terça-feira, janeiro 01, 2008

Redacted

Quando abordaram Brian De Palma com 5 milhões de dólares para fazer um filme video digital de alta-definição, ele respondeu que o faria se houvesse um tema que justificasse não usar a película. Descobriu que existe todo um mundo de imagens digitais a circular pela net. Nomeadamente filmes sobre o Iraque, sejam opiniões pessoais, videos de familiares, e principalmente videos de soldados no terreno, feitos com telemóveis, camaras portáteis, vários tipos de DV's. Essas imagens trazem uma realidade que os media não mostram, numa espécie de autismo, como se não existisse.
De Palma, cercado por advogados, agarrou no caso de um grupo de soldados que violou e matou uma rapariga iraquiana de uma forma brutal, desconstruiu a parafernália de videos, imagens e informação numa net cada vez mais aberta, e reconstruiu-os, dramatizando-os com actores, mas mantendo viva a sensação de real por detrás de tudo.
O resultado final é um dos filmes mais poderosos do realizador de Corações de Aço e Os Intocáveis, ao ponto de ser urgente o visionamento deste filme. Não que traga algo de novo à informação que temos sobre a guerra, não dá dados novos ou confidenciais, mas traz-nos a experiência do medo até ao peito, dá-nos uma visão interna de eventos horriveis. No final de Apocalypse Now, Marlon Brando diz a famosa frase "The horror, the horror...". Censurado é o horror. Não o horror da guerra como estamos habituados a vê-la, dos combates ou carnificina, mas o horror humano mais profundo, que habita para lá da guerra, dentro de nós, o horror de se ver, de se viver algo que nunca se devia ter vivido.
Censurado é o filme mais importante que está hoje nas salas de cinema...

1 comentário:

laura disse...

gostei sobretudo da forma como as imagens se interligam, num melting pot de realidade, de mass media, de informação que circula das mais variadas formas. um filme poderoso e muito actual, não só pela temática, mas pela forma de "sociedade da informação criada por cada um de nós". ou algo do género. só achei demasiado a última imagem da sequência de fotografias. acho que é um dedo na ferida desnecessário, para quem já sai da sala com o coração nas mãos...