quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Brilhante

Há um moço, que por cá é desconhecido, chamado Jimmy Kimmel. Tem um talk show na ABC chamado Jimmy Kimmel Live, que dá tarde e a más horas, na chamada late night americana. No final de cada programa ele diz sempre "Peço desculpa ao Sr. Matt Damon, mas estamos sem tempo, fica para a próxima." É uma piada recorrente, algo a que o programa já se habituou.
Sarah Silverman, actriz e comediante genial que cá já começa a ser conhecida, é a namorada deste moço. Um dia foi ao seu programa e preparou-lhe esta pequena pérola:


Umas semanas depois veio esta resposta:


Os comediantes por cá podiam aprender alguma coisinha...

Gracias L. por me mostrares...

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Gone Baby Gone

Supostamente por respeito ao caso Maddie este Vista Pela Última Vez... teve a sua estreia adiada. As semelhanças entre o filme e o caso da rapariga raptada no Algarve levaram os produtores a mudar a data de lançamento. Para além do facto de haver uma rapariga raptada e dela ser parecida com Maddie, não vejo as semelhanças, nem com os personagens, o local, a história, nada. Mas adiante. Serviu de publicidade. Pouca.

Vista Pela Última Vez... é a prova que Ben Affleck não devia fazer carreira em frente à câmara. Como actor é sofrivel, como argumentista ou realizador, não sendo genial pelo menos não compromete.
Casey Affleck, irmão do realizador e nomeado para o Óscar pela sua performance em O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford, é um investigador privado que é contratado pela tia de uma rapariga desaparecida para ajudar a polícia na investigação. Em Boston, ele move-se pelos meios mais esconços, e consegue falar com as pessoas a que a polícia não tem acesso.
Misto de drama com thriller, é um filme que nos coloca algumas questões morais interessantes. Quais os valores que defendemos e se os meios justificam os fins. Recheado de bons actores (pena o sub-aproveitado Morgan Freeman), é um filme sólido, com um ritmo estável, que reserva alguns twists e surpresas para o fim, mas sem fazer disso o seu trunfo na manga.

Esforço estimável, que merecia um pouco mais de atenção do que a que teve por terras lusas.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Música da Semana

A banda sonora de Juno é um dos pontos fortes do filme. Singalongs como diz o cd, músicas que são o reflexo do tom delicodoce da fita.
Aqui fica Ellen Page e Michael Cera, os dois jovens actores de Juno a interpretar Anyone Else But You, original dos The Moldy Peaches...
Bom dia...

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Oscar night

Sempre se realizou a cerimónia dos Oscares, a greve dos argumentistas chegou ao fim, mas mesmo que não tivesse chegado já tinha sido anunciado que a festa iria acontecer. E os vencedores?
Bom... os principais já eram vencedores anunciados. No Country for Old Men levou 4 estatuetas, Filme, Realizador, Argumento Adaptado e Actor Secundário para Javier Bardem. Como de costume a Academia não quis deixar ninguém de fora, então distribuiu o mal pelas aldeias. Todos os nomeados para Melhor Filme, tal como já tinha acontecido o ano passado, levaram pelo menos uma estatueta dourada para casa. Atonement ficou com a palha curta e levou Melhor Banda Sonora. There Will Be Blood, o outro grande favorito à vitória, levou o profetizado Melhor Actor (Daniel Day Lewis) e Melhor Fotografia. Depois vieram os incompreensiveis. Melhor Actriz Secundária para Tilda Swinton em Michael Clayton? Porquê? Por falta de escolha? E Cate Blanchett? Depois... Melhor Argumento Original, Juno? Juno pode ter méritos, mas Melhor Argumento do Ano? Não percebo... Mas há muito tempo que deixei de tentar perceber a Academia.
De resto foi uma cerimónia banal. As mesmas piadas, as mesmas dedicatórias...
Saudades de Billy Cristal...

