domingo, dezembro 24, 2006

FELIZ NATAL E UM 2007 BRILHANTE!!!!!



(...até para o ano...)

sábado, dezembro 23, 2006

Á procura de um pinheiro

Os alunos do primeiro ciclo da Academia de Música de Sta Cecília levaram a cena no Natal de 2002 um musical de José Carlos Godinho, uma história acerca da revolta dos pinheiros que se recusavam a ser cortados para serem árvores de Natal, deixando todos os enfeites indefesos no chão. Em Novembro de 2003 foi feita esta gravação que é perfeita para esta altura.

Senhoras e senhores, meninas e meninos... Broa de Mel.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Improviso


Depois de uma aula de segunda feira completamente virada para o lado físico, onde acabámos a música Deliciae Mae, quarta-feira estava marcada para ser memorável. Última aula deste ano, era onde iriamos improvisar sobre A Ilha dos Mortos de Strindberg.

Relaxamento inicial muito profundo, trabalho físico de memória sensorial sobre um espaço que nos fizesse paralelo com a Ilha dos Mortos e depois utilização de um objecto, pessoa, situação pessoal para ter a sensação geral e específica da cena que iamos representar. Foi mais de meia hora só de preparação para o improviso, e que se revelou fundamental para o mesmo - acreditem, quando alguns actores pedem para não serem incomodados antes de entrar em cena e precisam de alguns minutos de silêncio não é por serem prima-donas, é por ser um factor fundamental do seu trabalho. A aula inteira foi assistir os improvisos de cada um, duas horas de representação pura, preparação, interiorização, e interacção.

É incrivel o nível de esquecimento que se consegue atingir, fechar completamente que estamos numa sala, a rebolar pelo chão, com gente a assistir, e deixar que as emoções fluam, intensas, imensas, a criar naquele momento actores com uma performance genuina e verdadeira. Isso sente-se, isso sentiu-se ontem, e foi memorável.

Morcegos

Vi sábado passado n'O Bando em Vale de Barris a peça Morcegos. Estava em últimas representações (penúltima para ser mais preciso) e sendo eu um sério aficcionado da companhia de João Brites, não podia deixar passar a oportunidade. Produções como Os Bichos, Em Fuga, Alma Grande, Merlim, ou Ensaio Sobre a Cegueira (para mencionar uma ínfima amostra do reportório desta companhia) fazem-me ir a'OBando sempre com a certeza de ver algo original, criativo, diferente, surpreendente, e com as famosas máquinas de cena que são um espectáculo em si só.
Por ser Dezembro a peça teria necessariamente que se desenrolar dentro de portas, neste caso na nova sala que foi construída na quinta. Aqui começa o problema, ainda não vi nesta companhia uma boa peça que seja feita num teatro convencional, vivi experiências fantásticas num comboio em andamento em Lisboa, passeei de noite pelos jardins da Gulbenkian, vi abismado os actores a treparem as paredes do Convento do Beato, ou então ao ar livre em Vale de Barris, mas peças de palco raramente funcionam aqui. Exemplos disso são As Horas do Diabo que esteve no D. Maria II e O Salário dos Poetas, ambas peças menores ou falhadas. Se bem que o brilhante Ensaio Sobre a Cegueira esteve em palco no Trindade, foi conceptualmente pensado para fora de palco, este antes em Palmela e só depois foi adaptado.
O segundo problema é o texto de Jaime Rocha, que se começa com um tom de estranheza e fascínio Lynchiano, acaba por se revelar um esforço frágil, sem nexo, interesse e de alguma pobreza geral.
Para criar uma ambiência diferente, desviar a atenção do vazio da peça e substituir de alguma forma a máquina de cena que, por motivos óbvios de localização, nunca poderia ser de monta, foi escolhido utilizar percussão para acompanhar o desenrolar da acção, como se de um estranho musical futurista sem canções se tratasse. Se bem que o efeito é interessante torna-se monótono e repetitivo ao longo do tempo, condicionando inclusive a performance dos actores.
Por último o estilo de representação muito marcada, vincada que é recorrente n'O Bando, aqui ultrapassa os limites, com caras transformadas em máscaras imutáveis e guinchos histéricos que nos levam a interrogar porque é que foi levada a cena uma peça que estava condenada desde a primeira leitura.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Thank You For Smoking


Thank You For Smoking (Obrigado Por Fumar) é uma sátira sobre o mundo das grandes tabaqueiras e da sua luta constante para evitar enfrentar os problemas causados pelo fumo, mas mais do que isso, é uma sátira sobre o mundo da política, da alta finança, do jornalismo e principalmente dos lobbys que se movem nos bastidores. Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta voz das grandes tabaqueiras, o seu trabalho é não deixar que as vendas de cigarros sejam afectadas pelas esmagadoras provas de que o tabaco mata. Ele usa o seu charme, mas acima de tudo a sua espantosa capacidade de argumentação num trabalho... viciante. As coisas complicam-se quando precisa de ao mesmo tempo ser um modelo para o seu filho, lidar com as perguntas de uma jornalista e lutar contra um senador que vê como sua missão destruir a indústria tabaqueira.
O grande trunfo deste filme, para além da parada de grandes actores com papeis muitas vezes infimos que passam pela tela com um à vontade e uma naturalidade de quem está entre amigos, é o seu argumento. Inteligente, surpreendente, sem nunca se deixar caír nem na moralidade fácil, nem num distanciamento que o destruiria, Thank You For Smoking é um filme que existe num limbo moral, numa linha estreita que o percorre do início ao fim, e onde ninguém é poupado, não existem bons e maus e (pasme-se) nem sequer vencedores e vencidos.
Foi nomeado para o Golden Globe de Melhor Filme Comédia/Musical e Aaron Eckhart nomeado na categoria de Melhor Actor Comédia/Musical.
Por cá passou completamente despercebido, está apenas no Alvaláxia às 18h10 e no El Corte Inglés às 00h05. Fora de Lisboa apenas em Coimbra. Para os poucos que o ainda podem ver, hoje pode ser a última oportunidade, visto ser provável que saia de cartaz com as estreias de amanhã.
Portanto recomendo um esforço para agarrar as últimas sessões e ver um comédia... muito séria.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Casino Royale (e Música da Semana)

Antes de mais e para que esteja claro vou dizer uma coisa: Casino Royale é o melhor Bond alguma vez feito e Daniel Craig é um actor à altura. É difícil a comparação com tempos míticos dos anos 60 e principalmente com Sean Connery, mas Casino Royale é o mais maduro, complexo e envolvente filme da longa série. Bond atinge aqui por fim a idade adulta. Sente, sofre, vive, é por fim, um homem. Mas não um homem qualquer, longe do ar suave de playboy, James é um assassino, e a morte não é uma atracção de feira, de circo, a morte existe fisicamente, é palpável, tem cheiro, tem cor, deixa marcas no corpo e pior, na mente. Este é o 007 que quebra com muitos dos ícones dos anteriores filmes, não tem engenhocas estranhas e invenções mirabolantes, a Bond Girl é muito mais que uma boneca de silicone (Eva Green a construir uma reputação de actriz que ultrapassa largamente a sua inesquecível silhueta), Bond fere-se, sua, despenteia-se, cansa-se, desespera, bebe algo mais que vodka martini e quando lhe perguntam se quer mexido ou batido ele responde "Acha que sou o tipo de homem que se preocupa com isso?" – e não é, agora não é.
Foi um risco seguir esta linha, principalmente quando a antiga fórmula estava a render mais dinheiro que nunca, se Goldeneye, o primeiro filme com Pierce Brosnan tinha feito 352 milhões de dólares mundialmente, batendo recordes, o seu último Die Another Day chegou quase aos 432. Mas foi um risco que deu frutos, não só na bilheteira, como entre crítica e fãs do agente secreto.
Empolgante, envolvente, com um punhado de cenas memoráveis (o pré genérico é brilhante e a cena da perseguição pelos guindastes inebriante) Martin Campbell (responsável por filmes como Goldeneye ou A Máscara de Zorro), constrói uma peça sólida e adulta, de longe o seu melhor esforço até hoje.
Não será um filme estudado nas escolas de cinema, mas como produto de entretenimento é do melhor que se pode encontrar nas salas.

Em honra a Mr.Bond aqui fica a sua assinatura como música da semana...

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Sugestões


A época é propícia a este tipo de coisas, as compras estão em alta e as ideias muitas vezes escasseiam. No fim de semana passado houve uma edição da Feira da Ladra Alternativa, supostamente especial de Natal, mas que não teve a adesão que merecia, principalmente por parte dos criativos que lá estavam presentes. No entanto foi a oportunidade para comprar algumas prendas originais o que me leva a este post. Sem esquecer a incontornável Joana Simões e a sua joalharia de autor faço aqui outros dois destaques. Mariana Costa e Silva tem uma colecção de malas quase totalmente em feltro que são únicas e muito baratas. Uma visita ao seu blog é indispensável.
Por outro lado a Brilho em Paralelo define-se com urban arte facts, é de uma dupla Catarina Arruda e Rita Andringa que têm uma colecção vasta de... artefactos urbanos...

Um bom natal...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Chega a época natalícia é o resultado é sempre o mesmo, embrenhados nos feriados, compras, férias e jantares de Natal empresariais, os visitantes do blog descem a pique. É a Maldição de Dezembro e este ano, tal como o ano passado, fui atingido por ela, apesar de ser com aparente menor gravidade. O blog também vai ganhando os seus anticorpos. Para os resistentes que de vez em quando ainda cá dão o seu pulinho deixo os meus agradecimentos...

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Um governo... digamos, socialista!

