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sexta-feira, julho 24, 2009

A casa em ordem III - Os espectáculos

Se o cinema não esteve presente, já as artes de palco sim.

Gota D'Agua de Chico Buarque - CCB

Chegou a Portugal rotulado de clássico. A história melodramática e a música reconhecível assim o indicavam, o trabalho de actores ajudava à festa e tudo se compunha para uma noite memorável. No entanto o terrível trabalho de som (não se percebia nada do que se dizia em palco e o eco era incrível) e uma encenação medíocre (onde o trabalho de luz merece um reparo especialmente negativo) fizeram com que este Gota D'Água não passasse de uma oportunidade falhada.


A Arte do Crime de Richard Harris - Companhia Teatral do Chiado - Teatro Mário Viegas

A CTC a fugir aqui ao género que lhe garantiu sucesso, a comédia, rumo lançado pelas Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos.
Uma peça policial, um texto inteligente, bem escrito, com os inevitáveis twists finais que vive sobretudo de um trio de actores de categoria superior. Simão Rubim, fora do seu meio habitual, dá uma performance imaculada, descobrindo o humor de cada cena, mantendo sempre a tensão necessária. Vanessa Agapito segue a mesma linha, mas com uma maior ênfase no nervosismo e insegurança da sua personagem, em desespero numa situação que não controla. Emanuel Arada (primeira vez que o vejo em palco) é um actor que demonstra aqui ter um enorme futuro, não deixando que ninguém, lhe faça sombra em palco, seguro, manipulador.
Uma boa peça, em cena até 31 de Julho.


Espírito da Poesia - Companhia de Actores - Parque dos Poetas

A ideia é boa. Uma noite no Parque dos Poetas em Oeiras a ouvir e ver poesia. O pior é a sua concretização, a maioria das vezes infantil, desvirtuando o próprio poema. Desconstruir só por desconstruir não chega, há que ter algo para dizer.


O Deus da Matança de Yasmina Reza - Teatro Aberto

Na busca por uma peça de autor francês para o próximo espectáculo d'Os Hipócritas descobri um Le Die Du Carnage, peça que me fascinou e que queria levar a palco. Dias depois de a acabar de ler soube que João Lourenço a estava a encenar no Teatro Aberto. Azar o meu. Adoro este texto. Existem diferenças grandes entre o que tinha imaginado e o que vi em palco, mas para esta peça não consigo ser imparcial. Merece uma visita atenta.


Constança Capdeville: Este tempo também é dela - S.Luiz

Não conhecia Capdeville quando fui ver este espectáculo ao Jardim de Inverno do S.Luiz. Metade recriação de um espectáculo da própria, metade um espectáculo de homenagem, foi uma das noites mais bem passadas que tive a ver um espectáculo nos últimos tempos. Intrigante, fascinante, completamente emocionante, é um misto de som, poesia e performance que me acompanha ainda. Pena terem sido só dois dias. Fenomenal.


Romancero Gitano - Convento do Carmo

A partir de textos de Garcia Lorca, António Pires monta um espectáculo musical num dos cenários mais impressivos de Lisboa, o Convento do Carmo. O húmor de Lorca dá o tom, a música ajuda, e a facilidade do encenador em arranjar imagens marcantes faz o resto. Quando o vento e a temperatura ajudam, passa-se uma noite descontraída.



Demo - Teatro Praga - S.Luiz

Para dizer a verdade conheço pouco do trabalho dos Praga, falha minha. Este Demo teve a particular atracção de ir ver amigos que participaram no processo.
Um delírio energético, uma carga sensorial em quatro línguas, um musical onde a história não é o fundamental, mas nunca teve que ser. Interessante sem fascinar, Demo vai perdendo o gás conforme avança. A angústia que queria transmitir no seu final não existe, e o contraste à carga eléctrica inicial é grande. Sem ser um espectáculo perfeito é, como é hábito nos Praga, pelo menos incomum. Vale as duas horas. Em cena até 2 de Agosto.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

No meu local de ensaios...

Olá a todos:

O "OPEN DAY" está a chegar…

A "Liga dos Amigos" vai abrir as portas ao público no próximo Domingo dia 08 de Fevereiro 2009 a partir das 14:00h para quem quiser conhecer e participar nas várias actividades que temos para oferecer.

