sábado, setembro 29, 2007

sexta-feira, setembro 28, 2007

Avisam-se os senhores passageiros que é "puribido" fumar em toda a rede do metro.


É bom saber...

quinta-feira, setembro 27, 2007

Vista... curta! (passo a publicidade)



O existencialismo...

Ontem ensaio, depois de uma segunda-feira em que não nos reunimos. Foi só a equipa do Sartre a ensaiar, quando ainda estamos em dúvida em relação aos actores que vão fazer a peça. Tivemos uma introdução muito interessante do Alexandre quanto à obra do filósofo e ao existencialismo, pano de fundo para esta metade da peça. Foi interessante e deu-nos uma perspectiva diferente daquilo que fazemos em palco.
A seguir leitura completa, apenas da nossa parte, que acho ter sido a melhor até hoje. Gosto bastante das duas actrizes que contracenam directamente comigo, e tenho confiança que este trio consiga levar aguentar-se muito bem.
Pessoalmente sofro um pouco de parte do complexo do Garcin, o meu personagem. Enquanto que ele precisa que lhe digam que ele não é cobarde, que é um homem de coragem, eu preciso que me digam que consigo fazer este papel, que tenho alguma capacidade como actor. Espero que as dúvidas se dissipem com o andar do tempo.

Gosto bastante deste projecto...

quarta-feira, setembro 26, 2007

Hairspray

"Good morning Baltimore!"
Em 1988 John Waters escreveu e realizou a sua estravagancia musical Hairspray. Quase duas décadas volvidas ela volta ao ecrã.
Um musical com humor, Hairspray tem a vantagem de nunca se levar a sério. Cai, ou melhor, atira-se de cabeça para todos os clichés do género, incorporando-os e brincando com eles, divertindo o público e os próprios autores no processo.
A crítica social é herança de Waters, mas não deixa de ser inesperada num filme deste género, abordando, mesmo que de forma superficial, temas como o racismo, o papel da mulher e o direito à diferença, numa sociedade obcecada pelo corpo.
A música fica no ouvido, a reconstrução de época é eficaz, fatinhos e cabelos no ponto, produção irrepreensivel, mas o que toda a gente paga para ver é o papel de John Travolta, mãe gorda e tímida da nossa heroina. Há que dar a mão à palmatória, Travolta não é o melhor actor do mundo, tem diversas deficiências mas tem coragem e fez escolhas de carreira inesperadas. Se foi Tarantino que o relançou com Pulp Fiction (se bem que o êxito da tripla Olha Quem Fala não lhe tenha feito muito mal), Travolta soube nos últimos 13 anos manter-se no topo graças a uma versatilidade e uma capacidade de arriscar louváveis.
Hairspray é um feel-good movie que nos deixa com um sorriso na cara e uma canção no ouvido.

terça-feira, setembro 25, 2007

Factory Girl

Os anos 60 foram abundantes em personagens iconográficos e Andy Warhol foi um deles. Se é verdade que o seu trabalho foi inovador, serviu-se da cultura popular como objecto de crítica e como punchline, acabando por ser uma parte integrante dessa pop-culture, a pop-art foi engolida pelo mainstream. Pessoalmente Warhol era um personagem bizarro, uma figura andrógina, incapaz de lidar com o seu passado familiar, intimidado pelo dinheiro e pela high-society, era um menino mimado, egoísta, auto-centrado, cobarde, fascinado pelas celebridades em que, em última análise, ele próprio se tornou. Era também um génio.

Factory Girl - Quando Edie Conheceu Warhol, é a história de Edie Sedgwick, socielite que se fascinou e deixou fascinar por Warhol e pelo mundo da arte, fama, festas e drogas em que se movia.
Para quem se sente atraído pelos anos 60 e pelos personagens que nele habitaram, este é um filme bastante interessante. Mais do que a descida ao sub-mundo das drogas de uma menina rica fascinante (bom papel de Sienna Miller, apesar de não ter o ar inocente e arrebatador da original), é um inside look à The Factory, local onde Warhol e o seu gang criavam, viviam, num clima de liberdade, mas sustentado sempre por familias endinheiradas. Eram sanguesugas. Mas será possivel atingir niveis de criatividade e inovação artística sem experimentação? Será possivel criar estando sempre dependende do dinheiro? Quantas escolhas não são feitas apenas com base na necessidade de por comida na mesa?
Guy Pearce merece uma menção especial pela sua prestação como Andy, tendo Hayden Christensen a arrumar o elenco, um Dylan não-assumido.

