quarta-feira, março 28, 2007

Até já...


Programa Primavera


"No ano em que completa 30 anos, a Companhia Nacional de Bailado apresenta em estreia, no Teatro Camões, o Programa Primavera, quatro coreografias num programa único:

dualidade_formas@ilusao de Gagik Ismailian

The Vertiginous Thrill of Exactitude de William Forsythe

Passo Contínuo de Mauro Bigonzetti

Treze Gestos de um Corpo de Olga Roriz"

Estiveram de 8 a 24 de Março, eu só consegui ir à última apresentação, e como de costume não saí desiludido. Forsythe pegou em temas clássicos e apresentou-os com uma força, uma vivacidade, uma vertigem de dança e técnica, quase inebriante. Bigonzetti foi o meu favorito, a beleza da dualidade dos dois corpos ali presentes, a sua força e confrontação, o seu diálogo estético e emocional, acompanhados de acordeão ao vivo encheu-me as medidas. Seguiu-se Ismailian, que teve momentos visualmente interessantes, outros menos conseguidos, mas que terminou com um bailado a três de uma energia, uma sensualidade incriveis, que elevou toda a performance a outro nível. Quem me deixou desiludido foi Olga Roriz, mas a minha reacção é puramente insintiva, a música deixou-me com dor de cabeça, o que bloqueou logo a hipótese de apreciar o resto, que mesmo assim me pareceu algo repetitivo.
Quatro em um... por cinco euros. Mais barato que ir ao cinema, custa ver que o público não adere, custa ver companhias a fechar e o panorama cultural e artístico cada vez mais pobre. No capítulo da dança o CNB é das poucas que sobrevive... A ver vamos...

terça-feira, março 27, 2007

Dia Mundial do Teatro


A todos os actores, dramaturgos, encenadores, técnicos, frentes de casa, assistentes, público, a todos os que acreditam, os que se deixam encantar, os que se entregam e se dedicam, os que se esforçam, que se sacrificam, a todos os que elevam a nossa existência a um outro patamar: Obrigado.



Hoje o teatro é de graça. Aproveitem!

Música da Semana

Já lá vão dois anos desde que a Cuca me deu a conhecer, no saudoso Dizconversando\Conversadizendo, esta cantora espanhola. A música era Siempre Me Quedará, e apaixonou-me imediatamente, passei a noite em repeat, a ouvir vezes sem conta. Esta semana o som aqui do Sopros tinha que ser em espanhol...
Senhoras e senhores... Bebe...

segunda-feira, março 26, 2007

Ontem, dia 25 de Março, saíram os resultados finais da eleição do maior português de todos os tempos, feita pela RTP. 41% dos votantes elegeram António de Oliveira Salazar, com uma larga vantagem sobre o segundo classificado Álvaro Cunhal, que conseguiu 19,1%. Curiosamente tal coincidiu com a comemoração dos 50 anos do Tratado de Roma, tratado esse que vai contra tudo em que o tacanho nacional-fascista acreditava, e impôs no nosso pequeno país. Os resultados são alarmantes, 41% das pessoas acreditam que ele foi o MAIOR português de sempre, o que levaria a supor que uma grande maioria o considera um grande homem, ou pior, que apoiaria o seu regresso se tal fosse possível. Quantos? 50%? Mais?
Em simultâneo, a RTP encomendou à Eurosondagem um estudo, e os resultados são algo dispares daqueles que o concurso revelou. Aí em primeiro lugar estava D.Afonso Henriques com 21%, seguido de Camões com 15,2%. Salazar aparece em 7º lugar com 6,6%. Não fico, mesmo assim, mais descansado. Só o simples facto de ele aparecer na lista é preocupante, o facto de quase 7 em cada 100 o considerarem o maior português de sempre é então incrível.
Não vou discutir números, mas o facto de haver uma fatia significativa do nosso país que apoia um homem que representa tudo o que abomino é assustador. Tal como é assustador o facto de existirem elementos de partidos de extrema-direita a tentar tomar conta de associações de estudantes de diversas universidades e a conseguir em algumas escolas secundárias.
É preocupante que o fascismo seja visto de uma forma tão ligeira, tão simples, se considere tão normal a opressão, a repressão, a polícia politica, os presos, as mortes, a perda de direitos, a xenofobia, o racismo, a descriminação, o ódio e se esqueça tudo o que foi e poderá ainda voltar a ser. É abominável que se esteja a massificar ideologias que nos retornam a um passado fechado, sangrento, aterrador...

