaução.
Sonae compra empresas de alcatifas.
Tapetes de arraiolos lançam OPA sobre a PT e prometem restruturar a empresa.
Azar bate à porta dos portugueses que, com medo de contágio, deixaram de bater na madeira de cada vez que dizem algo errado.
Restaurantes esgotam mesas de acrilico.
Homem morto por populares em fúria após comprar uma mesa de matraquilhos e outra de snooker para o seu estabelecimento.
Governo sugere a redução no consumo de papel. Acções da Microsoft triplicam em três dias.
Nova vaga de crimes, toxicodepententes assaltam pessoas na rua com pedaços de cortiça.

É por estas e por outras que eu tenho medo é da gripe das árvores...

Confirmação


Mudou o dia, mudou a turma, mudou a sensação, agora começou a sério. Ontem foi a 3ª sessão do workshop de teatro, mudou para terça-feira definitivamente para a Ana conseguir entrar. Somos sete alunos (uma vez mais o número sete) e com o novo elemento fiquei com a sensação de plenitude, de circulo fechado, de grupo completo. Não sei bem porquê mas a entrada dela veio, quanto a mim, trazer qualquer coisa ao grupo, torná-lo mais coeso, como se fosse a pequena peça do puzzle que faltava. Ontem mudaram inclusivé atitudes, as resistências de todos os elementos do grupo começaram a baixar e estamos agora a encontrar finalmente uma harmonia que permite desenvolver um trabalho de conjunto mais consistente, mais pleno. Ontem foi um ponto de viragem, acabou a iniciação, o prazo de adaptação, o perceber o que é que lá estamos a fazer. Ontem começou realmente, com o grupo completo, o processo de transformação em "actores", com todas as aspas e reticências que a palavra me merece.
Foi uma aula fisica, muito fisica, de contacto com o nosso proprio corpo, com o ambiente que nos rodeia, com o corpo dos outros. Conhecer-nos a nós próprios, aprender novas formas de respirar, perceber cada vez mais como, através desta coisa simples e sempre intuitiva que é respirar, conseguimos controlar as emoções, brincar com elas, criar em nós as partituras necessárias para representar, até mesmo encarar a vida de outro prisma, sentir de uma outra forma, viver em consonância conosco próprios, em estado constante de sensação, de sensibilidade, de alerta sensorial.
Comandos, sempre os comandos, fazer os comandos, respirar nos comandos, perceber os comandos, senti-los, interioriza-los e ganhar progressivamente a independência como actor.
E no final, plateau, exercicio de interligação improvisada entre o grupo, de co-relação e co-dependência, de movimento, atenção e reacção.
Mas é dificil, mesmo dificil, entrar no estado certo, é dificil encontrar o tempo e o modo que vai ser exigido de nós. Só passaram três semanas, temos seis meses de workshop e uma vida pela frente. Foi esta a confirmação de um caminho e uma atitude...

terça-feira, fevereiro 21, 2006

5 manias (ao desafio)

Aceito sempre mesmo que não os passe. Portanto Pinky aqui vão as minhas cinco manias... que me corrija quem me conhece...
1 - Mania de falar muito: sem dúvida, gosto de falar, falar, falar, falar, até me doer a garganta, até me pesarem os olhos.
2 - Mania de ir ao cinema: É genético, é deste os meus dois anos, cinema sempre e acima de tudo (teatro tambem, desde os três). Vejo cinema, trabalho em cinema, escrevo para cinema, ouço música e imagino... cinema!
3 - Mania de comer bem - Esta a culpa é da mãe Teresa, uma das, senão A melhor cozinheira que já conheci. Pode ser comida simples, mas que raio, que seja bem feita!
4 - Mania de Lisboa: É e sempre foi a minha cidade, o meu berço de origem. Dos jardins de Belem, aos edificios novos da Expo, mas principalmente do Rio a Alfama, da Assembleia ao Castelo, Lisboa antiga faz parte da minha força vital. Não é por acaso que comprei casa na Baixa...
5 - Mania de amar: Em todo o sentido da palavra. Defendo muito os meus, quem amo e quem me ama, seja familia, namorada ou amigos (mesmo que por vezes pareça mais ausente do que devia para alguns).

E pronto... ficam, com as devidas falhas e reticências algumas das manias que me vieram agora à cabeça. Não me definem como pessoa, mas tambem não fogem à realidade.