Factory Girl é um filme interessante, sem nunca atingir níveis de exepção. A ver...

Música da Semana

É terça-feira, dia de mais uma canção semanal.
Quando vi a Ópera do Malandro em Lisboa (há 3 ou 4 anos talvez?) houve uma canção que me ficou na cabeça. Contava a história de uma prostituta (naquele caso dava a entender prostituto) que, apesar de repudiada pela vila, se vê em situação de salvar o povoado do ataque de um guerreiro estrangeiro. Se há uma coisa que gosto nos textos é que me transmitam imagens através de processos simples ou inesperados. É o que acontece aqui, com a descrição inicial da vida da mulher e também no final da noite "ela se virou de lado, e tentou até sorrir." É uma descriçaõ directa até, mas cria-me na cabeça a imagem de um corpo tortuado, o pequeno alívio de se mover e o esforço tremendo que é o sorriso, mas ao mesmo tempo, é esse sorriso que mostra como ela se sente depois de tudo ter acabado. Eu sei que é simples, mas este tipo de escrita diz-me muito. É um conto de ingratidão e de sofrimento, com uma bela letra (e música) de Chico Buarque, que aqui vos deixo na versão original dos anos 70, cantada pelo próprio Buarque: Geni e o Zepelim.

segunda-feira, setembro 24, 2007

1923-2007

Agora foi a vez de Marcel Marceau nos deixar... no silêncio.

Quando a luz dos olhos...


Quem diria que esta menina já deu uma volta inteira ao Sol...

sexta-feira, setembro 21, 2007

O Mil e Duzentos


Vamos para o mil e duzentos... é desta.
E a luz?
E o mil e cem?
E o dinheiro?
E a vista?
E a côr?
E a venda?
E o risco?
E a História? - e a nossa?
E...


O espaço.
O jardim.
O páteo.
O closet.
O local.
O futuro.
A escolha.
A bivó...
Os artistas - sorriso.
O mil e duzentos... até já.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Dois fora...


Ontem o ensaio devia ter começado às 21h. Às 21h30 ainda não tinha chegado toda a gente. Quando aconteceu, más notícias: a partir de ontem contamos com menos duas actrizes. Falta de motivação, de tempo, na verdade a impressão que ficou foi que uma delas saiu por não gostar do personagem. É um hobby, sim, mas num grupo de teatro ou se está disponível ou não. Se não se está então avisa-se de início, recuar por não se gostar de um personagem é que não é possivel, pelo menos não é possivel esperar que na próxima produção se tenha um papel, um actor num grupo faz parte do grupo, se quer sair, sai do grupo. Mas essa decisão não é minha.
A segunda desistiu por não conseguir conciliar horários no emprego. O trabalho por turnos tem essas desvantagens. Com outros dois sem ter a certeza se têm horário para ficar, arriscamo-nos a ter uma situação complicada. Tinhamos uma peça com oito personagens e dez actores, agora temos entre 5 a 7 actores para os mesmo oito personagens. Espero que a produção não fique comprometida e se consiga resolver a questão.
Às 22h30 começámos o ensaio. A leitura correu bem, foi a peça corrida de uma ponta à outra. Segunda voltamos à carga...

quarta-feira, setembro 19, 2007

2 Days in Paris

Julie Delpy ficou mais conhecida entre nós depois de fazer dupla com Ethan Hawke em Antes do Amanhecer, e mais recentemente Antes do Anoitecer (continuação do primeiro uma década depois).
Este 2 Dias em Paris é o seu segundo filme como realizadora e é o seu bébé, ela escreve, realiza, produz, monta, compõe músicas, canta e é a actriz principal desta comédia\drama romântica.
Um designer americano hipocondríaco e uma fotógrafa francesa histérica passam dois dias em Paris depois de terem tirado dez dias de férias em Veneza, antes de regressarem a casa, em Nova Iorque.
As influências de Woody Allen são mais que óbvias, Adam Goldberg tem os tiques todos de Allen e Delpy faz de Diane Keaton do início ao fim. Óbvia também é a influência dos dois filmes que referenciei no início, com o casal a falar sobre a vida, amor e sexo.
O problema é que Delpy não tem nada a dizer a não ser que os franceses são um povo sem o mínimo de sensibilidade nem maneiras, que falam de sexo como quem discute o tempo, sem pudor nem noção do privado. Toda a gente que está numa relação sofre horrores, mas antes sofrer a maior parte parte do tempo do que estar sozinha. E pronto.
Tudo o mais é inconsequente, tanto faz, é uma sucessão de banalidades mais ou menos imbecis, que pouco ou nada interessam, num arrastar penoso do tempo até ao happy ending despropositado.
Se Delpy só é capaz disto, deve manter-se como actriz...