Pois parece que o socialismo está em grande na defesa de alguns dos pilares fundamentais desta doutrina. A última vez que olhei, a protecção dos mais desfavorecidos e o livre acesso à Justiça faziam parte destes pilares, mas afinal parece que não.
Está a ser estudada a hipótese pelo governo eh… socialista pronto, das despesas com os advogados da outra parte ser paga por quem perde um processo. Serve esta medida para descongestionar os tribunais portugueses e tornar a Justiça mais célere. Ora bem, portanto a lógica subjacente seria limitar os processos apenas àquelas pessoas que têm a certeza que vão ganhar e impedir aqueles trastes que não sabem se ganham ou não de se meter nestas coisas chatas e maçudas dos tribunais. Se levarmos esta coisa às últimas consequências então deixavam completamente de existir processos, porque se não tens a certeza não entras no sistema e se tens a certeza bem… então nem vale a pena ir a tribunal, resolve-se a coisa por fora e poupa-se muito tempo e trabalho.
O problema é que na maioria das questões debatidas ambas as partes acham ter razão, o que denota uma percentagem enorme de inconscientes.
Vamos por um momento partir do princípio que vivemos num mundo em que não é possível ter a certeza de vencer um processo judicial, mesmo estando seguro da nossa causa e da nossa razão. Vamos já agora supor também que há pessoas ou entidades que vencem os ditos processos sem na verdade terem razão, seja por falta de provas, motivos técnicos, por terem uma equipa de advogados mais competente, ou por outro motivo qualquer. Vamos ainda imaginar (é difícil eu sei) que existem gigantescas diferenças de orçamento entre diferentes pessoas ou mesmo entre pessoas e empresas e que há gente (isto então já é um esforço de imaginação tremendo) que tem que pensar duas vezes e fazer continhas à vida antes de ir a Tribunal.
Ora bem, este cenário improvável significaria que uma medida como esta proposta pelo governo… vá, socialista, iria retirar do sistema basicamente aqueles que não têm posses e deixar impunes aqueles para quem os custos de tribunal são perfeitamente suportáveis. Imagine-se ainda (mais um esforço) alguém injustamente despedido a levar à Justiça a empresa que o despediu e pensar que pode ter que arcar com as despesas da equipa de advogados dessa empresa. Ou o pessoal da Casa Pia ter que pagar o batalhão de gente que defende os VIP’s acusados neste caso. Ainda por cima estamos a falar de custos que não são, como se sabe, iguais para todos. Portanto uma pessoa iria entrar para um processo sem saber qual o dinheiro poderia ter que despender A negociação de valores entre mim e a minha equipa de advogados é da minha responsabilidade sendo a outra parte completamente alheia a todo a questão. Ao que parece até na pessoa contra quem se vai a tribunal é preciso ter sorte, se tem um advogado baratinho muito bem, se for dos caros… paciência.
Isto sem pensar que todos os casos passariam quase inevitavelmente para as últimas instâncias visto que se a decisão em primeira instância for desfavorável, mais valeria arriscar alongar o processo do que pagar logo as custas com a equipa de defesa de terceiros.
Numa tentativa de aligeirar as pilhas de papel imensas que se acumulam pelos corredores da Justiça o governo… seja, socialista, quer retirar as pessoas do sistema independentemente dos seus problemas ou méritos, apenas baseado no seu poder de compra. Ou alguém acredita que isto vá impedir uma Sonae ou uma PT de ir a tribunal seja quando for, seja contra quem for?
Mas assim vai o mundo, assim vai este país onde o socialismo liberal, moderno, esta terceira via, este governo… como queiram socialista está cada vez mais parecido com um manga de alpaca quadrado, com palas nos olhos, que não vê mais que os tostões à sua frente.
E porque não fechar todos os tribunais? Assim ficava o problema resolvido pela raiz…

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Gota a gota...

Fazendo uma reprise de um post de dia 27 de Novembro...

"PIOR DO QUE SER BRONCO É TER GOSTO EM SÊ-LO!!!"

Gota a gota, a pessoa atura, boca a boca, todos os dias, a lidar com a burrice, a estupidez, a ignorância, a homofobia, a misoginia...

Todos os dias...

Gota a gota, boca a boca, vai enchendo o copo, aos arrotos com ares de arrogância, com inchaços de absoluta imbecilidade...

E o telefone que não toca...

A Casa de Lenha


Pelo centenário do nascimento de Fernando Lopes Graça está em cena no Teatro Nacional D. Maria II a peça A Casa de Lenha, uma co-produção com a Comuna. Encenado por João Mota, conta a vida do compositor desde a sua infância, criações, composições, lutas políticas, exilio, revolução e morte.
A primeira coisa que salta à vista do espectador é o incrivel cenário, uma enorme parede escavada num cinzento pardo, que empresta uma complexidade e uma grandeza ao texto. O tom cinza é aliás transversal a esta produção, das roupas aos cabelos, excluindo Carlos Paulo e a visualmente poderosa cena final.
Apesar do seu vasto elenco, a peça acenta quase na sua totalidade no próprio Carlos Paulo, que compõe um Lopes Graça soberbo mantendo-se em cena durante toda a duração do espectáculo, num exercício de resistência física e performativa notável. A vida do autor é contada na primeira pessoa, com a música a pontuar toda a acção. De realçar o trabalho do pianista Nuno Barroso e do coro que se tornam parte viva e fundamental da peça, sobre a direcção musical de António Sousa e a batuta de Jorge Alves.
É uma grande produção que merece uma visita atenta no D.Maria.


A Casa de Lenha
Teatro Nacional D.Maria II / Comuna- Teatro de Pesquisa
Interpretação: Carlos Paulo, João Grosso, Sara Belo, Jorge Andrade, Tânia Alves, António Banha, João Tempera, Manuel Coelho, José Neves, Hugo Franco, Vitor Ribeiro, Augusto Portela, Júlio Martin, Filipe Petronilho, Luis Gaspar, Rui Quintas, Paula Mora, Lúcia Maria, João Ricardo, Maria Amélia Matta, Gonçalo Ruivo, Samuel Alves, Marco Paiva, Maria Ana Filipe, Judite Dias, Rita Seguro, Diogo Branco.
Encenação: João Mota
Texto: António Torrado
De 16 de Novembro a 30 de Dezembro de 2006
Terça a Sábado 21h30, Domingo 16h
Preço: Plateia - 15 €, 1º Balcão - 12,5 €, 2º Balcão - 7,5€ (existem descontos, perguntar na bilheteira)

Teatro Nacional D. Maria II
Praça D. Pedro IV (Rossio)
1100-201 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 250 835

terça-feira, dezembro 12, 2006

Pequeno apontamento Chapitô - aula de segunda feira virada para o físico, trabalho de elasticidade, força, coordenação, ritmo e enfâse para o treino da voz. Regresso à música Deliciae Mae. (like anyone cares... lol)

Música da Semana


Quando em 1996 Mark Oliver Everett, mais conhecido por Mr.E, lança o seu primeiro álbum com a nova banda Eels, após alguns álbuns a solo que tiveram pouca repercussão, estava longe de imaginar que uma das musicas do álbum Beautiful Freak, com o seu som depressivo e pessoal, faria parte da banda sonora de um dos maiores fenómenos de filmes de animação de sempre. A música era My Beloved Monster e o filme Shrek, aliás só este filme poria alguém como Eels numa história de fadas que é, verdade seja dita, já bastante retorcida. Uma das primeiras bandas distribuídas pela Dreamworks, teve também presente no filme de estreia de realizador Sam Mendes, o brilhante Beleza Americana, que é aqui uma escolha bastante mais óbvia (ambos os filmes, sublinhe-se, produzidos pela Dreamworks).
Banda de rock alternativo que sofreu mudanças constantes no seu alinhamento, é no seu fundador e cantor MR.E que tem a base, a inspiração e o sustento.
A música desta semana vem do álbum de estreia Beautiful Freak, que teve em Novocaine for the Soul um cativante single. Aqui fica o melancólico e melódico Flower

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Flushed Away


Se há uma marca em que aprendi a confiar no que toca a animação foi na Dreamworks, principalmente após o incontornável Shrek e respectiva sequela. O último filme a sair dos estúdios geridos pelo big boss himself Mr. Katzenberg (o mais bem pago executivo da indústria responsável pelo ressurgimento da Disney na década de 90 com êxitos como A Pequena Sereia, Aladino, A Bela e o Monstro ou Rei Leão) é uma comédia irreverente chamada Flushed Away (Por Água Abaixo). Conta a história de um hamster de estimação habituado à vida confortável do mundo do Topo, que é deitado pela sanita, indo descobrir um mundo de ratos que vivem no esgoto. Pelo caminho encontra uma bela e irreverente ratazana e um enorme sapo com um plano maquiavélico. A história desenrola-se a um ritmo vertiginoso, com reviravoltas e correrias, rãs e ratinhos, moral e mordácia, tudo numa hora e um quarto que passam demasiado depressa. Com um sentido de humor brilhante típico deste estúdio, contamos com uma pitada de non-sense a cargo de umas lesmas que aparecem sabe-se lá bem de onde para nos deixar de rastos com apontamentos inesperados. Técnicamente apurado como seria de esperar, tem um elenco de vozes impressionante de onde se destacam Hugh Jackman, Kate Winslet, Ian McKellen (fantástico vilão) e Jean Reno (no sofisticado Le Frog). Se bem que as piadas slapstick género casca de banana fazem as crianças delirar, são os pormenores que dão o suco para os adultos, num filme em que temos a sensação que em cada imagem, em cada frame há algures uma referência que provavelmente nos está a escapar.
Não é algo que fique para a História como um marco do cinema, mas é muito divertido, e por favor, visitem a versão original.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Notável!!

