quarta-feira, maio 31, 2006

Eu tenho tanta sorte em viver com a pessoa mais extraordinária que já conheci...
Obrigado pelo apoio nestes dias chatos...

Dependência

Uma coisa pequena, lesão no pé, muscular, nada partido, uma semana de canadianas e em principio fica tudo resolvido.
No entanto fico dependente para as mais pequenas coisas. Ainda agora um colega me trouxe um copo de água, que não consigo ir buscar sozinho. Fazer o jantar torna-se dificil, entrar e sair de casa é uma verdadeira epopeia, não consigo pôr a mesa, arrumar seja o que for, e tenho toda a gente a fazer coisas por mim. Irrita-me a dependência, irrita-me ter que contar com os outros para as coisas mais básicas. Hoje demorei 20 minutos para descer as escadas e fazer metade do caminho para o metro. Desisti e chamei um taxi para não chegar uma hora atrasado ao emprego.

Eu sei que é pouco tempo, é rápido, doi pouco e daqui a uma semana está resolvido. Mas nunca lidei bem com o não poder tratar completamente de mim mesmo.

Mas adiante, desabafo de rabujice, de quem na verdade, tem poucos motivos de queixa...

terça-feira, maio 30, 2006

Será que não há duas sem três?

Há quase um mês torci o pé. Passado tanto tempo ainda não estava totalmente curado, e hoje de manhã tive o azar de torcer o mesmo pé logo pelas 7h30! Não fosse a sorte da Ana não ter ainda saido de casa e não sei como me aguentava. Cama depressa, um pouco de gelo para aliviar as dores. Depois canguru pela casa. Saltitante para o banho, saltitante para o quarto, vestir, cuidado na escolha das meias e sapatos, urgências na CUF.
Atendimento rápido, nem por isso para o raio-x, mas tudo o resto eficiente, recomendação: uma semana com ligadura e canadianas, sem pousar o pé no chão.
Algés para buscar as ditas... Agora... quatro andares SEM elevador... Sempre me disseram que era complicado, e os miudos, e as compras, e as malas... mas nunca pensei em... e as canadianas. Seja, o que tem que ser tem muita força, e podia ser pior.
Lembrar... não entrar para almoçar no sitio em que a malta aqui sempre almoça... Self-service! (ai as muletas, ai as muletas).

Este não vai ser o melhor rock in rio possivel!

segunda-feira, maio 29, 2006

Lisboetas

Foi considerado o melhor filme do IndieLisboa 2004, este filme de Sergio Trefaut, que já foi remontado duas ou três vezes. Desde já uma nota, o filme que está em exibição no Nimas não é o mesmo que recebeu o prémio no IndieLisboa, é uma outra versão, não necessariamente melhor ou mais completa.
A maior parte das pessoas que viu este documentário sobre emigrantes em Lisboa não concordará comigo, mas Lisboetas é um filme profundamente preconceituoso. Trefaut partiu para esta obra decidido a provar que todos os emigrantes vivem mal, são mal recebidos, são explorados e querem desesperadamente voltar para casa, de um país que os não sabe acolher e cheio de falhas (como o sistema educativo). É neste propósito eficaz, não necessáriamente pelo que mostra (excepção feita às cenas filmadas no Campo Grande), mas pelo tom que impõe, principalmente pela música triste e melancólica que acompanha toda a fita, sublinhando algo que muitas vezes não tem nada de bom, de mau, ou seja o que for (como sendo a entrada, que ocorre a bom ritmo, no gabinete de emigração).
Mas quem são as pessoas? Quem é aquela gente? O que viveu, o que sofreu, porque está cá? Que histórias tem para contar, que segredos, mistérios ou dores carrega? Aí Trefaut é omisso. Dá trabalho pesquisar, investigar, ganhar confiança, seguir cada um daqueles personagens pela vida, através do tempo. E sem dúvida que não faltam histórias para contar e sonhos desfeitos.
Mas Lisboetas limita-se a ser um objecto bem filmado, com momentos de uma beleza conseguida, que toca ao de leva nos reais problemas e vivências dos emigrantes de Lisboa, saltitando de uns para outros sem deixar marca nem rasto, para alem da deseperada tentativa de mostrar uma tristeza por detrás de cada olhar, mesmo que esse olhar seja feliz. É, neste ponto, um filme desonesto e preguiçoso. Quer provar o seu ponto de vista recorrendo a efeitos de cinema, ambiencias sonoras e visuais, e não através da verdadeira descoberta de algo para contar.
Merece a visita, que Trefaut prova ser um cineasta a ter em conta, mas tendo um olhar crítico para aquilo que ele quer mostrar.