Anúnicos pessoais


Ontem fui buscar o carro à oficina mas ainda não estava pronto. Na verdade pronto de vez só hoje mas adiante...
Enquanto esperava fiquei a ler o Record, Benfica e Sporting e yada yada yada. O Record, tal como outros jornais, tem uma secção de classificados, dos quais metade são anúncios pessoais. São brilhantes! Para começar todos parecem ser escritos pelo mesmo gajo e todos usam as reticências de uma forma disparatada! "Loirinha... Bumbum delicioso... Peito 40..." Na verdade não percebo isto, bumbum delicioso três pontinhos??? Devia ser bumbum delicioso ponto de exclamação!! Ou bem que é delicioso ou bem que não é! Este tipo de coisas esgota-se em si mesmo, mas houve duas frases que me deixaram com a pulga atrás da orelha, repetidas várias vezes... "Mulata (três pontinhos) Bumbum firme (três pontinhos) Oral natural..." ?????? Oral quê? Natural? Em oposto a oral sintético? Só depois percebi o que queriam dizer... Já a segunda frase deixou-me um pouco mais perturbado: "Estudante... 19 aninhos... bumbum firme... 2ª oportunidade..." ???? Quê??? Segunda oportunidade? Isso quer dizer o quê? Segunda mão? Cuidado não é virgem? Faz parte de um programa de inserção social após passar anos na prisão? Toxicodependente em recuperação?
Alguem faz ideia? (Ele há cada uma...)

Leu o meu cantinho e ficou interessada na auto-descoberta, noas pequenos passos que estamos a dar. Queria juntar-se a nós mas não podia naquele dia. Então telefonei, escrevi, falei e voltei a perguntar, toda a gente podia para terça. Falei com o Thiago e ele mudou algo de muito importante na sua vida para mudar para terça. Assim hoje temos aula do workshop de teatro com mais uma pessoa que conheci no meu atelier anterior.
Novos ajustes, novas pessoas, novas experiências, mais um passo no processo de crescimento...

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Tentativa de roubo


Sábado duas da manhã... bem... técnicamente era Domingo duas da manhã, vou para o carro para levar a namorada a casa quando de repente... "AH! O vidro!" - a exclamação da Ana devia-se a ter os vidros da porta de trás do lado do condutor completamente partidos. Alguem tinha entrado no carro, tirado o saco com os cabos da bateria do porta-bagagens para o banco de trás, aberto o porta luvas, tirando o pano do pó de lá de dentro e saido sem levar nada. O que me deixa preocupado... será o meu gosto musical tão mau ou tão estranho que não merece um único roubo? Nem um cdzinho? Nada? No meio de mais de 50 titulos à escolha? Bem... adiante. Passo seguinte queixa na polícia, que tem a esquadra duas ruas abaixo do sucedido e nem um único "Sô Guarda" na rua! Bem sei que Sábado à noite se concentram na zona do Bairro mas safa... nem um? Só para fazer figura? Só para que uns gajos quaisquer pensem duas vezes antes de me rebentar com o carro?
Chegado à esquadra sou atentido por um simpático agente que tomou conta da minha participação. Demorou três quartos de hora sim... quarenta e cinco minutos, uma hora menos um quarto para escrever "Senhor tal e coisa na data tantos do tal participou que lhe fizeram isto a este veículo..." Q-U-A-R-E-N-T-A E C-I-N-C-O M-I-N-U-T-O-S!!!!!! E um poster lindo que dizia "Se não fechas essa boca faço queixa de ti à policia!" com o desenho de um queque! Seria um poster sobre violência familiar, mas não percebi o que fazia ali o príncipe da pastelaria tuguesa... Adiante...
Já passava das três da manhã quando saí de lá! Passo seguinte ligar para a companhia. O carro não podia ficar assim na rua, não fosse outro inteligente olhar para aquilo e resolver acabar com o serviço levando o bicho consigo, ou deixá-lo à mercê das intempéries divinas (já agora, foi impressão minha ou no Domingo trovejou para caraças?). Reboque nada, que o carro mesmo assim podia-se conduzir, só restava darem-me um sitio para o depositar durante um dia. O mais perto Sacavém! Olha que bonito! Lá vou eu para Sacavém a meio da noite com chuva e vento e vidros a cair para cima da Ana a cada sobressalto no asfalto (ao menos não me mandaram para a Malveira da Serra, que daqui para Sintra no meio da noite, num barracão perdido na estrada nacional número não sei quê, não me parecia boa ideia).
Zona industrial de Sacavém, ao pé do LIDL, curva e contra-curva perdidos no meio de sítio nenhum. Chegados ao local estacionamos o carro e entramos para os escritórios à espera de um táxi. O homem, sem se fiar na guarda de um pastor alemão com ar mais meloso que o Hello Kitty, manteve-se sempre a dez metros de nós, a fumar cigarros, fazendo conversa nervoso, com uma placa cheia de cinza onde se podia ler: "Proibido Fumar". Verdade seja dita que a minha cara não devia inspirar propriamente segurança, no meio da noite, com chuva, barba por fazer, olheiras até ao queixo, ar pálido e desesperado, rodeados do silêncio dos barracões de armazem. Foi com alívio que chegou o taxista.
Ora bem... este homem era tuguês! Mas um tuguês profundo como julguei que já não existia: baixinho, bigode, cabelinho puxado para trás, calcinha justa anos 70 vincada no meio, cachucho no dedo, com o mindinho esticado tipo "Faxavor ó conlicência, é pá onde?" Prego a fundo! Aquilo era um Tiago Monteiro, aquilo era um Airton Senna, um campeão de rallys, um Colin McRae! E eu com medo pela própria vida!
Chegámos seguros, sãos e salvos, caidos redondos na cama já passava das cinco da manhã... E agora é apanhar o carro, comunicar com o seguro, mandar arranjar... e safa! Que ninguem prende estes gajos!!!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Os Monstros do Id

