quinta-feira, janeiro 31, 2008

O menino rebelde

Isto vai parecer pedante, mas Jack Kerouac, uma das maiores referências da literatura americana moderna, comparado a Hemingway, que influenciou uma geração inteira nos anos 60 com o seu livro On The Road, acaba por ser pouco mais que um menino rebelde.
Ao ler as aventuras e desventuras de Mr. Kerouac percebo que toda aquela estrada, aquela aventura, a boleia, o apanhar comboios de mercadorias com vagabundos, o contar os tostões sem saber o dia de amanhã, trabalhar na terra, na busca da liberdade absoluta é pouco mais que... uma fraude. Em 150 páginas já por três vezes mandou pedir dinheiro à tia, regressando a Nova Iorque para a sua cama e casa confortável.
É óptimo viver utopias, mas liberdade sem preço, escolhas sem consequências de pouco valem. Assim é fácil, é pouco mais que uma fantasia adolescente.
A magia lentamente desvanece-se...

Nove e Meia No Maria Matos

Depois de uma grande série de espectáculos no Maria Matos, chega agora o albúm Nove e Meia no Maria Matos, o último cd ao vivo de Sérgio Godinho.
Depois de ter estado lá a dançar ao vivo, chega agora a altura de recordar em casa.
Recomendo vivamente...

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Detail Korma


Planos para teatro frustrados pelo cansaço no corpo (adiados para hoje), pelo menos salva-se o jantar. Experimentar um indiano novo, mudamos de ideia quando vemos pizza, lasanha e cordon bleu no meio do caril. Vamos ao do costume.
Rua dos Bacalhoeiros, mesmo ali ao pé de casa. Chamuça, Nan, Chicken Korma, tudo óptimo como sempre. A meio da conversa e da refeição reparo... onde está o chicken neste korma? Procuro, procuro, nada, nem vestígio, nem asa, nem coxa, nem peito, nem pele, nada. Chamo o empregado que vai averiguar. Irritado sai da cozinha, deram-me um Vegetable Korma. Pede desculpa, diz que já estão a fazer o prato certo. Na verdade não tenho mais fome, o de vegetais estava saboroso, não há problema, fica para a próxima.
Acabada a refeição chega a conta. 11,5€ por duas pessoas? Deve haver engano, só pode, ora bem... o meu prato não está cá. Estão aqui as entradas, as bebidas, o prato da Ana, mas o meu...
Não paga. Não pago? Não, prato errado não paga. Mas não é justo, protestei, eu comi o prato todo, estava bom, não o substituiram porque eu não quis. Não estamos em casa, responde-me o empregado, não se cozinha qualquer coisa para despachar. Não tem o que pediu, não paga.
Sem mais. Um dos meus restaurantes indianos favoritos (do qual não me lembro o nome, mas é o único na rua dos bacalhoeiros em lisboa), que me voltou a surpreender.

terça-feira, janeiro 29, 2008

5 fins de semana... vamos a caminho do 4º. O tempo realmente voa. A ver se este Godot vai em viagem, Cascais quase de certeza, outras paragens em hipótese, mas a verdade é que são só mais dois fins de semana no Franco-Português e depois... puff... evapora-se...

Música da Semana

Pois pois pois pois... e esta semana... esta semana?... hum... o quê o quê?...
Então e Belle Chase Hotel, o tal projecto delirante onde apareceu JP Simões?
E porque não?
De La Toilette des Étoiles aqui fica São Paulo 451...