Um dia dedicado aos mais curiosos onde poderão saber um pouco mais sobre as energias do Tai Chi, Shiatsu, Acupunctura, Reiki e Astrologia. Teremos também o Lançamento do Livro "Uma Vida entre Magia e Realidade" e para animar a malta, Capoeira (infantil e adultos), Danças de Salão, Concerto de Taças Tibetanas e ainda algumas surpresas que ficam por revelar.

Em baixo o programa das festas. Venha ter uma tarde diferente e traga um amigo. A entrada é livre.

Até Domingo


Liga dos Amigos,
Rua Marechal Saldanha, Nº 28 - Lisboa
Contactos:
21 343 11 64
91 865 43 97


“OPEN DAY”

ENTRADA LIVRE

LIGA dos AMIGOS - 08 de Fevereiro 2009

14h00 / 14h15
Aula Capoeira Infantil com Professor Chá Preto

14h30 / 15h00
Aula Tai Chi com Professora Wang

15h15 / 16h00
Lançamento do Livro “Uma Vida entre Magia e Realidade” de Mª Adélia Martins

16h15 / 16h30
Palestra Shiatsu com Teresa Paiva

16h45 / 17h00
Palestra Medicina Tradicional Chinesa – Acupunctura com Carlota Rente

17h15/ 17h30
Palestra Reiki com Fátima Martins

17h45 / 18h00
Palestra de Astrologia com Professora Ana Lupi

18h15 / 18h45
Concerto Taças Tibetanas com Cristina Costa e Cristina Marques

19h00 / 19h30
Aula Capoeira Adultos com Professor Chá Preto

19h45 / 20h15
Aula Danças de Salão com Professor Leandro Costa

quinta-feira, novembro 13, 2008

Não quero ser mãe!

Mesmo... aliás porque nem me lembro do meu último período.

É hoje! Na Fnac do Vasco da Gama é feito o lançamento do livro da minha já mui célebre, mui consagrada, mui badalada (até esteve na Revista do Expresso desta semana) amiga, que eu conheci antes de ser famosa, quando era apenas uma pobre coitada a mendigar uns ovitos mexidos na cozinha lá de casa... bons tempos... hum...

Bem, mas agora a moça é célere... célebre... autora publicada...

Ah bom, mas o livro, sim, o livro chama-se Não quero ser mãe! e é o produto de uma série de entrevistas feitas a senhoras que resolveram não ser mães por opção própria mesmo delas sem ninguém as forçar. Os monstros... aberrações...

Bom, mas as pessoas de bem devem ir comprar o livro para perceber melhor a mente desta gente perturbada... sim...

É uma edição Livros de Seda e está a um preço acessível... COMPREM!!!

Link para a editora aqui.

Link para a agenda Fnac aqui.

Link para a autora aqui.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Jerusalém


Confesso que não conheço o romance de Gonçalo M. Tavares, mas conheço o trabalho d'O Bando há mais de duas décadas, motivo mais que suficiente para ir ver Jerusalém com expectativas elevadas. O Bando em sala, numa sala de teatro convencional, tem normalmente prestações menos conseguidas, mas neste caso transformou o pequeno auditório do CCB, tornando-o practicamente irreconhecível, apropriando-se do espaço para o seu universo sensorial. Visualmente foi um trabalho notável, plástico, mutável, com o uso de palha (seria?) a revelar-se uma autêntica caixa de surpresas, e com efeitos de luz (onde o texto era projectado) perfeitos para criar uma atmosfera de estranheza. O texto esse é de uma dureza extrema, narrando a trágica história de uma mulher que conseguia ver a alma dos outros.
A maior falha de uma peça que acaba por crescer em nós, é a escolha de Horácio Manuel para o papel de médico. Repetitivo, monocórdico, tira densidade dramática a uma personagem conturbada, obsessiva, maniaca quase, como contra-ponto (?) à mulher, louca.
Não é um marco na história do Bando, mas é uma peça intrigante, tensa e muito bem construída.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Mudar de Vida