Uma das coisas que se falou na aula de ontem foi do Id, do Ego e do Superego. Pelo que percebi, explicado por uma psicóloga lá aluna, o Id são os nossos sonhos e ensejos interiores, o Ego são as nossas vontades conscientes e o Superego aquilo que controla essas vontades, que faz com que nos levantemos de manhã para ir trabalhar mesmo que a vontade consciente seja ir para Praga.

Em 1956 foi feito o filme O Planeta Proíbido, um filme de ficção científica com discos voadores e tudo, com um jovem Leslie Nielsen ainda longe dos seus tempos de comédia. Se quiserem vêr o filme não leiam este parágrafo porque vou contar o fim...
Esta fita, que se transformou num clássico de culto, fala da expedição de uma nave espacial a um planeta onde foi montada uma colónia que perdeu a comunicação há muito tempo. Chegados ao planeta deparam-se com dois sobreviventes apenas, um cientista e a sua filha, que vivem com luxo, e que descobriram instalações extraordinárias de uma civilização muito mais avançadas e que, apesar de estar em condições impecáveis e a funcionar, não se conhece vestígio dos seres que antes lá habitaram. Os restantes colonos humanos foram mortos por um estranho monstro que apenas poupou o cientista e a filha e que agora reemergiu estando a colher vidas entre os novos visitantes. A pacífica civilização avançada, que foi exterminada por este monstro, desenvolveu formas de conhecimento elevadíssimo e inclusivé de materialização de objectos apenas com a força da mente, acabando por perder a necessidade do físico. O seu fim foi a sua própria natureza, ao evoluirem desta forma soltaram os monstros do Id, a Besta que vive no subconsciente de cada um de nós e que se materializou destruindo-os. Este monstro agora é fruto do Id do cientista que, sem o saber e sem o controlar, materializou os seus medos e receios através das maquinas que aprendeu a utilizar e que agora voltaram para aniquilar os novos invasores.
O filme é interessante e a temática inovadora para um filme de ficção científica dos anos 50, que elevou a película a estatuto de culto.

Não consigo deixar de fazer um paralelo entre o trabalho do workshop de teatro e este filme. Estamos a querer entrar em contacto com o nosso Id, as nossas emoções, o nosso interior mais profundo. Até que ponto podemos ir? Onde estão escondidos os nossos monstros do Id? Como dizia uma amiga minha "Certos personagens eu não queria representar, e se o fizesse não dava o máximo de mim... por precaução..."Afinal de contas será assim tão certo que o nosso mais íntimo, os recantos mais escuros da nossa alma, o nosso temor, seja algo que deva ser solto?

Aprofundamento

Segunda aula de workshop. Desta vez com mais um elemento que eu já tinha conhecido do meu atelier de teatro anterior. Somos sete, finalmente sete, seis alunos e o Thiago. Seis alunos permite trabalho a pares e sete... bem sete é o meu numero de eleição portanto creio ser perfeito.
Começa a noite com uma conversa descontraida, sentados no chão, ainda antes da aula, o Thiago começa a falar de algo que ele está a escrever e diz ter descoberto o problema das dificuldades de relacionamento entre Homens e Mulheres: Deus! Gera-se a discussão, a conversa solta-se entre amor, casamento, Adão e Eva, compromisso, sexo, relações humanas, constragimentos sociais e expectativas. Ao fim de meia hora o Thiago diz: "Agora pensem em tudo o que foi dito aqui, que eu não vou dizer o nome devido à multiplicidade de temas, e tragam na proxima aula textos e um objecto pessoal sobre o assunto." Sem o saber a aula tinha já começado...
Foi o momento de aprofundar aquilo que se tinha descoberto há uma semana, de controlar e focalizar, de descobrir cada vez mais o papel fundamental da respiração no controlo emocional, no esvaziar da mente, no entrar num estado alternativo de consciencia que nos permite desenvolver o trabalho como actor. Mais um pequeno passo, segundo numa caminhada de pelo menos meio ano.
No entanto, algo que parece tão simples, respirar, já está a encontrar fortes resistências por parte de alguns elementos do grupo. Posições cépticas, de renúncia, objecções quanto à capacidade de efectuar os exercicios, quanto ao espaço onde se faz o workshop, aos comandos dados, tonturas que se sentem durante a respiração, tudo mecanismos de defesa que uma das pessoas activa por sentir algo incomum, invulgar, por se ver a entrar num patamar onde as emoções podem não ser controladas tão facilmente, ou pior, entrar em contacto com elas, aprender a senti-las, manusea-las, enfrentá-las em vez de se resguardar numa capa de indiferença. Só significa que estamos a ir na direcção certa... e apenas na segunda aula...

