segunda-feira, junho 23, 2008

Saga - Ópera Extravagante




O Bando é daqueles grupos que consegue quase sempre surpreender, há mais de vinte anos que os sigo, seja de passeio por um jardim de noite, num comboio em viagem por Lisboa, a trepar o Convento do Beato, ou a enregelar em Palmela.
As últimas duas produções deixaram algo a desejar, com Saga- Ópera Extravagante, O Bando regressa ao seu melhor estílo, exibindo um músculo criativo que não se via desde O Ensaio Sobre A Cegueira.
Saga conta a vida de Joana, filha de um armador que quer ser marinheira. Ao perder os irmãos e barcos numa tempestade o pai de Joana proíbe-a de sair para o mar, mas ela foge de casa em busca do sonho, causando a ira do pai.
A primeira vez que vi esta história, baseada num conto de Sophia de Mello Breyner Andersen, foi num outro espectáculo memorável d'O Bando intitulado Em Fuga. Nele um conjunto de nove histórias aconteciam em outras tantas tendas, mas cada um de nós só conseguia ver três de cada vez. Um actor em contacto directo com o público, num espaço pequeno, practicamente sem cenário. Joana foi a minha história favorita, capaz de, algo dificil em teatro, me levar às lágrimas.
Saga - Ópera Extravagante é uma co-produção O Bando com a Banda da Armada da Marinha. Agarra em dois contos de Sophia de Mello Breyner Andresen e faz deles um texto uno, entregue então a Jorge Salgueiro para compor a música. Com o toque de génio da encenação de João Brites o resultado final é algo de único.
Uma ópera que mistura cantores líricos, com cantores de música popular, com actores, com o vocalista dos Moonspell, banda de heavy metal nacional, numa mescla que resulta numa sonoridade perfeita, numa composição diferente, em que que as vozes se complementam e fundem.
A composição de Salgueiro, tal como já tinha sido para O Ensaio Sobre a Cegueira, é fabulosa, surpreendente até, captando o âmago da emoção de cada cena, cada personagem, sem nunca cair no facilitismo.
Como em todos os espectáculos d'O Bando, no entanto, é o conjunto que faz a diferença, cada elemento, actores (sempre exemplares, num tom nada naturalista, mas perfeito para a encenação), músicos, até à inacreditável máquina de cena, é apenas uma parte de um todo que se mostra, uma vez mais, imenso.

Saga - Ópera Extravagante, é o encontro único de um conjunto de talentos, que se unem para nos trazer das obras mais imaginativas, tocantes, e absolutamente belas que estão em cena em Lisboa, e das melhores que nos últimos anos passaram por cá.
Imperdível a todos os que gostem de teatro, ópera, música, seja quem for que queira ter uma experiência sensorial numa quente (?) noite de verão... mas pelo sim pelo não... levem acasalho, é ao ar livre!




Saga - Ópera Extravagante

Texto: Sophia de Mello Breyner Andresen

Composição Musical: Jorge Salgueiro

Dramaturgia e Encenação: João Brites

Espaço Cénico: João Brites e Rui Francisco

Interpretação: Ana Brandão, Cristina Ribeiro, Fernando Ribeiro, Filipa Lopes, Francisco Fanhais, Inês Madeira, João Sebastião, Pedro Ramos, Rossano Ghira, Rui Sidónio, Sandra Rosado, Sara Belo

Maestro: Carlos da Silva Ribeiro e Délio Gonçalves

Orquestra: Banda da Armada Portuguesa

Figurinos: Vera Castro


Até 15 Julho 08
Quinta a Domingo 21h30


Museu da Marinha

Telefone: 21612444 (bilheteira CCB) / www.ticketline.pt
Preço: 12€ / 15€

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