Transferência

"Se em palco tiverem que ter uma cena íntima com uma pessoa que mal conhecem, ou uma cena de ódio com um actor de quem gostam têm que fazer uma transferência." - ou seja para ter uma representação forte, verídica, é preciso imaginar alguém no corpo daquela pessoa, alguém que se coadune melhor à cena descrita de forma a sermos mais espontâneos, mais honestos. Ontem foi esse o ponto de ordem dos trabalhos, o início mais concreto da contracenação, com trabalho físico, toque, cheiro e não só imaginação. Foi uma experiência incrível, ver alguém à minha frente completamente de rastos, com uma entrega plena, total, de uma franqueza e honestidade extrema, que se abriu à sua dor sem reservas, deixando-me apenas a fútil tarefa de a tentar, inabilmente consolar. Não sei que efeito tiveram aqueles minutos nos outros, mas foi uma experiência única.
Voltámos no fim da aula a Strindberg e, mais uma vez, não li mais que duas frases. Tenho tido azar na distribuição dos papeis...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Vem Fábio Raul, vem ver a árvore, vamos lá fora, esta noite saímos Fábio Raul, esta noite levamos os miúdos, vem, por uma vez leva-me a algum lado, anda ver a noite iluminada, anda ver o verde e o azul, anda que eu visto uma saia bonita e um casaco comprido, anda comprar algodão doce, vem Fábio Raul, por mim. Este ano ela é ainda maior, onze metros maior, nota-se logo, vê-se logo por entre os sinos e as estrelas, sente-se na música e no cheiro a pipoca, está lá, rodeada de focos como se fosse uma discoteca, ou uma festa muito linda como aquelas das revistas. Anda Fábio Raul… tu achas que eu sou linda? Achas que eu podia aparecer na capa das revistas? Eu vou pôr aquela saia, aquela que tu gostas, e visto o casaco porque está frio, hoje saímos os quatro, passeamos pelas ruas da cidade como se fossemos uma família, como se ali vivêssemos no meio de tanta cor… Vem, tira-me daqui, liga o carro outra vez, mesmo que estejas cansado, mesmo que tenhas estado duas horas a conduzir, anda leva-me daqui. Fazemos uma peregrinação, já que não vamos a Fátima vamos à árvore, como tantos outros, como todos os outros, como aquelas filas enormes de gente que sai e vai guiada pela luz, como os reis magos pela estrela, vamos ver que é Natal, sentir que á Natal, o maior Natal da Europa, o maior Natal do Mundo. Vem Fábio Raul, se toda a gente vai, toda a gente não pode estar errada, eu vi na televisão, eu quero aparecer na televisão, sempre me disseram que eu tinha jeito, eu podia estar numa novela, eu podia ser famosa, eu podia ser ter o nome escrito em cores no céu!... Mas hoje vamos Fábio Raul, hoje vamos sair à noite, hoje vamos estar lá, onde tudo acontece, debaixo da árvore que se calhar tem um presentinho para mim, com aquele tamanho todo deve ter um presente para mim, é grande o suficiente para ter um presente para cada um de nós, para todos nós… E Deus sabe que nós precisamos de um presente… Vamos Fábio Raul… hoje vamos ser alguém…

(Eu odeio o raio da árvore de Natal e as decorações que são do mais bimbo que pode haver espalhadas pelas ruas da cidade.)

Pequeno apontamento Chapitô - Aula de segunda com forte incidência na memória sensorial. Trabalho com as palavras ruptura e fraqueza. Regresso à musica Deliciae Mae.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Música da Semana

Quando em 1991 saiu o albúm Ten dos estreantes Pearl Jam eu tinha onze a caminho dos doze anos. Com os seus títulos seguintes Vs. e Vitalogy tornaram-se uma referência grunge e uma das grandes bandas da década. Quando em casa de dois irmãos meus amigos, um quatro anos mais velho que eu e outro dois anos mais novo, começou a tocar o Better Man, ouço o mais velho dizer que banda a sério eram os The Cure, que eu conhecia basicamente de nome e um ou dois clips que raramente passavam na televisão. Gerou-se ali uma pequena discussão sobre qual das bandas teria mais mérito, sem se chegar (como se esperava) a nenhuma conclusão, cada um convicto da defesa da sua dama. Na altura quatro anos fazia imensa diferença, ele tinha 12 anos quando saiu em 1986 The Head on the Door, considerado por muitos um dos melhores albuns de The Cure, banda de pop-rock alternativo inglesa que, após o êxito do seu single Boys Don't Cry em 1979, esteve no topo do mundo musical durante toda a década de 80.
Eu sei que a maioria de quem me lê não precisa de explicações sobre The Cure ou Pearl Jam. Mas estando eu a trabalhar no Chapitô com malta de 16 anos reparo que nasceram quando o Ten saiu, para os que, entre eles, conhecem Pearl Jam, acham que Eddie Vedder sempre teve o cabelo curto.
Dezasseis anos depois a diferença de idades já não se nota, quatro anos a mais não é nada, e já não preciso tomar partidos entre bandas, estilos ou épocas. Em honra a um regresso ao passado, meu e de muitos mais, aqui fica... Close to Me.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos


Em 1997, ainda na velhinha sala estúdio do S.Luiz onde estava sediada a Companhia Teatral do Chiado, fui ver As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos, a primeira peça que lá via sem o saudoso Mário Viegas. Fui a medo, foi para mim uma espécie de teste, saber se a companhia conseguia sobreviver ao seu fundador, mentor e actor principal, que era uma das figuras mais extraordinárias e carismáticas do teatro português. Não era tarefa fácil, a morte do Mário tinha abalado toda a gente e a sua marca era difícil de ultrapassar. João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim subiram a palco, num espectáculo que não foi inicialmente acolhido pelo público de braços abertos, e construíram, pelos seus próprios méritos, um êxito incontornável que (facto único na história do teatro nacional) se mantém há dez anos em cena.
Com a estreia a 24 de Novembro de 1996 em Portimão e depois a 28 de Novembro na sua casa no S.Luiz, a peça fez já 118 digressões e teve uma assistência de 156 mil espectadores (e trocos).
Dez anos volvidos (nove e qualquer coisa para ser mais preciso), voltei ao S.Luiz com um grupo alargado de amigos, para revisitar velhos conhecidos e saber como se aguenta este espectáculo uma década depois (agora de novo com o elenco original, ao fim de 5 mudanças). Este tempo todo mais tarde, continua com a mesma energia vibrante, a mesma força, a mesma garra e o mesmo entusiasmo que vi quando ainda tínhamos o Guterres como primeiro-ministro.
Um cenário simples (podia aliás nem ter nenhum) somos levados ao colo desde o primeiro minuto, num remoinho de loucura contagiante, onde o espectador tem muito mais que um papel passivo, pelas obras completas do mestre. O delírio é completo e as quase três horas de espectáculo (pois... não são nem de longe 97 minutos) passam a voar por entre Romeu e Julieta, Hamlet e Othelo como nunca os vimos antes. Como é apanágio desta companhia a dose de improviso é relevante e, como para tudo na vida, é preciso ter sorte no dia em que se assiste, porque se a peça vive muito do público que tem, vive também do bom humor e da inspiração dos seus actores naquela noite específica. Eu tive sorte neste regresso, a sintonia entre audiência e performers foi completa com especial destaque para a vedeta Simão Rubim. Para além de ser um actor incrível, que consegue pôr a sala de joelhos com um simples olhar (brilhante composição facial) tem também um timing cómico impecável.
Não entro em mais pormenores, mas fica aqui a recomendação, o pedido, a urgência de ir ver o show mais hilariante que está hoje em cena. A não perder.

Deixo a ferroada para o preço que... vá, não é convidativo (mas merecem). Seja como for há descontos vários e o melhor é sempre... perguntar na bilheteira.


As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos
Companhia Teatral do Chiado
Interpretação: João Carracedo, Manuel Mendes, Simão Rubim
Encenação: Juvenal Garcês
Texto: Jess Borgeson, Adam Long, Daniel Singer
Tradução: Célia Mendes
Adaptação: Companhia Teatral do Chiado
Domingos e Segundas às 21
Preço: 18,5 euros (existem diversos acordos, descontos e promoções, perguntar na bilheteira)
Teatro Estudio Mario Viegas
Largo do Picadeiro
1200-330 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 257 652
(351) 917 664 989
www.companhiateatraldochiado.pt
http://asobrascompletasdewilliamshakespeare.blogspot.com/

Com o feriado os filmes e as saidas esqueci-me de falar da última aula do Chapitô. Já tendo passado quase uma semana resta-me apenas sublinhar, para manter um relato regular, que de toda a aula destaca-se o início do trabalho com a Ilha dos Mortos do Strindberg...
Hoje há mais.

quinta-feira, novembro 30, 2006

The Illusionist

Com a quantidade insana de estreias semanais nas salas de cinema, tenho tentado fazer uma escolha criteriosa dos filmes a ver, dado que não consigo ir mais que uma ou duas vezes por semana às salas e estreiam cinco ou seis filmes. Esta situação tem as suas vantagens, há muito tempo que não vou ver um mau filme. Até ontem à noite. Não é que The Illusionist seja mau, é apenas... fraco.
Neil Burguer realiza aqui a sua segunda longa-metragem, a primeira tinha sido uma produção independente sobre um homem que afirmava ser o assassino de Kennedy, mas na verdade a película não deixou marcas. É portanto sem passado de valor que avança para esta adaptação de um conto de Steven Millhauser que aborda a relação entre um mago e uma condessa em Áustria no século XIX. O filme começa de forma prometedora, visualmente envolvente, tem um tom de cores fortes, mas gastas, como se fosse um filme mudo a cores, remetendo-nos para um imaginário fantástico um pouco irreal, que assiste a temática da fita. As insuficiências de Burguer começam a revelar-se quando utiliza desnecessária e abusivamente um narrador para fazer o filme avançar, em cinema a história, emoções e sensações não se dizem, mostram-se, e a utilização deste narrador denota, desde cedo, uma incapacidade para as contar.
Não conheço o conto, mas o argumento (adaptado pelo próprio Burguer) é tão fraco como a sua realização. Personagens bidimensionais, uma trama linear e um plot twist previsível (se bem que inacreditável, ainda não consegui perceber para quê aquele trabalho todo) fazem com que o tempo passe sem entrega, nem emoção e não deixe grande memória.
Na verdade não foi nem o realizador nem a história que me fizeram ir ver O Ilusionista, mas sim a dupla Edward Norton, Paul Giamatti. Se Paul Giamatti acaba por ser (bem como a fotografia e a cenografia do filme, com fantásticos décors Arte Nova) o único motivo para se gastar dinheiro e tempo aqui, o próprio Edward Norton acaba por ir na mediania de tudo o resto, sem apresentar uma performance digna daquilo que já mostrou, embora seja bom salientar que o seu personagem também não permite grandes veleidades. Fraquinha fraquinha é Jessica Biel, que não passa de um rosto e um corpo bonito.
No fim de contas o tempo passa sem incómodo de maior, mas se a curiosidade apertar o melhor é esperar pelo DVD.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Mais um passo...