terça-feira, setembro 18, 2007

Joseph Garcin, o indefinido

Está definido. Vou mesmo ficar com o papel de Joseph Garcin no Godot nos Infernos, a peça que vamos estrear no Instituto Franco-Português a 10 de Janeiro.
Ontem foi a distribuição de papeis e primeiro mini-ensaio "a sério".
O Alexandre é muito intreventivo como encenador, tem uma noção precisa do que quer dos personagens em cada momento, corrigindo os actores e explicando o que pretende.
Da minha parte, para primeira abordagem, fui do mais desastroso que se pode imaginar, cabotino, péssimo. Felizmente temos muito tempo para melhorar, espero estar a par com o papel...

Música da Semana

João Aguardela (Sitiados) e Luis Varatojo (Peste & Sida), depois de alguns anos em projectos de sucesso considerável, resolveram-se juntar e formar A Naifa, banda com voz de Maria Antónia Mendes, e que reutiliza o fado em formatos a que este não está habituado, misturando com sons pop, rock, jazz e electrónico.
O seu primeiro albúm Canções Subterrâneas captou-me a atenção há dois ou três anos, apesar deste 3 Minutos Antes da Maré Encher, o seu último trabalho, me soar a mais do mesmo.
Para esta semana, fica Rapaz a Arder, do primeiro disco, música que me serve de pano de fundo a uma cena imaginada de um argumento ainda não escrito...

segunda-feira, setembro 17, 2007

Improv, the end.


Sexta-feira foi a última aula do workshop, toda inteiramente dedicada a improvisação em bablação. O cenário era o seguinte um dos alunos era um conferencista importante que só fala a lingua blablabla. O outro era o tradutor para português, sendo a restante turma a audiência. Dois a dois fomos subindo a cena. O conferencista tinha que se fazer entender numa lingua que não existe, mas sem recorrer a mímica, apenas sublinhando com gestos, pose, tom, aquilo que dizia. O tradutor tinha, em sintonia, que compreender e desenvolver o que estava a ser dito, era uma verdadeira contracena, trabalho de equipa.
O exercício durou a aula toda, serviu para treinar a nossa atenção, a leitura que fazemos do outro, capacidade de improviso, de manter o fluxo da cena perante o imprevisto e até o absurdo, foi uma excelente aula. No fim de cada improviso havia uma crítica dos nossos colegas e do professor. O que é que correu bem, e mal, o que podia ter sido desenvolvido, e porquê?
No fim da aula uma pequena avaliação do curso. Um tiro como o Pablo lhe chama, que ele deu a cada aluno, pelo que conseguiu observar em apenas 4 dias. Depois o reverso da medalha, cada um de nós avaliou professor e curso.
Da minha parte achei, pelo curto tempo que tive, que foi dos melhores professores de teatro que conheci. Sempre objectivo, claro, com caminho definido, profissional, com capacidade técnica mas também criativa, crítico mas não censor, gostava de poder ter trabalhado mais tempo com ele.
Quem sabe no futuro...

sexta-feira, setembro 14, 2007

Voz...

Então e falar com esforço físico? Quando fazemos força esticamos os músculos, fazemos esgares, suamos e a voz sai arrastada, arranhada, impreceptivel. Em palco, mesmo em situações de limite físico, a voz tem que sair clara, perceptível, colocada. Ontem fizemos exercícios de equilibrio, sustentação do outro, força, tensão, mas sempre com o texto a ter que sair limpo, claro, como se estivessemos sentados numa cadeira.

A partir daí a voz ficou como o centro da aula, colocação, pronuncia, trabalho sobre as diversas caixas de ressonãncia do corpo, na boca, nariz, testa, nuca.
Terminámos a aula com mais um pequeno momento de bablação.
Amanhã é o último dia. Acabou demasiado depressa, ainda tenho tanto para aprender...

