domingo, dezembro 24, 2006

FELIZ NATAL E UM 2007 BRILHANTE!!!!!



(...até para o ano...)

sábado, dezembro 23, 2006

Á procura de um pinheiro

Os alunos do primeiro ciclo da Academia de Música de Sta Cecília levaram a cena no Natal de 2002 um musical de José Carlos Godinho, uma história acerca da revolta dos pinheiros que se recusavam a ser cortados para serem árvores de Natal, deixando todos os enfeites indefesos no chão. Em Novembro de 2003 foi feita esta gravação que é perfeita para esta altura.

Senhoras e senhores, meninas e meninos... Broa de Mel.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Improviso


Depois de uma aula de segunda feira completamente virada para o lado físico, onde acabámos a música Deliciae Mae, quarta-feira estava marcada para ser memorável. Última aula deste ano, era onde iriamos improvisar sobre A Ilha dos Mortos de Strindberg.

Relaxamento inicial muito profundo, trabalho físico de memória sensorial sobre um espaço que nos fizesse paralelo com a Ilha dos Mortos e depois utilização de um objecto, pessoa, situação pessoal para ter a sensação geral e específica da cena que iamos representar. Foi mais de meia hora só de preparação para o improviso, e que se revelou fundamental para o mesmo - acreditem, quando alguns actores pedem para não serem incomodados antes de entrar em cena e precisam de alguns minutos de silêncio não é por serem prima-donas, é por ser um factor fundamental do seu trabalho. A aula inteira foi assistir os improvisos de cada um, duas horas de representação pura, preparação, interiorização, e interacção.

É incrivel o nível de esquecimento que se consegue atingir, fechar completamente que estamos numa sala, a rebolar pelo chão, com gente a assistir, e deixar que as emoções fluam, intensas, imensas, a criar naquele momento actores com uma performance genuina e verdadeira. Isso sente-se, isso sentiu-se ontem, e foi memorável.

Morcegos

Vi sábado passado n'O Bando em Vale de Barris a peça Morcegos. Estava em últimas representações (penúltima para ser mais preciso) e sendo eu um sério aficcionado da companhia de João Brites, não podia deixar passar a oportunidade. Produções como Os Bichos, Em Fuga, Alma Grande, Merlim, ou Ensaio Sobre a Cegueira (para mencionar uma ínfima amostra do reportório desta companhia) fazem-me ir a'OBando sempre com a certeza de ver algo original, criativo, diferente, surpreendente, e com as famosas máquinas de cena que são um espectáculo em si só.
Por ser Dezembro a peça teria necessariamente que se desenrolar dentro de portas, neste caso na nova sala que foi construída na quinta. Aqui começa o problema, ainda não vi nesta companhia uma boa peça que seja feita num teatro convencional, vivi experiências fantásticas num comboio em andamento em Lisboa, passeei de noite pelos jardins da Gulbenkian, vi abismado os actores a treparem as paredes do Convento do Beato, ou então ao ar livre em Vale de Barris, mas peças de palco raramente funcionam aqui. Exemplos disso são As Horas do Diabo que esteve no D. Maria II e O Salário dos Poetas, ambas peças menores ou falhadas. Se bem que o brilhante Ensaio Sobre a Cegueira esteve em palco no Trindade, foi conceptualmente pensado para fora de palco, este antes em Palmela e só depois foi adaptado.
O segundo problema é o texto de Jaime Rocha, que se começa com um tom de estranheza e fascínio Lynchiano, acaba por se revelar um esforço frágil, sem nexo, interesse e de alguma pobreza geral.
Para criar uma ambiência diferente, desviar a atenção do vazio da peça e substituir de alguma forma a máquina de cena que, por motivos óbvios de localização, nunca poderia ser de monta, foi escolhido utilizar percussão para acompanhar o desenrolar da acção, como se de um estranho musical futurista sem canções se tratasse. Se bem que o efeito é interessante torna-se monótono e repetitivo ao longo do tempo, condicionando inclusive a performance dos actores.
Por último o estilo de representação muito marcada, vincada que é recorrente n'O Bando, aqui ultrapassa os limites, com caras transformadas em máscaras imutáveis e guinchos histéricos que nos levam a interrogar porque é que foi levada a cena uma peça que estava condenada desde a primeira leitura.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Thank You For Smoking