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Yerma

A ANIMATEATRO - Associação de Teatro e Animação do Seixal, existe desde 2001, e tem desenvolvido um trabalho em Amora, no Seixal, de promoção e divulgação teatral, que conta já com diversos projectos e uma dinâmica constante.
Numa pequena loja transformada, no local mais insuspeito, está a sede da ANIMATEATRO, com apenas 32 lugares, normalmente lotados, é a prova que a vivacidade e a criação teatral, não são exclusivos de Lisboa e Porto.
Yerma é a sua última produção, a peça de Garcia Lorca é levada a palco em tom minimalista, tal como teria que ser naquela sala, com as limitações e dificuldades que uma pequena companhia sempre apresenta. Limitações de espaço e financeiras, mas não limitações em termos de espectáculo.
Se há uma coisa que uma peça numa sala tão pequena e com cenário tão despojado faz, é colocar o foco de toda a acção nos actores. Estamos a meio metro deles, tudo se vê, tudo se ouve, tudo se sente. A fasquia é, naturalmente elevada, e foi maioritariamente ultrapassada. Haveria pormenores a afinar, principalmente na direcção de actores (Yerma não devia estar tão chorosa logo de início, mas sim uma evolução mais acentuada da tristeza), mas no geral é uma peça forte, bem construída, com uma temática intensa e que nos prende desde o início. Há talento escondido nos locais mais insuspeitos, que tristemente passa despercebido. Só está em cena até 3 de Fevereiro, e merece uma visita a quem se disponha a descobrir novos terras para o Teatro.



Yerma
de
Federico Garcia Lorca

Encenação, Tradução e Adaptação do Texto
Ricardo G. Santos

Elenco
Lina Ramos
João Zhoraide
João Ascenso
Claudia Palma
Catarina Lourenço
Nicole Santos
Marta Pessoa
Tânia Sacramento

Vozes Gravadas
Patrícia Moreira
Rita Araújo

Cenografia/Guarda Roupa
Joana Gomes

Imagem Gráfica
Luis Mileu

Composição Sonora
Paulo Mendes

Assistência Técnica
Nuno Santos

Produção
Animateatro
Praceta José Maria Vieira, Loja 4 A - Amora
2845-478 Seixal
Telefones 212254184/72
Fax 212254172
email animateatro@gmail.com
http://www.animateatro.org

Preço: 3,5€

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Só hoje


Este fim de semana só temos espectáculo hoje. Sábado não temos peça, recuperando no último domingo com mais uma performance.
Para além de hoje, só temos mais dois fins-de-semana. Se durarmos o tempo todo previsto. Quem estiver interessado... o tempo esgota-se. Informações e contactos aqui.

Cassandra's Dream

Woody Allen está de volta. É a sua terceira aventura inglesa, depois de 30 anos a ser o realizador de Nova Iorque, apaixonado pela big apple, está agora rendido aos charmes britânicos. Talvez seja pelo fracasso no box-office que os seus filmes têm tido desde há algum tempo nos EUA, salvando-se apenas na Europa.
Match Point foi um marco. Não só inaugurou esta nova fase da carreira do realizador, como era em si um filme extraordinário. O Sonho de Cassandra parece ser um pedido de desculpas pela teoria defendida em Match Point.
Dois irmãos com problemas financeiros resolvem matar um homem a pedido de um tio rico, que os recompensa generosamente.
A culpa. O tema central de O Sonho de Cassandra é a culpa, a linha que se atravessa entre o bem e o mal, e as consequências de a atravessar. Era já um dos temas de Match Point, mas enquanto que nesse filme era abordada de uma perspectiva intrigante (a sorte como o factor fundamental que decide o nosso caminho na vida), aqui é quase um regresso aos clássicos. O Sonho de Cassandra é uma tragédia clássica, grega, com os temas e construção de uma tragédia grega, mas com a working class inglesa como pano de fundo. O problema é que o filme nunca é cativante, especialmente bem filmado ou inteligente, o tempo passa sem grande problema, mas também sem grande brilhantismo. Ewan McGregor e Colin Farrell fazem os respectivos papeis em modo automático (Farrell tem duas caras apenas, sobrancelhas levantadas em sofrimento, ou sobrancelhas para baixo).
No final de contas é melhor que a média do que se costuma encontrar pelas salas, mas um Woody Allen nitidamente menor.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Atonement

Depois de algum tempo arredado das salas de cinema, chega a altura de recuperar os filmes que foram ficando por ver, principalmente numa altura em que as estreias se multiplicam no meio da época dos prémios, que culmina, como sempre, com os Óscares.

Expiação é o primeiro dos multi-nomeados (vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Drama) a estrear em Portugal. 7 nomeações para os Óscares, entre os quais Melhor Filme, prémio que sinceramente dúvido que vença. Daí não se devem extrair conjecturas para a qualidade do filme.