Hoje eu tenho vergonha de ser português.

The Painted Veil

O improvável casamento entre uma rapariga mimada da alta-sociedade e um médico bacteriologista em meados dos anos 20, abre caminho para a solidão e a infedelidade. The Painted Veil é um filme sobre a descoberta do outro, do amor, de si próprio. Baseado no romance de Somerset Maugham, desenrola-se na China, em 1925, numa aldeia do interior onde existe um surto epidémico de cólera, e para onde o Dr.Fane se voluntaria a ir, apenas para castigar a mulher pela sua traição. Dirigido por John Curran, realizador de pequenos filmes independentes, este é no entanto o projecto de Naomi Watts e Edward Norton, que são, para além das vedetas, os dois produtores do filme. Lento, pautado, com a necessária construção suave, é uma fita que se sustém num trabalho de actor cuidado, em paisagens deslumbrantes, mas principalmente numa noção exacta do que a história precisa em termos de tempo, espaço e fôlego para crescer. Intimista mas com uma escala épica, simples mas estruturado, duas pessoas mas com um país em ebulição que faz tanto parte daquela relação como qualquer dos dois. The Painted Veil é uma visita a um mundo frágil de emoções, de uma beleza arrebatadora.

sexta-feira, março 23, 2007

SEIS !

Kan shang qu hen mei


Selecção oficial dos festivais de Sundance e de Berlim (onde foi premiado), este Pequenas Flores Vermelhas é, se a memória não me falha, o primeiro filme de Zhang Yuan a estrear em portugal. Cineasta chinês com década e meia de carreira, realizou esta adaptação de um romance chinês, com co-produção italiana, e apadrinhado por Marco Mueller, o patrão do Festival de Veneza desde há dois anos, ele que tinha sido um dos principais dinamizadores dos festivais de Roterdão e Locarno, desde há mais de 20 anos.
O filme conta a história de um rapaz de quatro anos que é deixado pelo pai num infantário em regime de internato, na china pós-revolucionária. A sua inadaptação e revolta é seguida num tom terno, carinhoso, cómico, e faz com que nos prendamos aquele pequeno diabrete. Pequenas Flores Vermelhas é um filme lindíssimo, nas imagens visuais e nos sentimentos humanos, sensivel, caloroso, mas parece não ter muito por onde evoluir. Seguimos as desventuras da criança com prezo, mas pouco mais se retira dali. Uma hora e meia em boa companhia, sem grandes sobressaltos, nem surpresas, mas sempre com um sorriso nos lábios.

quinta-feira, março 22, 2007

Eureka!

Finalmente começo a encaixar as peças todas. Ontem, durante a relaxação e principalmente durante o trabalho sensorial cheguei a uma conclusão. Todas as pontas que faço, todos os papeis, todas as passagens em quadros diferentes, aparentemente disconexas, são a mesma pessoa, a mesma personagem. O mesmo homem com uma pulsão para amar e que não consegue dar esse amor, que não consegue ser amado. Ao descobrir isto consigo finalmente dar um sentido ao que estou a fazer e preparar, espero eu, uma actuação muito mais consistente.
Agora pausa... retoma-se depois da Páscoa.

