Julgamento
Pouco mais de 4000 espectadores é quanto o último filme de Leonel Vieira fez com as suas vinte e picos cópias distribuidas nacionalmente. E a culpa não é do filme.
Pouco mais de 4000 espectadores é quanto o último filme de Leonel Vieira fez com as suas vinte e picos cópias distribuidas nacionalmente. E a culpa não é do filme.
Ao ver o Fados de Carlos Saura tive momentos dispares. Comecei algo indiferente, acabei apaixonado. Houve alguns momentos que foram realmente tocantes. Um dos principais foi este dueto de Mariza com Miguel Poveda, inesperado dueto luso-espanhol que deu uma nova vida a este velho fado. Esta semana, Meu Fado Meu.
Ontem dei por mim a ouvir Bob Dylan e a ter daquelas conversas dissertativas sobre os anos 60 e as suas consequências; mudou alguma coisa, não mudou e o quê?
A primeira referência a um barbeira assassino que serve de base desta história vem do século XV, numa balada medieval francesa. Foi no entanto em 1846 que Sweeney Todd aparece como personagem num livro de Thomas Peckett, publicado sobre a forma de folhetim semanal, o seu título The String of Pearls. Existem diversas versões, filmes, livros e inclusivé bailados, mas a verão que nos chega hoje tem a sua origem em 1968, quando Christopher Bond, um jovem actor britânico faz a sua versão que estreia no Victoria Theatre de Stoke-on-Trent. Em 1979 Stephen Sondheim adapta esta versão a um musical intitulado Sweeney Todd, O Terrível Barbeiro de Fleet Street.
Ao folhear o Actual do Expresso dei de caras com um artigo sobre o último trabalho de Radiohead. Ainda não fiz o download do muito aguardado cd daquela que considero ser a melhor banda da actualidade. Na crónica João Lisboa comparava a notoriedade de Radiohead a Pink Floyd na altura do Dark Side of The Moon. Qembrei-me que seria uma excelente ideia. Aqui está live, Pink Floyd, já pela voz de David Gilmour, Eclipse.
Adaptações de Stephen King ao cinema são mais que muitas, a maioria não merece o esforço de abrir os olhos para as ver. Desta vez com John Cusack e Samuel L. Jackson, resolvi dar-lhe uma hipótese.
Um escritor de livros de fantasmas anda pelo país a visitar hoteis assombrados para acabar a sua mais recente obra. Ele é um céptico, até que chega ao Dolphin Hotel em Nova Iorque e, contra os avisos do gerente, insiste em ficar no quarto 1408.
A permissa é mais que velha. Casas, quartos e hoteis assombrados não são proprimamente novidade, mas 1408 consegue construir um clima tenso e pregar um ou outro susto. O problema é que rápidamente se perde. Transforma-se num tanto faz, com o quarto a mudar a cada dez segundos, a acontecer as coisas mais espalhafatosas, sem nexo, perdendo-se o clima de tensão, de medo, rodeado de um tédio que se instala enquanto que o sub-aproveitado Cusack é atirado de um lado para o outro sem dó nem piedade. Quando chega ao fim sai-se da sala com um sabor estranho na boca, uma sensação de tempo perdido e pouco mais.
Fez-se muito barulho em torno deste O Reino. À falta de um realizador de renome, o enfoque caíu no seu produtor Michael Mann e no galardoado Jamie Foxx. E pouco mais havia por onde agarrar.
Após um atentado na Arábia Saudita que vitimou centenas de americanos, uma equipa do FBI viaja até lá para investigar e descobrir os culpados.
O filme não é de Michael Mann, mas é a la mode de Michael Mann. Peter Berg não tem curriculum que se conheça, resolve então tentar ser (aqui, porque nem em Very Bad Things, nem em Welcome to the Jungle o fez) um sub-Michael Mann. Imitação pobre na utilização do ecrã largo, nos movimentos de câmara, nas temáticas, na violência. Não tem é metade do talento, nem ideias.
O filme é seco, pouco tem a dizer, os personagens são planos e as ligações entre elas básicas. Como thriller deixa muito a desejar, Berg comete o erro de tentar conduzir a fita para um "who donne it", o problema é que o mistério sobre quem terá sido o autor é inócuo, visto que não existem suspeitos, não os conhecemos nem queremos conhecer. Sem saber por onde conduzir o enredo, O Reino põe os seus personagens principais a não fazer nada durante a primeira hora de fita. Investigação rápida, conclusões óbvias (que a policia saudita é incapaz de tirar), perseguição, muita sorte e um rapto à última da hora com consequente tiroteio. Se como thriller é falhado, como policial também, como filme de acção fica-se pelo partir muito e mostrar pouco. Tiros, explosões, sem se perceber quem como e onde, sem o mínimo de noção espacial, ou seja o que for, o que interessa é fazer muito barulho para ver se ninguém nota.
Percebe-se que Michael Mann não realiza-se um argumento tão fraco. Peter Berg não é assim que algum dia se irá firmar como um realizador a ter em conta.
Frank Oz é um realizador com altos e baixos. Sem nunca ter sido brilhante, tem alguns filmes com apontamentos interessantes.
Em 1981 o teatro A Barraca estreia um dos seus mais memoráveis espectáculos “Fernão, Mentes?”, adaptação de Helder Costa da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Com música de Fausto e Zeca Afonso, foi o berço do albúm Por Este Rio Acima, disco quintessêncial da música popular portuguesa e marco do qual Fausto nunca se conseguiu libertar totalmente.
