The Pillowman
Esteve no Maria Matos, terminou domingo passado, a falta de tempo tornou mais urgente o visionamento, sábado à noite, primeiro balcão.
A primeira coisa que se notou foi que o teatro estava cheio de malta nova, facto a assinalar e louvar, a média de idades rondava muito abaixo dos 30.
Segundo facto a assinalar, o Maria Matos, apesar de renovado, não acredita na utilização de ar condicionado, o que torna a visita bastante mais dolorosa do que seria necessário.
The Pillowman é a última peça do premiado dramaturgo irlandês Martin McDonagh. Com um início kafkiano, a trazer à memória O Processo, conta a história de um escritor que está numa sala de interrogatório da policia, sem saber porque ali se encontra.
O texto é brilhante, a escolha de Tiago Guedes (que tinha realizado Coisa Ruim para cinema) não podia ter sido melhor. Tenso, surpreendente, inesperadamente cómico, é uma peça enorme, não na duração, mas na sua força, na sua escrita, na amplitude dos sentimento de induz.
Na encenação Guedes (que após um início em publicidade estudou cinema em Nova Iorque e Direcção de Actores em Londres) opta por um cenário negro, despojado, pensado para um propósito apenas, trabalho de actor. Mas, tal como o texto, tambem a encenação é surpreendente, e um cenário aparentemente simples demonstra ser versátil, complexo, com uma utilização do espaço, da luz e da cor muito inteligentes.
Se o texto precisa de actores a peça não se pode queixar neste capítulo, com Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, Marco D'Almeida e João Pedro Vaz, contou com um quarteto de actores que funcionaram como um coro sem solista, sempre afinado, no tom, capaz da exigência emocional que se impunha, mas sem deslumbrar.
O único ponto em que acho ter havido uma falha foi no excessivo tom cómico. Se a ambiguidade entre a força dramática da situação e a comédia da acção ou dos diálogos é um ponto a favor nesta peça (bem explícita aliás no texto), o tom leve foi, a espaços, levado longe demais.
Como realizador Tiago Guedes mostrou-se seguro, competente, preocupado em contar bem uma história, como encenador a marca de storyteller mantem-se.
Faz falta em Portugal alguem assim, que se preocupe com o texto e a melhor forma de o fazer passar, sem os tiques umbiguistas de pseudo intelectualismo que muitas vezes mina a arte representativa nacional.
5 comentários:
não foi o Tiago Guedes que escolheu a peça. ele estava sossegadinho no seu canto a fazer filmes, quando o Marco d'Almeida o foi desafiar com aquele texto... fonte: CARAS (nota-se que fui a casa da mamã este domingo?)
eu já te disse, mas torno a dizer: discordo contigo no que toca à prestação dos actores. brilham pela simplicidade e por se deixarem brilhar uns aos outros. para mim, o registo simples e naturalista é dos mais difíceis de fazer.
no que toca ao tom "demasiado" cómico... até compreendo, mas isso vai de espectáculo em espectáculo, o público recebe de maneira diferente, sempre. no "meu" dia, aquilo começou a pesar e as gargalhadas foram escasseando, salvas lá de vez em quando por um qualquer comic relief - sempre negro, mas comic relief
Ora só aí se prova que até na Caras se aprende alguma coisa...
pouca coisa... muito pouca coisa... :P
Realmente, um pouco leve demais para um assunto tão intenso. Mas eu achei brilhante!
"tiques umbiguistas de pseudo intelectualismo»?!?!?|! Estranha linguagem.....
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