Thank You For Smoking (Obrigado Por Fumar) é uma sátira sobre o mundo das grandes tabaqueiras e da sua luta constante para evitar enfrentar os problemas causados pelo fumo, mas mais do que isso, é uma sátira sobre o mundo da política, da alta finança, do jornalismo e principalmente dos lobbys que se movem nos bastidores. Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta voz das grandes tabaqueiras, o seu trabalho é não deixar que as vendas de cigarros sejam afectadas pelas esmagadoras provas de que o tabaco mata. Ele usa o seu charme, mas acima de tudo a sua espantosa capacidade de argumentação num trabalho... viciante. As coisas complicam-se quando precisa de ao mesmo tempo ser um modelo para o seu filho, lidar com as perguntas de uma jornalista e lutar contra um senador que vê como sua missão destruir a indústria tabaqueira.
O grande trunfo deste filme, para além da parada de grandes actores com papeis muitas vezes infimos que passam pela tela com um à vontade e uma naturalidade de quem está entre amigos, é o seu argumento. Inteligente, surpreendente, sem nunca se deixar caír nem na moralidade fácil, nem num distanciamento que o destruiria, Thank You For Smoking é um filme que existe num limbo moral, numa linha estreita que o percorre do início ao fim, e onde ninguém é poupado, não existem bons e maus e (pasme-se) nem sequer vencedores e vencidos.
Foi nomeado para o Golden Globe de Melhor Filme Comédia/Musical e Aaron Eckhart nomeado na categoria de Melhor Actor Comédia/Musical.
Por cá passou completamente despercebido, está apenas no Alvaláxia às 18h10 e no El Corte Inglés às 00h05. Fora de Lisboa apenas em Coimbra. Para os poucos que o ainda podem ver, hoje pode ser a última oportunidade, visto ser provável que saia de cartaz com as estreias de amanhã.
Portanto recomendo um esforço para agarrar as últimas sessões e ver um comédia... muito séria.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Casino Royale (e Música da Semana)

Antes de mais e para que esteja claro vou dizer uma coisa: Casino Royale é o melhor Bond alguma vez feito e Daniel Craig é um actor à altura. É difícil a comparação com tempos míticos dos anos 60 e principalmente com Sean Connery, mas Casino Royale é o mais maduro, complexo e envolvente filme da longa série. Bond atinge aqui por fim a idade adulta. Sente, sofre, vive, é por fim, um homem. Mas não um homem qualquer, longe do ar suave de playboy, James é um assassino, e a morte não é uma atracção de feira, de circo, a morte existe fisicamente, é palpável, tem cheiro, tem cor, deixa marcas no corpo e pior, na mente. Este é o 007 que quebra com muitos dos ícones dos anteriores filmes, não tem engenhocas estranhas e invenções mirabolantes, a Bond Girl é muito mais que uma boneca de silicone (Eva Green a construir uma reputação de actriz que ultrapassa largamente a sua inesquecível silhueta), Bond fere-se, sua, despenteia-se, cansa-se, desespera, bebe algo mais que vodka martini e quando lhe perguntam se quer mexido ou batido ele responde "Acha que sou o tipo de homem que se preocupa com isso?" – e não é, agora não é.
Foi um risco seguir esta linha, principalmente quando a antiga fórmula estava a render mais dinheiro que nunca, se Goldeneye, o primeiro filme com Pierce Brosnan tinha feito 352 milhões de dólares mundialmente, batendo recordes, o seu último Die Another Day chegou quase aos 432. Mas foi um risco que deu frutos, não só na bilheteira, como entre crítica e fãs do agente secreto.
Empolgante, envolvente, com um punhado de cenas memoráveis (o pré genérico é brilhante e a cena da perseguição pelos guindastes inebriante) Martin Campbell (responsável por filmes como Goldeneye ou A Máscara de Zorro), constrói uma peça sólida e adulta, de longe o seu melhor esforço até hoje.
Não será um filme estudado nas escolas de cinema, mas como produto de entretenimento é do melhor que se pode encontrar nas salas.