Culturgest, dia de Halloween. Parado numa esquina com um saco de plástico na mão comia à pressa uma sandes comprada na bomba de gasolina em frente. O dia caótico culminava com o concerto de José Mário Branco, Mudar de Vida. Quatro anos depois do último cd volto a encontrá-lo em palco. Para cima de uma dezena de músicos, toda uma parafernália quase sinfónica, com convidados muito especiais, os Gaiteiros de Lisboa.
José Mário Branco está velho, nota-se no corpo e no branco que lhe cobre a face, mas não perdeu nenhuma da vivacidade nem da irreverência que sempre o caracterizou. Inconformado, se bem que por vezes um pouco monotemático, mantém vivo o espírito dos cantores da revolução.
Foi uma grande noite composta maioritariamente de temas mais recentes sempre apimentados pela orquestração e pela energia constante. Mudar de Vida é uma reinvenção do célebre FMI, mas sem a força desesperada nem a imprevisibilidade do original, que tem no entanto uma musicalidade tremenda.
Os Gaiteiro elevaram a noite a um nível superior, emprestando ao espectáculo um ritmo constante.
Faltou-me apenas uma música, impossível pela falta de coro, mas que roda agora aqui no sopros.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Come Together e Four Reasons


Regresso ao Teatro Camões algum tempo depois da última visita, demasiado até. Desta vez sessão dupla, com algo para me aguçar o apetite, o regresso de Rui Horta, depois de me ter fascinado com a dupla que fez com João Paulo Santos em Contigo, que vi no CCB. Tenho sempre pena do pouco tempo que estas interpretações estão em palco, neste caso foram 5 dias, a acabar no domingo passado.

A primeira peça , Four Reasons, é o último trabalho de Edward Clug, e foi um um sopro de ar fresco. Trabalho brilhante sobre o espaço, a forma, a direcção, a manipulação cénica com processos simples, mas que transformam por completo o nosso olhar, brincando com verticalidade, forma, cor, corpo e percepção. Four Reasons, com música soberba tocada ao vivo, é um grande bailado.

Eis que chega o intervalo e, entusiasmado, avanço para Rui Horta... Desilusão extrema, balde de água fria a todos os niveis. Podia dizer que era um trabalho cerebral, inteligente, e que normalmente me deixo levar mais pela sensação neste tipo de coisas... a verdade é que não senti que o fosse sequer, não inteligente, talvez esperto, ou melhor, chico-esperto, constantemente a piscar o olho, a fazer gracinhas, a procurar ser diferente e espalhando-se ao comprido. Longe da contenção de Contigo, longe da sua simplicidade profundamente tocante, Come Together é espalhafatoso, excessivo, e prova, uma vez mais, que em termos de conjunto, quando a CNB tenta fazer trabalhos de sincronia, fica sempre aquém.

Mas Four Reasons já valeu a viagem...

segunda-feira, setembro 08, 2008

Tabú

Já saiu de cena no CCB, mas ainda consegui apanhar os últimos dias de Tabú, um espectáculo de novo circo da No Fit State, companhia conceituada do País da Gales.

É dificil errar num espectáculo de novo circo, até hoje não fui a nenhuma performance deste género reinventado que fosse um fracasso. Por isso este Tabú tinha um longo histórico ao qual se comparar.
O tema central do espectáculo é o medo.
O que é que assusta os membros da No Fit State, sabendo à partida que aquilo que me enche de terror não será exactamente o mesmo para alguém que ganha a vida a fazer mortais a 6 metros do chão.
O espectáculo decorre dentro de uma tenda onde o público está de pé a ter que andar de um lado para o outro enquanto os diferentes números se vão desenrolando.
Visualmente interessante, todo o percurso é carregado de energia, movimento, e um acompanhamento musical ao vivo verdadeiramente intenso.
Há no entanto alguns senãos.
Em primeiro lugar não se percebe quais são os medos que dão base ao espectáculo, eles são ditos, mas a maioria das vezes perdem-se no ruído de fundo. Os pouco que se percebem não têm ligação nenhuma àquilo que em seguida é apresentado.
Por outro lado sente-se por vezes demasiada histeria geral, confunde-se energia com descontrolo e o resultado é um espectáculo demasiado irregular, que se perde e desaproveita as capacidades dos diferentes performers. Falta ali um lider, alguém que lime as arestas e faça de Tabú um verdadeiro espectáculo memorável.
No final de contas o tempo é bem gasto, se bem que comparando com shows como Ola Kala ou Cirque Du Soleil fica uns furos abaixo.