Joe Wright, realizador de Orgulho e Preconceito, filma este Expiação com uma subtileza, quase uma dança com a câmara, o espectador, os actores e os eventos, fazendo este melodrama deslizar sereno, crescendo nos ombros de ambiências, paisagens e actores que se entrecruzam na teia de uma história, sem ganhar protagonismo, sem o procurar, num equilibrio que facilmente seria quebrado. Keira Knightley é impecável e James McAvoy confirma-se como um dos mais interessantes novos talentos. Menção para o trabalho impressionantemente maduro da jovem Saoirse Ronan de apenas 13 anos.
Sem nunca resvalar para o sentimentalismo fácil, é no entanto um filme sentimental, mas inesperado até na forma como se revela e nos toca. Com uma banda sonora brilhante, onde os sons do dia-a-dia se fundem na melodia clássica que sublinha a acção, Expiação é sem dúvida um filme a ter em atenção, um drama tocante, um filme pleno.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

1979-2008


Morreu Heath Ledger, um dos mais promissores actores da sua geração, com apenas 28 anos e uma carreira respeitável atrás de si, começou a mostrar talento em filmes como Monster's Ball ou Brothers Grimm, mas foi com Brokeback Mountain que realmente deu o salto.
Há ainda três filmes deste actor que não conhecemos. I'm Not There de Todd Haynes ainda não estreou em Portugal (e valeu a Cate Blanchett uma nomeação para Melhor Actriz Secundária), Dark Night, a continuação de Batman Begins de Christopher Nolan (em pós-produção neste momento) onde ele faz o papel de Joker. Deixou a meio The Imaginarium of Doctor Parnassus, o último filme de Terry Gillian, ainda em filmagens com estreia prevista para 2009.
Suspeita-se que a morte estivesse relacionada com abuso de droga.

Da colheita de 1979, aqui fica um pequeno tributo.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Oscares

Sairam as nomeações para os Oscares da Academia deste ano. Sem grandes surpresas. Os dois grandes favoritos são No Country For Old Men dos irmãos Cohen e There Will Be Blood de Paul Thomas Anderson. Tim Burton voltou a ser preterido, apesar de Johnny Depp ter sido nomeado para melhor actor.
A lista completa aqui.

Música da Semana


Ontem vi A Praire Home Companion, o último filme de Robert Altman. É uma despedida, o adeus de um homem de 80 anos que, a sofrer de leucemia, após uma vida repleta, resolve encarar a morte e com uma vénia sair de cena. Não é um filme brilhante, mas é um filme que diz muito sobre o homem, sobre a forma como quer ser recordado, qual é o último cunho que quis deixar no mundo. No caso de Altman é um sinal de festa, de música, sem lágrimas, the show must go on. César Monteiro fez o seu Vai e Vem, Oliveira (apesar de parecer eterno) teve o seu Porto da Minha Infância e o seu Je Rentre à La Maison. Quando eu morrer batam em latas, dizia Mário de Sá Carneiro (e também Mario Viegas), Sinatra cantou My Way e Piaf sem remorsos em Non, Je Ne Regrette Rien. É uma questão de escolhas, de opções, compromissos e consequências.
Que direi eu quando esse dia chegar?

Por hoje deixo Piaf dizer... sem remorsos...

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Equilibrio


O meu problema na sexta era a garganta. Não contei com a constipação, dores de corpo, sinusite, moleza, nariz entupido e a correr, suores e (desgraça) tosse. A solução? Comprimidos. Muitos comprimidos. Cêgripe em doses industriais para o corpo, zirtec para a sinusite, ipobrufeno para o nariz e garganta, pingos para o nariz, drill para a tosse e rouquidão, uma boa assoadela antes de entrar em cena, fincar os pés no chão e siga para bingo. Descobri que o melhor remédio ainda é a adrenalina. Depois de subir a palco o corpo reage de outra forma, a gripe fica em segundo plano, sobra apenas o nariz e a garganta.
Equilibrio. É a palavra chave. Neste caso com o corpo, conseguir encontrar um equilibrio entre aquilo que preciso fazer e aquilo que consigo fazer, a tentar ultrapassar as minhas próprias limitações. Equilibrio com a personagem, em constante mutação, evolução, sempre a afinar pormenores, a ouvir críticas e opiniões, em busca. Equilíbrio com os outros actores, na procura da contracena, de ouvir, de sentir, de olhar e ver, encontrar o espaço certo e o tom certo, atento aos problemas e deslizes, dar a mão quando é preciso e sentir que quem está do outro lado não nos vai deixar cair.
Neste momento, nesta peça, tenho noção dos meus limites e limitações, mas sentir que estou a atingir um ponto de equilibrio, a encontrar o meu local, a agarrar neste Garcin, neste inferno, e a aguentá-lo é, para mim, uma vitória.