Em honra a Mr.Bond aqui fica a sua assinatura como música da semana...

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Sugestões


A época é propícia a este tipo de coisas, as compras estão em alta e as ideias muitas vezes escasseiam. No fim de semana passado houve uma edição da Feira da Ladra Alternativa, supostamente especial de Natal, mas que não teve a adesão que merecia, principalmente por parte dos criativos que lá estavam presentes. No entanto foi a oportunidade para comprar algumas prendas originais o que me leva a este post. Sem esquecer a incontornável Joana Simões e a sua joalharia de autor faço aqui outros dois destaques. Mariana Costa e Silva tem uma colecção de malas quase totalmente em feltro que são únicas e muito baratas. Uma visita ao seu blog é indispensável.
Por outro lado a Brilho em Paralelo define-se com urban arte facts, é de uma dupla Catarina Arruda e Rita Andringa que têm uma colecção vasta de... artefactos urbanos...

Um bom natal...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Chega a época natalícia é o resultado é sempre o mesmo, embrenhados nos feriados, compras, férias e jantares de Natal empresariais, os visitantes do blog descem a pique. É a Maldição de Dezembro e este ano, tal como o ano passado, fui atingido por ela, apesar de ser com aparente menor gravidade. O blog também vai ganhando os seus anticorpos. Para os resistentes que de vez em quando ainda cá dão o seu pulinho deixo os meus agradecimentos...

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Um governo... digamos, socialista!

Pois parece que o socialismo está em grande na defesa de alguns dos pilares fundamentais desta doutrina. A última vez que olhei, a protecção dos mais desfavorecidos e o livre acesso à Justiça faziam parte destes pilares, mas afinal parece que não.
Está a ser estudada a hipótese pelo governo eh… socialista pronto, das despesas com os advogados da outra parte ser paga por quem perde um processo. Serve esta medida para descongestionar os tribunais portugueses e tornar a Justiça mais célere. Ora bem, portanto a lógica subjacente seria limitar os processos apenas àquelas pessoas que têm a certeza que vão ganhar e impedir aqueles trastes que não sabem se ganham ou não de se meter nestas coisas chatas e maçudas dos tribunais. Se levarmos esta coisa às últimas consequências então deixavam completamente de existir processos, porque se não tens a certeza não entras no sistema e se tens a certeza bem… então nem vale a pena ir a tribunal, resolve-se a coisa por fora e poupa-se muito tempo e trabalho.
O problema é que na maioria das questões debatidas ambas as partes acham ter razão, o que denota uma percentagem enorme de inconscientes.
Vamos por um momento partir do princípio que vivemos num mundo em que não é possível ter a certeza de vencer um processo judicial, mesmo estando seguro da nossa causa e da nossa razão. Vamos já agora supor também que há pessoas ou entidades que vencem os ditos processos sem na verdade terem razão, seja por falta de provas, motivos técnicos, por terem uma equipa de advogados mais competente, ou por outro motivo qualquer. Vamos ainda imaginar (é difícil eu sei) que existem gigantescas diferenças de orçamento entre diferentes pessoas ou mesmo entre pessoas e empresas e que há gente (isto então já é um esforço de imaginação tremendo) que tem que pensar duas vezes e fazer continhas à vida antes de ir a Tribunal.
Ora bem, este cenário improvável significaria que uma medida como esta proposta pelo governo… vá, socialista, iria retirar do sistema basicamente aqueles que não têm posses e deixar impunes aqueles para quem os custos de tribunal são perfeitamente suportáveis. Imagine-se ainda (mais um esforço) alguém injustamente despedido a levar à Justiça a empresa que o despediu e pensar que pode ter que arcar com as despesas da equipa de advogados dessa empresa. Ou o pessoal da Casa Pia ter que pagar o batalhão de gente que defende os VIP’s acusados neste caso. Ainda por cima estamos a falar de custos que não são, como se sabe, iguais para todos. Portanto uma pessoa iria entrar para um processo sem saber qual o dinheiro poderia ter que despender A negociação de valores entre mim e a minha equipa de advogados é da minha responsabilidade sendo a outra parte completamente alheia a todo a questão. Ao que parece até na pessoa contra quem se vai a tribunal é preciso ter sorte, se tem um advogado baratinho muito bem, se for dos caros… paciência.
Isto sem pensar que todos os casos passariam quase inevitavelmente para as últimas instâncias visto que se a decisão em primeira instância for desfavorável, mais valeria arriscar alongar o processo do que pagar logo as custas com a equipa de defesa de terceiros.
Numa tentativa de aligeirar as pilhas de papel imensas que se acumulam pelos corredores da Justiça o governo… seja, socialista, quer retirar as pessoas do sistema independentemente dos seus problemas ou méritos, apenas baseado no seu poder de compra. Ou alguém acredita que isto vá impedir uma Sonae ou uma PT de ir a tribunal seja quando for, seja contra quem for?
Mas assim vai o mundo, assim vai este país onde o socialismo liberal, moderno, esta terceira via, este governo… como queiram socialista está cada vez mais parecido com um manga de alpaca quadrado, com palas nos olhos, que não vê mais que os tostões à sua frente.
E porque não fechar todos os tribunais? Assim ficava o problema resolvido pela raiz…