quarta-feira, setembro 03, 2008

O ovo


Ontem terminou uma exposição na Gulbenkian de obras de arte moderna e contemporânea, da extensa colecção do Deutsche Bank.
Fui na interessante visita guiada por obras dos últimos 80 anos, sabendo de antemão uma particular, ausente, que me tinha chamado a atenção.
Um ovo.
Um ovo, de galinha, com a casca polida.
O dito, verdadeiro e em devida altura fresco, com o passar do tempo apodreceu e após ser exposto explodiu, deixando vestígios por todo o lado, um cheiro nauseabundo e problemas com o seguro.
Fiquei a saber que o que o banco alemão comprou não foi um ovo polido, mas um certificado que descreve o dito ovo, podendo este ser substituido por qualquer outro ovo polido que coincida com a descrição da autora, com o seu conceito.
É um ovo, escultural chamemos-lhe assim, que a dado momento resolveu fazer uma performance, contaminando artisticamente os presentes e por pouco, as obras que o rodeavam.
Podiamos ficar a tarde toda a falar de inspiração artística, de criação espontânea, de influências no mundo da arte, discutir se veio primeiro o ovo polido ou a galinha depenada, dava pano para mangas.

Serve pelo menos para um bom título para um livro: A explosão do ovo conceptual.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Só porque me deu saudade...


Só porque às vezes se reencontram imagens sem estar à espera.
Só porque há gente cuja falta ainda hoje, se calhar mais do que nunca, se sente.
Só porque me lembro de o ver em cena, sozinho, candidato à presidência ou com gin tónico, a falar, a rir, em riste provocante.
Só porque era absolutamente único, brilhante, com a língua afiada como convém, atento, perspicaz e com um sentido de humor afinadissimo.
Só pelo sorriso, conversa, mais ou menos etilizada, depois do espectáculo.
Só porque tinha 16 anos e não consegui ir vê-lo ali, deitado, desaparecido, mudo. Fiquei sentado no carro à espera que alguém me viesse dizer que aquela brincadeira de primeiro de Abril ia acabar. Espero até hoje...
Só porque sim, só porque me deu saudade, só porque não é Domingo...

sexta-feira, agosto 08, 2008

Diz-me Como A Chuva


Há muito tempo que não via a Cucha Carvalheiro em palco. Não podia deixar perder esta oportunidade, na última semana de representação de Diz-me Como a Chuva, em cena até domingo.
Baseado em diversos textos de Tenesse Williams, Diz-me Como a Chuva é uma produção da Escola de Mulheres levada a palco na Comuna, casa que Cucha conhece bem.
Foi um misto de sentimentos.
Ver Cucha Carvalheiro de novo a representar não trouxe desilusão, plástica, inteligente, se bem que por vezes irregular, foi um prazer reencontrar esta actriz.
Como peça no entanto, Diz-me Como a Chuva esteve muito abaixo das espectativas.
Os textos de Tenesse Williams são geniais, mas a junção aparentemente aleatória de vários pedaços transforma a peça numa manta de retalhos incoerente, um jogo de atenção que é de longe mais estimulante para as actrizes do que para o espectador.
A encenação de Marta Lapa tem pormenores interessantes, mas peca por excesso noutros momentos, tornando o que deve ser subtil em movimentação óbvia.
A cenografia é impressiva, tal como o texto final uma manta de retalhos do universo de Williams, estéticamente bem conseguida, se bem que, uma vez mais, demasiado dispersa e com pontos de foco desconexos e desnecessários.

Tudo isto seriam pormenores numa experiência agradável, não fosse a performance de Isabel Medina. Uma prestação absolutamente desastrada, forçada, histérica, para esquecer. Nos momentos em que fez de Blanche DuBois a comparação com Vivien Leigh no filme de Elia Kazan torna-se inevitável, e aí o descalabro toma proporções abissais.

Um acto falhado na Comuna, apenas para fãs, ou quem queira ouvir palavras de Williams.


Diz-me Como a Chuva
textos de: Tenesse Williams
Encenação Marta Lapa
Interpretação: Cucha Carvalheiro e Isabel Medina
Quarta a Sábado - 21h45, domingo - 17h
Até 9 de agosto
Preço: 12,5€ (existem diversos descontos, perguntar na bilheteira)
Comuna Teatro de Pesquisa
Praça de Espanha
1070-024 Lisboa
Bilheteira: 931 619 217

quarta-feira, julho 16, 2008

Fiat Lux - faça-se luz!


Foi ontem em Oeiras, no teatro municipal Eunice Muñoz, que subiu a palco Fiat Lux, espectáculo organizado pela Companhia de Actores, com miudos do bairro da Outurela.
Fiat Lux tem como base a Declaração dos Direitos Humanos... terá?

Quem são aquelas pessoas em palco? Quem é aquela gente que ali se encontra? Que raiva é aquela? Que atitude? Que energia?

Aqueles são os miudos para quem ninguém olha.

