Lady in the Water
M. Night Shyamalan especializou-se, desde a sua terceira longa-metragem O Sexto Sentido, em filmes cuja temática seja o sobrenatural, o bizarro, o misterioso. Essa imagem de marca fez dele um cineasta de sucesso num género especializado. Acumulando o cargo de realizador e argumentista em todos os seus filmes, sendo produtor na maioria dos casos e até actor, Shyamalan pode ser visto como one-man-show. Não é o primeiro a acumular tantas posições, de Chaplin a Woody Allen ou Orson Welles, mas este indiano criado num suburbio rico de Filadélfia não tem o nivel de genialidade de nenhum dos anteriores. Realizador com mestria, sabe contar uma história com a tensão que esta exige e consegue normalmente retirar boas interpretações dos seus actores (o dedo para o casting é notório, trabalhando com grandes talentos como Paul Giamatti, Adrien Brody, William Hurt, Samuel L. Jackson entre outros). A grande falha reside normalmente nos seus argumentos. São inegavelmente imaginativos mas após o êxito do twist final de O Sexto Sentido, tornou-se imperativo para Shayamalan repetir a surpresa em todos os seus filmes, na grande maioria das vezes sem grande nexo ou, como em Sinais e A Vila, a roçar o absurdo.Este Lady in the Water (A Senhora da Água na versão portuguesa) segue a marca do fantástico, mas num tom bastante mais próximo do conto de fadas. Com Paul Giamatti no principal papel e Dallas Bryce Howard (que retorna após A Vila) no title role, conta uma vez mais com um elenco sólido. Shyamalan está no entanto bastante mais suave, os elementos de medo são bastante atenuados em relação a titulos anteriores e consegue inclusivé introduzir toques de humor interessantes. O problema, uma vez mais, reside no argumento. Não que tenha um twist demasiado rebuscado no final, mas toda a construção dramática, todo o enredo é baseado num tanto faz que se torna incómodo, com novas informações a serem atiradas aos molhos e novas regras inventadas de repente. A sensação que passa é que, sem se preocupar com desenvolvimento de personagens, tensão dramática ou credibilidade, foi inventando um jogo como nos tempos de escola, faz-me lembrar quando de repente, em miudo, no meio de uma brincadeira gritava: "Agora eu posso voar e atiro raios dos olhos tá bem?" e pronto, estava assim introduzido um novo elemento. Esta ingenuidade divertida num jogo de crianças torna-se incredivel num filme, desligando emocionalmente o espectador daquilo que se passa no ecrã (e sem conseguir fugir, como é sua norma, a alguns buracos no argumento).
No final de contas A Senhora da Água é uma fábula terna, graciosamente filmada e com grandes interpretações, mas com um argumento fraco que não deve ser levado demasiado a sério.
1 comentário:
olha, q giro, fui precisamente ontem ver esse filme. saí de lá com a mesma impressão que tu: não fosse o grande elenco (avé Paul Giamatti), que nos deixa convencidos porque acreditam tanto, esta pequena-sereia-nouveau seria uma tanguinha...
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