Pequena sugestão. Se nos quiserem ir vêr mas ainda não foram sugiro que se apressem. Existe uma pequena hipótese de termos de cancelar a peça mais cedo.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Tinha que ser agora não tinha?

Começou ontem... uma ligeira impressão na garganta, no lado esquerdo principalmente. Começou a piorar, dor e dificuldade em engolir. Fui à farmácia, deram-me umas pastilhas. Não ajudam muito.
Hoje acordei pior, parece que engoli um gato vadio e ele foi arranhando o caminho conforme foi descendo. As pastilhas continuam tão ténues como ontem.
Amanhã tenho espectáculo, domingo também.
Alguém me explica como carga de água é que é suposto que eu suba a palco neste estado?!?!?!

Tinha de ser hoje... não podia ter sido há 3 ou 4 dias atrás... tinha de ser agora...

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Pela Estrada Fora

A ler o On The Road do Jack Kerouac, estou nas grandes planícies de Ford e Hawks, nos road movies dos anos 60 e 70, um James Dean, um Easy Rider, com jazz nos ouvidos, Miles Davis, Dizzy Gillespie, uma gaita de beiços no cair da tarde, um country-western no ar, o banjo a ressoar no pelo céu púrpura, ou até mesmo, mais recente, Shawn Mullins em Twins Rock, Oregon. Comboios de carga cruzam o horizonte, os cheiros mudam, uma ponta de tensão enquanto subo a bordo.
Ao de leve, uma brisa quente toca-me no rosto.

Até que levanto a cabeça, ouço um terrivel chiar nos ouvidos. Na estação do Marquês empurro-me por entre a turba para chegar a uma nova carruagem, pés rápidos apressados, colónia de formigas, pontos negros do qual sou apenas mais um.
E por um momento, apenas um segundo, senti-me ridículo.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Charlie Wilson's War

Pois é verdade. Em 2007 os liberais americanos levantaram-se contra a guerra no Iraque, seja com reflexões políticas como em Lions for Lambs, denúncias pesadas como em Redacted ou nesta farsa baseada em factos verídicos de Mike Nichols, Jogos de Poder.
Segue a história do senador Charlie Wilson que, practicamente sozinho, armou os Mujahedin afegãos para expulsar os Russos (que invadiram o Afeganistão nos anos 80), contribuindo de forma decisiva para a queda do império soviético e do bloco comunista. Resta dizer que eu sei que tudo isto é mentira. Sei que foi o Rambo que sozinho deu cabo dos vermelhos, que eu até vi o Rambo III em 1988, na altura os bons e os maus eram outros, mas adiante.
Nichols constroi uma farsa muito inteligente, onde divaga sobre os bastidores do poder, a ligação entre a política, o dinheiro, os media, sobre a forma absolutamente surpreendente como se lida com as grandes questões mundias da actualidade, numa teia de favores, contactos e até bastante inguenuídade.
Carregado de nomes sonantes, Tom Hanks irrepreensível, Julia Roberts e mais um grande papel de Philip Seymour Hoffman, Jogos de Poder avança por uma linha onde o espanto e o sorriso andam de mão dada, num tecer com mestria de uma história, de um ciclo, de gargalhada até, sempre sublinhada pela tragédia subjacente: foram os mesmos mujahedin, armados e treinados pela CIA, que se viraram contra os EUA e são hoje desenhados como o demónio aos olhos do mundo.
A mensagem não é nova, mas o filme é belíssimo, divertido, contagiante. A não perder.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Eu já cá desconfiava... (tão gay ser homofóbico!)

E não é que a teoria do Duarte estava certa?



Encontrei via Devaneios Desintéricos...