Escrever sobre as aulas de teatro num blog parece um exercício inútil. O interesse que tais relatos possam ter para quem não está presente é diminuto. No entanto, estes textos são para mim de uma importância fulcral no cimentar dos conhecimentos adquiridos e no reviver de experiências, num processo que se baseia exactamente na repetição como forma de aprendizagem. Por outro lado talvez exista alguém por aí com interesse em aulas de teatro, uma curiosidade que pode ver por aqui satisfeita e, quiçá, talvez iniciar a sua própria formação teatral.
Segunda-feira foi aula física, exercícios iniciais de alongamento e flexibilidade seguidos, comme d’habitude por um passeio pela sala onde tínhamos que encurtar ou alargar espaço entre os vários alunos. Em seguida fizemos um jogo de perseguição, escolhíamos alguém na sala que tínhamos que perseguir, sem no entanto sermos notados e utilizando sempre a visão periférica. O jogo do gato e do rato continuou até nos agruparmos em pares e olharmos um para o outro. Conhecermos o rosto, os contornos e nuances, descobrirmos qual dos olhos é o mais brilhante e aí desfocarmos a visão. Essa imagem desfocada, distorcida depois de gravada na mente tinha que ser “reproduzida” no corpo. O que é que sentimos ao olhar para ela, quem vimos, o que vimos, como? Tudo isso tinha que ser reproduzido depois fisicamente, no gesto, no corpo, no andar.
Voltamos ao texto, a uma música em Latim que estamos a aprender desde a última aula. Desta vez o que interessava não era tanto a música mas o texto traduzido, o seu significado. Uma vez mais com a memória emotiva a trabalhar, lembrarmo-nos de alguém que a quem tenhamos desiludido e lemos o texto a essa pessoa, alguém que nos desiludiu e, por fim, alguém com quem tenha acontecido ambas as coisas. O que torna as coisas interessantes é que o texto fala de alguém que se despede de alguém morto com palavras como “As minhas lágrimas lavarão o teu corpo uma última vez”, ou seja, à primeira vista desilusão não seria o sentimento dominante. É isso que pode dar uma interpretação densa, a complexidade de sentimentos demonstrada.
Para relaxar a aula acabou com canto e dança, partes integrantes da formação de um actor.
Mais um passo…

terça-feira, novembro 28, 2006

Música da Semana

O espectáculo de Bruno Schiappa é de dificil definição. É uma revisita a músicas, textos e temas universais, interpretados vocal e fisicamente por Schiappa, acompanhado por Pedro Fontainhas ao piano. A escolha de reportório é excelente, de textos de Brecht, à musica de Brel, Piaf, Zeca Afonso ou José Mario Branco, somos acompanhados durante uma hora por sons e palavras verdadeiramente imortais.
A música desta semana é de Edith Piaf, cantora e icone francês, transcendeu a sua origem tornando-se numa referência universal. É uma das músicas presentes no espectáculo que, depois do Santiago Alquimista, vai estar no Teatro da Trindade, domingo dia 3 de dezembro às 18 horas.
Vale a pena a visita.
"Trata-se de um espectáculo em tom cabarético que remete para o cabaret alemão dos anos 30 e no qual traço um retrato do ser humano através de canções e poesia." - Bruno Schiappa



Teatro da Trindade
largo da trindade, 7a, 1200-466, lisboa
Bilhetes à Venda: Teatro da Trindade 3ª 14h-18h e 4ª a Sábado 14h-20h Fnac Lojas Abreu Ag. Alvalade
www.ticketline.sapo.pt
Informações/Reservas: Teatro da Trindade 213 420 000 Ticketline 707 234 234
http://teatrotrindade.inatel.pt
Bilhetes: 12 euros; descontos de 30% para jovens até aos 25 anos; séniores; grupos de 10 ou mais pessoas e sócios do Inatel.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Pior do que ser bronco é ter gosto em sê-lo!

Children of Men

Em 2027 os seres humanos perderam a capacidade de se reproduzir. O Homem mais novo do mundo acaba de morrer com 18 anos e com ele a pouca esperança existente. Sem crianças não há futuro, sem futuro não há esperança. É para este bizarro mundo pré-apocaliptico que Children of Men (Os Filhos do Homem) nos transporta.
É dificil catalogar este último trabalho de Alfonso Cuarón que depois do aclamado Y Tu Mamá También, deu o salto para o main stream american com Harry Potter and the Prisioner of Azkhaban (o título mais negro da série). Se estamos perante um thriller futurista e um filme de acção, estamos tambem perante uma reflexão de sérios problemas actuais (a exclusão social, xenofobia) e um drama humano de alguem que tem nas mãos uma mulher que incrivelmente está grávida e que pode ter nas mãos o futuro da Humanidade.
Visualmente envolvente, num tom cinzento de lenta decadência, Cuarón consegue alguns momentos de uma estéticamente belos conseguindo um filme emocional, encontrando um equilibrio ao longo de toda a história, que nos transporta da primeira à última cena.
Com um Clive Owen, seguro como é seu hábito, à frente de um elenco que não compromete este é um filme que não se deve deixar passar ao largo no turbilhão de inúmeras estreias que invadem o mercado nacional todas as semanas.
Em Lisboa já só está no Alvaláxia às 19h20 e no Porto em poucos mais horários se encontra. Tudo indica para que apenas esteja em cartaz até quinta feira. Vale a pena aproveitar estes últimos três dias para o vêr.

sexta-feira, novembro 24, 2006

E se o revisor do Público online de hoje tivesse enlouquecido?

Grande parte do centro da vila da Lourinhã está hoje inundada. O presidente do executivo madeirense Alberto João Jardim, com a água a chegar até metro e meio de altura, afirmou pela primeira que, em coordenação com o grupo parlamentar do Partido Socialista (PS) e com centenas de militares na reforma e alguns no activo, tem como objectivo derrubar os estádios de futebol que já não vão pagar Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) em 2007. As estradas de acesso ao local estão a ser cortadas, informaram os bombeiros. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, afirmou ontem à noite, em entrevista à SIC que, como se esperava, a proposta provoca queda de árvores e acidentes com feridos. Durão Barroso admite que não está arrependido de ter apoiado o processo.

Cinco milhões de mulheres internadas por complicações após abortos sem condições "passearam" ontem, em Lisboa, o seu "descontentamento", mas o ministro da Defesa não considera a acção representativa. Pelo menos 202 pessoas morreram e 256 ficaram feridas.

Mais de 500 militares, advogados e consultores da estrutura governamental de uma Região Autónoma partiram, às primeiras horas de hoje, para Beirute sem condições de higiene ou segurança. O antigo espião russo Alexandre Litvinenko, que foi hospitalizado em Londres depois de ter sido alegadamente envenenado, admitiu, ontem à noite, existirem "riscos e dificuldades" inerentes à Força Interina das Nações Unidas (UNIFIL) no Líbano.

Circulação de comboios do Iraque "está a correr mal". As complicações sofridas na sequência do planeamento fiscal entregue pelo PS no bastião radical xiita de Bagdad, revela um estudo publicado amanhã na revista medica britânica "The Lancet", sobe para 202 o número de mortos. Se nada mudar, uma em cada cinco mulheres será internada por problemas deste tipo em alguma altura da sua vida.

(texto feito a partir de excertos de noticias no Público Online de hoje... pronto deu-me uma travadinha... paciência)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Talento e Coragem


Talento e Coragem são duas características que admiro nas pessoas, principalmente a coragem porque o talento, muitas vezes inato, não é de todo merecido pela pessoa com o dom.
Num país onde se prefere quase sempre o conforto e a segurança de trabalhar para terceiros - grupo onde me incluo - há muito pouca gente que corra riscos e resolva avançar sozinho num projecto em que acredita.
Pedra de Toque é uma nova loja que abriu dia 28 de Outubro em Telheiras. Da minha querida amiga Joana Simões, é uma loja que se define como uma galeria e joalheria de autor. Neste momento cerca de 16 jovens criadores tem as suas peças nesta loja, que para alem dos trabalhos de joalharia tem trabalhos em cerâmica, tecido, pinturas, esculturas entre outros. Com a originalidade e o bom-gosto como pedra angular deste projecto, Pedra de Toque é um espaço onde se encontra um pouco de tudo, para diferentes preços e gostos, sempre com a certeza de se encontrar peças practicamente únicas.
Como são jovens criadores o custo de cada trabalho é sempre reduzido em comparação com quem já criou nome.
Merece uma visita nesta altura do Natal, seja para comprar uma pequena lembrança de oferta ou um presente muito especial.
Na saída do Eixo Norte Sul (quem segue na direcção do Lumiar) para Telheiras a loja fica mesmo de frente, mas para se chegar de carro é preciso indicações que o blog de Joana Simões oferece. A visita a este espaço virtual permite tambem conhecer os horários (agora alargados de Natal) e a colecção da autora.


Pedra de Toque
Rua Professor Queiróz Veloso Bloco G, Loja 3
Telheiras
1600 Lisboa
Tel.: 217576305
www.joana-simoes.blogspot.com

quarta-feira, novembro 22, 2006

The Departed

O último filme de Martin Scorsese The Departed foi um dos mais aguardados do ano. Com um elenco de luxo, este remake do filme de culto de Honk Kong Infernal Affairs não desilude.
É a história de dois policias, um infiltrado numa organização criminosa e outro que é dessa organização e está infiltrado na polícia. A partir daqui desenvolve-se um jogo de perseguição e engano, com uma tensão que subsiste até ao último instante.
Tal como em toda a carreira do realizador, este filme vai além do simples thriller, o centro do filme são questões morais primordiais, o amor, o desejo, quem somos e até onde somos capazes de ir, a quem é que devemos lealdade e em quem podemos confiar. No fundo é um filme sobre a Verdade, aquela que conhecemos, a que damos a conhecer, e aquela que nos define. Numa das frases geniais de abertura Nicholson diz a um miudo " Quando eu tinha a tua idade diziam-nos que podiamos ser policias ou criminosos. O que eu digo é isto: quando encaramos uma arma carregada... qual é a diferença?", e é este tom de ambiguidade que é transversal a toda a fita.
É impossivel vêr The Departed sem comparar com Infernal Affairs - que há quem considere superior. No entanto, o filme de Hong Kong é apenas um filme de policias e ladrões, bons e maus, num jogo de gato e rato mais ou menos interessante. É um filme muito mais linear do que The Departed. O elenco então é incomparável. Se Matt Damon não deslumbra (aliás nunca o fez) Di Caprio dá mais um passo no seu crescimento como actor, Mark Whalberg tem uma performance de uma força incrivel e Jack Nicholson roça o sublime. Uma nota para Vera Farmiga num papel muito bem conseguido de uma psicóloga de policia que se vê envolvida na trama.
Intenso, violento, complexo, com um argumento inteligente de onde sobressaem diálogos deliciosos, um sentido de humor aguçado, com uma utilização da luz e da câmara incriveis, The Departed pode muito bem ser o bilhete de Scorsese para um há muito merecido Oscar.

terça-feira, novembro 21, 2006

A reeducação do corpo

Se o trabalho sensorial individual está a chegar ao fim este ano, novas portas se abrem no Chapitô. Ontem, depois de um aquecimento inicial intenso (já típico das aulas de segunda feira) trabalhámos com a expressão fisica da palavras, tinhamos que criar uma estátua grotesca que reflectisse a nossa interpretação de três palavras que, à vez, fomos ouvindo - dor, amor e fim.
Trabalhámos sobre o ritmo, num passo ternário moviamo-nos pela sala, com diferentes velocidades, emoções ou acções a desempenhar, sem nunca descurar o foco, o contacto visual com as outras pessoas na sala. O trabalho físico foi mais intenso, mas esta segunda marcou o início do trabalho sobre a respiração e sobre o som, sobre a voz. Ambas as coisas estão óbviamente interligadas e, como são algo que fazemos diáriamente de forma errada (respiramos pelo peito e não sabemos utilizar a plenitude das nossas capacidades vocais) revestem-se de uma dificuldade acrescida porque antes de se apreender a forma correcta de fazer as coisas é preciso eliminar hábitos adquiridos ao longo de uma vida.