quarta-feira, março 21, 2007

Notes on a Scandal

Um dos filmes que aguardei com maior expectativa foi este Notes on a Scandal (Diários de um Escândalo), não pela história, nem pelo realizador Richard Eyre (de cujo trabalho apenas conheço Iris, e sem grande entusiasmo), mas pelo par de actrizes que encabeçam o cartaz, Judi Dench e Cate Blanchett, ambas nomeadas para o Oscar - Actriz Principal e Secundária respectivamente. Foi uma desilusão doce. Tudo é mediocre, vulgar. A narrativa e a construção dramática são mornas e tremendamente previsíveis. O desenvolvimento de personagens (exceptuando as duas principais) é linear e nem o próprio rapaz com quem Blanchett se envolve está minimamente estruturado ou possui algum tipo de sedução. Mas... temos actrizes! E que actrizes! Como uma final de Wimbledon entre dois tenistas de topo, um Agassi contra Sampras, vemos estas duas mulheres a encher o ecrã com papeis desmesurados, trocar olhares, emoções, argumentos, cumplicidades, constantemente num bater de bola sem saber qual das duas merece maior aplauso. Judi Dench é alguém com uma capacidade inata para representar. Fabulosa a forma como ela, sempre contida, sempre sem explodir nem elevar a voz, entrega um cocktail de emoções, uma mistura de sabores que devia ser estudada nas escolas de teatro... tudo é perfeito, até a forma como sobe as escadas para visitar a sua "amiga" é plena de intenção, excitação, impaciência... E para cada cena de Dench há uma de Blanchet... tendo visto O Bom Alemão e agora este Diários de um Escândalo é impossivel não comparar. Não é que a performance num seja melhor que no outro... é que são duas pessoas totalmente distintas, não é a mesma actriz em dois papeis, são duas mulheres. Nervosa, tensa, cheia de charme, ingénua talvez... eu acredito que aquela professora se deixa seduzir por aquele rapaz banal não porque esteja no argumento, não porque seja bem realizado, nem sequer por estar a vê-lo, mas porque Blanchett me diz que sim, e se ela diz, eu acredito. É essa a marca dos grandes actores, fazer-nos acreditar na profunda sinceridade dos seus actos e sentimentos, contra tudo e contra todos. Não se explica como deram o Oscar a Jennifer Hudson...
História banal, filme vulgar, mas duas representações de louvar os céus.

terça-feira, março 20, 2007

Show stopper - apontamento

A última parte da peça só foi entregue na quarta feira, e portanto apenas ontem foi feito o primeiro ensaio. Ainda em construção claro, mas há uma coisa que é desde já certa: a cena em que a Patricia se olha ao espelho e diz: "Beija-me... beija-me a alma..." é de longe o melhor texto de toda a peça e ela intrepreta-o com uma força, uma intensidade incriveis! Vai sem dúvida roubar o espectáculo! Uma grande performance...

Música da Semana

"I fucking hate Goldfrapp!" - com esta frase Ellen Page, num papel absolutamente memorável, mostra-nos o nível de premeditação com que engendrou tudo em Hard Candy, um dos filmes mais surpreendentes de 2005, que aborda o sempre sensível tema da pedofilia sob um prisma quase... revolucionário.
Quanto a mim Goldfrapp não era novidade, os sons de pop-electrónica desta banda inglesa, liderados pela incontornável Alison Goldfrapp, já os conhecia e apreciava há algum tempo.
Para esta semana, do album Supernature, o envolvente You Never Know.

segunda-feira, março 19, 2007

The Good German

Em Berlim, no fim da Segunda Guerra Mundial, as potências aliadas reunem-se para a Conferência de Paz, para decidir o futuro no pós-guerra. A cidade é um local cheio de oportunidades e de perigos. Um correspondente de guerra americano aterra para cobrir a conferência, mas na realidade procura o seu antigo amor, uma alemã que tinha ficado para trás. Vê-se envolvido numa teia de suborno, morte e vingança . Filmado como os film-noir da época, mimetizando fotografia, angûlos de câmara e temáticas, O Bom Alemão é um filme interessante de Soderbergh, mas que não deslumbra. É uma homenagem aos clássicos, mas que não consegue fugir da sombra dos mesmos, correndo o risco da forma intreferir com o disfrutar da substância. Bem escrito e interpretado , Clooney e Blanchet a fazer uso das suas armas habituais, é merecedor de atenção, mas não obrigatório.

sexta-feira, março 16, 2007

Há momentos como este, em que a expectativa de mudança se torna densa, espessa, quase palpável, em que a tensão acumula à beira do desconhecido, em que apenas se tem uma certeza - nada vai ser como dantes.
As variáveis são muitas, como vai ser a reacção dos envolvidos, quando vou ter que começar o novo caminho e terei eu as pernas necessárias para o trilhar? A confiança depositada sobre mim foi grande, de repente parece ser ainda maior.
Há dias em que a vida parece suster a respiração...

quinta-feira, março 15, 2007

A Fúria

... de Bruno Schiappa está terminada. É este o nome da peça que vamos apresentar em Junho. A partir daqui são ensaios em cima de ensaios, em cima de ensaios. E a fúria do Bruno sente-se em cada aula, com as marcações, com a atenção e o profissionalismo necessário para abordar um trabalho como este. Tenho mais uma ou duas coisas para fazer. Em termos de utilização não me posso queixar, entro durante imenso tempo, tenho diversos quadros, e encaro isso como uma prova de confiança à qual espero corresponder. No entanto não é o caso de toda a gente, e custa ver pessoas de quem gosto tristes por não terem um papel tão relevante, ou desafiante como queriam.
Faz parte... agora mãos à obra...

