quarta-feira, outubro 31, 2007

Julgamento

Pouco mais de 4000 espectadores é quanto o último filme de Leonel Vieira fez com as suas vinte e picos cópias distribuidas nacionalmente. E a culpa não é do filme.

Quatro amigos são presos pela PIDE em 1970, torturados violentamente, acabando um deles por morrer. 30 anos depois a memória dele continua a atormentar a sua filha e os três amigos que sobreviveram. É então que descobrem por mero acaso o homem que julgam responsável por tudo. Resolvem raptá-lo para o obrigar a confessar.
É impossivel ver este Julgamento sem vir à memória o Death And The Maiden (A Noite da Vingança) de Roman Polansky. Aí tinhamos um advogado, a sua mulher (que tinha sido torturada) e um homem que ela diz ser o médico responsável pela tortura. Três actores, três personagens, uma sala fechada. Um filme tenso, muito bem escrito, que se apoia na mestria de Sigourney Weaver e Ben Kingsley, e na capacidade de Polansky nos manter presos sem nunca se desviar do seu trio.
Aqui Leonel Vieira perde-se por um número de personagens desnecessários, flutua de casa em casa, trabalho, tribunal, consultório, escritório, demorando uma eternindade para se focalizar no essencial: os raptores, o raptado e a relação entre eles. Mesmo aí não sabe muito bem como desenvolver a fita, pouco ou nada evolui, queimando depressa a dúvida sobre a culpabilidade do raptado, transformando-o num monstro sádico, desculpabilizando o acto do rapto, dividindo as coisas muito simplesmente entre os bons oprimidos e o mau opressor que, no fundo no fundo, só tem aquilo que merece.
O filme não é, no entanto, distituido de mérito. Leonel Veiria sabe usar uma câmara, do ponto de vista da fotografia e construção da imagem é inteligente, se bem que usa de forma deficiente a montagem como forma de criar tensão. A banda sonora é forte, e alguns actores são bastante bons, destaque para Alexandra Lencastre, que prova uma vez mais ser uma excelente actriz.
Julgamento não é um filme brilhante, mas o tema, os actores, os valores de produção, até a ocasional cena de nudez são mais que suficientes para atrair mais de 4000 espectadores. O que se passa então? Não existe fobia à ficção nacional, infindáveis novelas, floribelas e morangos açucarados provam-no. Mesmo no cinema é possivel atraír público, ocasionalmente mas é. O que é deficiente é tudo o que ultrapassa a produção do filme, o marketing, a divulgação, o poster é terrivel (e nem imaginam quantas pessoas vêm ou não um filme por causa do poster), não me lembro de ver o trailer uma única vez no cinema (eu vou duas a três vezes por semana às salas).
Quem sofre é o filme, o cineasta, os actores e toda a indústria (?) nacional.

2 comentários:

polegar disse...

lindo menino: indústria ponto de interrrogação entre parêntesis...
eheheheh

polegar disse...

ah, já agora...
parabéns :)