De repente estão ali, debaixo das luzes, dançam, cantam, representam, saltam, beijam. Mostram-nos, ao público, mostram-me, a mim, a sua fúria, um pouco até da sua alma. E como?

É aí que entra a Companhia de Actores. O trabalho do António Terra e de toda a equipa é extraordinário, com este grupo foram até agora três anos de trabalho, de preparação e esforço que, espera-se, tenha mudado estas crianças. Em palco deu corpo artístico, poético, às angústias, aos medos, aos anseios de todos, mas acima de tudo, deu-lhes esperança, deu-lhes vida.

Vê-los ali, ao telefone com Deus, a pedir ao mundo para parar, a pedir para desnascer, como diria José Mário Branco, é das coisas mais emotivas que se pode ver em palco, porque ali estão eles, ali são eles. Para logo a seguir gritarem "ao menos estou vivo" e virarem costas à sua própria mágoa.

Muita dança, muita luz, muita cor, música (trabalho fio condutor de toda a acção), muita dor, uma hora de sensações, de beleza.

Fiat Lux! Faça-se luz, no sorriso, na alegria, na força, ontem, de noite, a luz fez-se...

segunda-feira, junho 23, 2008

Saga - Ópera Extravagante




O Bando é daqueles grupos que consegue quase sempre surpreender, há mais de vinte anos que os sigo, seja de passeio por um jardim de noite, num comboio em viagem por Lisboa, a trepar o Convento do Beato, ou a enregelar em Palmela.
As últimas duas produções deixaram algo a desejar, com Saga- Ópera Extravagante, O Bando regressa ao seu melhor estílo, exibindo um músculo criativo que não se via desde O Ensaio Sobre A Cegueira.
Saga conta a vida de Joana, filha de um armador que quer ser marinheira. Ao perder os irmãos e barcos numa tempestade o pai de Joana proíbe-a de sair para o mar, mas ela foge de casa em busca do sonho, causando a ira do pai.
A primeira vez que vi esta história, baseada num conto de Sophia de Mello Breyner Andersen, foi num outro espectáculo memorável d'O Bando intitulado Em Fuga. Nele um conjunto de nove histórias aconteciam em outras tantas tendas, mas cada um de nós só conseguia ver três de cada vez. Um actor em contacto directo com o público, num espaço pequeno, practicamente sem cenário. Joana foi a minha história favorita, capaz de, algo dificil em teatro, me levar às lágrimas.
Saga - Ópera Extravagante é uma co-produção O Bando com a Banda da Armada da Marinha. Agarra em dois contos de Sophia de Mello Breyner Andresen e faz deles um texto uno, entregue então a Jorge Salgueiro para compor a música. Com o toque de génio da encenação de João Brites o resultado final é algo de único.
Uma ópera que mistura cantores líricos, com cantores de música popular, com actores, com o vocalista dos Moonspell, banda de heavy metal nacional, numa mescla que resulta numa sonoridade perfeita, numa composição diferente, em que que as vozes se complementam e fundem.
A composição de Salgueiro, tal como já tinha sido para O Ensaio Sobre a Cegueira, é fabulosa, surpreendente até, captando o âmago da emoção de cada cena, cada personagem, sem nunca cair no facilitismo.
Como em todos os espectáculos d'O Bando, no entanto, é o conjunto que faz a diferença, cada elemento, actores (sempre exemplares, num tom nada naturalista, mas perfeito para a encenação), músicos, até à inacreditável máquina de cena, é apenas uma parte de um todo que se mostra, uma vez mais, imenso.

Saga - Ópera Extravagante, é o encontro único de um conjunto de talentos, que se unem para nos trazer das obras mais imaginativas, tocantes, e absolutamente belas que estão em cena em Lisboa, e das melhores que nos últimos anos passaram por cá.
Imperdível a todos os que gostem de teatro, ópera, música, seja quem for que queira ter uma experiência sensorial numa quente (?) noite de verão... mas pelo sim pelo não... levem acasalho, é ao ar livre!