Música da Semana


A banda escolhida para esta semana são os americanos The Dresden Dolls, banda que se auto-intitula como um Cabaret Punk Brechtiniano. O título é um pouco pomposo, bem como o é o próprio grupo, mas tem um som de fábula degradante que me agrada, com uma Amanda ao piano e voz carregada de energia, rancor, um timbre rouco e que oscila entre o suave e o violento.
Músicas sempre muito pessoais, muito intensas, é um album que no seu universo de fantasia se deve ouvir repetidamente para redescobrir e captar novos sons, sentidos e nuances.
Foi dificil escolher a música. O fabuloso Good Day já aqui esteve em video na sua versão ao vivo, o irado Girl Anachronism ou o Coin Operated Boy são singles e mais faceis de encontrar. O tocante Perfect Fit foi hipótese, mas fiquei-me por Missed Me por se tratar de uma musica mais exemplificativa do trabalho deste duo.
Enjoy...

segunda-feira, novembro 20, 2006

Evolução ou extinção?



Há uma semana fui confrontado com o facto de o Papa ter reunido um conselho para debater a questão do celibato dos padres. Foi-mo dito por uma católica, que via aqui uma possível abertura, uma racha nas posições mais retrógradas instituídas no seio do Vaticano.
Na sexta feira passada li, quase em nota de rodapé no Diário de Notícias, que “O Papa Bento XVI e a Cúria Romana reafirmaram ontem (quinta feira) os valores do celibato para os padres” e que “Rejeitando categoricamente qualquer possibilidade de ordenação ou readmissão de padres casados, o Vaticano acabou por minimizar o alcance do encontro classificando-o como uma “reunião periódica destinada a uma reflexão comum””.
Ou seja nada. Foi apenas um fait-divers.
Mas na mesma semana outras notícias vieram a lume. D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não só se voltou a pronunciar (naturalmente) contra a despenalização do aborto, pedindo aos fieis para saírem à rua em prol do “Não” no referendo, como nem sequer reconhece à Assembleia da República o direito de legislar sobre o assunto. Diz que “o Estado não pode declarar boa uma coisa que é má.” Acha portanto que existe o Bem e o Mal absoluto, sem perspectiva histórica, moral ou social e que o Povo não tem capacidade de o reconhecer, mas sim a visão iluminada da Igreja. A Assembleia, eleita pelos cidadãos, não tem capacidade de decidir o que é certo ou errado, mesmo depois de referendado, ou seja as pessoas que votaram nas legislativas e que vão votar no referendo são seres cuja opinião do mundo e valores morais não interessa, se esses valores forem contra a opinião de D. Jorge Ortiga.
Felizmente longe vão os tempos em que a Verdade era uma noção absoluta postulada pela Santa Sé, felizmente longe vão os tempos da Inquisição e da caça às bruxas – onde aliás o respeito pela vida não era a primeira prioridade – e hoje se pode votar e decidir sem se estar sob o jugo de bispos, arcebispos e cardeais.
Mas a Conferência Episcopal não se ficou por aqui, considerou que a procriação medicamente assistida (nomeadamente no que toca à utilização de óvulos ou espermatozóides externos ao casal) é “uma infidelidade, ainda que consentida” e que “não está conforme com as exigências morais do Cristianismo e mesmo da ética natural”.
Esta é capaz de ser a visão mais retrógrada que já conheci. Segundo a CEP a fidelidade já não envolve mentira, engano, relações afectivas ou emocionais com terceiros, nem sequer um envolvimento físico com alguém externo ao casal, mas basta a existência de uma célula externa ao corpo de cada um. Que dirão da doação de órgãos? Que dirão de alguém que fica com o coração ou o fígado de outrem? Ou será que é infedilidade por gerar uma criança? Será a visão medieval de infedilidade o facto da mulher carregar no seu útero um filho que parte da célula de outro homem que não o marido? Como é possível no século XXI que se defendam noções tão arcaicas de Bem e de Mal, de Amor e de Fidelidade?
Padres casados? Seria bom. Talvez ganhassem uma maior noção do que carga de água estão a falar, em vez de puxarem de noções e chavões mais mortos que o Latim, e que serviram de base para as maiores barbaridades da História.
Ao que parece a evolução não existe.

sexta-feira, novembro 17, 2006

FYI

Bruno Schiappa é o meu professor de teatro no Chapitô. Vai estar no Santiago Alquimista numa performance única dia 22 de novembro. É a primeira vez que o vou ver em palco. Fica aqui a informação do espectáculo.
(I)MORTAL
Santiago Alquimista
Dia 22 de novembro às 22 h


A arte* é força emanente; não se ensina, não se aprende; não se compra, não se vende; nasce e morre com a gente.

Sobre o Espectáculo:

(I)MORTAL é um retrato do Homem ocidental através da música e da poesia teatralizadas. É também uma homenagem a esse tecer de malhas que perduram no tempo e que são fruto de uma natureza de sentimentos, emoções, crueldades e perfeições.

O formato deste espectáculo é resultado de uma digestão demorada da vontade de juntar em palco as línguas francófona e lusófona num elogio aos laços que sempre se uniram entre os povos que as dominam.

Aqui, o que acaba e se perde para o indivíduo, transforma-se em memória que perdura, que canta, que imortaliza momentos do mortal. O espectáculo vive de um crescendo frenético e cénico onde, a par da sensibilidade e emotividade de Fontaínhas, Schiappa interpreta com traços de Mímica e Dança alguns dos mais belos momentos cantados por imortais.

É aqui que a forma se junta ao conteúdo. Cantores como: Brel; Vian; Ferré e Piaf são revisitados, mantendo no entanto uma grande proximidade com o original. Zeca Afonso é revisitado em “Cantigas do Maio” que é banhado por influências sonoras francesas sem perder a cadência original e, por fim, Brecht/Weill, cantados em português. A escolha dos últimos prende-se com o facto de serem autores/compositores universais, com temas e questões que bem podiam ser as lusas. As traduções/versões feitas para este espectáculo aproximam-nos – aos portugueses – ainda mais das canções escolhidas. Fica por aqui a contribuição das cantigas/canções, mas não se esgota o que ainda há a dizer. A escolha da poesia passa por Fernando Pessoa e Mário Pederneiras no antigo e Bruno Schiappa (textos e voz) e Pedro Fontaínhas (composição e piano) no contemporâneo. Estas criações sublinham, em tom de poesia dita e tocada, a relação encontrada para um espectáculo onde a ideia que prevalece (pelo menos para nós, os criadores/intérpretes) é que o sublime e o trágico fazem o belo imortal dos mortais ou, parafraseando João Villaret:

*sendo, a Arte, a inscrição da expressão de uma impressão (Bruno Schiappa). "

(I)MORTAL
Ideia/Concepção
: Bruno Schiappa
Voz/Movimento/Mímica: Bruno Schiappa
Piano/Música original: Pedro Fontaínhas

Informações Úteis:
Preço dos bilhetes :
10€ e desconto 30% para grupos mais 10 pessoas, jovens com menos 25 anos, profissionais do espectáculo e seniores
M/ 16 anos
Duração:1h15

Café-Teatro Santiago Alquimista
Rua de Santiago 19, 1100-493 Lisboa Portugal
(ao Castelo de São Jorge)

T. 218884503/218883412
www.santiagoalquimista.com

quinta-feira, novembro 16, 2006


Estamos a chegar à fase final do trabalho individual sensorial e avançamos a passos largos para começar o trabalho com parceiro. Ontem na aula de teatro tivemos uma relaxação mais profunda que o habitual e, após trabalho com um espelho imaginário, voltámos às personagens da Commedia Del Arte, trabalhando sobre a roupa (que teriamos que imaginar, visualizar, mais que isso, sentir o toque, o peso, a textura e a forma como isso nos influencia a pose, o andar, o caracter).
Em seguida, trabalhando sobre os personagens da peça O Urso, recorremos ao improviso. Saiu-me desastrosamente. Banal, timido, descoordenado, tropecei completamente neste exercicio. Voltámos depois ao trabalho sensorial, memória e recriação, invenção de um roubo e uma fuga que teria que ser mostrado frente ao resto da turma.
Contracenação... agora o grau de dificuldade começa a aumentar...

Não... não é sexta-feira...

quarta-feira, novembro 15, 2006

A Paixão Segundo João

Desde que sairam do espaço d'A Capital no Bairro Alto, os Artistas Unidos têm andado um pouco por toda a cidade, ocupando espaços de representação dos mais variados.
Encontraram para esta última investida de obras poiso no Convento das Mónicas na Graça, onde apresentam duas peças.
A Paixão Segundo João de Antonio Tarantino segue o calvário de um doente mental que acredita ser Ele, e de João um enfermeiro que o acompanha numa instituição psiquiátrica.
O texto, quase dois monólogos simultâneos, tem (como o título indica) diversas referências bíblicas, mas que se limitam a aflorar a ligação óbvia que se quer estabelecer entre este doido e as últimas horas de Cristo - de Pedro por exemplo, outro doido, limita-se a repetir "ora te conhece, ora não te conhece".
É uma peça falhada, a proposta de intenções expressa no programa não está em palco:
"É um meteoro. Não sabemos se é doido ou não, consciente ou alienado, violento ou pacífico, homem ou animal. Na sua luta com a sociedade experimenta a extraordinária e incrível iluminação, através de uma perda de identidade ou uma escolha obscura ou louca, fazendo-se passar pela figura mais alta da cultura e da religião cristã. É o máximo da espiritualidade e o máximo do realismo. “No mundo o mal existe e a desventura também”, são palavras de João no momento da separação; é a recusa do mistério. Os dois elementos coincidem na personagem: a sociedade encarrega-se de os curar ou anular."