quarta-feira, março 14, 2007

O local onde trabalho devia ser um sítio de produção de conteúdos, onde se trabalha em e se pensa sobre cinema, televisão, internet e audiovisual. Infelizmente isso é tudo no papel. Na verdade em 1000 pessoas, talvez 5 percebam e pensem realmente os conteúdos a que me referia. Com especial incidência no meu piso. Estou rodeado de malta que tanto podia estar aqui como a vender pastilhas elásticas, que não fazem ideia de coisa nenhuma, nem querem fazer. O pior é que não se calam, falam alto, cantam, gritam, discutem novelas e trivialidades como se se tratasse de um importante tratado filosófico. O pior é quando uma das inúmeras jovens mães traz o seu querido rebento de soja para o emprego. A histeria rebenta, tudo se levanta num reboliço doido, de empregadas a directoras todas viram a atenção para a criança que inadvertidamente veio parar a uma gaiola de malucas. Fala-se como se tivesse atraso mental, brinca-se, grunhe-se, pula-se, passa-se o bébé de braço em braço como se fosse uma taça que toda a equipa quer tocar, e arruina-se uma hora de trabalho, o clima e a paciência de quem está ao lado e (enganado com certeza) julga não ter vindo trabalhar para uma creche...

Pax Romana

Depois de uma breve passagem pelo palco da Comuna, a Este - Estação Teatral da Beira Interior, trouxe o seu espectáculo Pax Romana ao Chapitô, para um número reduzido de dias, o fim-de-semana passado. Tendo como base os princípios da Commedia del'Arte, apresenta-se como uma peça leve, bem disposta, que segue as desventuras de três legionários romanos (segundo a estética de Uderzo), quando regressam de batalha. Sem linguagem, ou com uma linguagem rudimentar, um português a imitar o latim, baseia-se muito no trabalho físico dos actores, no rigor do gesto, num humor que é preciso e visual. O problema é que após o sorriso inicial a ideia esgota-se. Os gags repetem-se ao longo de uma hora, sem grande imaginação, nem diversidade. O que era inicialmente simples, torna-se em forçado e até exagerado. Se juntarmos a isso um espaço exíguo na tenda do Chapitô e um público demasiado jovem e histérico (que não parava de rir boçal e alarvemente a cada careta, cada gesto reproduzido em palco), temos uma experiência pouco satisfatória.

A visitar com reticências nos próximos locais onde pousarem...

terça-feira, março 13, 2007

A energia do outro


Na aula de ontem, para além dos exercícios iniciais de aquecimento, e do ensaio da peça no final, o que mais me marcou foram os exercícios que fizemos no meio. Começámos por tentar reproduzir andar num espaço quase sem gravidade. Continuámos com gestos que cortassem o ar, que nos dessem impulso e tentámos perceber o efeito desse impulso no corpo. Passámos então para exercícios a pares, aí o nosso grau de atenção e de concentração teve que evoluír para outro nível. Começámos lado a lado, a tentar perceber a energia do outro, movendo-nos com o outro, como se o nosso corpo e o dele estivessem ligados por uma corrente invísivel, sem líderes, sem palavras, sem gestos pré-programados, avançávamos tendo apenas em atenção o outro e o que sentiamos desta dualidade. Foi então que veio o toque, o nosso corpo passava a estar em permanente contacto físico com o corpo do nosso colega, movendo-se o mais possivel numa harmonia, num fluxo de pele, carne e movimento, numa ligação constante de atenção, intenção e energia. É incrivel a terrivel liberdade de depender de quem está ao nosso lado e sentir que o outro depende de nós, de actuar como um só. Por fim, o mesmo exercício que este, mas com movimentos mais bruscos, mais fortes, mais intensos. Claro que não atingimos o potencial máximo na primeira vez que experimentamos este trabalho, provavelmente nem na segunda, nem na centésima, mas a busca, a procura, a ligação foi surpreendente.