Coldfinger

Gostei, gostei do ambiente que Margarida Pinto deu ao blog, gostei de Pessoa e gostei da reacção das pessoas! :) Como tal resolvi mander a sonoridade melódica e envolvente, mas agora no projecto que lançou esta cantora: Coldfinger. The Tree And The Bird é do segundo album, primeiro LP (já em CD obviamente, mas Long Play, não sei se há uma designação específica, o outro só tinha 5 musicas), e é uma das minhas suaves e melancolicas melodias de eleição...

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Mesmo no meio das costas! É azar, ontem estava óptimo, fui ao Yoga, saí de lá bem. Deitei-me descansado. Hoje acordo com uma dor enorme mesmo no meio das costas! Nem nos ombros, nem no pescoço, mas no centro, entre as omoplatas, onde não consigo chegar e é dificil alguem massajar. Hoje que tenho o workshop de teatro para o qual quero estar disponivel intelectual, emocional e fisicamente! Bem faço exercicios de relaxamento, bem faço exercicios de respiração, mas está dificil... Azar...

Regresso ao passado

Há tempos escrevi uma posta que criou alguma controvérsia. Com tudo o que se tem passado no mundo hoje em dia, com a discussão gerada em torno dos cartoons de Maomé acho que está bastante actual. Apesar de não ser normal hoje vou relembrar uma posta velha (e que cheira mal). Direito ao insulto.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Justiça Divina

Saidinho da caixa de comentários veio esta suave dissertação. Só não percebi uma coisa, os folhetos do LIDL não serão mais lidos que o meu humilde blog?

"Justiça Divina said...
Pois meu amigo...a escrever desta forma o melhor mesmo é pensares em...quiçá amarrar os dedinhos para sempre e se te der muita, mas muita vontade de escrever...vai à rua e faz desenhos na publicidade nos folhetos do LIDL, assim poupas-te a esta tristeza de escrita e nós à chatice de ter que ler isto!Mas confia, confia porque a Justiça Divina está contigo neste duro caminho...da escrita ou da...pseudoescrita Amen! "

"Quando apanharmos o tio de patins temos que o pintar com batom e rimel!" "Vamos ser más, vamos ser muito mááááááááásssssssss!!!!!"
Com este tom de desafio a pequena Matilde de olhos azuis e sete aninhos inaugurava as mensagens para telemovel para este lado da familia... Não sei se já as mandava à mãe ou ao pai, mas por estas bandas nadas. Com este tom brincalhão surpreendia-nos com um sms para a minha namorada momentos antes de entrarmos no cinema... Sem nunca o dizer, relembrava-nos de uma tarde de patins, passada entre o frio domingueiro do início do ano. Ontem foi a minha vez. Relembrava-me que era dia de S. Valentim, para eu comprar uma prenda para quem de direito. E a mensagem passou. Passou uma ligação criada entre quem só a viu ainda uma vez (bem mais rápida do que eu alguma vez iria supor) e passou o pedido enternecido para que a raptemos de novo para outra aventura tarde fora. Assim vai ser, não provavelmente de patins, mas a menina dos olhos azuis que me conquistou há mais de sete anos, vai ser uma vez mais desviada do cantinho pelo tio que a adora e pela sua nova aliada...

Relendo alguns textos do blog reparei que tenho uma escrita competente, muitas vezes apressada, com erros ortográficos ou de forma, mas competente... Não mais do que isso...