Saga - Ópera Extravagante

Texto: Sophia de Mello Breyner Andresen

Composição Musical: Jorge Salgueiro

Dramaturgia e Encenação: João Brites

Espaço Cénico: João Brites e Rui Francisco

Interpretação: Ana Brandão, Cristina Ribeiro, Fernando Ribeiro, Filipa Lopes, Francisco Fanhais, Inês Madeira, João Sebastião, Pedro Ramos, Rossano Ghira, Rui Sidónio, Sandra Rosado, Sara Belo

Maestro: Carlos da Silva Ribeiro e Délio Gonçalves

Orquestra: Banda da Armada Portuguesa

Figurinos: Vera Castro


Até 15 Julho 08
Quinta a Domingo 21h30


Museu da Marinha

Telefone: 21612444 (bilheteira CCB) / www.ticketline.pt
Preço: 12€ / 15€

quinta-feira, junho 19, 2008

Obviamente demito-o!

Há muito tempo que não ia à Barraca, não havia um motivo específico, apenas não tinha calhado.

Por causa de uma pessoa conhecida, fomos ver Obviamente Demito-o, peça sobre o General Humberto Delgado, candidato às eleições presidenciais de 1958 e que proferiu esta célebre frase quando lhe perguntaram o que faria a Salazar caso fosse eleito.
A peça de Helder Costa é um revivalismo não cronológico, pouco narrativo e mal conseguido.
Se 1974 é algo relativamente recente, já 1958 foi há meio século. Fazer hoje uma peça que sopra ao de leve momentos desconexos sem nunca os contextualizar histórica ou narrativamente, não creio que faça sentido. Dá uma ambiência, torna-se basicamente numa série de piscadelas de olho a quem viveu aqueles dias, gente que hoje tem mais de 50, 60 anos. Mesmo para esses, momentos houve que roçaram algum ridículo um pouco constrangedor.
A peça falha em diversos pontos, inclusivé no guarda-roupa, falha como alerta, falha como memória, falha até como entertenimento, num texto desconexo.

Salvam-se os actores.
Performances sólidas na maioria dos casos, com um Sérgio Moura Afonso a compor um Salazar delicioso, acompanhado por um elenco relativamente coeso.
A base que tinham para trabalhar é que era, quanto muito, fraca.


Obviamente Demito-o!

Texto Encenação e Cenografia: Helder Costa

Interpretação:

João D’Ávila - Humberto Delgado
Maria do Céu Guerra - Sra. Maria, Cerejeira
Sérgio Moura Afonso - Salazar
Mariana Abrunheiro - Arajaryr , Odete, Maria de Jesus
Rita Fernandes - Lina, Madalena, Palmira, Christine Garnier, M. Eugénia, Florista
Susana Costa - Mariana, Geninha, Susini, jovem estudante
Adérito Lopes - Padre confessor, Correia de Oliveira, Silva Pais, Skorzeny
Luís Thomar - Agrário, António Sérgio, Rosa Casaco, Rogério Paulo
Rui Sá - Júlio, Agrário, Arlindo Vicente, Dr. Gusmão, Bisogno, Armando Caldas, Pai, Pide
Sérgio Moras - Agrário, Kubitschek, Franco, Barbieri, Abel, Castro e Sousa
Populares, estudantes, manifestantes, “homens sem rosto”

Figurinos: Maria do Céu Guerra

Até 29 Junho 08
Quinta a Sábado 21h30, Domingo 16h

Cine-Teatro A Barraca
Largo de Santos. 2
Telefone: 213965360 / 213965275

terça-feira, junho 17, 2008

Música da Semana

Não fazia ideia, mas a Patricia Vasconcelos canta, até já lançou um cd, e de vezs em quando dá concertos por aí. Foi o caso ontem, no Xafarix em Santos.
Num ambiente animado cantou uma série de clássicos deste tipo de coisas, de Gershwin a Bossa Nova, tendo partido para intervalo com Why Don't You Do Right?, o clássico de Jessica Rabbit, a sensual mulher de Roger Rabbit.
Ontem foi esta a última música que ouvi, não acabei a actuação, que as noites de segunda-feira não convidam a longas horas, mas tive pena, estava a ser uma noite simpática.
Hoje, não podia não colocar a original Jessica a cantar pela voz de Kathleen Turner. A música da semana está no entanto em video. A cena é deliciosa, a entrada mais envolvente de qualquer cartoon em toda a História da Humanidade.
Enjoy...

segunda-feira, junho 09, 2008

RiR


Mais um ano em que visito o ROck In Rio, com a sorte de conseguir convites. Começo a achar que se perder estas borlas que já duram desde a primeira edição, rápidamente perco o hábito de lá ir. 