Música da Semana

De Portugal ao Brasil,num só pulo atravessa-se o Atlântico. Aqui com a voz de Caetano Veloso que compôs este terno O Leãozinho, que é uma insuspeita canção de amor. Não de amor no sentido mais comum, mas um piscar de olho enfim, uma melodia aos rapazinhos morenos das praias do Rio, os pequenos leões de juba solta e cabelo moreno que Caetano apreciava.
Aqui fica, um dos grandes da música brasileira...

segunda-feira, março 12, 2007

Dreamgirls

Ontem à noite fui ao cinema. Sendo domingo e tendo companhia alargada, resolvi escolher um filme que fosse levezinho, que entretesse, e que não precisasse de grande dor de cabeça para ser apreciado. A escolha recaíu sobre Dreamgirls. Foi bastante premiado, tem uma recriação de época que me pareceu interessante, a música que ouvi ficava no ouvido, os últimos dois trabalhos do realizador, Bill Condon, foram muito interessantes (Kinsey e Gods And Monsters) e ainda riscava mais um filme da lista dos Oscares.

Os primeiros vinte minutos pareciam confirmar que a decisão era acertada, o filme fluía sem problemas, os fatinhos eram giros, e a história envolvente. Foi então que tudo mudou. Em vez de cantar apenas em palco, os personagens acharam por bem cantar em todo o lado. O filme deixou de ser sobre uma banda de música, para ser um musical. Pessoalmente eu gosto de musicais, achei o Chicago interessante, mas deixo-me fascinar particularmente pelos clássicos, de My Fair Lady a Mary Poppins. Já Dreamgirls é um absurdo. Não é um musical, mas sim um interminável teledisco, as músicas encadeiam-se com pouco diálogo e quase nenhuma acção entre elas, ao ponto do desespero. É como as cut scenes dos filmes normais com música por cima. Quando, por exemplo no Rocky, se vê o boxeur a treinar, a levantar pesos, a correr, a esmurrar pedaços de carne com uma melodia a pontuar a acção, estas cenas servem para fazer correr o tempo. Dreamgirls é uma hora e meia deste tipo! Não há pachorra! É canção atrás de canção, não nos interessa o que se passa, quem fica ou quem parte, quem vive ou quem morre, apenas queremos que aquilo acabe. E aquele happy-ending forçado, é de bradar aos céus.
Rapidamente se esquece os valores de produção, a melodia, ou o trabalho de actores (que aliás não é mau mas também não merece o aplauso todo que recebeu), apenas queremos que acabe. Felizmente acaba... eventualmente eles calam-se...

sexta-feira, março 09, 2007

Ontem à noite (sem dúvida para comemorar o dia da mulher) o Biography Channel passou um documentário da sua série Crónicas de Amor, intitulado, Amor em Zona Perigosa. Seguiam os casos de mulheres que se entregam a "homens perigosos", músicos, motoqueiros, uma série de tipos violentos culminando numa mulher que se apaixonou por um "serial killer". Ora, este "serial killer" é o autor confesso de inúmeros homicídios de mulheres, onde as torturava, esventrava e violava sistemáticamente. Quando ele transferido para outra prisão, esta mulher (que foi juri no seu julgamento) mudou-se para outra cidade só para estar perto dele.

Há coisas que ultrapassam a minha capacidade de compreensão. Haverá assim uma escassez tão elevada de homens solteiros? Será o amor cego na verdadeira acepção da palavra? Ou, como diziem os Ornatos Violeta, o amor é uma doença?

E se o projecto da Joana me tem merecido elogios,
então agora que está coberta de pirilampos que posso eu dizer?

quinta-feira, março 08, 2007

Ai o temperamentozinho...

Ensaio, ensaio, ensaio, ainda na aula (só devemos passar para a tenda mais em cima da estreia), e ainda a acrescentar quadros novos. Ontem começámos como de costume com um exercício sensorial, e depois duas colegas tentaram o novo trecho de texto que o Bruno tinha preparado. Meia dúzia de repetições e depois ensaiar a peça toda, desde o início, até ao ponto em que se encontra agora. É complicado conseguir fazer ensaios completos quando não está toda a gente, quando há faltas constantes de um ou outro elemento, mas lá se vai colmatando a ausência dos colegas com substitutos em cima da hora. Quanto mais perto estivermos da estreia, mais complexa se torna a peça, mais exigente fica o Bruno e mais dificil é tolerar faltas. E quanto a exigência, estamos a começar a sentir o nó a apertar, vai ser cada vez mais complicado falhar o texto, a entrada, confundir os passos, o Bruno não tolera desatenções. Pessoalmente entendo, se não for com alguma disciplina não é possivel fazer nada. Somos um grupo amador, com um número muito grande, com apenas dois ensaios semanais de pouco mais de duas horas cada um, e facilmente a distração se instala. Vamos ter que habituar os ouvidos, e a concentração, a um ou outro berro ocasional...