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Valentim

Para mim hoje é terça feira, dia antes da quarta e depois da segunda, a duas semanas do Carnaval. É apenas terça feira e sempre foi. Nunca percebi a moda importada do S.Valentim...
Mais um dia...
Hoje é o dia da farsa, onde se exarcebam sentimentos inexistentes, onde se veste o fatinho poeirento, onde se ouve a musica romântica que já nada significa, onde se finge e se disfarça, onde se força o que não pode ser forçado, onde se esfrega na cara de quem caminha só, o caminhar acompanhado, mesmo que a companhia seja na verdade apenas ocupação de espaço. E vão os brindes e as flores, os chocolates e relógios, os postais e lingerie, os corações cor-de-rosa (tanto cor-de-rosa) o kitsch mais kitsch do mundo, a falta de gosto, a piroseira, e as vendas a metro, os beijos pre-programados, as declarações de amor pelo telémovel a 80 cêntimos cada uma, o carinho inexistente no dia anterior e que se desvanece no dia a seguir, a ânsia, ai que é hoje, ai que é hoje!!! Mais um dia... mais uma data para vender... S.Valentim um santo que no ano 496 foi considerado "...um nome justamente reverenciado pelos Homens, mas cujos actos são apenas conhecidos por Deus..." Tradução: uma fraude, uma lenda popular de que a Igreja se apropriou sem saber muito bem porquê e cuja celebração terminou no Concílio Vaticano II em 1969. Curioso que em 1969 ninguem em Portugal celebrava o S. Valentim mas agora a cultura fast-food, centro comercial, sub-urbana que nos invadiu fez questão de implementar.
Hoje vou mostrar à minha namorada o que sinto por ela... porque é terça-feira, tal como ontem mostrei porque era segunda. E quem sabe se para a semana não vamos jantar só os dois, como se o mundo não existisse... tal como jantámos a semana passada...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Brokeback Mountain

Brokeback Mountain não é o melhor filme do ano apesar de provavelmente ir ganhar o Oscar e ser dono de um parafernália de prémios e distinções. Com isto em mente avancemos.

Num tempo e num lugar onde a relação entre homens não mudava apenas a vida, podia custar a vida, dois cowboys isolados num verão de 63 numa montanha da América profunda, descobrem-se um ao outro e a um amor daqueles que aparecem apenas uma vez.
Ang Lee, realizador camaleão de grandes filmes como Banquete de Casamento, O Tigre e o Dragão ou Ice Storm, volta à ribalta após o pequeno desaire de Hulk, com uma temática controversa, num filme que conta com a colaboração de um dos maiores actores da nova geração Jake Gyllenhaal e com Heath Ledger que tem aqui o mais contido e melhor conseguido papel da sua carreira. Uma película de uma beleza incomum, que toca uma nota sentimental de forma vibrante, com um tom de doce desilusão, de sentimentos amarrados e vidas falsas. Apesar de se demorar um pouco na descrição do dia-a-dia de cada um, consegue carregar-nos suavemente pela dor da separação de um amor sempre adiado, sem nunca se concretizar na sua plenitude.
A ver...

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Descoberta

Primeira aula do workshop de teatro. Local e hora combinados Belém Clube 19h30. Era suposto sermos oito, primeira surpresa fomos só cinco, mas é provavel que sejamos em breve pelo menos seis, eu preferia sete, mas isso é a minha mania dos números. Segunda surpresa, o Belém Clube está em vistoria e tem todas as actividades suspensas durante pelo menos um mês. Ao voltar a entrar naquele pequeno espaço, teatro quase de bonecas, sinto pena, pela sua potencialmente, pela sua beleza, pela sua magia, mas a degradação do local merece as cautelas anunciadas. Problema resolvido, que a casa do Thiago é ali perto e ele tem um espaço aconchegante onde costuma dar aulas individuais. Lá fomos. O prédio é antigo, pequeno, de apenas dois andares numa rua esguia da Ajuda. Remodelado, soalho corrido, pé direito alto, paredes grossas, sala vazia à exepção de dois projectores de chão virados para a parede e seis bancos dispostos pela sala. A casa tem vida, como todas as casas antigas, elas têm história, pessoas viveram e morreram ali dentro, e os locais absorvem de alguma forma as experiências marcantes pelas quais passaram. É por isso que o Chiado tem um sentir diferente de Telheiras, é por isso que uma casa no Bairro não é igual a um condomínio fechado.
A principio tive medo que o grupo fosse pequeno demais, mas depressa percebi que não, que o tipo de trabalho efectuado se coaduna com este ambiente mais intimista. Sentados numa roda começámos por ouvir, perceber o que se ia ali realizar. Não era o que inicialmente se esperaria, os primeiros três meses vão ser focados em algo que não técnicas de representação, ou teoria de palco, vão ser três meses que procuram ir mais fundo, que procuram descobrir mais, três meses que nos vão permitir entrar em contacto com algo mais interior que serve de pedra basilar para todo o trabalho de actor.
Não é facil explicar o que se fez durante as três horas e meia desta reunião, não é facil descrever o que se disse e o que se passou, que fez com que o tempo voasse até depois das onze da noite. O essencial não é a lista de exercícios que fizemos, o aprender a controlar a respiração processo fundamental, nem o aprender a focar o olhar, o outro e a atenção. O essencial não é as demonstrações feitas pelo Thiago, sempre brilhante na composição quase automática de personagens e situações, nem tudo aquilo que foi dito acerca de ser actor, não só em palco mas também como forma de estar aberto e experimentar a realidade de maneira diferente, absorvento as vivências para ter a bagagem necessária para se expressar. O fundamental para mim foi o início de um aprofundamento emocional, um desbloquear, um abrir de portas que é um primeiro passo para ser capaz de um sentir, de uma entrega, de uma liberdade sensorial e expressiva que me permita incorporar mais tarde as técnicas necessárias à arte da representação. Incorporar... foi exactamente isso, a consciencialização do corpo, a interiorização do corpo em oposição à intelectualização como base esteriotipada de apresentar um personagem, uma emoção.
Foi uma noite de descoberta, de mim, dos outros e de um estado alternativo, mais aberto, mais livre, que me vai permitir atingir aquilo que procuro.