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Juno

Surpresa na quantidade de nomeações, esta pequena comédia despretensiosa foi também uma surpresa de bilheteira: um modesto orçamento de 7 milhões de dólares já rendeu até agora 155 milhões a nivel mundial, e ainda a procissão vai no adro.
Mas o que é que Juno tem de tão extraordinário? É bem escrito, inteligente, Ellen Page é realmente muito boa (ela que foi genial em Hard Candy), mas nada justifica a histeria em torno desta fita.
Segue a história de uma adolescente "indie" que engravida sem querer. Em vez de abortar resolve levar a gravidez até ao fim e entregar o filho para adopção. Isto enquanto tem que lidar com pai, amigos e "namorado".
Jason Reitman, filho de Ivan Reitman realizador de Os Caça-Fantasmas, já nos tinha dado o irreverente Thank You For Smoking, sátira inesperada ao mundo do tabaco e principalmente dos mass media e gabinetes de relações públicas. Agora chega com Juno, que se aproxima mais da corrente dominante das comédias independentes americanas, como The Squid and the Whale, You, Me and Everyone We Know ou Little Miss Sunshine. Não tem o desepero destas últimas, aliás, para além de estar grávida, tudo mais parece correr bastante bem a Juno, e talvez por isso tenha feito click em termos de bilheteira. Não me vou pôr a adivinhar.
A verdade é que é uma comédia bem-disposta, bem escrita, bem representada, tocante, fora do comum. Um dos 5 melhores filmes do ano? Claramente um exagero, 4 nomeações para os Óscares e mais de 30 prémios já arrecadados? Não percebi porquê. Mas é uma hora e meia bastante bem passada.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Frio

Um carro é uma coisa que aquece. Óbvio.

Para não aquecer demais há um sistema de refrigeração com um liquido próprio. Faz sentido.
Existem tubos por onde corre essa líquido. Simples.
Esse tubos furam-se. Claro.
Há oficinas para trocar esses tubos. Sim.
Um pequeno tubo debaixo do carro faz com que fiques apeado 3 semanas. Ok... er... o quê?
E viva a assistência técnica da Skoda...

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Música da Semana

Já nem me lembro bem porquê, mas passei de relance os olhos pelo Barry Lyndon do Stanley Kubrick. Não é, nem de longe, um dos meus filmes favoritos dele, a milhas do revolucionário 2001 - Odisseia no Espaço, do claustrofóbico The Shinning, ou do revolucionário A Laranja Mecânica, mas a verdade é que tem uma banda sonora muito interessante.
E porque não para música da semana? De Leonard Rosenman - Sarabande End - Title (para os mais atentos podem reconhecer esta música de um anúncio famoso de há pouco tempo atrás...)

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Do desassossego

Bernardo Soares, um dos muitos heterónimos de Fernando Pessoa, escreveu o Livro do Desassossego, uma das obras mais emblemáticas do autor, um texto não-narrativo carregado de uma tristeza arrebatadora, uma reflexão sobre a vida do autor.
Passar este texto para teatro é um desafio imenso, a estrutura, tempo e métrica de uma obra teatral, não parece ajustar-se ao Livro do Desassossego. O resultado é, portanto, surpreendente.
Carlos Paulo é o centro desta peça, com uma hora de um monólogo vivo, pessoal, intenso, carrega nos ombros a responsabilidade de nos dar Pessoa, numa hora, sem perder o fio condutor principal dos diferentes fragmentos do livro, sem se perder num tom linear que, uma primeira leitura, podia ameaçar.
Cenográficamente engenhoso, musicalmente competente, Do Desassossego é uma peça envolvente, com um texto lindissimo, representado em grande forma.
A não perder, no Teatro da Comuna.

Do Desassossego
de: Fernando Pessoa / Bernardo Soares
Encenação João Mota
Interpretação: Carlos Paulo, Hugo Franco

Quarta a Sábado - 21h30
Até 29 de Fevereiro
Preço: 10€ (existem diversos descontos, perguntar na bilheteira)
Comuna Teatro de Pesquisa
Praça de Espanha
1070-024 Lisboa
Telefone: 217 221 770/6
Fax: 217 221 771