quinta-feira, setembro 13, 2007

Não passa nada


Segunda aula do workshop de Voz e Acção Dramática. Desta vez, para além dos exercícios de respiração iniciais começámos a cantar o atirei o pau ao gato... Ok... Todos juntos, mesmo ritmo, até que o Pablo estala os dedos e todos nos calamos. Até ele estalar de novo e retomarmos a cantiga mais à frente, e todos no mesmo ponto. Ritmo interior, perceber e manter o ritmo e passo, masmo sem falar, sem exteriorizar.
Segundo passo, jogos com as mãos, como os miudos, com as cantilenas. Em pares, começámos ao ritmo do Pablo cantado por ele. Stop! Primeira regra: a responsabilidade de manter o ritmo do espectáculo é de todos os actores, não é de um só. Todos têm de cantar. Recomeçámos. Stop! Olhos nos olhos, concentração, sem olhar para as mãos, não podemos em palco fixar o olhar nos gestos à procura de certezas de movimento. Novo começo. Stop! Sem risos, nem sorrisos, nem caretas quando erramos, encolher de ombros, revirar de olhos, ou seja o que for. Cara séria, neutra, normal. Lidar com o erro, aprender a lidar com isso, sem desmanchar. "Não passa nada..." foi a frase que mais se ouviu. Erros em palco todos cometem, todos os actores falham texto, marcações, entradas e o espectáculo tem que continuar. Um esgar, um olhar, um movimento corporal denuncia, acentua o erro, quebra o ritmo e fluxo do espectáculo.
Continuámos com um jogo de samurais, para desenvolver a atenção, a resposta e a concentração com diversos estímulos e distracções presentes.
Postura, controlo, atenção, concentração, o espectáculo tem que continuar, sempre.
No fundo profissionalismo, trabalhado através de pequenos jogos, canções e lenga-lengas populares.
O workshop segue hoje.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Na voz colérica do megafone, ainda vibram lagartos mutilados!

É daquelas frases que não se espera ouvir a não ser num ambiente de teatro...

Carlos Drummond de Andrade escreveu uma ode a Chaplin onde se pode ler:

"Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado."


Palavra mutilada, juntam-se pedacinhos para criar uma rotina na primeira aula de Voz e Acção Dramática no Évoe com Pablo Fernando.
São apenas quatro dias, parte da minha tentativa de formação contínua em teatro, para colmatar as imensas falhas que tenho. Na verdade ainda mal comecei o meu caminho.
Foi uma boa primeira aula. Seis alunos, o suficiente para trabalhar mas sem se perder o contacto individual. Uma hora quase só com exercícios de respiração. Depois voz. Criação e imitação de vozes específicas, bem como perceber os passos para o fazer e o trabalho físico que envolve. Passámos para uma improvisação em bablação, língua(s) inventada(s) em que se desassocia a palavra da comunicação.
Acabámos a aula a apresentarmo-nos, em vez de ser no início.
Hoje segunda aula e depois ensaio com Os Hipócritas.

terça-feira, setembro 11, 2007

Tempo...

Ontem novo ensaio. Seria o último de leitura, onde iríamos discutir o texto e definir os personagens. Ensaio para as dez, como sempre. Quando nos sentámos para falar eram um quarto para as onze, às onze e cinquenta estávamos a ir para casa. Fiquei lixado. Uma noite inteira gasta para ficar uma hora a olhar para o vazio e ter pouco mais de outra hora de trabalho. Bem sei que não devia, que foi um dia especial porque um amigo do Alexandre esteve a ensaiar uma prova para o conservatório ali com ele e a coisa se atrasou, que eu próprio vou estar num workshop e chegar atrasado na próxima quarta, mas a verdade é que me deixou irritado. O cumprimento de horários não parece ser um forte do grupo, nunca começámos nenhum ensaio às dez, como previsto.
É algo que vai requerer alguma adaptação da minha parte, vou ter que aprender a lidar com os ritmos e timings do grupo.

Hoje começo no Évoe um workshop de quatro dia de Voz e Acção Dramática e outro para a semana de Leitura Dramatúrgica, isto enquanto que os ensaios arrancam a sério. É uma reentrada boa no ano.

Música da Semana

CAKE (em maiúsculas) é uma banda norte-americana de indie rock. Cada música, mais que uma melodia fenomenal, é uma pequena história contada, quase falada, que vamos descobrindo. Do seu quarto album, Comfort Eagle, o maior êxito foi Short Skirt/Long Jacket, mas para esta semana escolhi a história de um nobre austríaco que encomenda uma sinfonia em dó - Commissioning a Symphony in C.

segunda-feira, setembro 10, 2007

I Now Pronounce You Chuck and Larry

Sexta feira, vi-me em direcção ao cinema sozinho, a querer evitar muitos dos filmes interessantes que estão em cartaz, para os poder ver com a minha mulher.