sexta-feira, maio 26, 2006

De tarde no edificio com vista sobre o comboio e sobre o cemitério do sítio de festa onde as crianças riam, passo os olhos cansados pelo monitor e aperta-me a dor de cabeça. O calor lá de fora não se sente por aqui, apenas resta a luz do sol filtrada pelo vidro e pelo cortinado transparente. Vim para o "centro" da cidade, vim da "alma" da cidade, das ruas paralelas, verticais, dos espaços largos onde desaguam os sitios esconsos do Bairro, da luz eterna guiada por milhares de passos perdidos dos turistas e dos vagabundos. Dos graffitis das lojas fechadas, dos odores a suor e mijo dos becos apertados, dos velhos de sempre, que já lá estavam quando ainda não era moda, dos restaurantes finos e dos enganos estrangeiros, das sapatarias, dos sapateiros, das igrejas escuras e velhas, que cheiram a mofo do restauro nunca acabado, dos eléctricos, dos artistas, das vizinhas, da roupa nos saguões, das pombas, dos inquéritos, dos cegos e daqueles que os não vêem, das marcas novas, das velhas cadeias, dos sons, dos espaços, das janelas, da pedra da cozinha, dos degraus inclinados, das tábuas corridas, das gaiolas, do peso das vidas e dos mortos, das tabacarias e casas de jogo, dos mercados, das lojas de tecido, da Prata, do Ouro, das ruas com nome de menina, daquele quarto andar que é vazio quando entro, que te tem nas paredes, na memória, na presença eterna dos dias, que é teu, nosso, onde tudo começou e tudo hoje acontece, na tua espera, na roupa lavada, candeeiro de tecto em luzes que marcam o andar do chão corrido, da "alma" urbana da nossa cidade, da "nossa" alma, que em si, sempre foi a tela em que pintamos os nossos dias.

quinta-feira, maio 25, 2006

Português de nascença, comunista de opção, Nobel de mérito e espanhol por casamento, foi ele o primeiro a fazer-me companhia no meu novo caminho diário, contava-me histórias de um mundo de uma cegueira branca como leite, precedida pela cegueira da alma que foi causa e consequência da primeira. Um mundo de esperança perdida, da bestialidade de um horror inumano e de quem teve que o enfrentar. Em seguida estive com um jovem checo de nascença, judeu de religião, alemão de língua, que morreu novo demais e deixou atrás de si uma obra inacabada que fala de culpa, dor, inadequação e de um mundo que se move por regras que ele não compreende. Esteve este homem angustiado a falar-me de seu pai, tirano, opressor e que o moldou na sua reclusa fragilidade. Estou agora com uma dinamarquesa, que por duas vezes esteve perto do Nobel e por duas vezes o perdeu para nomes maiores (Hemingway e Camus), que me mostra vidas e mundos de gelo, dos fiordes longiquos da Noruega, de paixões e naufrágios, de festins, palcos, velhos orgulhosos, e riquezas sumptuosas.



E amanhã, quem me fará companhia?


(Uma das coisas que descobri desde que mudei de casa é que é bom lêr no metro...)

quarta-feira, maio 24, 2006

As pernas são as marcas...