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Gota a gota...

Fazendo uma reprise de um post de dia 27 de Novembro...

"PIOR DO QUE SER BRONCO É TER GOSTO EM SÊ-LO!!!"

Gota a gota, a pessoa atura, boca a boca, todos os dias, a lidar com a burrice, a estupidez, a ignorância, a homofobia, a misoginia...

Todos os dias...

Gota a gota, boca a boca, vai enchendo o copo, aos arrotos com ares de arrogância, com inchaços de absoluta imbecilidade...

E o telefone que não toca...

A Casa de Lenha


Pelo centenário do nascimento de Fernando Lopes Graça está em cena no Teatro Nacional D. Maria II a peça A Casa de Lenha, uma co-produção com a Comuna. Encenado por João Mota, conta a vida do compositor desde a sua infância, criações, composições, lutas políticas, exilio, revolução e morte.
A primeira coisa que salta à vista do espectador é o incrivel cenário, uma enorme parede escavada num cinzento pardo, que empresta uma complexidade e uma grandeza ao texto. O tom cinza é aliás transversal a esta produção, das roupas aos cabelos, excluindo Carlos Paulo e a visualmente poderosa cena final.
Apesar do seu vasto elenco, a peça acenta quase na sua totalidade no próprio Carlos Paulo, que compõe um Lopes Graça soberbo mantendo-se em cena durante toda a duração do espectáculo, num exercício de resistência física e performativa notável. A vida do autor é contada na primeira pessoa, com a música a pontuar toda a acção. De realçar o trabalho do pianista Nuno Barroso e do coro que se tornam parte viva e fundamental da peça, sobre a direcção musical de António Sousa e a batuta de Jorge Alves.
É uma grande produção que merece uma visita atenta no D.Maria.


A Casa de Lenha
Teatro Nacional D.Maria II / Comuna- Teatro de Pesquisa
Interpretação: Carlos Paulo, João Grosso, Sara Belo, Jorge Andrade, Tânia Alves, António Banha, João Tempera, Manuel Coelho, José Neves, Hugo Franco, Vitor Ribeiro, Augusto Portela, Júlio Martin, Filipe Petronilho, Luis Gaspar, Rui Quintas, Paula Mora, Lúcia Maria, João Ricardo, Maria Amélia Matta, Gonçalo Ruivo, Samuel Alves, Marco Paiva, Maria Ana Filipe, Judite Dias, Rita Seguro, Diogo Branco.
Encenação: João Mota
Texto: António Torrado
De 16 de Novembro a 30 de Dezembro de 2006
Terça a Sábado 21h30, Domingo 16h
Preço: Plateia - 15 €, 1º Balcão - 12,5 €, 2º Balcão - 7,5€ (existem descontos, perguntar na bilheteira)