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

John Rambo

Confesso, quado soube, há coisa de um ano, que Sylvester Stallone ia tentar relançar a carreira com um sexto Rocky e um quarto Rambo, só me faltou deitar no chão a rir. Convenhamos, um homem de 60 anos aos murros com campeões do mundo de boxe ou a rebentar com tanques belindados usando apenas arco e flecha é, no mínimo, patético.
Rocky Balboa veio e surpreendeu-me. Um filme terno sobre um homem em fim de vida que perdeu tudo o que lhe é querido e precisa mostrar que ainda não está acabado. Torna-se convincente pela incrível forma física de Stallone e pelo argumento bem desenhado.
Chega agora John Rambo. E não é que surpreende também?
A história é do mais linear que pode haver, Rambo vive ainda na Tailândia desiludido com o mundo, até que é abordado por um grupo de médicos religiosos que quer ir de barco até à Birmânia, onde existe das mais longas e brutais guerras civis da história. Pretendem aliviar o sofrimento das vitimas daquele genocídio. Ele concorda (relutantemente), e a coisa corre mal. Os médicos são raptados e Rambo junta-se a um grupo de mercenários para os libertar.
A questão aqui é que a violência ganha, por fim, corpo, uma fisicalidade impressionante, o terror espelhado na cara das pessoas é real, a tortura, o massacre, a sexualidade existe pela primeira vez nesta série de filmes. Rambo volta a ser um homem e, enfim, a máquina de guerra que sempre se apregoou. Mas desta vez a sério. Não rebenta tanques, não destroi sozinho exércitos, não é um personagem de papel a rebentar com bonecos de plástico. É uma pessoa, e as suas acções são horriveis e têm consequências, em si próprio, e nos outros. É um regresso a casa. Como se este personagem precisasse desta explosão para finalmente se encontrar e acabar a viagem que começou à mais de vinte anos em A Fúria do Heroi.
Exagero? Talvez, para quem cresceu com estes filmes talvez não seja. Mas vale a pena tirar as dúvidas...

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

14 de Fevereiro


Dia dos namorados... o amor está no ar, os passarinhos cantam, pequenas setas de cúpido cruzam o horizonte, os esquilos enrolam as suas caudas, enquanto que as velinhas cor-de-rosa, os chocolates em forma de coração, os quartos de hotel e os restaurantes da moda esgotam. O amor é impingido pela garganta abaixo e por apenas um dia toda a gente é extraordináriamente feliz, tem de ser, dê lá por onde der.

É também o Dia Europeu para a Disfunção Sexual...

Coincidência?

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Away From Her

É daqueles casos raros. Venceu o Globo de Ouro para Melhor Actriz Principal (Julie Christie), categoria na qual foi vindo a ser premiado ao longo do ano, apresentando-se como o mais forte candidato a ganhar o Óscar nesta categoria. Está também nomeado para Melhor Argumento Adaptado. É dos filmes mais falados nesta época de prémios, e não estreou no cinema em Portugal. Não é uma questão de atraso, como no caso do No Country For Old Men (maior candidato à vitória do Oscar de Melhor Filme) que estreia depois dos Oscares, Longe Dela foi directo para video e vai passar nos TVCine já em Março.

Seja como for o filme está disponivel e quem tiver curiosidade em ver em acção Julie Christie tem agora a oportunidade.
Uma mulher, casada há 44 anos com um homem com quem partilha tudo, passado, vida, intimidade, o tipo de ligação que apenas o tempo e uma grande cumplicidade permitem. Até que ela fica com Alzheimer. A vida começa a desmoronar-se, na degradação de tudo aquilo que ela alguma fez foi, ou sentiu.
Longe Dela não é um grande filme, mas é uma história emocional (preparem os lenços), que recai única e exclusivamente nos ombros dos seus actores. É raro tal aposta, principalmente porque quase todos têm mais de 60 anos, mas resulta numa fórmula terna, intensa, desarmante até.
Quanto mais não seja faz um belissimo domingo debaixo da manta num dia frio...

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Música da Semana

Esta semana precisava de uma música bem disposta.
Seu Jorge... Team Zizou...

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Pois bem... continuemos...


É esta a última frase que Joseph Garcin diz em Huis Clos, e em Godot nos Infernos, momentos antes da peça acabar. O pano cai, mas o martírio daqueles três personagens continua pela eternidade, saimos daquele inferno mas ele não desaparece.
O mesmo acontece com esta peça. Ontem caiu o pano sobre a quinta produção dos Hipócritas, Godot nos Infernos, a minha primeira peça a sério. Deste julho que este texto me acompanha, com mais intensidade depois do Verão e em pleno desde 10 de Janeiro, data em que estreámos no Instituto Franco-Português.

"E agora? O que é que fazemos?"
"Esperamos pelo Godot..."
"Sim, mas enquanto esperamos?"

