sexta-feira, janeiro 23, 2009

Hunger

Toda a gente conhece Steve McQueen, mas ninguém conhecia Steve McQueen até este Fome. O motivo é simples, são duas pessoas diferentes. O primeiro é o ícone cool do cinema americano dos anos 60 e 70, o segundo é um inglês negro nascido em londres nos anos 60, que tem aqui a sua estreia como realizador e argumentista.
Durante o final dos anos 70, iníco dos anos 80, os prisioneiros do IRA exigiam estatuto político, recusavam-se a ser tratados como prisioneiros comuns, criminosos, argumentando que os seus actos tinham uma justificação política, uma guerra em prol da libertação da Irlanda do Norte. Inglaterra, com Thatcher no poder, não podia ceder a estas exigências, não podia reconhecer o IRA como guerreiros em defesa do seu país.
Fome narra os acontecimentos no The Maze, prisão onde estão os membros capturados do IRA, que durante mais de quatro anos fizeram uma greve à roupa e ao banho. As condições de vida destes prisioneiros, absolutamente animalescas, é retratada de forma brutal, focando-se nas últimas seis semanas de vida de Bobby Sands, lider de um grupo que iniciou uma greve de fome para conseguir vencer esta luta.
McQueen realiza um filme impressionante na maneira como lida com todas estas questões. Directo nas imagens, constroi uma tensão quase insuportável, com base em pormenores. Um olhar, uma ferida na mão, uma racha no tecto, uma luz que se apaga, a neve que cai. No entanto não se perde apenas por divagações imagéticas, desenvolve uma história que não toma partidos, não demoniza os ingleses nem glorifica os irlandeses, sofre e faz-nos sofrer com uma teimosia que nos ultrapassa, uma luta sem tréguas, já não pela liberdade, já não pela independência, mas pela cor de uma peça de roupa, por uma afirmação de orgulho nacional, pela certeza do caminho que se segue, quer de um lado, quer do outro.
Fome é um murro no estômago, mas é uma estreia muito promissora de um jovem realizador que tem muito para contar.

1 comentário:

Manel disse...

É um colosso.

Acho até que apesar da dor da experiência, vou vê-lo novamente. Já passaram uns meses sobre a primeira vez, pode ser que consiga...


Mas é. Um absoluto colosso

Falta-lhe o Mustang, mas pronto, este McQueen tem que se lhe diga... ;)