Álvaro Campos


A música desta semana é de uma das vozes mais doces que conheço no panorama musical português. É de Margarida Pinto, ex-vocalista dos saudosos Coldfinger, no seu albúm de estreia Apontamento. Chamou-me a atenção para este disco o seu primeiro single, com letra da Álvaro de Campos, apropriadamente denominado... Apontamento! No entanto, após comprar o CD a música que me mais me captou a atenção foi este na Véspera de Não Partir Nunca, com letra adaptada uma vez mais de Álvaro de Campos. Adaptada porque o génio de Pessoa não se traduz facilmente em música por vezes, e foi preciso fazer alguns ajustes... Deixo-vos em baixo com o poema original para que façam as devidas comparações com a suave melodia de Margarida Pinto...


Na Véspera

Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranquilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranquilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens!
Dormita!
É a véspera de não partir nunca!

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Sucesso

Hoje ligou-me uma amiga, está a atravessar uma fase dificil e quis rapidamente contar os últimos desenvolvimentos na sua vida. Apesar disso a primeira coisa que disse quando atendi o telefone foi: "Mas porquê o número quatro?" - ri-me e disse-lhe o motivo do post de há dois dias que foi dos mais comentados dos últimos tempos. Foi um post que causou impacto. Pequeno, repetitivo, sem desenvolver uma ideia ou uma teoria, sem falar de nada em especial e com um significado escondido (bem menos mirabolante do que se possa pensar), mas a verdade é que causou, contra todas as expectativas impacto. Fiquei sem perceber porquê... aliás fico sem perceber o porquê do sucesso de alguns posts, não só no meu bem como noutros blogs. Se ao falar de sexo ou temas controversos o sucesso é espectável, noutros momentos surge como uma total surpresa. E a questão fica no ar... o que é que move os leitores de blogs? Alguem me ajuda? De que é que vocês gostam?

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Amor à Pátria

Era de noite, a Avenida da República não tinha muita gente e eu andava calmamente entre tuneis e serpentinas que as obras do metro originam. Ao descer às tripas da cidade, ainda antes de parar no sinal que o obriga, tive que travar por causa de uma pequena casca de noz, um carro eléctrico que circulava na faixa da esquerda. Pisca para a direita e lá vai um desrespeito ao código da estrada. Chegado ao sinal o dito chega ao meu lado e pára um pouco mais à frente. Volto à esquerda para ultrapassar mas o homem recusa-se a sair do seu caminho, caminho esse, percebi pouco depois, traçado pelo Senhor. Pisca para a direita, segunda ofensa ao código, e enquanto o ultrapassava olhei para dentro do carro. Barba por fazer, ar gasto de alguns anos de vida, mais provavelmente os que aparenta do que aqueles que realmente viveu. Pequena bandeira nacional no tejadilho do carro, boné da selecção, bandeiras nas janelas e um cachecol verde e vermelho no tabelier. Para completar o quadro uma pequena Virgem Maria de plástico guardava serenamente toda a cena.
Confesso nunca ter visto tamanha devoção e tamanho patriotismo, com o clássico toque de adoração cristã.
Perdi-o na bruma da noite por onde certamente espalhou um pouco da sua magia e dos tradicionais valores portugueses. Uma pergunta me resta, será que gosta de fado? No meu imaginário infantil espero que sim, para poder dormir descansado com a certeza que o mundo não está perdido...

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Quatro... quatro mais quatro... vezes quatro... elevado a quatro... e outros quatro... e mais quatro... mais quatro... mais quatro... à potência de infinito... vezes quatro... e mais... e mais... quatro e quatro e quatro... sempre mais quatro... ad eternum quatro... quatro, quatro, quatro...