Noite de encerramento um pouco esquizofrénica, o melhor que lá vi foi Clã, no palco pequenino, com duas ou três mil pessoas, num ambiente mais intimista, mais aconchegante, com a Manuela vibrante, a saltar durante uma hora, e a dar-me a conhecer uma banda brasileira que me deixou com vontade de ouvir mais, Pato Fu.
No palco Mundo tocavam Muse, enquanto nós jantávamos, rodeados de socialites que estavam ali para tudo, menos ouvir música.
No final, um regresso à adolescência com Offspring, gente a mais, encontrões a mais, mas um regresso ao passado é sempre um regresso ao passado. Faz-me lembrar os meus 15 anos, e as festas em casa do André, onde conheci Offspring, Rage Against the Machine e, mais importante que todos, The Smashing Pumpkins.
Foi uma noite de sexta, já sem a pica de outras edições...

quinta-feira, maio 15, 2008

Quidam

"Uma jovem enfurece-se; ela já viu tudo o que há para ver e seu mundo perdeu todo o significado. A sua raiva despedaça o seu pequeno mundo e ela encontra-se no universo de Quidam. A ela junta-se um companheiro alegre e outro personagem mais misterioso, que vai tentar seduzi-la com o maravilhoso, o inquietante e o aterrador."
O Cirque chegou a Portugal, finalmente com um grande espectáculo, um movimento de magia que nos abre as portas da imaginação. Quidam é um passante anónimo, Quidam é um mundo dentro do Grand Chapitô.
Não é apenas a excelência técnica, se bem que a maioria dos números são absolutamente incriveis, nem sequer o sentido de humor, o melhor que já vi no Cirque com a participação activa do público, não é da música ao vivo, da parafernália de efeitos visuais, nem dos figurinos impressionantes, é da conjução de tudo isto, de uma soma melhor que as partes, de um portal que se abre e nos transporta, nos transforma, nos fascina. É a beleza, o excesso, a ternura. É o Cirque no seu esplendor.
Este é o quarto espectáculo que vejo do Cirque du Soleil, e a par de La Nouba, é aquele que mais me tocou. Cada show tem uma base comum, mas é único na sua construção.
Quidam é uma oportunidade que não se deve perder, quer seja o primeiro contacto com este grupo, quer conheçam já a sua obra...

Sejam bem-vindos...

quarta-feira, abril 30, 2008

Onde Vamos Morar


Há textos que nos conseguem seduzir logo desde as primeiras linhas.
Confesso que quando vou ver os Artistas Unidos, vou munido de uma desconfiança alimentada por algumas experiências recentes menos conseguidas. Injusto talvez, que não vi todas as peças do grupo (Stabat Mater foi uma das falhas maiores) e já por outras vezes fui agradavelmente surpreendido. Quando resolvi ir ver Onde Vamos Morar fui motivado por apenas uma coisa, o regresso de Sérgio Godinho aos palcos.
Logo de início, este texto fragmentado de José Maria Veira Mendes é sedutor. Faz um jogo inteligente com as palavras, as emoções e expectativas, em diálogos, quase monólogos, de gente perdida - Tenho de comprar um mapa de jeito. Pensava que me lembrava das ruas, mas nada. Esta cidade engana. - desalentada, triste, mas com um humor, um sentido de ironia que nos faz encarar aquelas vidas com um misto de surpresa, sorriso e angústia.
Sérgio Godinho tem sido, como seria de esperar, o centro da comunicação mediática da peça. Acaba por se revelar algo injusto, numa peça que tem tanto mais. A sua performance é sólida, terna até, um homem perdido na solidão da idade, mas ele não é a vedeta, é um elemento mais num elenco coeso (como deve ser). O elenco é soberbo (com raras excepções) com um enorme aplauso para um trio de Pedros, Pedro Carmo que abre a peça e destroi qualquer desconfiança que eu pudesse levar, Pedro Lacerda, num tom de tragi-comédia excelente, e Pedro Gil que fecha com chave de ouro este trio. Quem passa despercebida, mas tem um sorriso e uma presença que ilumina o palco, é Cecília Henriques, que merece olhar atento. O elenco funciona como um todo, sem que se note a presença ou o destaque excessivo deste ou daquele elemento, dando espaço e tempo para todos terem o(s) seu(s) momento(s).
No final, coisa que não fazia há muito naquele espaço, aplaudi de pé.
A não perder.



