quinta-feira, novembro 20, 2008

Entre Les Murs

Professor, escritor, agora argumentista e actor, este é o projecto pessoal de François Bégaudeau. Escreveu o argumento baseado no seu próprio livro e é o actor principal de um filme sobre o desenrolar de um ano lectivo numa turma de uma qualquer escola no centro de Paris.
A Turma é o primeiro filme que conheço sobre professores e alunos que reporta directamente ao mundo real, actual, aquela escola, aqueles alunos, são em Paris, mas os de Lisboa, da Amadora ou de Almada são iguais, se fizermos os respectivos ajustes nacionais, não há alunos do Mali, mas há de Angola, não há marroquinos mão há brasileiros.
O que é fascinante no filme é a forma complexa com que aborda uma realidade que se julga e representa de uma forma quase sempre linear. Longe dos estereótipos típicos dos filmes de escola americanos, não há gangsters nem ameaças de morte, não há bons e maus, ninguém se salva e (quase) ninguém se perde. É a vida numa escola e apenas na escola, com actores amadores, verdadeiros alunos franceses, mas com uma solidez, uma naturalidade performativa notável.
O argumento é soberbamente bem escrito, não que existam reviravoltas inesperadas ou diálogos particularmente inteligentes, mas o correr do dia a dia, aparentemente banal e pouco memorável, traz momentos de teste constante, de confronto, de surpresas e desilusões, para além de conseguir retratar com detalhe (nada fácil com tantos personagens) cada um daqueles miúdos mais importantes e até os diversos professores. Fazendo uma comparação com o outro filme que vi recentemente, há mais angústia na explosão de um docente que entra na sala de professores a vociferar por causa dos alunos, do que com todos a epidemia de O Ensaio Sobre a Cegueira, há mais tensão num concelho disciplinar aqui, do que com a violação em massa no filme de Meirelles.
A Turma levou a Palma de Ouro de Cannes para casa este ano, pela primeira vez desde há muito tempo atribuída a um filme francês. Um filme fundamental para todos os professores, alunos, todos os que queiram realmente saber o que é isso de dar aulas, ou apenas para qualquer pessoa que goste de bom cinema.

4 comentários:

laura disse...

Não viste o "Half Nelson"? Não era bem a mesma coisa, mas explorava também a relação aluno-professor, especialmente, do ponto de vista da fragilidade do professor, que também é um ser humano, comete erros, vive dramas pessoais e, muitas vezes, pode ser resgatado pelos alunos que, aparentemente, seriam os "delinquentes... recomendo.

MPR disse...

Não digo que não existem outros filmes a explorar a relação aluno-professor, ou que os não haja bem feitos, a começar pelo óbvio Clube dos Poetas Mortos. Mas nenhum deles se focava exclusivamente na escola, sem outros personagens, dramas pessoais, casa, amigos ou seja lá o que for. E em nenhum deles se fica a saber o que é realmente ser professor. Não falo de ser um professor drogado, ou um professor iluminado, um professor que salva ou condena crianças, sendo salvo ou condenado por elas. Ser um professor apenas. Ponto. Anónimo, sem nada de extraordinário que o distinga dos outros professores, com alunos em nada diferentes dos outros alunos. Ano após ano, turma após turma, sendo que os dramas são "apenas" as dificuldades reais e concretas de dar uma aula.

laura disse...

Pá, tu nem me fales de escolas, que eu, só de saber que nunca mais vou meter o pé numa escola secundária, só me dá vontade de saltitar! ;)))

Quanto ao filme... Pois que não está na Medeia... Tenho de ver se tenho tempo para ir ao Corte Ingles, mas não me parece, infelizmente... Damn it!

Anónimo disse...

As escolas aqui no Brasil são a mesma coisa cheias de filhos de padeiros portugueses