quinta-feira, julho 17, 2008

Tropa de Elite

Um filme fascista!
Apenas uma das muitas acusações que rodearam de controvérsia este filme que ganhou o Urso de Ouro em Berlim no ano passado.

É fácil perceber este tipo de acusação, é normal que se olhe para o filme como a defesa de um regime repressivo, acima da lei, totalitário e inevitável, afinal são os BOPE, esta Tropa de Elite os únicos capazes de enfrentar o clima de violência nos morros do Rio de Janeiro. Mas o filme é muito mais que isso.

José Padilha realiza um retrato trágico da realidade brasileira, um país onde a corrupção deixou de ser um problema que ataca o sistema, para se transformar no próprio sistema. Onde a polícia é incapaz, ineficaz, pior, onde a polícia ajuda e potencia o tráfico. Um país onde as ONG, longe de imagem idílica de ajuda desinteressada, se tornam num ninho de jovens ricos, hipócritas, que usam drogas, que vendem drogas, que sem sequer pensar nisso, alimentam o estado das coisas.

O que sobra? Os herois da Tropa de Elite? Não. Aqui não há herois. Há gente, humana, viva, que sofre e sangra, e que age de forma totalitária e violenta.

Não há herois, nem saídas milagrosas, não há alívio, nem luz ao fim do túnel, há um mundo onde o melhor que se pode esperar é sobreviver mais um dia.

O horror maior de Tropa de Elite reside em nós. Quando nos apercebemos que estamos a assistir a actos bárbaros de violência e tortura e sentimos que são justificáveis, sentimos que, pelo menos alguém está a fazer alguma coisa, mesmo que as mortes não tenham significado, mesmo que aumentem apenas o vazio.

Um filme duro, de denúncia, brilhante. Mas sem respostas, sem sequer grande esperança.

No fim do dia... como é que se pode vir para casa e dormir?

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