... que ainda se sentem hoje de manhã.
Para começar somos definitivamente três alunos, três dos sete que iniciaram o percurso.
Ontem levei o CD com a banda sonora da peça, que era há tanto devido. Ainda não o sentia pronto, está incompleto, existem músicas que têm que sair e talvez outras entrem em substituição, já para não falar nas transições entre temas que são absolutamente desastrosas em alguns casos. O impacto no Thiago foi no entanto surpreendente. Craig Armstrong, Nitin Sahwney, Tom Waits e Coldfinger, serviram de base para a criação de novas partituras e o início - agora sim - da construção final da peça.
Peça... uso o termo com precaução. Todas, mesmo todas as partituras têm uma base de dança. E a encenação, direi antes a coreografia, segue os trâmites do bailado contemporâneo, a repetição dos gestos, dos movimentos, sem diálogos. E enquanto é o Thiago a fazer as partituras, ele que tem 20 anos de carreira e diversos cursos de teatro e de dança, tudo é fluido, tudo é fácil. Quando somos nós, o movimento é perro, forçado, em alguns casos quase ridiculo. Não temos nem o conhecimento do próprio corpo, nem a técnica, nem a destreza, nem a experiência para levar algo deste calibre adiante.
Teatro-dança, com mais teatro que dança diz o Thiago... Mas a componente de dança é realmente muito forte.
A ver vamos...
Desta vez trabalho para fazer em casa, ensaiar o texto, escrever a sequência de partituras que foram feitas na última aula e, em dez acções, escrever a história do nosso personagem... Mais inputs para o trabalho final.
Tomei agora uma resolução, vou deixar de me preocupar. Se não sair bem é sempre uma experiência, e as testemunhas não serão decerto muitas!

terça-feira, maio 23, 2006

E os elementos elevam-se


No meio da tempestade que é a preparação de um casamento, as coisas a tratar são um sem número, vem a famosa lista de casamento, que serve para evitar os já tradicionais e tão desagradáveis presentes pirosos, ou a colecção de vinte máquinas de café. Como vai fazer parte da lista torna-se urgente definir a lua-de-mel. Um misto de exótico e urbano foi a primeira escolha, com uma semana em Cuba, não das praias mas a Cuba de Fidel, para a conhecermos antes da morte do velho general, e em seguida uma semana em Nova Iorque, com um contraste profundo entre estes dois mundos. Infelizmente Setembro é a altura dos tufões na América Central, deitando por terra os planos.
Segunda hipótese, Cambodja, tem cidades perdidas na selva lindissimas, e permitia (com Laos, Vietname e Tailândia) conhecer uma zona e cultura diferente e bastante distante. Setembro (como não podia deixar de ser) é um mês de monções no sudeste asiático segundo me dizem.
Não queriamos passar a lua-de-mel na Europa, continente que mais facilmente conhecemos no curto prazo em viagens comuns, mas em cada nova sugestão os elementos elevam-se contra nós... Se formos para Badajoz teremos alguma praga de gafanhotos na peugada?

segunda-feira, maio 22, 2006

Estranheza

Foi o que senti na última aula do workshop de teatro, pelos mais variados motivos. Em primeiro lugar a reunião do dia anterior não correu bem. Nada estava estruturado e o Thiago achava, suponho que como que por magia, que as coisas apareceriam construidas do vazio, e se criavam ligações com quem nunca se tinha antes visto. As reticências colocadas não o deixaram confortável, e as dúvidas que se levantaram deixaram um ambiente um pouco pesado (mas essa é outra história).
Em segundo lugar eramos apenas dois. Não sei quantos sobramos, três de certeza, mas até desses três apenas dois pudemos comparecer à aula.
A última questão prende-se com as partituras que desenvolvemos para ilustrar um quadro de um bêbado que chega a casa e confronta a mulher que quer sair. Não me pareceram fluidas, os gestos sairam algo forçados, e com uma componente coreográfica que não creio termos a capacidade técnica para desenvolver.
Foi uma aula estranha, daí ter levado quase uma semana a escrever sobre ela... Não sei que rumo irá agora tomar... Amanhã outra sessão se avizinha.

Pasmo!

É sempre assim, desde os primórdios deste blog que as visitas se reduzem drásticamente ao fim de semana, para metade, um terço dos dias normais, cheguei inclusivé a ter apenas meia dúzia de visitantes. É natural que assim seja, ao fim de semana raramente posto (e os visitantes frequentes já se aperceberam disso) e nesta altura as pessoas têm mais que fazer que andar a ler blogs.
Mas este Domingo não tive uma única visita! Nem uma! ZERO!!!
Tou pasmo...