Teatro Nacional D. Maria II
Praça D. Pedro IV (Rossio)
1100-201 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 250 835

terça-feira, dezembro 12, 2006

Pequeno apontamento Chapitô - aula de segunda feira virada para o físico, trabalho de elasticidade, força, coordenação, ritmo e enfâse para o treino da voz. Regresso à música Deliciae Mae. (like anyone cares... lol)

Música da Semana


Quando em 1996 Mark Oliver Everett, mais conhecido por Mr.E, lança o seu primeiro álbum com a nova banda Eels, após alguns álbuns a solo que tiveram pouca repercussão, estava longe de imaginar que uma das musicas do álbum Beautiful Freak, com o seu som depressivo e pessoal, faria parte da banda sonora de um dos maiores fenómenos de filmes de animação de sempre. A música era My Beloved Monster e o filme Shrek, aliás só este filme poria alguém como Eels numa história de fadas que é, verdade seja dita, já bastante retorcida. Uma das primeiras bandas distribuídas pela Dreamworks, teve também presente no filme de estreia de realizador Sam Mendes, o brilhante Beleza Americana, que é aqui uma escolha bastante mais óbvia (ambos os filmes, sublinhe-se, produzidos pela Dreamworks).
Banda de rock alternativo que sofreu mudanças constantes no seu alinhamento, é no seu fundador e cantor MR.E que tem a base, a inspiração e o sustento.
A música desta semana vem do álbum de estreia Beautiful Freak, que teve em Novocaine for the Soul um cativante single. Aqui fica o melancólico e melódico Flower

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Flushed Away


Se há uma marca em que aprendi a confiar no que toca a animação foi na Dreamworks, principalmente após o incontornável Shrek e respectiva sequela. O último filme a sair dos estúdios geridos pelo big boss himself Mr. Katzenberg (o mais bem pago executivo da indústria responsável pelo ressurgimento da Disney na década de 90 com êxitos como A Pequena Sereia, Aladino, A Bela e o Monstro ou Rei Leão) é uma comédia irreverente chamada Flushed Away (Por Água Abaixo). Conta a história de um hamster de estimação habituado à vida confortável do mundo do Topo, que é deitado pela sanita, indo descobrir um mundo de ratos que vivem no esgoto. Pelo caminho encontra uma bela e irreverente ratazana e um enorme sapo com um plano maquiavélico. A história desenrola-se a um ritmo vertiginoso, com reviravoltas e correrias, rãs e ratinhos, moral e mordácia, tudo numa hora e um quarto que passam demasiado depressa. Com um sentido de humor brilhante típico deste estúdio, contamos com uma pitada de non-sense a cargo de umas lesmas que aparecem sabe-se lá bem de onde para nos deixar de rastos com apontamentos inesperados. Técnicamente apurado como seria de esperar, tem um elenco de vozes impressionante de onde se destacam Hugh Jackman, Kate Winslet, Ian McKellen (fantástico vilão) e Jean Reno (no sofisticado Le Frog). Se bem que as piadas slapstick género casca de banana fazem as crianças delirar, são os pormenores que dão o suco para os adultos, num filme em que temos a sensação que em cada imagem, em cada frame há algures uma referência que provavelmente nos está a escapar.
Não é algo que fique para a História como um marco do cinema, mas é muito divertido, e por favor, visitem a versão original.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Notável!!