Música da Semana

Terça-feira, dia de mudar a música da semana. É com tristeza que digo adeus ao Carlos Gardel (nesta versão de Piazzola), a música ficou comigo durante muito tempo.
Mas, terça é terça, portanto...
Saltar sim, sair da peça? Já é mais dificil. Pelo menos por enquanto. Portanto a música desta semana está também na "banda sonora" deste Godot nos Infernos.
Aqui fica Sympathy for the Devil dos Rolling Stones...
Sing it Inês...
Foto: Sofia Maul

Please allow me to introduce myself...

segunda-feira, janeiro 14, 2008

O fim de semana da estreia

Foto: Sofia Maul

Sexta-feira, 11 de Janeiro, 21h30. As portas abertas, o público ocupa os seus lugares. À espera de entrar eu tentava dominar os nervos. Fútil esforço. De repente um pensamento assolou-me: as cadeiras. As cadeiras, que têm um papel central na peça, não estavam no sítio. E agora? O pano está aberto! Avisar alguém, seja quem for, rápido! A tensão aumentou, a desconcentração também. Quando a peça começa eu estava um caco. Ninguém me ouvia, tropeçava, tremia (e respirar como me lembrou depois a Sofia?) falhei texto. Uma deixa pendurada, e agora foram-se as palavras, embrulhei texto, saltei falas, escorreguei periclitante à beira do percipício. Para recuperar, para me equilibrar virei-me para o exagero. Tenho uma tendência natural para o over-acting, neste caso foi catastrófico.
No final toda a gente feliz, estreámos. Eu tirava a maquilhagem da cara e nem acreditava no que me tinha acontecido.

Sábado, 12 de Janeiro, 21h30. As portas abertas, o público ocupa os seus lugares. À espera de entrar eu dominava os nervos. As cadeiras estavam no seu sítio. Mais calmo, controlado, consegui descer o tom, vencer o medo, o texto saíu, o resto também. Com problemas? Sim, muitos, o ritmo desceu, o tom monocórdico foi demasiado usual. Para controlar alguns problemas acabei por criar outros.
No final toda a gente estava desolada. A peça tinha corrido mal a todos. Eu tirava a maquilhagem da cara a sorria. Apesar de diversos problemas, tinha conseguido dominar alguns dos que me tinham perseguido durante o dia anterior e até alguns dos ensaios.
Precisávamos de mais tempo. É a diferença entre profissionais que dedicam o seu dia ao teatro e nós que dedicamos algumas noites, cansados, doridos, dormentes.
Mas queixo levantado, o espectáculo está lá, o texto é bom, os figurinos são excelentes, temos actores fantásticos que têm momentos muito bons, e o palco continua sempre a fascinar-me. Só queria ter mais tempo, mais ensaios, mais espectáculos, mais experiência, mais talento, mais teatro...

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Ensaio com público

foto: Sofia Maul


Mais de 50 pessoas??? Isso não é bem um ensaio, é quase uma ante-estreia... Ontem tivemos o último ensaio que, devido à assistência inesperadamente grande, foi transformada num espectáculo a sério. Ainda sem video. Esse vai ser uma surpresa para a estreia, para o público e, principalmente, para nós. A ver vamos, vai ser uma "estreia" na estreia...


O meu fato está assombrado. Ante-ontem manchei o joelho. Levaram o fato para o limpar. A limpeza borrou o fato (mas disfarçadamente). Ontem, no mesmo sitio, voltei a sujar o fato. Ninguem faz a mínima ideia (eu incluído) onde carga de água é que me sujo, nem porquê no joelho... É mistério... Eu descofio que existem pequenos duendes com latas de tinta que se divertem a pintar-me quando eu estou em palco. Para quem for à peça... procurem-nos e avisem-me!


Hoje às 16h30 Hipócritas no Curto-Circuito na Sic Radical, para quem quiser ver.
Hoje às 21h30 Hipócritas no Franco-Portugais. A estreia...