Fui ao Alvaláxia, fazer render o cartão mensal, a pensar fazer uma sessão dupla, ou mesmo tripla de cinema.
Filmes de terror. Um género de que sou fã confesso, e que raramente arranjo companhia. Resolvi ver um. Infelizmente os horários jogaram contra mim. Sem problemas, escolho outra coisa qualquer, deixo o medo para a noite. Um pouco ao acaso fui ver o Declaro-vos Marido e... Marido.
Dois heterossexuais resolvem casar para ter benefícios na reforma, mas as investigações feitas a suspeitas de fraude fazem com que tenham que fingir ter uma relação a sério.
Comédia imbecil para estupidificar. Seja. Avancemos de peito aberto.
O filme começa por ser misógeno. Apresenta as mulheres como seres plásticos para serem usados e deitados fora, semi nuas o tempo todo, com piadas sexuais q.b. Em seguida passa a ser um filme homofóbico, piadas sobre homossexuais ao pontapé, com todos os clichés do género que se possa imaginar. Em seguida muda de rumo, torna-se politicamente correcto até ao nível do enjoo, tiradas de "abaixo a descriminação", "todos diferentes todos iguais", do mais básico e piroso que pode haver.

Saí do filme com um sorriso amarelo. Fui directo para casa, perdi a vontade de ver seja lá que filme fosse a seguir.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Personagens III

A passo apressado pelas ruas da Baixa, quase choco com um homem de muletas, o peso dos anos marcado por toda a parte, cabelo ralo, olhos suplicantes, trazia na mão uma pomada e sentia-se desespero na voz trémula.
Cambaleante dirigiu-se a mim. Sem abrandar o passo desviei-me e continuei caminho, como faço de costume quando me abordam na rua a oferecer papeis, jornais, sorteios, inquéritos, droga, contrabando ou seja lá o que for.
Ele não queria de certeza oferecer, queria pedir. Ajuda.
Quando me sentei no Metro, quando parei, ficou-me aquela imagem na cabeça.

Personagens II

Na esquina da Rua dos Fanqueiros com a do Comércio, a dois passos da minha casa, assentou arraiais uma mulher, com sacos, cobertores e todas as magras posses que tem no mundo.
São poucos os sem-abrigo da zona, uma mão cheia deles que já conheço de vista. Esta nunca a tinha conhecido.
Tem uma particularidade, de noite, não sei se se transforma, não lha distingo os contornos da face, nem as rugas do corpo, mas uiva à lua como se fosse uma loba, gritando e ganindo pela madrugada...

Personagens...

Estação de Metro de Picoas, são quase dez da manhã, entro já atrasado para o emprego. Ao meu lado uma mulher de volume considerável, calções de ganga estica e abre as pernas bufando em esforço. Mal me sento ela vira-se para mim e diz: consegue ver se tenho água no joelho? É que me está a doer para caramba!

Há muita coisa que espero que me digam, mas esta não era uma delas...

quinta-feira, setembro 06, 2007

Joseph Garcin, jornalista e literato

"Eu aceito tudo: as chamas, os ferros em brasa, as pinças, o garrote, tudo o que queime! Quero sofrer a sério! É melhor ser mordido, chicoteado, coberto de ácido sulfúrico, do que este sofrimento mental, este fantasma de sofrimento, que acaricía e nunca dói o bastante!"

Provavelmente é este o personagem que vou representar, o dúbio, cobarde, traidor, pulha Joseph Garcin, condenado a sofrer para a eternidade a companhia de duas mulheres que não lhe vão dar um momento de descanso.
Ontem foi o regresso aos ensaios, à leitura, agora com o texto completo, com as 108 páginas das duas horas de peça, densa, leve, de contrastes, com um texto excelente, a que espero consigamos fazer jus.
Para além de Garcin, ontem ainda li o papel de Estragon, do lado Beckett da peça, registo completamente diferente, mais rápido, leve, cómico, mais frenético, igualmente desafiante. Aliás, dos 8 papeis possivéis (são dez mas dois são femininos), 6 são muito bons.
Leitura de texto, que não deu para acabar porque começámos demasiado tarde, mas que me encheu o peito, como se respirasse fundo. Voltei para casa com um sorriso nos lábios, a cantar no carro. A falta que estas coisas me fazem...

