quarta-feira, novembro 12, 2008

Jerusalém


Confesso que não conheço o romance de Gonçalo M. Tavares, mas conheço o trabalho d'O Bando há mais de duas décadas, motivo mais que suficiente para ir ver Jerusalém com expectativas elevadas. O Bando em sala, numa sala de teatro convencional, tem normalmente prestações menos conseguidas, mas neste caso transformou o pequeno auditório do CCB, tornando-o practicamente irreconhecível, apropriando-se do espaço para o seu universo sensorial. Visualmente foi um trabalho notável, plástico, mutável, com o uso de palha (seria?) a revelar-se uma autêntica caixa de surpresas, e com efeitos de luz (onde o texto era projectado) perfeitos para criar uma atmosfera de estranheza. O texto esse é de uma dureza extrema, narrando a trágica história de uma mulher que conseguia ver a alma dos outros.
A maior falha de uma peça que acaba por crescer em nós, é a escolha de Horácio Manuel para o papel de médico. Repetitivo, monocórdico, tira densidade dramática a uma personagem conturbada, obsessiva, maniaca quase, como contra-ponto (?) à mulher, louca.
Não é um marco na história do Bando, mas é uma peça intrigante, tensa e muito bem construída.

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