Miguel Borges tem uma representação monótona e repetitiva, longe do que o papel pedia em intensidade e profundidade. O local escolhido é apropriado, o convento confere um peso secular à peça, mas a falta de nervo, de emoção, torna dificil criar qualquer ligação ao que se passa à nossa frente. A hora passa sem sobressaltos, sem incomodar, mas tambem sem nos emocionar em momento algum.
Existem alternativas mais interessantes por estas horas em Lisboa...

A Paixão Segundo João
Com
Miguel Borges e Américo Silva
Tradução Tereza Bento
Encenação Jorge Silva Melo
Uma produção ArtistasUnidos/Tá Safo/alkantara festival
NOVEMBRO: DIAS 1, 2, 22, 23,24 e 25 às 21H00 / Dia 11 às 19H00
CONVENTO DAS MÓNICAS - Largo da Graça
Preço: 10.00€
ESCRITÓRIO Artistas Unidos
R. Campo de Ourique,120 1250-062 Lisboa
tel: (00351) 213872418 / 213700120
fax: (00351) 213872418

terça-feira, novembro 14, 2006

Another World

Sempre que começo uma aula no Chapitô sinto que entro para um outro mundo, um mundo mais livre, onde as regras são diferentes e onde os juizos de valor são practicamente inexistentes.
Na aula de ontem, após o relaxamento inicial, fizemos diversos exercicios com posições fetais, posições de sono e movimento constante entre as varias. Andámos pela sala com um andar inventado por nós, fizemos rodopios, gestos, saltos e quedas, num encadeamento constante entre os vários elementos a 8, 4, 2 e finalmente a 1 tempo, num frenesim tal que perdiamos a noção do que estávamos a fazer. O objectivo não era obviamente a execução de cada passo milimétricamente, mas a busca de uma emoção, uma imagem, uma desenvoltura fisica que faz parte das aulas de segunda feira - antes disto tinhamos já evitado choques uns com os outros enquanto avançávamos pela sala cada vez mais rápido, bem como feito uma parafernália de movimentos, cambalhotas e exercicios quer de pé, quer no chão.
Regressámos à Commedia del Arte, escolhemos um personagem e encarnámo-lo fazendo sobressair o seu lado sensual, mais que isso, a sua libido.
Cada passo que damos, mesmo que seja em falso, é um passo em direcção a uma maior libertação, expressividade e auto-conhecimento.
O Chapitô tem sido cada vez mais um refugio onde estico as asas à imaginação...

Música da Semana


Esta semana ouve-se aqui no Sopros Death Cab for Cutie, uma banda da nova vaga da musica independente americana, ou pelo menos de uma nova vaga independente americana. São o contraponto musical perfeito à tambem "nova vaga" do cinema independente americano, como Eu Tu e Todos os Que Conhecemos, A Lula e a Baleia ou o seu novo porta estandarte Uma Familia à Beira de Um Ataque de Nervos. Tal como no cinema não traz nada de inovador, é um reformular de experiências passadas nomeadamente de bandas como R.E.M., nem sequer são necessáriamente recentes - têm já quase uma década de história.
Seja como for, e tal como nos filmes que mencionei, o esforço é meritório, o tom desenjoa da monotonia e a vibração fica no ouvido.
Do album de 2003 Transatlanticism aqui fica The Sound of Settling... tenham uma boa semana...

segunda-feira, novembro 13, 2006

As Vampiras Lésbicas de Sodoma


Desde a morte de Mário Viegas que a Companhia Teatral do Chiado se tem especializado em comédias non-sense, com grande dose de improviso, onde derrubam (demolem completamente) a quarta parede levando o espectáculo para o colo (literalmente) do público. Começou há dez anos com a estreia de As Obras Completas de William Shakespeare - que tem sido o abono de familia desta companhia - e vem-se mantendo constantemente.
A última instalação deste género de peças é As Vampiras Lésbicas de Sodoma, que já está em cena há 8 meses com alguma adesão do público - moderada.
Escrita por um dramaturgo (actor e argumentista) americano Charles Busch, que em 1984 foi catapultado para o sucesso por esta peça, está no entanto adaptada e enquadrada para a realidade portuguesa com diversas referências ao parque mayer e às vedetas dos anos 30, 40 e 50, bem como, no último quadro, um gag de uma actriz bem marcada do Porto.
Não é no entanto no texto que está o mérito do espectáculo, mas sim na interacção alucinada entre os vários actores, cada um com figurinos, maquilhagem e representação mais over-the-top que o anterior. Apesar dos dois actores principais serem o eterno Simão Rubim e Rita Lello, quem enche completamente o palco é Tobias Monteiro que tem uma performance absolutamente hilariante.
O problema principal reside na irregularidade de toda a peça. Se existem diversos momento em que não conseguimos conter o riso, com alguns gags muito bem conseguidos, existem outros em que no máximo suportamos um sorriso sofrivel, mais pela memória de momentos passados do que por aquilo que está em palco. Arrastando-se por mais de duas horas, As Vampiras Lésbicas de Sodoma não tinha nada a perder se cortasse meia hora de duração, se concentrasse mais nos momentos chave, reduzisse o improviso que nem sempre é uma mais valia, e acalmasse o tom geral. A histeria generalizada ganhava uma outra força se fosse um contraponto a uma representação contida em vez de uma constante do início ao fim.
No final de contas merece uma visita, se bem que está vários furos abaixo de As Obras Completas de William Shakespeare e com um preço que é pouco convidativo.


As Vampiras Lésbicas de Sodoma
Companhia Teatral do Chiado
Interpretação: João Carracedo, João Craveiro, Manuel Mendes, Rita Lello, Simão Rubim, Tobias Monteiro
Encenação: Juvenal Garcês
Texto: Charles Busch
Tradução: Gustavo Rubim, Patrícia Marques, Vítor d´Andrade
Adaptação: Companhia Teatral do Chiado
Quintas, Sextas e Sábados às 22h
Preço: 18,5 euros (existem diversos acordos, descontos e promoções, perguntar na bilheteira)
Teatro Estudio Mario Viegas
Largo do Picadeiro
1200-330 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 257 652
(351) 917 664 989
www.companhiateatraldochiado.pt
http://asvampiraslesbicasdesodoma.blogspot.com

sexta-feira, novembro 10, 2006

Marie Antoinette


O nome Coppola está a tornar-se cada vez mais uma referência na indústria cinematográfica. E se olharmos para a familia alargada, o clã Coppola inflitra-se por todos os poros do movie business. Dos menos conhecidos como o actor Marc Coppola, o realizador Christopher Coppola, Roman Coppola (com diversas pequenas posições), o jovem actor Robert Schwartzman, passando pelo seu irmão mais velho Jason Schwartzman (À Boleia Pela Galáxia, Uma Rapariga Cheia de Sonhos), Talia Shire (Rocky, O Padrinho), Carmine Coppola (o avô do clã, compositor), até Nicolas Cage, Sofia Coppola e o velho mestre Francis Ford Coppola, temos uma noção de como o cinema corre nas veias desta familia.
Sofia Coppola, filha de Francis Ford Coppola, depois de uma breve passagem como actriz, conseguiu firmar-se como realizadora e argumentista, tendo já a seu crédito três longas metragens, todas produzidas para a American Zoetrope a companhia de... Francis Ford Coppola.
Marie Antoinette é a sua última produção após o premiado Lost in Translation, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Argumento Original. Segue a vida da última rainha francesa, mulher de Luis XVI, morta após a tomada da Bastilha. O filme, quase totalmente centrado em Versalhes, é mais um com a marca de Sofia Coppola. Exímia na utilização dos espaços, dos tons, das cores, conseguindo transmitir numa só imagem a solidão e a histeria que engoliram a jovem arqui-duquesa austríaca, transformada em simbolo da podridão da corte francesa do século XVIII. Visualmente exagerado, marcado com uma mescla de cenografia barroca com uma côr pujante típica dos anos 80, bem vincada aliás na música escolhida pela realizadora, é um filme sedutor. Este loucura visual é contraposta de uma forma soberba com os tons calmos e suaves da sua casa de campo, as sombras quentes das noites ou a pesada negritude dos últimos meses da sua vida. Se estética e musicalmente a realizadora assume riscos e acerta em cheio, o mesmo se pode dizer com o elenco. O seu primo Jason Schwartzman é brilhante como um triste Luis XVI e Kirsten Dunst prova, de novo, ser mais que uma cara bonita, mas uma actriz de um talento inegável e que transmite aos seus personagens um misto de erotismo e inocência.
Falhanço no box-office americano, Marie Antoinette é um filme a não perder. Parece que a arte de cinema corre mesmo no sangue...

quinta-feira, novembro 09, 2006

Respirar outra vez...

Como o regresso à tona de àgua. Ao fim de duas semanas respirei golfadas de ar fresco, saboreei cada momento, cada sorriso, cada exercico da aula de teatro. Não que a aula fosse particularmente extraordinária, começou atrasada, com muita gente e, após um relaxamento inicial, fizemos um trabalho de reconstrução de uma pessoa que nos fosse próxima. A seguir, com base nas palavras coragem e cobardia, relembrar e trabalhar (terminando com um gesto específico e um som) situações da nossa própria vida que essas palavras trouxessem à memória.
Acabou com a partilha (que demorou muito tempo) das experiências revisitadas.
Perdi em duas aulas trabalho sobre texto e sobre a Comedia Del Arte.
Mas voltei e soube... bem.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Para quem acha piada


Pelos décimo aniversário do Contra-Informação, está no Vasco da Gama uma exposição itenerante. São diversos personagens deste programa, espalhados pelo centro para serem vistos e ouvidos ao vivo.

terça-feira, novembro 07, 2006

Faz amanhã duas semanas que fui à minha última aula de teatro... já começo a ressacar, se tudo correr bem volto rápidamente ao vício...