quarta-feira, março 07, 2007

El Laberinto Del Fauno

Nunca fui grande fã de Guillermo Del Toro, apesar de gostar do seu imaginário nem Mimic, nem Blade 2, nem Hellboy me convenceram. No entanto, por causa de tudo o que li e ouvi sobre este filme, aguardei a sua última fita com muita espectativa.

O Labirinto do Fauno é uma fábula crua, uma crítica dura à Espanha fascista de Franco. É aliás o segundo filme sobre o tema que Del Toro realiza, após El Espinazo Del Diablo em 2001, e parece querer voltar ao tema em 2009 com o filme 3993.
Antes de mais, e para que o cartaz não engane ninguém, O Labirinto do Fauno não é um filme para crianças, não é um filme de aventuras, nem está dentro do mundo de Tim Burton. É um conto sobre uma criança orfã de pai, cuja mãe casa com um sádico capitão fascista em Espanha em 1944, e que para fugir á horrivel realidade que a rodeia se deixa seduzir por um mundo de fadas e faunos, mas onde as criaturas fantásticas são tão concretas e maléficas quanto os monstros da vida real.
Guillermo Del Toro consegue tecer uma fina teia de emoções, de relações, numa película visualmente impressionante (é espantosa a diferença entre a indústria espanhola e aquilo que se consegue fazer em Portugal), muito violenta (por vezes de uma forma gráfica) e que me conseguiu cativar desde o primeiro instante. Há muito tempo que um filme não me enchia desta maneira, me tocava, chocava, surpreendia, apeteceu-me levantar e aplaudir de pé a força das imagens que tinha acabado de assistir. Ganhou 3 Óscares, merecia muito mais. Sei que a paixão que desenvolvi por este Labirinto pode não ser partilhada por muita gente, mas o cinema é feito destas coisas, não só de excelência técnica ou artística, mas de histórias que nos arrebatam e nos fazem esquecer quem somos e onde estamos...

terça-feira, março 06, 2007

A direcção da lua

A cada ensaio que passa é acrescentado mais um ponto à peça, ainda estamos na fase da construção, de teste, de aprendizagem e crescimento. Sem dúvida um work in progress. Eu continuo sem ter a certeza do rumo disto tudo, sem saber se, no final, vai ser um bom espectáculo, mas a verdade é que ali tenho o meu espaço de criatividade, de emoção e liberdade. Gosto imenso do ambiente que se cria, das pessoas, das dinâmicas, da electricidade que me passa pelo corpo, do estado em que saio todos os dias.
Dia a dia, à procura da direcção de uma performance...

Música da Semana

Ah... canta-se de novo em português no Sopros... Desta vez é Rio Grande, o projecto de João Gil que conta a história de um homem do campo, o seu crescimento, vida, ida para Lisboa e regresso à terra natal. Esta canção, é a conversa entre um pai e um filho, quando o filho sai de casa, e o pai lhe dá a única coisa que lhe pode dar, um conselho: faças o que fizeres na vida, vás por onde fores, nunca te esqueças de quem és.
Da escrita de João Gil, na voz de Jorge Palma: Senta-te Aí...

segunda-feira, março 05, 2007

OPA? Oh, pá!