sexta-feira, maio 19, 2006

Inside Man

Spike Lee regressa ao grande ecrã com este Inside Man, que é já o maior êxito de bilheteira do sua extensa carreira. De volta está o seu antigo companheiro Denzel Washington (que foi lançado por Spike Lee) na quinta colaboração conjunta, liderando um forte elenco onde se destacam Jodie Foster e Clive Owen. O filme toma os contornos de um thriller tradicional, com um assalto a um banco a ser levado a cabo de uma forma muito profissional mas pouco convencional, num plano considerado perfeito. As surpresas sucedem-se, como é apanágio deste género de filmes, mas existem diversos buracos no argumento que fragilizam uma estrutura bastante sólida, é por exemplo pena vêr alguem do talento de Foster destinada a um papel perfeitamente inconsequente.
Apesar de ser um blockbuster, Spike Lee mantem a sua dose de retrato social de uma América pluri-cultural, de uma metrópole que é o verdadeiro melting pot de pessoas das mais variadas proveniências. Com um virtuosismo na forma de filmar e de narrar a história que lhe é própria, Lee constroi um filme que se consegue destacar dos demais no género, apesar de não ser um marco na sua carreira.
Aconselhável.

Pela Kattaryna


Os Pearl Jam têm um novo album, invulgarmente numa banda com tantos anos de carreira é um album homónimo, passam por Portugal em Setembro e os bilhetes estão à venda nos locais habituais. Saiu uma entrevista no Y de 28 de Abril que não vou postar por ser grande demais.

Fica feita a referência.

Happy now? :D

quinta-feira, maio 18, 2006

Nos pormenores dos gestos

Pânico descubro que a carne picada que precisa de uma hora para estar pronta e que é a base do macarrão no forno, estava estragada. Erro meu, que a deixei quatro dias no frigorifico, bem sei que carne picada se estraga facilmente, mas enfim...
Corri ao Mercado da Figueira, para me reabastecer ainda a tempo de não jantar à meia noite. À minha frente na fila do talho estava um homem, cerca de 30 anos, com compleição indiana. "O que é que queres?" - disse-lhe em tom de gozo o talhante - "Frango sem pele? Porquê, tens medo de sujares as mãos? Não tens facas em casa?" - A enorme faca de trinchar caía sobre o frango despedaçando-o, arrancando a pele com visivel destreza - "Anda cá que eu mostro-te como se faz! Anda cá que levas uma talhada nas mãos que aprendes logo! Na tua terra tiram a pele ao frango?" - e dirigindo-se para uma velha que ali se encontrava à espera - "Era da maneira que aprendia! Eles tambem não fazem nada! Na terra deles não lhes tiram a pele." - Entregou-lhe o frango e o homem saiu. Dirigiu-se a mim: "Então o que deseja? Carne picada? Uma ou duas vezes? O senhor é que manda!"

Não é no facto de não te impedirem o acesso aos mesmos transportes públicos, ou aos mesmos restaurantes, impedirem-te de votar, ou criminalizarem a escravatura, nem de preverem que tens os mesmo direitos pela lei, mas é no dia-a-dia, todos os dias, a cada momento, em cada esquina, dizem-te, mostram-te, nos gestos, nas palavras, nos olhares, nas pequenas atenções, ali sabes - tu és diferente! E nunca te deixam esquecer isso...

I also believe in a better way - sing it Ben...

quarta-feira, maio 17, 2006


Foto de Alexandra Gil


Porque há beleza, porque há vida, porque há arte, porque há sonho,
porque há o mundo que nos envolve, porque existes tu em mim sempre,
amanhã será um dia único.


É sempre a mesma coisa, não há nada como a podridão que se instala quando algo fica por resolver entre duas pessoas, quando algo magoou ou marcou de alguma forma e não foi dito, posto para fora, em pratos limpos ali e na hora, doa a quem doer. E agora fica um ressentimento no ar, uma troca de acusações mútuas à distância, com aquele odor amargo do "eu tenho razão e tu não".
E mesmo achando que quem ficou em falta não fui eu, mesmo sentindo não ter feito algo que merecesse este clima de animosidade, fico, como sempre, com um peso nas costas, uma dor nas veias da tensão criada. Mais ainda quando a amizade, de tão recente e precária, ainda não ganhou as raizes que lhe permitam suportar a ventania, ainda não tem um tronco forte para aguentar a tempestade.