Ornatos Violeta


Foi fugaz a passagem desta banda formada no Porto. Em 1997 edita Cão! e em 1999 o seu segundo e último album, o brilhante O Monstro Precisa de Amigos.
Com influências musicais diversas, os Ornatos marcaram um estilo alternativo muito próprio, vincado na metálica voz caracteristica de Manel Cruz. Os dois singles memoráveis Ouvi Dizer (com Vitor Espadinha) e Capitão Romance (com Gordon Gano dos Violent Femmes) catapultaram para o sucesso um album carregado de grandes músicas para ouvir da primeira à última, uma e outra vez.
É uma revisita aos meus tempos de faculdade...
Para esta semana a música é Notícas do Fundo...

segunda-feira, novembro 06, 2006

The Devil Wears Prada

Há filmes em que à partida já se percebe o rumo que vão tomar. Os filmes de género (comédias, acção ou terror) têm muitas vezes essa particulariedade. Não é necessáriamente mau, quando entramos na sala de cinema muitas vezes queremos assistir a algo familiar, queremos ver os bons a ganhar e os maus a perder. Raramente estes títulos se excedem, mas muitas vezes cumprem o seu propósito que é entreter.
Há no entanto filmes que, por um motivo ou por outro, mesmo sendo reconheciveis, fogem à regra.
The Devil Wears Prada é um desses casos. Sem ser revolucionário na sua temática, ou na forma como a aborda, é uma comédia bem construida, muito inteligente, que consegue a espaços surpreender e que (caso raro) se mantem com a mesma força e coerência do inicio até ao fim.
O que leva este filme para um nivel diferente é a performance de Meryl Streep. Com o papel de uma patroa de uma revista de moda, cujo poder se estende por toda a industria, e que domina aqueles que a rodeiam com pulso de ferro, Streep tem uma performance absolutamente colossal, uma personagem a lembrar Cruella De Vil, carregada de pose, de glamour, com um veneno profundo e uma calma sádica, é mais um enorme papel desta actriz.
Se não fosse por mais nada (e o filme tem outros méritos), só por ela merecia o dinheiro, o tempo e o aplauso.


sexta-feira, novembro 03, 2006

Curiosidade


Abriu dia 1 de Novembro a exposição oficial "Star Wars", que ficará no Museu da Electricidade em Lisboa até 14 de Janeiro.
Numa área de 2000m2, onde são recriados alguns dos cenários da série, estão expostos desde naves a fatos dos seis filmes da saga.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Da garganta sobre o rouco murmúrio que se escapa quando se tenta falar. Da cabeça os olhos tornam-se um peso desnecessário, o nariz um rio sem fim e a testa um centro de dor. Do corpo sobra a moleza de quem não tem força para erguer o seu próprio peso e a certeza de que os braços e pernas se vão separar pelas articulações...

Não há como fugir... estou constipado...

(bolas)

terça-feira, outubro 31, 2006

Música da semana

Em 1983 Sergio Godinho lança o seu oitavo album (nono se contarmos a banda sonora de Kilas o Mau da Fita) intitulado Coincidências. Foi uma tentativa de penetrar o mercado brasileiro, tendo diversas colaborações com artistas do outro lado do atlântico. Comercialmente não foi o album que lhe permitiu a internacionalização, mas musicalmente um album melodicamente bem-conseguido, com parcerias que deram a este disco uma riqueza temática e musical enorme.

Pelo lançamento do novo album Ligação Directa, aqui fica a memória de "O Que Há-De Ser de Nós?"

Quando tem o aspecto de, o cheiro de, e a consistência de, chamamos-lhe...

O blog www.freedomtocopy.blogspot.com publicou um post onde acusava Miguel Sousa Tavares de, no seu romance Equador, ter "muitas ideias parecidas e frases preacticamente iguais" a um livro intitulado Cette Nuit Noir de Dominique Lapierre e Larry Collins. Este artigo motivou uma crónica de MST no Expresso do passado sábado, não necessáriamente contrapondo as suas acusações, mas atacando os blogs, bloguers e principalmente o anonimato de que gozam.
A questão do anonimato parece-me, na realidade, uma falsa questão, as fontes anónimas são desde sempre usadas pelos jornais, mesmo quando (vide Casa Pia) estão em clara violação do segredo de justiça.
Para alem do mais não nos esqueçamos da possilidade judicial e informática de detectar os infractores e traze-los à justiça (a net não permite ao comum dos mortais o anonimato total).
Não nos esqueçamos tambem do espaço de liberdade que a internet pode ser, visto que a imprensa escrita é um espaço fechado, ao alcance apenas de alguns, e onde o direito de resposta nunca é automático, passando sempre pelo filtro editorial (nos blogs com comentários activados é imediato).

Mas o meu post (que deveria ser mini) não era necessáriamente sobre o anonimato na net.
O meu espanto é ter visto que o blog onde foi escrito o post que iniciou a polémica desapareceu e no seu lugar, com a mesma morada, está um blog dedicado a promover o livro em questão de MST.

Digamos que se vissemos este enredo num filme ficariamos com suspeitas...

segunda-feira, outubro 30, 2006

Apontamentos 2


A Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva apresenta de 27 de Outubro a 25 de Fevereiro de 2007 uma exposição sobre Sonia Delaunay, francesa refugiada em Portugal durante a 1ª Guerra Mundial, que conviveu com nomes como Eduardo Viana, Amadeo de Sousa-Cardoso ou Almada Negreiros.
Sendo fortemente influenciada pela sua passagem no nosso país, Delaunay regressou após o fim da guerra a França onde trabalhou sobre os texteis, cores e formas.
nesta exposição encontram-se "desenhos de tecidos", uma "pesquisa puramente pictórica de relações de cores com formas geométricas ritmadas".

A não perder obviamente a exposição permanente com obras de Vieira da Silva e do seu companheiro Arpad Szenes.

Praça das Amoreiras 56/58
1250-020 LISBOA
213880044/53
Segunda a Sábado: 11h-19h
Domingo: 10h-18h

Apontamentos


Saiu para as lojas o último disco de Sérgio Godinho intitulado Ligação Directa, primeiro disco de originais desde 2000.

Ainda não ouvi com atenção, mas é para mim compra obrigatória.

sexta-feira, outubro 27, 2006

...e não é que se calhar é mesmo merda?

A ministra da Cultura anunciou o fim das Capitais Nacionais da Cultura argumentando que "As cidades não se renovaram através da cultura." - o que carga de água quer isto dizer? Não se renovaram através da cultura? Mas espera-se que através de um qualquer passo de magia tudo se transforme no país?

Este anuncio acompanha a redução prevista de 17,7 milhões de euros no orçamento do Ministério da Cultura, tornando-o "o mais baixo Orçamento para a Cultura dos últimos sete anos".

Este ministério é aquele que tem o orçamento (previsto para 2007) mais reduzido de todos os ministérios sendo o seu total algo como 0,4% da despesa de Estado para 2007, qualquer coisa como 1,2% da despesa prevista com o Ministèrio das Finanças e da Administração Pública, ou 8,9% do Ministério da Defesa.

E assim vamos cantando e rindo...

"A cultura, para mim, é uma merda!"

Cultura

do Lat. cultura

s. f.,
acto, efeito de cultivar.

do Al. kultur

s. f.,
desenvolvimento intelectual, saber;

utilização industrial de certos produtos naturais;

estudo, elegância;

esmero;

conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores morais e materiais, característicos de uma sociedade;

civilização.


"Já foste vêr O Filme da Treta?" - assim começou uma conversa à hora do almoço que passou para o número de espectadores na sala (como é óbvio está a ser um sucesso) e resvalou para os subsidios dados ao teatro e ao cinema. As duas pessoas com quem almocei são absolutamente contra qualquer tipo de subsidio, acham que a lei do mercado deve imperar em todos os casos. "Pagar para quê? Para meia dúzia de gatos pingados fazerem o que querem? Façam na garagem lá de casa, mas com o meu dinheiro não!" - e os exemplos continuavam de sucessos em Portugal, O Crime do Padre Amaro, Filipe La Féria. Se não se pagam não devem existir.
Quando digo que não é possivel que todo o teatro e cinema português se auto-sustente, quando falo da consequência de toda a produção cultural se resumir aos êxitos imbecis ou às novelas, quando digo que há coisas, como a saúde por exemplo, que têm uma importância tal que devem ser preservadas para alem do mercantilismo, quando respondo que a cultura é a base nevrálgica de uma sociedade, um motor fundamental para o desenvolvimento social, intelectual, para o conhecimento, a abertura das mentes e das ideias, a descoberta de novas formas de estar e de vêr o mundo, respondem-me: "A cultura é uma merda!"

Aí está... uma merda. O "desenvolvimento intelectual, o saber, o estudo, a elegância" são uma merda.

E são estas opiniões de merda, generalizadas ainda por cima, que fazem com que Portugal esteja na cauda da Europa. Porque se a Cultura por si só é um fim a atingir, é algo que deve ser difundido e proliferar o mais possivel, é tambem preciso dizer que as coisas não são indissociaveis, que não é por acaso que as sociedades que são industrial, economica, social e financeiramente mais avançadas, aquelas que são consideradas o centro do mundo, são tambem as que culturalmente são mais vibrantes e inovadoras.

Porque em Sarajevo se tocava ópera no meio das bombas, e se a Jugoslávia era de longe mais desenvolvida que Portugal, a Sérvia e a Croácia estão rapidamente a ultrapassar-nos.

Porque com mentalidades assim não há forma do país sair da "merda"... e destas "conversas da treta"....

Você? Eu????

A última aula do curso de teatro foi mais um festim para os sentidos. Relaxamento inicial, trabalho com locais conhecidos, animais, emoções.
Água, no fundo banho, recriação sensorial do calor, da água no corpo, na face, cheiros, objectos, imagens, sempre em busca de uma verdade familiar.
Por último trabalho com um tecido, perceber-lhe a forma, textura, sabor, brincar com ele, conhecer-lhe as possibilidades, o peso, funções para conseguir recriá-las, enquanto diziamos um texto, sem o ter perto.