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Ensaio Geral


Hoje é o ensaio com público, uma espécie de ante-estreia digamos, mas ontem foi o primeiro teste mais a sério. Ensaio geral, com duas ou três pessoas que viram a peça pela primeira vez, entre as quais uma jornalista.
Correu tudo mal. Correu tudo bem.
Foi realmente fraquinho, entrámos sem ritmo, esquecemos texto que sempre soubemos de cor, cenas que funcionavam bem que ficaram mornas, mortas, lentas.
Mas a verdade é que o fizemos, o espectáculo todo, de uma ponta a outra, sem pausas, sem interrupções, saltou texto? passa à frente, resolve ou a contracena ajuda, está lá, vivo, o espectáculo inteiro. Pela primeira vez, luz, som, figurinos, cenário, maquilhagem, texto, tudo se conjugou pela primeira vez em palco. Os erros? Existem, foram muitos, mas podem ser corrigidos, são corrigidos. Vê-lo ali, nascido, aquele espectáculo que por vezes me pareceu quase uma miragem, tranquilizou-me, muito. O resto é concentração e ritmo.

Só uma coisa me preocupa... alguem sabe como raio é que se tira brilhantina do cabelo????? É que lavar três vezes com champô normal não chega...

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Palco


Ontem foi o primeiro ensaio no Franco-Portugais, ensaio técnico, luzes, som, marcações. Uma pequena surpresa com os horários, em vez de meia-noite, tivemos que sair de lá às 22h, o que fez com que o ensaio fosse muito apressado, literalmente a correr. Mas fez-se.

Palco.

Pela primeira vez ontem pisei o palco onde tudo vai acontecer. Estavam lá os adereços, o cenário despojado, os bancos, a árvore, a mesa, a espátula, as luzes, o pano, a plateia, o negro...

Por um momento deitei-me no chão sozinho. Tinha uma luz directamente por cima de mim. Deitei-me, fechei os olhos e fiquei a ouvir os sons, os passos na distância, outros actores a falar nos camarins, o silêncio...

Deve ser por ser novato nestas andanças, mas o palco, seja ele qual for, aquele onde a acção se vai desenrolar, fascina-me. Tenho dito que ando nervoso por causa de peça. Não é verdade. Não estou nervoso, estou ansioso, impaciente, feliz, como se uma descarga eléctrica me trespassasse o corpo todos os dias. Acordo com um sorriso, adormeço carregado de energia, tenho dificuldade em estar quieto. A peça, o texto, este Inferno do meu Garcin envolve-me, preenche-me, toma conta do espaço.

Nervoso? Não... estou fora de mim...


Deve ser por ser novato...

terça-feira, janeiro 08, 2008

Música da Semana - Godot nos Infernos

Esta semana não podia ter aqui outra música. Carlos Gardel compôs na década de 30 este tango, que ouvi pela primeira vez no filme Perfume de Mulher em versão instrumental, tal como a apresento aqui.
É um tango magnífico, particularmente forte e tocante, sem voz então acho-o mesmo soberbo.
É o pano de fundo de uma das cenas mais fortes da peça que estreio no franco-português na sexta-feira: Godot nos Infernos.
O texto por si só é agonizante, mas ao som de Gardel ganha um novo corpo e força. Assim sendo aqui fica Por Una Cabeza. E sexta ali tão perto...

Estelle (enquanto vê, do Inferno, um homem que a amava a dançar com outra mulher)
Ai, meu Polegarzito, de que é que te estás à espera para rir na cara dela? Bastava que eu lançasse um olhar, ela nunca teria a ousadia de... Será que eu já não sou nada?
(...)
Ela está a dançar através do meu olhar...

segunda-feira, janeiro 07, 2008

National Treasure: Book of Secrets

Para abrir o ano é costume ir ao cinema. Ter um cartão de filmes tem imensas vantagens, nomeadamente o facto de se poder ir ao cinema as vezes que se quiser por um preço muito acessivel. Por outro lado, acaba por limitar as salas de cinema a que se tem acesso e, consequentemente, os filmes que se pode ver. A escolha de dia 1 acabou por recair em O Tesouro: Livro dos Segredos. Grande êxito nos EUA, que também não se está a portar mal no resto do mundo.