terça-feira, maio 16, 2006

A preparar o próximo ano lectivo


Com tanta mudança, tanta adaptação na vida e tanta coisa para tratar no imediato, é facil esquecer aquilo que não é urgente, mas que não deixa de ser importante. Com a experiência do workshop, que vai acabar em Julho, e do atelier de teatro que fiz, queria continuar a aprendizagem, a minha expansão pessoal, num vício de criatividade e expressividade corporal que se apoderou de mim.
Mas desta vez queria algo mais duradouro, mais estruturado, mais "a sério", não querendo com isso afirmar que o workshop que estou a fazer é "a brincar", longe disso, mas precisava de algo mais longo, que seja mais amplo naquilo que ensina, que permita uma exploração ainda maior da arte de representar (da qual sou espectador e fraco aprendiz).
Como tal comecei a fazer a minha busca. Pedi já informações ao espaço Evoe e à Act, que me parecem ter aquilo que procuro. O Chapitô, infelizmente, por alguns dias de incompatibilidade no incio, não é, este ano, opção.
Já agora, alguem tem sugestões de sítios onde procurar?

segunda-feira, maio 15, 2006

É a porra do princípio!

Há aquelas coisinhas pequenas, que na verdade não nos influenciam em nada o curso do dia, mas que, sem motivo aparente, nos deixam profundamente irritado. Uma das coisas são as pessoas que, independentemente da direcção que pretendem tomar, carregam am ambos os botões de chamada do elevador, fazendo com que este pare desnecessáriamente.
Outro é que, quando o botão de chamada já está carregado alguem, depois de olhar para mim, lá vá e pressione segunda vez o dito. Pior ainda é, tendo olhando bem para mim e vendo que já lá estava há algum tempo (não sou pequenino é dificil que não me notem!), entre em primeiro lugar no elevador, sem mais nem porquê. E enquanto que a história de carregar segunda vez no botão ainda pode ser imbirrância minha, o facto de se meter como um senhor crescido à minha frente, irrita-me solenemente. Não pela ordem de entrada, que o elevador tem tamanho para toda a gente e chegamos ao mesmo tempo, mas é a porra do princípio!

-Então vais-te casar?
-Vou
-Parabens!
-E quando é que te vais casar?
-Dia 23
-Eu ia-me casar nesse dia, mas acabou tudo...
-A que horas?
-Às 17
-Era a hora a que eu me ia casar...
-Onde?
-No Campo Grande?
-Com o Padre Vitor?
-Sim, porquê?
-Era nessa paróquia que eu me ia casar, com ele a celebrar o meu casamento!
-!!!
-Só te casas porque eu desisti!

sexta-feira, maio 12, 2006

O Salto

Ontem foi o aterrar do salto, é incrivel a diferença que duas aulas fazem no desenvolvimento do trabalho de actor, da construção de personagem, do próprio trabalho final.
Ontem continuámos com o trabalho com as partituras dinâmicas, movimento constante, um jogo de cadeiras em constante correria, até nos sentarmos, fixarmos a emoção e dizermos o texto que tinhamos preparado, assim, no momento. O barulho foi demais para o vizinho de baixo que subiu as escadas e ameaçou chamar a policia se não parássemos!
Mudança forçada de planos, o jogo agora decorria como se tivessemos a pisar ovos, os movimentos suaves, com uma tensão no andar. As mudanças de partituras podem ser feitas, mas não se pode ficar no vazio, se não for assumidamente depressa, tem que ser marcadamente lento, o meio termo aqui é que não funciona. Em frente com o trabalho, esta alteração veio trazer um nervo ao texto, à acção, como se algo se passasse que não se percebia bem o quê, como se existisse um segredo escondido por detrás daquelas palavras. Tira-se agora as cadeiras, a partitura mantem-se, cada vez mais interacção, mais emoção, mais texto.
Treino final de agressividade e defesa, movimento de ataque e gestos de medo, e sempre, sempre o texto de premeio. É incrivel as prestações que comecei a ver dos meus dois colegas (ontem fomos de novo apenas 3), não que mereçam o Grande Prémio do Juri em Cannes para a representação, mas ali, naqueles olhos vi, de uma forma genuina e constante, verdadeira emotividade, medo, raiva e texto... o mesmo texto que se nos enrolava na boca, a sair, fluido, genuino, sem pensar...
Relaxamento final feito com lençois, que lá ficaram depositados para mais tarde ganharem o seu papel e a sua energia próprias.
Um apontamento que me deixou mais calmo, a apresentação que vai ser feita no final deste workshop, vai ser feita sob a forma de exercicio público, e não necessáriamente uma peça no sentido mais tradicional do termo. Esse projecto, essa verdadeira peça, será desenvolvida no âmbito da associação de teatro que está a ser montada agora e à qual quero vir a pertencer, composta por ex-alunos do Thiago. Domingo temos uma reunião, a ver vamos o que dali sai...