Caché - Nada a Esconder

É pena... ontem à noite fui ao King para ver se conseguia apanhar o último Haneke, vencedor de vários prémios em Cannes entre os quais melhor realizador, Caché. E o filme não desilude, muito pelo contrário, é subtil na construção do medo de quem misteriosamente começa a receber cassetes de video com gravações de sua própria casa. Este evento, numa família aparentemente estável, moderna, intelectual, vai começar a ter resultados inesperados, não só na natural tensão que este tipo de assédio causa, nem apenas no mistério que gira em torno das gravações e do motivo pelo qual são enviadas, mas principalmente ao nível das relações familiares e humanas. Haneke é muito bom, gere o suspense e o drama pessoal de um forma notável, Auteuil e Binoche são de uma força e contenção impecáveis mas... mas é pena ver um realizador que constroi um edificio e depois não o sabe terminar, que faz um filme, tem uma situação a desenvolve para depois claudicar no último instante... é pena...

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Sala de espera

Ele já sabia o que eu precisava, era só uma receita para fazer umas análises de despiste, que isto da doença do beijo não é de fiar, apesar de me sentir são que nem um pêro e quiçá responsável pela cura de outrém. Senti-me um pouco ridículo por pedir isto a um neuro-cirurgião, e ainda por cima um de renome, que já não é só Dr. já é professor, mais é Professor Doutor, como se por excelência académica a pessoa merecesse o título por extenso. Nunca percebi esta mania, mas temos que diferenciar e a preguiça é muita para arranjar nomes diferentes. Se a moda pegava só os santos tinham direito a nome completo com apelido e tudo, para se ser Miguel ou Joana ou Abrenúncio já era preciso ter alguma dignidade moral, ser pelo menos escuteiro ou algo parecido, restando para os comuns dos mortais o simples MPR no meu caso, que não passam de iniciais. Mas lá estava eu no consultório do Professor Doutor, amigo de familia de longa data, capaz de uma jantarada de alheiras depois de oito horas a operar a cabeça de um pobre TLS ou uma PBD, ou, se fosse dia especial,um Marco ou Maria Claudia. Mas ele não deixou os papeis na recepção, guardou-os com ele por lapso e tive que esperar 35 minutos para que a paciente se despachasse, com o meu Skoda em cima da passadeira com os 4 piscas ligados e um medo de morte que a policia me rebocasse o carro e eu tivesse que pagar outra monstruosidade de dinheiro como a que paguei no sábado por estacionar dois lugares atrás do que podia, numa rua do Chiado que conheço como a palma da minha mão. E lá esperei, e lá ouvi as pacientes a dizer como é bom para alguem com perturbações nervosas ter um animal de estimação,que enquanto a pessoa ralha com ele ao menos se esquece que está mesmo doente... O papel veio, após muito suor e falta de paciência para encarar uma recepcionista que só sorriu quando telefonou para o namorado. Agora faltam os exames... Não hei-de ter nada...

Where The Truth Lies

Quem conhece o suave rendilhar de Atom Agoyan em outras obras como The Sweet Hereafter ou Felicia's Journey, sabe à partida que, apesar de estarmos perante um filme de mistério, a descoberta de quem matou quem é de somenos importância. Construído com uma mise-en-scène cuidada, Where The Truth Lies é um lento saborear da deconstrução de três personagens centrais e da noite que lhes mudou definitivamente a vida. Sem ser brilhante, mantem um ritmo firme, seguro, dando cada passo com uma acuidade dramática muito bem pensada, presenteando-nos com imagens belas, situações de um desenvolvimento inesperado e tocando temas sensiveis que vão para alem da simples descoberta do assassino. Colin Firth e principalmente Kevin Bacon dão-nos um desempenho à altura deste policial, erótico, dramático de um grande realizador.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Memórias de infância

Antes do "Dragon Ball", antes do "Big Brother" e antes dos "Morangos com Açucar" existiu um programa que me marcou especialmente enquanto puto. Era um programa infantil, com marionetes e muita música, mas que não era linear nem básico, havia um grupo de miudos, alguns adultos excêntricos dos quais o Guarda Serôdio me ficou gravado na memória, e havia um manjerico cheio de picos e uma linguagem muito própria que toda a gente parecia perceber. Era para malta nova mas falava de temáticas muito além do trivial que hoje se vê, muito além da simplicidade assustadora com que muitas vezes se estupidificam as crianças. Lembro-me por exemplo de uma música que dizia "Quem sou eu, disse eu, só que ninguem respondeu, ninguem... Mas o que é que me deu para estar hoje assim? Estou aqui se estou... Mas para onde é que eu vou, quem sou? Toda a gente sabe mais ou menos quem é..." São questões a que muita gente ainda hoje não soube responder, que todos nós nos colocamos mais cedo ou mais tarde, e que eram postas a um público que se calhar as sentia mas ainda não tinha a maturidade suficiente para as verbalizar e estruturar desta forma.
Com canções de Sérgio Godinho "Os Amigos do Gaspar" são para mim um marco. Escolhi como banda sonora desta semana não o "É tão bom", música que o próprio Sérgio já voltou a cantar nos seus concertos, mas "A Paixão do Velho Pires, o Marinheiro" onde ele declara o seu amor...
Aqui fica...

