quinta-feira, agosto 07, 2008

The Dark Knight

A saga Batman tem tido no cinema uma carreira atipica. São já seis filmes, mas na verdade é como se fossem três duplas diferentes.
Os primeiros dois foram realizados por Tim Burton, carregando o cavaleiro negro de um universo negro e irreal.
Quando Joel Schumacher pega na série, transforma-a num circo e quase ia destruíndo o franchise com um Batman & Robin desastroso.
Eis que entra Christopher Nolan com Batman: O Início e este O Cavaleiro Negro.

Nolan ignora por completo os outros quatro filmes e constroi um imaginário mais próximo da realidade. É uma abordagem interessante, adaptar um personagem tragi-cómico de BD ao mundo tal como o conhecemos.
O Cavaleiro Negro tem sido um fenómeno, nos EUA não só já bateu todos os recordes possiveis, ultrapassando Homens Aranhas, Piratas das Caraíbas, Shreks e outros que tais, como tem sido levado em ombros pela crítica, falando-se inclusivé à boca cheia de Oscares.
Fui ontem ver o filme e sinceramente não percebi o porquê desta reacção.

Vamos por partes, O Cavaleiro Negro é um filme interessante, a visão de Christopher Nolan é pelo menos inovadora neste imaginário e as duas horas e meia de duração passam sem mossa.
O que não entendo é a histeria em torno da fita, alimentada pela morte de Heath Ledger.

Há falhas, muitas.
O filme quer ser estiloso, tão estiloso que está constantemente em pose, com frases pseudo-profundas de algibeira.
Christian Bale funciona como Bruce Wayne, mas quando põe a máscara faz uma voz de bagaço irritantemente forçada.
Buracos de argumento são mais que muitos (não os vou discutir aqui para não estragar o filme).
Há uma coisa que sempre me deu comichão, o facto de toda a gente (salvo o heroi e o vilão) agir como atrasado mental. A policia aqui, pelo menos, não deve muito à inteligência.

Gotham City é aqui uma cidade normal, prédios normais, ruas normais, ganhou realismo, mas perdeu o charme, perdeu força, mistério, perdeu identidade numa cidade que era, ela própria, mais um personagem.

Eis que chega Heath Ledger. Ele é a alma do filme, uma performance assustadora, que enche o ecrã em cada cena. É ele, e apenas ele, que salva o filme da mediocridade. É claro que Morgan Freeman, Michael Caine, Gary Oldman ou Aaron Eckhart são senhores actores e trazem um toque de charme a cada cena em que aparecem, mas Ledger está noutra dimensão. Os pormenores em cada gesto, cada pose, o cabelo, as mãos, a voz, é um personagem perfeito.

Mais realidade diz Nolan, menos acção, mais questões interiores. Talvez.
A milhas de Tim Burton, noutra galáxia, as dúvidas morais, as questões éticas, as ligações emocionais e humanas, a procura do Eu do Bem e do Mal, Burton tem lá tudo e é magnifico.
Nolan tem a máscara, mas por baixo está pouco.

3 comentários:

laura disse...

Concordo contigo. A personagem Joker salva o filme. A naturalidade, os tiques, a maquilhagem, tudo se conjuga para criar um boneco aterrador. Já a "voz de bagaço" do outro senhor... Pá... Chamar-lhe irritante é pouco...

Anónimo disse...

Calculei bem - a tua crítica teria que ir contra a corrente. A prestação do Ledger é intocável e (para mim) surpreendente, não o achava capaz de uma performance tão arrebatadora. Quanto ao filme em si, não tinha visto o Batman Begins e só o vi depois deste Dark Knight - e acho o primeiro bem mais interessante, mais consistente. Mas acho que és demasiado crítico. Estamos a falar de um novo universo BD com dimensões humanas que não tinham sido antes exploradas - Sou fã incondicional do Burton, mas ele tende a fazer com os trabalhos dele uma festa de luz e cor, um universo paralelo, um mundo à parte. Nada comparável ao tom sombrio, lento, pesado deste Dark Knight e muito menos do Begins. São abordagens e estilos diferentes, ambos respeitáveis e muito bons. Quanto ao Joel Schumacher, nem falar...
Gostei da experiência, embora ache que toda esta euforia não é justificável, nem de longe nem de perto!
Só mais uma coisa - estava muito curioso no fim do Dark Knight para ver o Begins - não só pelo enredo mas também porque pensei que existia uma explicação lógica para aquela voz parva do Batman - WTF???

Varandas.

MPR disse...

Luz e cor no Burton? Nos Batmans do Burton?
Tens que os ir rever...
Independentemente da comparação este filme está carregado de problemas que podemos discutir quando vieres a Lisboa, para não estragar a história a quem leia.
Abraço