Vazio. Fica sempre uma sensação de vazio quando termina um projecto, principalmente algo tão intenso e envolvente como este, algo que para mim foi tão marcante. Aprendi imenso, cresci imenso, tenho tanto ainda para andar, tanto para corrigir, melhorar, mas este foi o maior passo que já dei.
Agora pausa... silêncio. Um mês ou dois de interrupção na vida artística dos Hipócritas, para um regresso anunciado que, espero, seja muito em breve.
Deixei Garcin com as suas Inês e Estelle, mas nunca o teatro.

"Pois bem... continuemos..."

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Últimos dias...


É este fim de semana que acaba o nosso Godot nos Infernos, o pequeno projecto que me tem fascinado desde o Verão está agora na sua recta final. Ainda deve ter um último fôlego em Abril, em Cascais, mas na sua "temporada regular" no Franco-Português acaba neste domingo dia 10 com uma matinée às 17h, depois de hoje e amanhã apresentarmos as duas últimas noites às 21h30.
Espero que este não seja o meu último passo, espero antes que seja o primeiro... Sei que vai ser o primeiro, dê lá por onde der agora o dificil é parar...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

3:10 to Yuma

James Mangold nunca foi um génio, mas a verdade é que sempre fez filmes relativamente sólidos, competentes. Walk the Line, Cop Land, Girl Interrupted, são alguns dos títulos que fazem parte da carreira deste realizador.
O Comboio das 3:10 é um remake do filme de 1957 com Glenn Ford. Conta a história de um fazendeiro pobre que escolta um perigoso ladrão, Ben Wade, que foi capturado, para o levar ao comboio das três e dez, que o levará para a prisão de Yuma. O gang Wade é que não dá descanso aos captures do seu lider, fazendo de tudo para o soltar.
Este western não é um clássico, não ficará no panteão do género ao lado de Rio Bravo ou Imperdoável, mas no entanto é um filme robusto, com dois grandes actores. Christian Bale e Russel Crowe fazem um duelo interessante, constroem dois personagens intrigantes cuja relação evolui lentamente, mas de uma forma inesperada.
Não é o western típico, as cenas de acção são bem conseguidas, o ar sujo e "real" não é novidade, mas funciona bem, no entanto o fundamental são as relações humanas, o encontro dos dois homens, o encontro do pai com o filho, questões morais, quem somos, como nos definimos e porquê.
Emocional, O Comboio das 3:10 passou completamente despercebido em Portugal, estando quase a sair da maioria das salas. É injusto. Está muitos furos acima da maioria dos filmes que passam pelos cinemas, foi inclusivé falada como sério candidato à temporada de prémios americana, promessa essa falhada, apesar de ter sido nomeado para 2 Óscares.
Uma boa aposta para os fãs do género, e não só.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

JC

Foi uma questão de última hora, não tinha pensado em máscara de carnaval. Com a barba já a pedir tesoura pensei que só podia escolher um de dois personagens, ou ia de Che ou de Cristo. Escolhi o segundo, mais facilmente reconhecivel, mais interessante de representar talvez, e definitivamente mais a ver com a época.
Túnica, cabeleira comprida, corda, coroa de espinhos, sem maquilhagem, pose serena, in charachter durante 4 horas a noite inteira.
O que eu não tinha previsto era a reacção das pessoas. No carnaval no Bairro é normal que as pessoas se metam, o clima é de festa, as máscaras ajudam e o alcóol solta as línguas e os espíritos. Mas há certas personagens que tocam uma nota emocional maior que outros, e dê lá por onde der, Jesus Cristo é a figura central da sociedade ocidental. Era o único Cristo na rua, o que ajudou, no meio de trinta diabos, muitos travestis, palhaços, zorros, piratas e outros que tais, os comentários eram a rodos. A noite toda me pediam a benção, salvação, cada padre me chamava chefe, toda a gente brincava, falava, metia-se, pediam fotos, trocavam piropos. 4 horas em personagem. Foi divertido, há realmente coisas com que toda a gente se identifica.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Música da Semana

Começa amanhã a Quaresma, o perído de contrição que culmina com a morte e ressureição de Cristo, para os católicos. É um período carregado de simbologia, biblica naturalmente, mas não só. E mesmo não sendo católico... vamos lá pôr uma música de alegria para esta época.
Oh Happy Day, uma pitada de Gospel para animar os espíritos.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street