A aula acaba, troco de roupa e vou para casa. Na descida do Chapitô até à Baixa fui com um grupo de colegas. De repente, no meio do tipico ambiente descontraido, uma das raparigas dirige-me a palavra e trata-me por você. Não foi num tom afectado, mas sim cerimonioso.
"Desculpa? Estás a falar comigo? TRATA-ME POR TU PELO AMOR DE DEUS!"
"Desculpe, quer dizer, desculpa, mas é dificil..."
"Quantos anos é que achas que tenho?"
"Hum... 32?"

Pronto, colapso cardíaco, um tipo põe aliança no dedo e aumentam-lhe logo mais meia dúzia de anos!

"Eh pá, tenho 26! Mas quantos anos é que tu tens?"
"19..."
Virei-me para outra...
"E tu?"
"16"

Pronto, caiu-me tudo! A miuda nasceu em 1990! 90!!!
Caraças, tou a ficar velho!
Na próxima aula vou ter com o Mouzinho que tem 59 a ver se volto a pôr as coisas sob perspectiva...

quinta-feira, outubro 26, 2006

Lady in the Water

M. Night Shyamalan especializou-se, desde a sua terceira longa-metragem O Sexto Sentido, em filmes cuja temática seja o sobrenatural, o bizarro, o misterioso. Essa imagem de marca fez dele um cineasta de sucesso num género especializado. Acumulando o cargo de realizador e argumentista em todos os seus filmes, sendo produtor na maioria dos casos e até actor, Shyamalan pode ser visto como one-man-show. Não é o primeiro a acumular tantas posições, de Chaplin a Woody Allen ou Orson Welles, mas este indiano criado num suburbio rico de Filadélfia não tem o nivel de genialidade de nenhum dos anteriores. Realizador com mestria, sabe contar uma história com a tensão que esta exige e consegue normalmente retirar boas interpretações dos seus actores (o dedo para o casting é notório, trabalhando com grandes talentos como Paul Giamatti, Adrien Brody, William Hurt, Samuel L. Jackson entre outros). A grande falha reside normalmente nos seus argumentos. São inegavelmente imaginativos mas após o êxito do twist final de O Sexto Sentido, tornou-se imperativo para Shayamalan repetir a surpresa em todos os seus filmes, na grande maioria das vezes sem grande nexo ou, como em Sinais e A Vila, a roçar o absurdo.Este Lady in the Water (A Senhora da Água na versão portuguesa) segue a marca do fantástico, mas num tom bastante mais próximo do conto de fadas. Com Paul Giamatti no principal papel e Dallas Bryce Howard (que retorna após A Vila) no title role, conta uma vez mais com um elenco sólido. Shyamalan está no entanto bastante mais suave, os elementos de medo são bastante atenuados em relação a titulos anteriores e consegue inclusivé introduzir toques de humor interessantes. O problema, uma vez mais, reside no argumento. Não que tenha um twist demasiado rebuscado no final, mas toda a construção dramática, todo o enredo é baseado num tanto faz que se torna incómodo, com novas informações a serem atiradas aos molhos e novas regras inventadas de repente. A sensação que passa é que, sem se preocupar com desenvolvimento de personagens, tensão dramática ou credibilidade, foi inventando um jogo como nos tempos de escola, faz-me lembrar quando de repente, em miudo, no meio de uma brincadeira gritava: "Agora eu posso voar e atiro raios dos olhos tá bem?" e pronto, estava assim introduzido um novo elemento. Esta ingenuidade divertida num jogo de crianças torna-se incredivel num filme, desligando emocionalmente o espectador daquilo que se passa no ecrã (e sem conseguir fugir, como é sua norma, a alguns buracos no argumento).
No final de contas A Senhora da Água é uma fábula terna, graciosamente filmada e com grandes interpretações, mas com um argumento fraco que não deve ser levado demasiado a sério.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Falha minha


mas decorre de 20 a 29 de Outubro a 4ª edição do DocLisboa - o festival de cinema decumental de Lisboa.

Apesar de já ir a meio merece sempre a pena destacar.

Informações em www.doclisboa.org

terça-feira, outubro 24, 2006

Cada dia mais...

Ontem foi aula física de novo, primeiros quinze minutos com extensões, alongamentos, abdominais. A seguir um exercicio no chão com movimentos de corpo, passagem para diversas posições (fetal, joelhos, numa constante evolução) e que vai ser repetido regularmente, como base para a criação (suponho) de uma elasticidade, coordenação, facilidade de movimentos, de alguma graciosidade, dentro do possivel.
Passo seguinte... passear. Andar, conhecer o nosso próprio andar, senti-lo percebê-lo. Mudá-lo agora, andar começando o pisar com os calcanhares, com a parte da frente dos pés, a parte de dentro e de fora, andar só sobre os calcanhares ou só em bicos dos pés. Regressar ao nosso andar e percebê-lo melhor. Ao som de ordens, mudar a emoção expressada enquanto se anda - alegria, ódio, tristeza, raiva, amor - a confusão instalou-se e não foi bem sucedido, mas o Bruno parecia já o esperar.
Voltar ao físico. Pares de tamanho e peso similar, pegar neles ao colo e caminhar com eles de várias formas diferentes, colo mesmo, ombros, pelas costas, subir sem impulso, fazer o pino com mãos no chão ou com cotovelos no chão, sempre sem impulso, sempre com o intuito de encontrar o próprio centro, o próprio equilibrio.
Por esta altura já destilava por todos os poros... descanso bem-vindo...
Segunda parte, surpresa, conhecer as posições de pés da Commedia dell' arte, quatro posições, que são as quatro posições base nas quais o ballet veio beber (e acrescentar uma quinta). Commedia dell'arte, teatro de improvisação criado no século XVI, muito marcada, de onde nasceram personagens tipicos como o Harlequim. Trabalhar sobre essas posições, mover, imaginar um momento, uma história, desenvolver o porte, a pose, o rosto, as mãos... adorei!
De novo voltámos às emoções, agora com mais calma, agora a procurar as motivações, correu bastante melhor.
Relaxamento final, demorado, aprofundado, de introspecção, reconhecimento do que é que correu bem e mal durante a aula.

Cada dia me surpreendo mais...

segunda-feira, outubro 23, 2006

Um mês

É sempre altura de regressar aos clássicos, e a música desta semana é intemporal.
E hoje... ao fim de um mês, parece-me totalmente apropriada...

DVD sugestions 2



Há filmes que por um motivo ou por outro, e apesar das tentativas para conseguir estar a par de tudo o que mereça ser visto em termos cinematográficos. Do ano passado perdi um filme que estava nomeado para o Oscar de Melhor Filme, Capote.
Já saiu em DVD e pude finalmente apanhá-lo.
Este é um filme de argumento e principalmente de actor, com o Oscar a ser merecidamente atribuido a Philip Seymour Hoffman e que confirmou aquilo que eu já desconfiava, de todos os filmes nomeados para Melhor Filme ganhou o pior. A não perder por todos os que gostam de bom cinema.

DVD sugestions


Serviu o fim de semana para rever uma das obras mais emblemáticas de Oliver Stone.
Com um argumento denso, uma lista de estrelas impressionantes, uma montagem brilhante e imagens intensas, aborda a investigação real feita ao assassinato de John F. Kennedy.
Disponivel num Director's Cut absorvente é um filme a que apetece voltar regularmente.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Há namoros que começam com um olhar...
e duram algum tempo...
nem sempre esse namoro é uma pessoa...
pode ser um espaço, um local, uma imagem, um cheiro, sabor ou objecto

e prolonga-se, aprofunda-se, mas por um motivo ou por outro não se concretiza...
falta de tempo, de espaço ou mesmo (como neste caso) de dinheiro...

as visitas, embora pouco frequentes, eram constantes
e o namoro crescia,
apenas pedaços de madeira e ferro forjado,
mas era um namoro mesmo assim...

até que, na celebração mais importante da minha vida,
o namoro finalmente se consumou, como prenda

mesmo assim ainda teve a sua espera,
veriz e polimento segundo me diziam...
ontem chegou, entregaram lá em casa

e ao fim de tanto tempo
da espera e do cuidado
do dinheiro e do significado
ainda tiveram a lata de me entregar completamente manchado de VERMELHO!

(ele há coisas que não se percebem...)

quinta-feira, outubro 19, 2006

E café ao sol? Não?

Café ao sol... podia referir-me a um desejo inconcretizavel nesta semana de chuva constante e que leva a episódios caricatos como a rega contínua dos miseros canteiros relvados ao pé do meu emprego debaixo de uma tempestade diluviana... e ainda nos dizem para poupar água...
Mas não... não se refere a um sonho de esplanada à beira-mar com trajes mais soltos e esguios e uma temperatura bastante mais amena, mas sim à aula de ontem.
Depois do relaxamento inicial tivemos que nos situar num espaço conhecido, onde nos sentissemos bem, protegidos, à vontade, a interacção com uma pessoa nesse espaço era pedida. A seguir pegar em café, chá ou sumo e interagir com eles nesse espaço, escolhi café... bebi-o, senti-lhe o gosto, o calor, a reacção no corpo.
Segunda parte, e ainda com o clima de relaxamento inicial, sentir o Sol. O nosso corpo estava ao Sol, senti-lo na pele, mudar de posição, perceber o que é que esta exposição nos faz ao corpo. Quem vai comigo à praia sabe que não sou de estar muito tempo ao sol, começa a queimar, entro na água, seco-me e vou para a sombra. Ali, naquela sala, de noite e com chuva lá fora, não havia sombra, e o Sol era implacavel. Tornou-se quase insuportável... tivemos então que perceber que emoção era aquela que estávamos a sentir e materializa-la numa pessoa... as surpresas da mente não param... para mim foi inesperado quem se formou à minha frente.
Intervalo... a tempo...
Segunda parte da aula numa regressão ao passado, ventre da mãe, bébé, criança, primeira injustiça e primeiro momento de alegria de que nos conseguiamos lembrar.
Relaxamento final e... até segunda...

Uma coisa que é fundamental nestes exercicios é o tempo que demoram... estamos tanto tempo dentro de um mesmo estado que ele, lentamente, se insinua nos poros do corpo e nos invade... É uma sensação estranha...

Sem dúvida são aulas diferentes... e a quarta sensorial promete enormes surpresas para quem participa...