quinta-feira, maio 11, 2006

Enviado pela minha amiga faninha...

Se um desconhecido te oferecer flores... isso é Impulse!

Se na distribuição dos prémios anuais toda a gente receber o triplo daquilo que tu recebes isso é... estão a gozar contigo! E se escreveres um mail ao Director de Recursos Humanos a perguntar o que se passa isso é... estás lixado! A não ser que te parem a tempo e te digam que só estavam no gozo...

Fui apanhado, o emprego pode não ser de sonho, mas este nivel de tratamento desigual achava que era demais...

:D

Quanto um tipo se sente profundamente injustiçado no emprego, quando se sente tratado com uma desigualdade gritante, só apetece mandar tudo à merda (pardon my french)! Quando o tipo responsável por isto está em Paris e a pessoa nem sequer o pode confrontar ainda pior!
Para o diabo com isto tudo...

quarta-feira, maio 10, 2006

Estão três homens em minha casa...

... e vão estar mais, podem no fim da manhã ser quatro ou cinco. E a minha cara-metade a tomar conta deles todos... Mas pelo menos hoje temos:

  1. Portas e janelas que dão para a varanda vedados
  2. Cano da máquina de lavar roupa arranjado
  3. Junta do chão da cozinha vedado
  4. Estante do escritório montada
  5. Candeeiro da sala montado

O que nos vai permitir:

  1. Não ter água em casa quando chove
  2. Fazer as máquinas de roupa suja que se acumula
  3. Não inundar a casa da vizinha quando cai alguma água no chão
  4. Arrumar as pilhas de livros e cadernos espalhados pela casa
  5. Acabar de fazer as mudanças que faltam
  6. Limpar a casa toda
  7. Trabalhar com calma
  8. Receber pessoas, dar jantares e não andar sempre com medo de onde se pisa

Uff... a ver se as coisas começam a entrar nos eixos

terça-feira, maio 09, 2006

Shooting Dogs


Quando, após longa ausência, fiz um levantamento dos imensos filmes em cartaz que me faltam ver (sem esquecer a Cinemateca e lamentando os que já passaram), deparei-me com este Shooting Dogs. O filme narra a história verídica de um padre e um professor europeus durante o massacre do Ruanda. Pensei logo num sub "Hotel Ruanda parte 2" e o facto de ser realizado pelo Michael Caton Jones não me deixou seguro. No entanto o que li sobre o filme era abonatório, o John Hurt merece sempre uma visita e ontem acabei por assistir à sessão das 19h10 no Monumental.
Para começar qualquer comparação com o Hotel Ruanda é meramente circunstancial, o tema é o mesmo, as situações descritas similares, mas Shooting Dogs apela a uma abordagem muito mais realista - motivada decerto pelos sobreviventes do massacre que se encontram na equipa de produção - desde as línguas que se falam, ao facto de ter sido rodado no local, passando pela apresentação directa e brutal dos actos cometidos naqueles dias. Mas Shooting Dogs não é um filme choque, não pretende repugnar com imagens violentas de sangue e mutilações, é antes um conto emocional, que narra o desespero de um povo e a indiferença a que foram votados pela comunidade internacional (como dizia uma reporter da BBC: na Bósnia quando via uma mulher morta pensava que podia ser a minha mãe, aqui são apenas africanos mortos). É um filme profundamente católico, defendendo o papel da Igreja em situações limite, que serve de base e apoio para gente que não tem mais para onde recorrer, mas é acima de tudo um filme de valores, de actos, gestos e imagens de angústia, de desespero, de esperança e de uma nobreza que, no meio da barbárie, sobressai da raça humana. É um filme duro, muito duro, directo, sem rodeios que nos faz em vergonha perceber que aqueles que com armas nas mãos vêm crianças a ser chacinadas sem nada fazer somos nós, cada um de nós, que no momento de agir se mantem indiferente ao sofrimento alheio.
Uma surpresa magnifica esta obra que me deixa a pensar como é que um homem que realiza este projecto a seguir faz o Instinto Fatal 2? Enigmas da vida...