quarta-feira, setembro 05, 2007

La Nouba

O Cirque du Soleil vem a Portugal ainda este ano. Já tenho bilhetes, mas na verdade não pensei que fossem algo de realmente extraordinário, pelo que já conhecia. Estive em Barcelona onde vi o Alegria, um dos espectáculos mais antigos da companhia. Entusiasmante, técnicamente evoluído, divertido, mas sem ser sublime.
Até que o mês passado, em Orlando, vi um dos seus espectáculos residentes La Nouba.
O que faltava a Alegria, La Nouba tem em sobra. Da frase "faire la nouba", qualquer coisa como "pintar a manta", La Nouba é um festim para os sentidos. Mais do que apenas mestria técnica, mais do que a música ou o bailado de luz, La Nouba é um espectáculo total, surpreendente, arrebatador, onde o nosso olhar está constantemente a ser aliciado para outro ponto do enorme teatro que foi construído de propósito para este espectáculo. Novo circo no seu melhor, num misto sedutor de emoções, que tem o número de cama elástica e trampolim mais incrivel que alguma vez assisti, bem como três miudas no diabolo que são inacreditáveis.
Espero pelo show em Portugal com vontade redobrada.

terça-feira, setembro 04, 2007

Mysterious Skin

A verdade é que não conhecia o trabalho de Gregg Araki, realizador californiano com 20 anos de carreira mas apenas um punhado de filmes em carteira. A partir de agora vou estar atento.
Mysterious Skin - Pele Misteriosa conta a história de dois rapazes ligados por algo que lhes aconteceu na infância. Um deles, perdeu a memória de algumas horas e convence-se ter sido raptado por extra-terrestres, procura a ajuda do outro para conhecer o seu passado.
Mysterious Skin é um filme surpreendente, não por ter um argumento carregado de reviravoltas e curvas apertadas, mas pela forma inesperada com que aborda temas como pedofilia, homossexualidade ou prostituição sem as julgar, nem cair nos clichés do género. É um filme poderoso, intenso, sem o intuito de chocar, belo no seu olhar sobre as pessoas que retrata, que são, pelo menos, imperfeitas.
É um filme cru, directo na imagens e vivências que transmite, triste até à medula, mas com um fundo de esperança, sempre o rasto que sublinha a vida, afinal ainda há algum amor para receber. Os personagens de Mysterious Skin são assim, sofridas, doridas, mas amadas.
Com um papel memorável de Joseph Gordon-Levitt, Mysterious Skin é um filme que não merece passar despercebido no vazio das salas de cinema.

Música da Semana

Depois de ter visto o filme Mysterious Skin, de que vou falar daqui a pouco, não podia ter uma música que não fosse Sigur Ros. Depois da histeria das canções pop de Verão, aqui fica algo com um pouco mais de consistência.
O belíssimo samskeyti.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Ratatouille

A animação Disney sofreu períodos de apogeu e de menor fulgor. Inovadora nos anos 30, fazendo a primeira longa-metragem de animação, manteve-se em alta até aos anos 60 com filmes como Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio, Dumbo, Cinderela ou A Bela Adormecida entre outros clássicos. Os anos 70 e 80 não foram de grande força criativa até à Pequena Sereia em 1989, inaugurando a era Katzenberg com títulos como A Bela e o Monstro, Aladino ou O Rei Leão. A partir da viragem do milénio, com a saída de Katzenberg para a Dreamworks apareceu novo período negro, colmatado apenas pela associação à Pixar, empresa responsável pela primeira longa-metragem de animação computorizada Toy Story - Os Rivais. A marca de qualidade Pixar manteve-se em títulos como À Procura de Nemo, Monstros & Ca ou Os Incríveis. Até que há pouco tempo a Pixar foi comprada pela Disney.

A primeira produção desta nova/velha Pixar é este Ratatouille (Rátatui), que chegou até nós em Agosto.

Segue a história de uma pequena ratazana de esgoto que sonha ser um chef em Paris. O conceito é inovador, mas difícil de vender como a própria Pixar confirma. O resultado final mostra que esta companhia continua a ser dos mais fortes concorrentes no mercado da animação.

O filme é delicioso, as aventuras e desventuras deste pequeno rato estão carregadas de um sentido de humor único, que foge à regra instituída de piadas avulsas com referências cinematográficas.
Os personagens são do mais terno que se fez nos últimos tempos, jogando com a atracção da animação, mas também com a repulsa que as ratazanas produzem na vida real.
Técnicamente perfeita, o que por esta altura é já expectável, Ratatouille é uma fita de encher o olho, que reproduz a vida e ambiência parisiense ao pormenor.
A não perder, principalmente na versão original.