Onde Vamos Morar
Artistas Unidos

De: José Maria Vieira Mendes
Encenação: Jorge Silva Melo
Interpretação: Andreia Bento, Cecília Henriques, Pedro Carmo, Pedro Gil, Pedro Lacerda, Sérgio Godinho e Sílvia Filipe
Cenário e Figurinos: Rita Lopes Alves

Até 11 de Maio 2007
Quarta a Sábado - 21h30, Domingo - 17h

Artistas Unidos
Convento das Mónicas

Travessa das Mónicas
Telefone: 961 960 281
http://www.artistasunidos.pt/
info@artistasunidos.com

quinta-feira, abril 17, 2008

Front Line - Nova Criação - Cantata


Domingo passado voltei ao Teatro Camões, ver a última produção da CNB. Uma "tripla" que me faz ter pena de não ter mais disponibilidade para ir à dança de uma forma regular.
Front Line, com coreografia de Henri Oguike, é uma peça acompanhada por quatro músicos em palco. Carregada de força foi uma abertura em grande da tarde.
Em seguida veio Lento para Quarteto de Cordas, de Vasco Wellenkamp, com Ana Lacerda. Dos três momentos foi o mais tocante. Impressionante a incrivel leveza deste bailado, a aparente facilidade e fluidez com que é construído, brilhante.
Após o intervalo foi a vez da Cantata de Mauro Bigonzetti, com base na música popular italiana, tradição oral dos séculos XVIII e XIX. Coreografia de grupo, inusitada pela base musical, muito ritmada, divertida, enérgica, mas sem dúvida a mais irregular e menos conseguida das três.
Mais um passeio ao CNB... mais uma tarde muito bem passada.

terça-feira, abril 08, 2008

Porfírio Alves Pires - Pintor



Está na MAC, até ao fim do mês, na Rua de Sol ao Rato.

quinta-feira, abril 03, 2008

Turismo Infinito

Estreou no Porto, esteve no D.Maria em Lisboa onde o perdi, voltou ao S.João, casa-mãe. De passagem pelo Porto tive a sorte de poder ver este Turismo Infinito e colmatar uma falha pessoal, não tinha até então entrado no Teatro Nacional de S. João.

O S. João por si só vale o bilhete. O pequeno teatro restaurado é um regalo para a vista, dá vontade de lá ver e mais ainda de lá actuar, naquele palco. Tudo o que viesse a seguir era bónus. Foi um bom bónus.
Turismo Infinito é uma peça baseada em textos de Pessoa e Bernardo Soares, Álvaro Campos, e Alberto Caeiro, três dos seus mais conhecidos e marcantes hetrónimos. Três cartas de Ofélia Queiróz marcam também presença no espectáculo.
A primeira coisa que salta à vista é a cenografia, brilhante espaço desenhado por Manuel Aires Mateus, que, em conjunto com um desenho de luz eficaz de Nuno Meira, constroem uma ambiência particular, fria ou intimista, envolta em mistério ou dor, dia e noite, servindo os actores com um espaço amplo, mas ao mesmo tempo claustrofóbico onde actuar.
Começa a peça, José Eduardo Silva é Bernardo Soares, o texto tirado do Livro do Desassossego. Pessoalmente foi fatal para o actor a comparação com o mesmo texto que vi em Do Desassossego na Comuna com Carlos Paulo. Tudo estava correcto, bem dito, bem feito, mas notava-se a preocupação de dizer bem Pessoa e assim foi feito. Na outra peça vi alguém a representar Pessoa, o confronto foi inevitável. Mas essa mal era meu, nada a apontar à performance correcta. Destaque veio pouco depois em João Reis, com um Álvaro Campos intenso. Para mim a grande surpresa foi Emília Silvestre, com momentos a roçar o brilhantismo. De uma forma geral peca o colectivo de actores apenas por um tom algo monocórdico, quase todos encontraram um tom do qual se não desviaram prácticamente a peça inteira.
Ouvir Pessoa vale sempre a pena. Este espectáculo leva os seus textos um pouco mais longe. Vale bem a visita.


Turismo Infinito

De: António Feijó

a partir de textos de: Fernando Pessoa e três cartas de Ofélia Queiróz

Encenação : Ricardo Pais

Interpretação: João Reis, Emília Silvestre, Pedro Almendra, José Eduardo Silva, Luís Araújo

Dispositivo Cénico: Manuel Aires Mateus

Figurinos: Bernardo Monteiro

Desenho de Luz: Nuno Meira

Sonoplastia: Francisco Leal

Até 12 Abril 08

Quarta a Sábado 12h, Domingo 16h


TeatroNacional S. João

Praça da Batalha - Porto

Telefone: 800-10-8675