Costuma-se dizer: se me enganam uma vez a culpa é deles, se me enganam segunda vez a culpa é minha.
Eu vi o primeiro O Tesouro. Ir ver esta sequela foi, sem dúvida, pouco inteligente.
Não há muito que dizer. O filme está carregado de vedetas e de grandes actores: Nicolas Cage, Diane Krueger, Ed Harris, Harvey Keitel, Jon Voight, e até, sua majestade a rainha, Helen Mirren, mas todas elas, sem excepção, estão ali de mão estendida a ganhar o seu, sem convicção nenhuma no que estão a fazer, cheque para pagar as contas e siga para bingo. Na verdade como é possivel acreditar num argumento tão imbecil? O argumento e personagens saltam de sitio para sitio, entrando e saindo de todo o lado com a maior das calmas e à vontade, seja do Palácio de Buckingham, da Sala Oval, ou mesmo de um simples, ó tão fácil, rapto do presidente americano. Os argumentistas acham verdadeiramente que o espectador médio é atrasado mental, e tratam-nos como tal.
Mas se o primeiro filme já era mau porque é que eu insisto?

Mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa...

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Godot nos Infernos

Aqui está ela. A peça que me tem marcado os últimos meses. Agora é a sério. Bem o mal, estreia dia 11. Para quem estiver interessado, aqui fica, o melhor que consigo dar.


"Ok. Nem Deus nem o Diabo atendem.
Então, quem me vem buscar?

Inês, Estelle e Garcin estão no inferno. Mas não há fogo eterno nem demónios nem tridentes. Não há, sequer, outros condenados. O espaço não é vermelho nem quente, mas vazio. Há três canapés e uma estátua do Super-Homem. Nenhum espelho. A única coincidência com o imaginário colectivo é talvez o Criado, que poderia ser Caronte. Vladimir e Estragon estão no mundo, parece. Mas não há casas nem árvores nem carros nem portas nem janelas nem outras pessoas. Apenas uma árvore de natal. Artificial. Depois, vêm Pozzo e Lucky, mas sabem tanto ou tão pouco do mundo como Didi ou Gogo. Nada mais. Existir é isto, dum lado e doutro da vida. A menos que alguém venha. "




GODOT NOS INFERNOS
Instituto Franco-Portugais
11 de Janeiro a 10 de Fevereiro
Sextas e Sábados 21h30 (dia 18 de Janeiro não há espectáculo)
Domingos 17h00 ( apenas dias 20 de Janeiro e 10 de Fevereiro)

Preço: 6,50 euros

(Desconto de Pin Cultura, Maiores de 65 anos, estudantes, profissionais do teatro e grupos +10: 5,50euros)

Informações e reservas:966419650 \ hipocritas@gmail.com


Texto, Adaptação e Encenação: Alexandre Borges

Baseado em: "Huis Clos" de Jean-Paul Sartre e "À Espera de Godot" de Samuel Beckett
Elenco: Ana Chambel l Filipa Pais de Sousa l Manuel Barbosa l Miguel Pires Ramos l Selma Totta l Sara Totta l Sheila Totta l Sofia Ribeiro l Ricardo Lérias
Cenografia: Filipa Ribeiro da Silva

Figurinos: Maria Azevedo e Nuno Nogueira
Caracterização: Sílvia Soares

Música/ Sonoplastia: Tiago Martins (participação especial)

Vídeo: Henrique Soares
Fotografia de Cena: Sofia Maul

Direcção Técnica: Bruno Gaspar

Operação de Luz: Filipe Sim-Sim

Imprensa: Sílvia Soares

Design: Vivóeusébio Colectivo de Design

Direcção de Produção : Filipa Pais de Sousa

Produção: Hipócritas

Institut Franco-Portugais

Avenida Luís Bívar, 91 / 1050-143 Lisboa

Tel: (+351) 21 311 14 00

Fax: (+351) 21 311 14 68


Minha?

Ensaios diários agora que a estreia está a uma semana de distância. Já desde dia 2 com fim-de-semana incluido.
Ontem o ensaio começou com uma conversa. O que estava bem, o que estava mal, no geral e com cada um de nós.
Começou por mim. Descobri que a abordagem que estava a fazer ao personagem estava completamente errada. Pior, descobri que de ensaio para ensaio tenho performances oscilantes e que por vezes trago nas costas a culpa do arrastar do espectáculo.
A uma semana da estreia esta crítica caiu em cima de mim como uma bomba. Pensei, é desta, não consigo mesmo fazer isto e a peça inteira vai ser arrastada para o buraco por mim.
Depois continuou a conversa. Mais de uma hora com todos.
Subimos.
Os nervos à flor da pele, concentração, mudei em absoluto a abordagem, exsplorei, tentei novos caminhos.
No fim a reacção foi positiva. Ao que parece é por aqui mesmo.