Uma das notícias mais importantes do fim-de-semana foi o resultado da assembleia-geral de accionistas da PT, que votou contra a desblindagem de estatutos (nos quais está expresso que nenhuma entidade pode possuir mais de 10% da empresa) pondo assim fim à OPA lançada pela Sonaecom. No Sábado, enquanto fazia as compras do mês num supermercado Sonae resolvi comprar o Público para ler sobre o assunto. Foi então que me ocorreu que este jornal era dos mesmos donos do hipermercado onde me encontrava, achei por bem comprar o DN, para ter um termo de comparação entre para a forma de tratamento da notícia. Se fosse há uns tempos atrás seria mais curioso ainda, visto o DN ter sido da PT, aí o confronto seria directo. Não achei que os irmãos Oliveira tivessem motivo para puxar por um lado ou pelo outro e portanto avancei com a compra dos dois jornais. A comparação foi incrível.
Começando logo na primeira página o título do DN lia "Era uma vez uma OPA" e o do Público "OPA sobre a PT bloqueada por um terço dos accionistas e cumplicidade do Governo"A partir daqui o Público partiu na defesa da tese de que o Governo bloqueou a OPA na secretaria e que uma minoria dos accionistas impediu que a maioria se decidisse. O pináculo chegou no editorial de José Manuel Fernandes em que, com um tom de dama ofendida, levou esta tese ao extremo: A CGD votou contra a desblindagem dos estatutos, logo, foi manipulada e controlada pelo Estado, numa cabala contra a Sonae. Estranha tese esta em que se afirma: são independentes se votarem como eu quero, não são se votarem contra. Repetiram uma e outra vez que 46,58% dos accionistas presentes votaram contra e que isso representa menos de um terço do total, indignados contra este estado de coisas. Esqueceram-se de alguns, pequenos, pormenores. Em primeiro lugar os estatutos da PT não foram bloqueados por causa da Sonae, já o eram antes de haver qualquer OPA, e que quando a decisão da OPA foi tomada já se sabia o processo necessário para os desbloquear. Em segundo lugar, quem os podia desbloquear eram os accionistas, os tais que foram "impedidos" de decidir no mercado, foram os mesmos que na maior assembleia geral da história da PT, votaram maioritariamente contra. Se o Público acha que poucos votaram contra, então que dizer da minoria que votou a favor? Sim, porque virando o bico ao prego, temos que apenas 43,9% dos accionistas presentes votaram a favor da desblindagem. O que dá que apenas 29,4% do universo global de accionistas votou a favor da desblindagem, todos os outros votaram contra ou se abstiveram (33% dos quais se abstiveram não comparecendo). Não foi o próprio José Manuel Fernandes que disse "...para desbloquear os estatutos da empresa uma abstenção corresponde, na práctica, a um voto contra"? Pois foi o que os accionistas fizeram... votaram contra. Ou seria uma minoria a dizer que a OPA devia avançar? Em terceiro lugar é preciso dizer que mesmo que a CGD votasse a favor da desblindagem a OPA cairia. A verdade é que a Sonaecom não encontrou o número necessário de apoiantes ao seu projecto dentro do universo dos accionistas, e os cerca de 5% da CGD eram insuficientes para que a balança pendesse para o outro lado. Culpar o Governo é desculpa de mau perdedor.
Mas o que é incrível no meio disto tudo é o ar de parcialidade do Público, um jornal que continua a perder dinheiro para o seu patrão e que parece agora querer tornar-se útil para quem o sustenta. E é de tal maneira óbvio que é este o tom do tratamento da notícia que José Manuel Fernandes precisou (antes que alguém o acusasse) de se justificar, dizendo no fim do seu editorial que o facto do Público ser detido pela Sonae e de ele próprio ter acções da Sonae em nada altera o que escreve. Pois se ele não consegue ler nada na opção de voto da CGD para além de uma ordem do Governo, também se torna difícil ler algo nesta edição do Público que não soe a frete ao patrão.

sexta-feira, março 02, 2007

Afinal já não vou ter Alegria na minha vida...

... mas esteve tão perto...

The Last King of Scotland

Kevin MacDonald é um realizador conhecido pelo documentarismo e, descobri agora, neto de Emeric Pressburguer (brilhante realizador, argumentista e produtor dos anos 40 e 50, que fazia dupla com Michael Powell). The Last King of Scotland é a sua primeira aventura na ficção, e curiosamente, baseada em pessoas e factos reais, como que uma bengala para quem está habituado a relatar factos concretos. Segue a história do médico pessoal de Idi Amin, brutal ditador do Uganda na década de 70, que saído da faculdade deixou a Escócia e partiu para o Uganda em busca de emoção. Se MacDonald vem do documentarismo perdeu rápidamente os tiques e vícios desse género, The Last King of Scotland está longe de ser um docu-drama, é um filme intenso, directo, absorvente, com uma fotografia soberba (a reproduzir o feel dos anos 70) e que assenta sobre uma força da natureza: Forrest Whitaker. É verdade que o talento de Whitaker já foi amplamente revelado de Crying Game a Panic Room, mas aqui eleva-se a um nível extraordinário. Não é só a reprodução fiel de Idi Amin, apesar de ser um trabalho sempre difícil copiar e encarnar pessoas (re)conhecidas, mas a impressionante intensidade com que está presente em cena em cada momento, cada minuto, não existe um olhar, um gesto, um pequeno movimento que não esteja repleto de emoção, de vivência, de uma vibração que lhe atravessa cada poro. Um filme que tem outros méritos, que se sustém nos seus próprios pés, mas que Whitaker torna memorável.