Lançamento

Foi na pequena livraria da cinemateca, espaço demasiado exíguo para as pessoas que compareceram, que foi feito o lançamento do Dicionário de Cinema Português 1989-2003. Com a apresentação de João Brites, escolha pessoal de Jorge Leitão Ramos, não só por uma ligação de muitos anos mas tambem por ser alguem que, apesar de ser do meio cultural nomeadamente das artes representativas, não está mencionado no livro por se ter dedicado quase exclusivamente ao teatro. Estiveram presentes familia e amigos, colegas e profissionais da Sétima Arte, inclusivé um grupo de alunos da Marquês de Pombal, onde Leitão Ramos é professor, que foram ver e ouvir o "stôr" de uma forma diferente, num ambiente estranho. Foi uma recepção calorosa, e já os media tinham durante o dia feito uma cobertura interessante do lançamento, rádio, televisão e imprensa dos quais deixo aqui um exemplo. Ficaram as palavras, as fotos e os sorrisos. Resta agora a obra, uma obra de referência maior no panorama audiovisual português.

Gramática

Eu sei que é uma coisinha pequena mas se o feminino de actor é actriz, o feminino de autor não devia ser autriz?

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Mudança


É vox populi que a mudança é algo de positivo, que traz benefícios, aumentos de eficiência, novos conhecimentos e nos torna mais abertos, com uma visão mais plurifacetada do mundo que nos rodeia. Aqui na empresa essa ideia parece ser regra, tenho em média uma mudança de seis em seis meses, infelizmente a mudança é apenas de sítio e mais nada. Agora estou num gabinete fechado com mais dois colegas, cinco janelas e cinco televisões, posters de filmes por todos os lados. Vamos mudar dentro de pouco tempo para um open-space atafulhado de secretárias e, após visita, com um ar-condicionado psicótico de um calor abrasador. Não temos privacidade, nem espaço, nem sitio para colocar nada, muito menos aparelhos receptores de tv fulcrais para o controlo de emissão. Parece que decidem da vida e das andanças das pessoas sem fazer puto de ideia de quem são, do que fazem ou o que necessitam. Secretária e computador assunto arrumado. Mas quando ninguem de direito informa quem deve nem se preocupa minimamente... torna-se difícil...

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

WC


Foi uma revolução ou uma catástrofe natural... Toda a gente do meu piso se mudou menos o pessoal aqui dos Canais Lusomundo e, de repente, à minha volta parecia uma zona desmilitarizada, um local de impacto. Sobramos cinco... últimos resistentes do holocausto, nós e as baratas que se escondem quando passamos. Hoje sobram três, três homens perdidos num vazio de secretárias, num deserto de armários sem propósito e caixotes por transportar. A nossa vez deve ser para a semana, vamos ser desterrados para o prédio ao lado, seguindo a manada do resto da empresa.
As infraestruturas, no entanto, continuam as mesmas, nomeadamente os Wc's são os mesmos, um para senhores e outro para as senhoras que, neste preciso momento, são inexistentes. Hoje passei em frente do dito (do das madames) sem saber porquê parei. O piso está vazio, uma casa-de-banho é uma casa-de-banho seja qual for a marca na porta, principalmente quando todas as pessoas que estão aqui são do mesmo sexo. Pensei em entrar como se transpusesse uma barreira invisivel em território desconhecido e proíbido. Senti-me um puto outra vez, um miudo a entrar pela primeira vez no wc das meninas, numa transgressão digna dos anais. Parei e quase entrei, mas continuei e fui para a do costume. Disse para mim mesmo que era uma estupidez entrar, que estava a ser infantil, que se era igual então mais valia ir à minha. Disse e racionalizei, mas na verdade tive pudor de transpor a barreira, de entrar onde o sinal não deixava.
Num piso de três homens eu voltei a ser atabalhoadamente criança.

Palco - ponto final e virgula...

Foi um final com a primeira vez em palco, certo que o público eramos nós mesmos mas palco mesmo assim. E de repente tudo muda, não sei se é das luzes, da pequena elevação, se das cadeiras à nossa frente vazias dos espectros de outras noites, mas de repente tudo muda por um momento... E cria-se a certeza de querer mais, querer aprofundar mais, conhecer mais, experimentar mais, aprender muito muito mais! Um pequeno palco e tudo muda...
Ontem foi a última aula do atelier de teatro, para a semana começo um workshop de seis meses que se antevê mais intenso, mais dificil, mais sério, com um maior aprofundamento de mim mesmo e anseio com mais, muito mais palco...
Ponto final neste espaço, ponto e virgula neste grupo, que há aqui pessoas de quem não me quero afastar e espero manter contacto, até agora eles foram o meu maior público, os meus maiores fãs.
Isto é apenas uma virgula que o teatro segue dentro de momentos.