Para esta semana resolvi relembrar A Voar Por Cima das Àguas, uma das muitas músicas deste trabalho, que em miúdo adorava, e ainda hoje adoro.
Grindhouse parte dois. Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram um evento cinematográfico de homenagem aos exploitation movies dos anos 70. Uma sessão dupla, com trailers ficticios no intervalo a que chamaram Grindhouse. A fraca receita no box-office americano fez com que os dois filmes fossem distribuidos em separado.
Carlos Saura tem uma longa ligação à música, noemadamente ao flamenco, que foi palco de muitas das suas obras. A sua trilogia dedicada ao tema (Bodas de Sangre, Carmen e El Amor Brujo) é disso prova. Anos mais tarde volta à carga com Sevillanas e Flamenco de Carlos Saura. Este último título começa uma outra trilogia dedicada a estilos de música e que culmina com este Fados, tendo passado por Tango, No Me Dejes Nunca.
Fados não é um documentário, não é uma abordagem extensiva sobre a música, não tenciona decifrar, desconstruir e segmentar a história e percurso do fado em Portugal. Fados é uma homenagem.
Não interessa se há ou não outros fadistas que poderiam estar representados, se as teses sobre a origem do fado estão ou não correctas, se há - que as há - falhas. O que interessa é um filme de uma simplicidade desarmante, sem nunca ser simplista. Saura filma o fado na sua génese, a música, a canção, mas com uma abordagem global, sem os típicos maneirismos que se costumam associar, num palco assumido, brincando com as luzes, as cores, as imagens e a dança que os enquadra. Saura dá-nos tempo para redescobrir novos e velhos conhecidos, para ouvir e sentir o fado.
Como homenagem é emocionante, ouvir o velho Marceneiro a cantar numa mesa de uma taberna, ou Mariza em dupla luso-castelhana a cantar o Meu Fado, passando pela sentida vénia de Caetano a Amália, ou pela brilhante ligação de Chico Buarque à revolução de Abril, Fados deixou-me de lágrimas nos olhos. Não creio que se fosse espanhol ou alemão acontecesse o mesmo, mas não tenho dúvidas que sairia da sala com vontade de ver, ouvir e conhecer novos fados...
Na terça passada fui a uma das poucas ante-estreia que não calham ao meio da semana, em cima dos meus ensaios.
O primeiro erro cometido foi o ter aceite entrar numa sala de cinema sem me ter informado antes sobre o filme que ia ver. Falha grave.
.45 é um filme com Milla Jovovich, conta a história de uma mulher que se vinga do seu namorado, um gangster ciumento que a agride.
Um filme mau é apenas um filme mau. Agora um filme mau pretensioso é insuportável. Gary Lennon, o realizador, é um argumentista que tem aqui a sua primeira obra. Parece um puto saído da escola de cinema, que idolatra Tarantino, mas sem um pingo de talento. O que escorre, com amadorismo completo, são cenas gratuitas de violência e sexo, coladas a cuspo, com diálogos imbecis, situações idiotas, cortadas por cenas "documentais" dos personagens a falar directamente para a câmara como se fossem entrevistados. O trabalho de actores é do mais grotesco que vi nos últimos tempos, soltando fuck's e shit's como se não houvesse amanhã, grunhindo e cuspindo o texto entre gritos e esgares - eu sou tão mau, eu sou tão feio.
Então o que é que a aflige...
Foi Deus, música de Alberto Fialho Janes, foi imortalizada por Amália Rodrigues. Os Donna Maria gravaram uma nova versão no seu primeiro albúm de originais Tudo é para sempre...Regravar esta música requer coragem. Em primeiro lugar porque é um fado lindissimo dificil de cantar, em segundo lugar porque a comparação com Amália é sempre feita e por último porque é uma música a louvar quem a canta, e digamos, nem todos merecem que se faça. Os Donna Maria pela voz de Marisa Pinto saem-se muito bem deste desafio e são a minha escolha para esta semana.
O Sabor da Melancia e China, China fazem dupla no King. O primeiro é um deprimente drama musical antecedido pela curta de João Pedro Rodrigues. Comecemos pelo filme português. Não é mau, mas também não é bom. É o chamado filme morno, não incomoda nem entusiasma. Conta a história de uma chinesa que vive em Portugal, mãe infeliz com a sua vida, rotina diária com uma reviravolta final esperada. Pouco acontece, pouco hás a dizer, mas o tempo passa.
Já o filme de Tsai Ming-liang é exactamente o tipo de coisa para que tenho andado a perder a paciência. Um actor porno reencontra uma mulher que vive no andar de baixo da casa onde ele filma e "apaixona-se". Ela não sabe a profissão dele, até ao fim do filme. É um filme contemplativo, parado, lento, que se arrasta demoradamente de plano para plano. Depressivo, cinzento, até que, subitamente, são introduzidos números musicais extravagantes, cómicos levados ao absurdo, para cortar o clima. Do primeiro ao último minuto está repleto de cenas de sexo, de sexualidade, não de sensualidade - longe disso - o mais metafórica e auto-destrutiva que pode haver. Tudo sumado o filme é uma masturbação mental do realizador, sem nada para dizer, nem história para contar, nem sequer imagens particularmente diferentes ou perturbantes, apenas uma tentativa de chocar, de ser oh-tão-intelectual, oh-tão-profundo, oh-tão-à-frente, limitando-se a ser oh-tão-chato. Parafraseando uma amiga, como pode um filme com tanto sexo ser tão monótono?