quinta-feira, março 01, 2007

Pois que me passaram...

Eu as cadeias não passo, mas respondo a quem me passa. Portanto, Puligare, aqui vai disto.

7 coisas que faço bem:
1. Cozinhar - dizem que sim, e gosto bastanto
2. Falar - horas e horas sem fim...
3. Ouvir - há quem diga que devia abrir um consultório sentimental
4. Escrever - Sempre escrevi...
5. Representar? - Ainda estou para ver... mas gosto de pensar que sim...
6. Ver placas de casas à venda lol
7. Andar e mascar pastilha ao mesmo tempo... desde pequenino!

7 coisas que não posso/não sei fazer:
1. O pino
2. Cantar - poder posso... mas não devo
3. Correr depressa - a não ser que tenha um cão atrás de mim
4. Ter pachora para gente estúpida
5. Dançar (sou um pouco tronco de árvore)
6. Viver fora de Lisboa (por muito tempo)
7. Não ir ao cinema, teatro, dança e similares durante muito tempo...

sete coisas que digo:
1. Xôtora como está?
2. Qu'estes gajos pá...
3. Mai nada!
4. Olha que esta hein?
5. P'lo amor de Deus!
6. Vá lá vai
7. temos pena

sete coisas que me atraem no sexo oposto:
1. cabeçinha!
2. bom-gosto
3. abertura a novas ideias, sem preconceito social, pessoal , rácico ou o que seja
4. cultura
5. sinceridade
6. sentido de humor e à-vontade
7. olhos expressivos, cus e mamas e pernas bem torneadas - sem tretas, sou só eu?

7 pessoas para serem celebridades:
1. Eu claro, eu, o mais célebre dos célebres
2. a minha cara metade que merecia ser reconhecida pelo mundo inteiro, apesar de não estar nos seus planos
3. a Joaninha e a sua loja de design
4. a broa quente... com a sua escrita
5. o meu paizinho que já é semi-famoso, mas podia ser TODO famoso lol
6. o andré... cineasta em perspectiva...
7. a Puligar, que me mandou este desafio e há-de ser uma actriz nos grandes palcos mundiais ;)
E fazendo batota ainda acrescento um ou dois dos meus colegas do Chapitô que me parecem ter talento necessário para outro voos (ttf, estás entre eles...)

Não passo a ninguém... as correntes morrem comigo lol...

Confiança


Ontem mais um passo na preparação da peça. Apesar de ainda faltarem três meses para estrear estamos a avançar a bom ritmo. Claro que ainda não está totalmente construída, e assim que estiver tem que ser ensaiada em apenas dois dias por semana, portanto o tempo não é excessivo, mas seja como for parece que avançamos a passos largos. Uma coisa que me assegura, apesar de ainda não ter a perfeita noção se vai ser um bom ou mau espectáculo, é que o Bruno parece ter uma linha bem definida e saber exactamente aquilo que quer. Em cada aula traz material novo, novos exercícios, textos, quadros, e as experiências que são feitas têm um propósito específico, não são para apanhar elementos do ar.
E algo que noto de aula para aula é a confiança que o Bruno deposita em mim. Estou presente na maioria dos quadros que têm sido ensaiados, e ontem entrei em mais dois. É claro que no final os papeis estarão mais ou menos distribuídos, e ninguém está excluído neste momento, mas tem-me sido dado bastante trabalho, e com variações físicas e emocionais marcadas. É bom sentir essa confiança que acaba por ser um sinal de apreço pelo trabalho desenvolvido, e espero ter capacidade para responder da melhor forma. Sei que há muita coisa que não está como ele quer, mas vou trabalhar para melhorar de ensaio para ensaio e atingir aquilo que a peça pede.
Segunda feira novo ensaio...