segunda-feira, maio 08, 2006

As certezas das confirmações

Existem espaços para parar, ouvir, recolher ideias, sentimentos, e pensar realmente sobre a vida, o rumo que levamos e as motivações que nos impelem nesse sentido. Existem lugares onde se procura a ajuda de outros que, sem julgar nem impor ideias, nos fazem as questões fundamentais sobre as decisões que tomamos... É importante fazer essa pausa, é importante ter onde e a quem nos dirigirmos, e é importante sermos sinceros conosco próprios e com os outros.
Sabe bem, dá uma sensação de paz, tranquilidade, alegria e força redobrada, no fim destes momentos confirmar as certezas que já possuíamos e saber, com cada fibra do nosso ser, que estamos no caminho certo, numa caminhada até ao fim dos nossos dias...

sexta-feira, maio 05, 2006

De Gabriel a Gabriel


De Gabriel o Pensador a Lamb, com este Gabriel, tema cujo clip vai tentar reproduzir uma famosa sequência de Million Dollar Hotel, filme controverso, amado por uns e igualmente desprezado de Wim Wenders. Foi aliás este clip que me chamou a atenção para a pálida beleza desta música cantada por Louise Rhodes com um tom rouco que nos transmite uma palete de sensações, num tema agri-doce de uma amargura humana tocante... O album é irregular, não figurando entre a lista dos obrigatórios, mas esta e mais uma ou duas músicas fazem com que seja uma boa compra...

quinta-feira, maio 04, 2006

Pormenores 2

O Metro... essa fonte inesgotável de personagens peculiares... e há alguns que nos apanham completamente de surpresa. Por exemplo ainda não consigo perceber o que fazia um homem adulto na estação do Marquês num canto virado contra a parede a falar ao telemovel mas tão perto, tão perto, que se esticasse a língua tocava no azulejo...

Pormenores

Ontem, a caminho de casa para almoçar, fiz aquele que é agora o meu trajecto regular, percorrendo a rua Augusta até à Rua do Comércio ao velhinho quarto andar... Por mim passavam as tradicionais personagens que compõem a magia da zona antiga da cidade, dos rapazes dos questionários às peixeiras, dos turistas aos artistas de rua... No meio dos cheiros e sons da Baixa sobressaiu um já conhecido pequeno orgão de sopro tocado a medo por um cego de Lisboa... Já velho, gordo não do excesso de comida mas da falta de vida, roto nos cotovelos de um banco desdobrável onde repousa... As notas, fora de ritmo e de tempo, eram de uma velha canção de estudantes... "A mulher gorda a mim não me convém..." Parei por um momento... não pude deixar de notar na ironia de um pobre homem daqueles estar a tocar justamente aquela música...