Mas a tensão não desaparece... Consigo dar a volta a este Garcin?

quinta-feira, janeiro 03, 2008

I Am Legend

Honestamente não estava à espera de nada de especial deste último blockbuster com Will Smith. O filme não pára de render dinheiro, mas para Smith é habitual que assim seja. Filmes que baseam o seu sucesso no nome de um actor ou em efeitos especiais normalmente saem furados.

Desta vez, no entanto, a surpresa é agradável.
Um cientista é o último homem vivo, após uma experiência falhada com a mutação genética de um virus, que acaba por dizimar a Humanidade.
Um dos motivos pelo qual Eu Sou A Lenda funciona, é o facto de se preocupar com a sua personagem central, a sua vida, rotinas, passado, ânsias e medos. Afinal, um homem que vive só durante 3 anos não pode estar completamente são. Como se mantém viva a esperança, como se impede a loucura de tomar conta?
Ok, o filme é um blockbuster, não um ensaio psicológico, como tal tem que ter a sua dose de acção e suspense, e têm-a.
Os efeitos especiais são de primeira apanha, as imagens de uma Nova Iorque abandonada são impressionantes. O thriller, a puxar ao terror, que se desenvolve é tenso e bem conseguido e Will Smith não compromete.
Nos últimos 15 a 20 minutos no entanto, o filme perde o pé, banaliza um pouco, na busca do fadado happy-end.
Mas mesmo assim, para filme-pipoca, é bastante interessante.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Top 10 do ano

No final de cada ano, ou neste caso no início de um novo, é usual o aparecimento dos tops do ano. O Sopros não é excepção, portanto aqui fica a minha escolha dos 10 melhores filmes de 2007, por ordem alfabética:

The Brave One
Eastern Promisses
El Laberinto Del Fauno
Das Leben Der Anderen
Letters From Iwo Jima
Little Children

The Namesake
Ratatouille
Redacted
Shortbus

Os filmes estão linkados para os posts que fiz na altura. 2008 promete ser um ano ainda melhor de cinema. A ver vamos...

Redacted

Quando abordaram Brian De Palma com 5 milhões de dólares para fazer um filme video digital de alta-definição, ele respondeu que o faria se houvesse um tema que justificasse não usar a película. Descobriu que existe todo um mundo de imagens digitais a circular pela net. Nomeadamente filmes sobre o Iraque, sejam opiniões pessoais, videos de familiares, e principalmente videos de soldados no terreno, feitos com telemóveis, camaras portáteis, vários tipos de DV's. Essas imagens trazem uma realidade que os media não mostram, numa espécie de autismo, como se não existisse.
De Palma, cercado por advogados, agarrou no caso de um grupo de soldados que violou e matou uma rapariga iraquiana de uma forma brutal, desconstruiu a parafernália de videos, imagens e informação numa net cada vez mais aberta, e reconstruiu-os, dramatizando-os com actores, mas mantendo viva a sensação de real por detrás de tudo.
O resultado final é um dos filmes mais poderosos do realizador de Corações de Aço e Os Intocáveis, ao ponto de ser urgente o visionamento deste filme. Não que traga algo de novo à informação que temos sobre a guerra, não dá dados novos ou confidenciais, mas traz-nos a experiência do medo até ao peito, dá-nos uma visão interna de eventos horriveis. No final de Apocalypse Now, Marlon Brando diz a famosa frase "The horror, the horror...". Censurado é o horror. Não o horror da guerra como estamos habituados a vê-la, dos combates ou carnificina, mas o horror humano mais profundo, que habita para lá da guerra, dentro de nós, o horror de se ver, de se viver algo que nunca se devia ter vivido.
Censurado é o filme mais importante que está hoje nas salas de cinema...

Música da semana

2008, novo ano, novo início(?) e bem e tal.
A verdade é que se é para abrir o ano, então que se abra em grande. Maior que Vinicius, Tom Jobim e Bethânia juntos é dificil.
Por isso, para arrancar em grande, O que tinha de ser...