Há aqueles projectos em que, à partida, mesmo sem conhecer o resultado final, se sabe que tudo só pode correr bem. Tim Burton e o musical Sweeney Todd são um par perfeito. O estilo visual de Burton encaixa como uma luva na Londres de meados do século XIX em que a peça se desenrola, bem como no tema negro do texto.
É daqueles filmes em que não consigo ser isento. Ainda o genérico estava no início já eu dava pulos na cadeira, sentia-me um miúdo numa loja de brinquedos, a cada imagem só me apetecia bater palmas. Sou fã incondicional do Tim Burton, sou fã do Johnny Depp e sou fã da peça.
Vamos por partes. Sweeney Todd: O Terrivel Barbeiro de Fleet Street é um musical. Baseado no original de Stephen Sondheim, bastante cortado para o cinema, vive da sua ambiência sonora. Sem Danny Elfman (óbviamente) este filme mesmo assim ainda soa como um filme Tim Burton e, imagine-se, Johnny Depp e Helena Bonham Carter até sabem cantar.
Um barbeiro atormendado por ter sido injustamente acusado, regressa a Londres 15 anos mais tarde para se vingar do juíz que o afastou da mulher e filha.
Esta é uma história de culpa, perda e vingança. Negra, mas ao mesmo tempo com o seu toque de humor macabro.
Burton parece atingir aqui a idade adulta. Dentro do seu reino de fantasia, o mal ganha uma corporidade até hoje nunca vista na sua obra, um carácter físico e palpável, roçando por vezes o gore. Depp e Carter são perfeitos nos respectivos papeis e visualmente o filme é tudo aquilo se poderia imaginar de uma peça Burton. Um negro gótico fascinante, uma Londres assustadora e surreal.
É impossivel não comparar o filme à peça, que o Teatro Aberto levou a palco há bem pouco tempo e, curiosamente, a encenação de João Lourenço não fica a perder para o filme de Tim Burton. Em termos de actores há uma vantagem para o filme, mas o personagem de Todd é mais ameaçador na peça, e a própria Mrs. Lovett tem um humor mais macabro. Para o delíro visual do filme, os cenários espantosos do Aberto dão um forte contraponto. Em termos músicais a força instrumental do filme é ultrapassada pela qualidade das vozes do Aberto.
Na verdade são duas abordagens distintas, mas igualmente interessantes.
Quanto ao filme... é sem dúvida para não perder...

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

The Darjeeling Limited

Wes Anderson está de volta, e todos os que ficaram de boca aberta com The Royal Tenenbaums ou deliraram com The Life Aquatic of Steve Zizou, têm em The Darjeeling Limited a oportunidade de reencontrar um dos mais originais e estimulantes cineastas recentes.
Há algo que poucos realizadores conseguem, criar uma marca diferenciada, algo que, com apenas alguns momentos de visionamente nos permita dizer quem está por detrás da câmara. Wes Anderson é uma dessas raridades.
Com um sentido de humor súbtil, Anderson cria um universo absurdo, onde as regras são apenas ligeiramente, apenas um pouco, diferentes, o suficiente para causar estranheza e depois, por incrivel que pareça, empatia e emoção. Quem são os personagens andersianos? Seres trágicos, tocados pela desgraça que carregam em si uma aura, como se nada que os envolva realmente os afectasse, mas que na realidade sentem a sua tristeza e a dos outros profundamente. É nesse olhar trágico que reside a base da comédia brilhante de todos os seus filmes. Em The Darjeeling Limited seguimos a história de três irmãos, numa viagem espiritual de comboio (que dá o nome ao filme) pela India. Familia. Anderson sempre teve a familia com um papel central e fulcral em toda a sua obra e aqui não foge à regra. Sempre familias disfuncionais, mas que no fundo se amam e se compreendem, no meio da rejeição. Os seus actores acabam por ser a sua familia, daí existir um grupo que sempre o seguiu, acompanhou e compreendeu o seu sentido de humor único. A figur paternal central foi, até agora, Bill Murray, que tem uma passagem de testemunho deliciosa e tocante, logo no início da "longa-metragem", onde é ultrapassado por Adrien Brody na corrida para apanhar o comboio.
Brilhante na utilização da câmara, na construção dos planos, na utilização impar da música, da imagem, dos deliciosos travelings, do cenário incrível (genial como sempre, já Steve Zissou era primoroso nesse campo), The Darjeeling Limited é um filme de antologia de Wes Anderson. A não perder por todos os fãs... com uma ressalva, normalmente quem não ama odeia...