quarta-feira, maio 03, 2006

Texto em cena

Cinco menos dois, foi esta a conta da última aula do workshop de teatro. Sobrámos apenas três alunos dos cinco sobreviventes... Foi, apesar disso, uma aula intensa, muito intensa, aliás não me lembro de suar tanto sem estar a carregar pesos.
Começámos com uma pequena palestra acerca de rigor e responsabilidade, a postura a partir de aqui vai ser de uma maior exigência para conosco e para com as tarefas que temos que realizar, sejam na aula sejam em casa. O ritmo, promete-se, vai ser acelerado, e quem não puder acompanhar o passo vai ser ajudado, mas em caso algum vai por em causa o andamento dos outros. Recado recebido.
Momento seguinte partituras dinâmicas, em vez de gestos simples, agora são partituras com base no movimento criado pelo Thiago, um pouco como se de dança se tratasse - afinal é esse cunho físico impressivo que ele quer dar a este espectáculo. Evolução, desvio, uso de partituras anteriores, encadeamento de acções e emoções... Subitamente dou-me conta... o meu personagem já começa a ter um gesto, um modo, um movimento próprio, começa lentamente a existir, não no verbo, mas no corpo...
Desenvolvimento constante, temos agora um momento de interacção, de luta, de improviso... Com a orientação do Thiago, os três elementos que lá estavam movem-se, quase dançam, atacam-se, defendem-se, lutam e vingam... Num constante por e tirar de camisolas forma-se uma cena, e agora texto... Dos nossos textos, escritos na parede, temos que formar uma cena... Tudo se complica, o texto atrapalha, condiciona, limita, restringe... como diz uma colega minha "sei dizer o texto, mas não o sei representar" - correcção imediata - "não tens que representar o texto, tens que fazer as partituras, puxar a emotividade, respirar, focar e, de forma limpa, dizer o texto, não representá-lo..."
Trabalho sobre a fala, a acção ligada à Palavra, e no fim muitos trabalhos para casa... Trazer lençois - que desconheço para que servirão - escrever o exercício que fizemos como cena de uma peça - ficará já na nossa peça? - e escrever um monólogo com base nos textos que vamos pesquisando - descobri que o Livro do Desassossego do Pessoa é uma base enorme para a minha personagem - para o decorarmos...
Foi uma aula dura, física, mas muito recompensadora...

terça-feira, maio 02, 2006

Regresso à cena - Parte II

No dia da Liberdade teve lugar uma outra aula de teatro, desta vez de manhã para se poder aproveitar melhor o feriado.
Aula completa - na anterior tinha faltado um elemento - e desta vez trouxemos os textos pedidos. A pesquisa que estamos a fazer de textos serve de base não só para o trabalho de cada aula, para termos leituras que possamos realizar, mas tambem é o esqueleto da construção da nossa peça final, os textos devem portanto estar relacionados com o nosso personagem, devem servir de material para o conhecermos, desenvolvermos, para lhe darmos corpo e alma.
A aula começou com a apresentação do trabalho de cada um. A troca de ideias, dúvidas e interrogações sobre os textos escolhidos levou a uma ou outra resposta mais ríspida e, com a intervenção do Thiago que se deixou envolver, voltou a descambar em discussão e conflito.
Sempre que lidamos com emoções tudo parece correr bem, mas quando passamos para a troca de ideias, quando a aula se baseia no verbo, tudo dá uma volta inesperada. Sem atribuições de culpa, a verdade é que foi uma aula deitada fora, mais uma, não só com o conflito, a subsequente tensão, a conversa final para o tentar resolver, mas com o completo alheamento que alguns elementos do grupo ditaram aos exercicios quando o Thiago nos abandonou na sala para ir falar com quem estava incomodado com a discussão. Espero que não se repita... Os problemas devem ser resolvidos após a aula e não durante o pouco tempo que dispomos, e todos temos que ter a capacidade de nos concentrarmos mesmo quando as coisas não estão a correr pelo melhor. É uma aula por semana. Se a deitarmos ao lixo, deitamos fora 7 dias de trabalho...
Hoje nova aula... Espero que nada disto se repita...

Regresso à cena - Parte I

Sexta-feira dia 21 de Abril regresso ao fim de um mês às aulas de teatro... Curioso como algo que não ocupa mais que três horas numa semana e que existe apenas há meia duzia de meses, possa ter uma importância tão grande, possa fazer tanta falta... O regresso, aguardado, foi profícuo, leitura de textos, que deveriam ter sido trazidos por nós (não o sabia) mas que acabaram por ser entregues pelo Thiago. Por vezes há coisas que parecem predestinadas, um dos textos que li vai ser a base do passado da minha personagem na peça que estamos a construir, quando o ouvi pela primeira vez, lido por outro colega, senti uma vontade enorme de lhe pegar, e quando o pude lêr soube que era perfeito para a construção da identidade deste Homem ainda anónimo...
Não foi tanto uma aula de emoções mas um pouco mais de técnica de leitura, a respiração do texto, a procura dos tempos, entoações, velocidades e pontuações próprias para dar corpo à Palavra, que serve de capa à expressividade da representação...