Transferência

"Se em palco tiverem que ter uma cena íntima com uma pessoa que mal conhecem, ou uma cena de ódio com um actor de quem gostam têm que fazer uma transferência." - ou seja para ter uma representação forte, verídica, é preciso imaginar alguém no corpo daquela pessoa, alguém que se coadune melhor à cena descrita de forma a sermos mais espontâneos, mais honestos. Ontem foi esse o ponto de ordem dos trabalhos, o início mais concreto da contracenação, com trabalho físico, toque, cheiro e não só imaginação. Foi uma experiência incrível, ver alguém à minha frente completamente de rastos, com uma entrega plena, total, de uma franqueza e honestidade extrema, que se abriu à sua dor sem reservas, deixando-me apenas a fútil tarefa de a tentar, inabilmente consolar. Não sei que efeito tiveram aqueles minutos nos outros, mas foi uma experiência única.
Voltámos no fim da aula a Strindberg e, mais uma vez, não li mais que duas frases. Tenho tido azar na distribuição dos papeis...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Vem Fábio Raul, vem ver a árvore, vamos lá fora, esta noite saímos Fábio Raul, esta noite levamos os miúdos, vem, por uma vez leva-me a algum lado, anda ver a noite iluminada, anda ver o verde e o azul, anda que eu visto uma saia bonita e um casaco comprido, anda comprar algodão doce, vem Fábio Raul, por mim. Este ano ela é ainda maior, onze metros maior, nota-se logo, vê-se logo por entre os sinos e as estrelas, sente-se na música e no cheiro a pipoca, está lá, rodeada de focos como se fosse uma discoteca, ou uma festa muito linda como aquelas das revistas. Anda Fábio Raul… tu achas que eu sou linda? Achas que eu podia aparecer na capa das revistas? Eu vou pôr aquela saia, aquela que tu gostas, e visto o casaco porque está frio, hoje saímos os quatro, passeamos pelas ruas da cidade como se fossemos uma família, como se ali vivêssemos no meio de tanta cor… Vem, tira-me daqui, liga o carro outra vez, mesmo que estejas cansado, mesmo que tenhas estado duas horas a conduzir, anda leva-me daqui. Fazemos uma peregrinação, já que não vamos a Fátima vamos à árvore, como tantos outros, como todos os outros, como aquelas filas enormes de gente que sai e vai guiada pela luz, como os reis magos pela estrela, vamos ver que é Natal, sentir que á Natal, o maior Natal da Europa, o maior Natal do Mundo. Vem Fábio Raul, se toda a gente vai, toda a gente não pode estar errada, eu vi na televisão, eu quero aparecer na televisão, sempre me disseram que eu tinha jeito, eu podia estar numa novela, eu podia ser famosa, eu podia ser ter o nome escrito em cores no céu!... Mas hoje vamos Fábio Raul, hoje vamos sair à noite, hoje vamos estar lá, onde tudo acontece, debaixo da árvore que se calhar tem um presentinho para mim, com aquele tamanho todo deve ter um presente para mim, é grande o suficiente para ter um presente para cada um de nós, para todos nós… E Deus sabe que nós precisamos de um presente… Vamos Fábio Raul… hoje vamos ser alguém…

(Eu odeio o raio da árvore de Natal e as decorações que são do mais bimbo que pode haver espalhadas pelas ruas da cidade.)

Pequeno apontamento Chapitô - Aula de segunda com forte incidência na memória sensorial. Trabalho com as palavras ruptura e fraqueza. Regresso à musica Deliciae Mae.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Música da Semana

Quando em 1991 saiu o albúm Ten dos estreantes Pearl Jam eu tinha onze a caminho dos doze anos. Com os seus títulos seguintes Vs. e Vitalogy tornaram-se uma referência grunge e uma das grandes bandas da década. Quando em casa de dois irmãos meus amigos, um quatro anos mais velho que eu e outro dois anos mais novo, começou a tocar o Better Man, ouço o mais velho dizer que banda a sério eram os The Cure, que eu conhecia basicamente de nome e um ou dois clips que raramente passavam na televisão. Gerou-se ali uma pequena discussão sobre qual das bandas teria mais mérito, sem se chegar (como se esperava) a nenhuma conclusão, cada um convicto da defesa da sua dama. Na altura quatro anos fazia imensa diferença, ele tinha 12 anos quando saiu em 1986 The Head on the Door, considerado por muitos um dos melhores albuns de The Cure, banda de pop-rock alternativo inglesa que, após o êxito do seu single Boys Don't Cry em 1979, esteve no topo do mundo musical durante toda a década de 80.
Eu sei que a maioria de quem me lê não precisa de explicações sobre The Cure ou Pearl Jam. Mas estando eu a trabalhar no Chapitô com malta de 16 anos reparo que nasceram quando o Ten saiu, para os que, entre eles, conhecem Pearl Jam, acham que Eddie Vedder sempre teve o cabelo curto.
Dezasseis anos depois a diferença de idades já não se nota, quatro anos a mais não é nada, e já não preciso tomar partidos entre bandas, estilos ou épocas. Em honra a um regresso ao passado, meu e de muitos mais, aqui fica... Close to Me.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos


Em 1997, ainda na velhinha sala estúdio do S.Luiz onde estava sediada a Companhia Teatral do Chiado, fui ver As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos, a primeira peça que lá via sem o saudoso Mário Viegas. Fui a medo, foi para mim uma espécie de teste, saber se a companhia conseguia sobreviver ao seu fundador, mentor e actor principal, que era uma das figuras mais extraordinárias e carismáticas do teatro português. Não era tarefa fácil, a morte do Mário tinha abalado toda a gente e a sua marca era difícil de ultrapassar. João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim subiram a palco, num espectáculo que não foi inicialmente acolhido pelo público de braços abertos, e construíram, pelos seus próprios méritos, um êxito incontornável que (facto único na história do teatro nacional) se mantém há dez anos em cena.
Com a estreia a 24 de Novembro de 1996 em Portimão e depois a 28 de Novembro na sua casa no S.Luiz, a peça fez já 118 digressões e teve uma assistência de 156 mil espectadores (e trocos).
Dez anos volvidos (nove e qualquer coisa para ser mais preciso), voltei ao S.Luiz com um grupo alargado de amigos, para revisitar velhos conhecidos e saber como se aguenta este espectáculo uma década depois (agora de novo com o elenco original, ao fim de 5 mudanças). Este tempo todo mais tarde, continua com a mesma energia vibrante, a mesma força, a mesma garra e o mesmo entusiasmo que vi quando ainda tínhamos o Guterres como primeiro-ministro.
Um cenário simples (podia aliás nem ter nenhum) somos levados ao colo desde o primeiro minuto, num remoinho de loucura contagiante, onde o espectador tem muito mais que um papel passivo, pelas obras completas do mestre. O delírio é completo e as quase três horas de espectáculo (pois... não são nem de longe 97 minutos) passam a voar por entre Romeu e Julieta, Hamlet e Othelo como nunca os vimos antes. Como é apanágio desta companhia a dose de improviso é relevante e, como para tudo na vida, é preciso ter sorte no dia em que se assiste, porque se a peça vive muito do público que tem, vive também do bom humor e da inspiração dos seus actores naquela noite específica. Eu tive sorte neste regresso, a sintonia entre audiência e performers foi completa com especial destaque para a vedeta Simão Rubim. Para além de ser um actor incrível, que consegue pôr a sala de joelhos com um simples olhar (brilhante composição facial) tem também um timing cómico impecável.
Não entro em mais pormenores, mas fica aqui a recomendação, o pedido, a urgência de ir ver o show mais hilariante que está hoje em cena. A não perder.

Deixo a ferroada para o preço que... vá, não é convidativo (mas merecem). Seja como for há descontos vários e o melhor é sempre... perguntar na bilheteira.


As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos
Companhia Teatral do Chiado
Interpretação: João Carracedo, Manuel Mendes, Simão Rubim
Encenação: Juvenal Garcês
Texto: Jess Borgeson, Adam Long, Daniel Singer
Tradução: Célia Mendes
Adaptação: Companhia Teatral do Chiado
Domingos e Segundas às 21
Preço: 18,5 euros (existem diversos acordos, descontos e promoções, perguntar na bilheteira)
Teatro Estudio Mario Viegas
Largo do Picadeiro
1200-330 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 257 652
(351) 917 664 989
www.companhiateatraldochiado.pt
http://asobrascompletasdewilliamshakespeare.blogspot.com/

Com o feriado os filmes e as saidas esqueci-me de falar da última aula do Chapitô. Já tendo passado quase uma semana resta-me apenas sublinhar, para manter um relato regular, que de toda a aula destaca-se o início do trabalho com a Ilha dos Mortos do Strindberg...
Hoje há mais.