sexta-feira, julho 18, 2008

Saw - A Epopeia


Sempre fui fã de filmes de terror, o que parece uma contradição pois raramente vejo um filme de terror que valha a pena. É quase um desafio, sempre que me sento a ver um filme deste género estou a dizer-lhe: ok, estou aqui, assusta-me, ou melhor, surpreende-me. De vez em quando isso acontece.

Há quatro anos atrás um pequeno filme de terror realizado por um desconhecido James Wan, preparava-se para ser lançado directamente em DVD. O seu baixo custo, 1,2 milhões de dólares ajudava a essa decisão. No entanto o pessoal da Lionsgate resolveu fazer, como aliás é normal neste mercado profissional, testes com público, que teve resultados impressionantes. Rapidamente mudaram de opinião e lançaram Saw em sala. Na sua vida em cinema facturou mais de 103 milhões de dólares, e pelo menos outro tanto nas suas passagens pelo DVD e televisão.

Saw era um filme de tortura, negro, inteligente apesar de nem sempre muito consistente, sobre um homem que rapta pessoas, coloca-as em elaboradas máquinas de morte das quais apenas conseguem escapar (as poucas que o fazem) após muito sacrificio e dor, principalmente após uma escolha dificil. A base é que Jigsaw (o homem por detrás de tudo) agarra em pessoas que não valorizam a própria vida, as faz passar por esta experiência horrivel para que os poucos sobreviventes possam emergir renascidos, com um novo sentido das coisas.

Vi o filme no cinema, achei interessante mas pouco mais.

O sucesso levou, naturalmente a uma sequela. Saw II foi lançado no ano seguinte, custou 4 milhões de dólares e rendeu, nas salas, quase 148 milhões no mundo inteiro. Estava lançado um franchise.

Todos os anos, no Halloween, desde 2004, sai um novo Saw. O terceiro filme da série custou 10 milhões e rendeu quase 165 nos cinemas. O Saw IV, por sua vez, custou também cerca de 10 milhões e rendeu mais de 139, em sala. Há que acrescer claro, o DVD de aluguer, venda directa, as televisões em canais Premium, em free tv, e todas as passagens que estes filmes terão ao longo dos anos nas diversas televisões do mundo.
Estão já lançados o Saw V e Saw VI, a chegar ao grande ecrã em Outubro de 2008 e 2009 respectivamente.

Só vi o primeiro filme no cinema, a vitalidade e longevidade desta série de filmes sempre me deixou curioso. Afinal até ao 3º o box office esteve sempre a subir, e mesmo o quarto fez 13 vezes o seu custo de produção em sala.

Não é normal, os franchises habitualmente perdem força com o passar do tempo, principalmente nos filmes de terror. Porquê? Porque quanto nos prendemos a um personagem ou uma situação as ideias começam a escassear, os clichés reproduzem-se, os valores de produção caem na busca de maior lucro, e o público começa a fartar-se de ver repetidamente a mesma coisa. Basta olhar para exemplos dos anos 80, o genial Halloween transformado numa imbecilidade com cultos demoníacos, Sexta Feira 13, espalhado por oito sequelas que pouco mais são que linhas de montagem onde adolescentes nuas são decepadas, ou O Pesadelo em Elm Street, ideia assutadora e verdadeiramente original, que virou a certa altura para a comédia. Afinal, são assassinos, matam, que mais se pode fazer do que arranjar diferentes formas de chacina?

É aqui que Saw se torna revolucionário. Não é pela moral de pacotilha, nem pelos jogos de tortura (alguns que precisam de um esforço especial de boa vontade para serem credíveis), nem pelos twists finais, muito menos pelo gore extremo.

O que faz destes filmes um fenómeno de longevidade é o facto de não serem filmes isolados, Saw é, literalmente, uma série, em que cada filme é como se fosse uma temporada. O primeiro filme é o único que não partilha desta lógica, mas a partir do segundo e principalmente do terceiro, torna-se evidente. Não é possível ver Saw IV sem ter visto o Saw III, os personagens passam, as situações, momentos, toda a história, passa de uns filmes para os outros. Seguimos aqueles acontecimentos sempre à espera de descobrir um pouco mais sobre Jigsaw, os seus planos e vida. Até os diversos buracos de argumento e pontas soltas são perdoadas, sabendo que, num filme seguinte, tudo será explicado (e normalmente é, de uma forma mais ou menos convincente).
Assim Saw transforma-se numa epopeia de um homem, onde as vítimas e jogos são apenas acrescentos à verdadeira história, a de Jigsaw.
Nem sempre bem construído, nem sempre plausível, mas viciante, sem dúvida.

Vi os três últimos filmes de seguida em DVD, agora não perco de certeza o quinto no cinema. E enquanto o argumento for a preocupação central (as críticas a Saw IV por parte dos fãs começam a ouvir-se) Saw tem vida e seguidores garantidos. É (com as devidas reticências na comparação) como Lost, vamos avançando, descobrindo, numa história que nunca fecha.

Ainda haverá espaço para surpresas?

1 comentário:

polegar disse...

ui, menino, temos mesmo de te arrancar desse sofá... :P