sexta-feira, novembro 30, 2007
quarta-feira, novembro 28, 2007
Laitakaupungin valot
Aki Kaurismäki é um cineasta que, por minha falha, não conhecia. Finlandês multi-premiado com longa carreira, tem agora o seu último trabalho em exibição em Portugal: Luzes no Crepúsculo.
Um homem solitário vê-se envolvido num crime quando é seduzido por uma mulher fatal.
Fraude e génio, já ouvi dizer de tudo sobre este autor, o que vi não me seduziu mas também não me deixou indiferente. Kaurismäki filma com uma distância tremenda dos seus personagens, com uma frieza, um afastamento que se reflecte numa estética pouco naturalista, forçada, como se pintasse frios quadros de uma paisagem árida, crua, feia até. Não existe grande amor, ódio ou remorso, apenas gestos quase mecânicos, sentimentos que afloram apenas a pele e escorrem demoradamente para o chão.
Não existe uma beleza interior, nem paisagens idílicas, mas uma certa angústia apática, como se aceitasse tudo o que acontece com pálida indiferença.
É pelo menos curioso, merece mais do que apenas 3 pessoas numa sala.
terça-feira, novembro 27, 2007
Música da Semana
Ao ver o Across the Universe fiquei com uma vontade enorme de voltar a Beatles. Não esperei, fui à Fnac comprar o Sgt. Peppers Lonely Heart's Club Band. É o album mais marcante de uma época, de uma geração, e das peças de música mais influentes de sempre. Quebrou barreiras como nunca ninguem e poucos depois o fizeram, com a introdução de revoluções em termos estruturais, melódicos, temáticos, e até de produção num dos mais imitados e emblemáticos trabalhos que conheço.
Aqui fica a genial canção de encerramento, A Day in the Life...
segunda-feira, novembro 26, 2007
Mr. Magorium's Wonder Emporium
Chega a altura do Natal e os filmes com o target familiar começam a brotar por todos os lados. Apesar de ser um terreno tradicionalmente dominado pela Disney, estes últimos anos tem-se assistido ao surgimento de diversos filmes de outras casas a atacar este target. A Walden Media é uma das concorrentes com pretensões no mercado.
sexta-feira, novembro 23, 2007
Já cheira mal...
Across the Universe
Julie Taylor, realizadora de Frida, teve uma ideia, fazer um filme que tivesse como base a música dos Beatles. Assim nasceu o musical Across the Universe, que segue a história de um rapaz inglês que parte para os EUA à procura do pai, acabando por criar amizade com um grupo de americanos, no meio do turbilhão dos anos 60.
Across the Universe é um filme visualmente cativante, vivo, cheio de cor, um pouco alucinado até. Conta com um grupo de actores fantástico, de onde Evan Rachel Wood e Jim Sturgess
se destacam. Gosto de ver performances onde tudo é natural, onde ninguem parece estar a representar, e as coisas fluem naturalmente. A música, essa então dispensa apresentações, rodeia-nos, seduz-nos, faz viver o filme.
quinta-feira, novembro 22, 2007
3 em 5...
... dias uteis por semana. Agora são três ensaios semanais. O tempo começa a escassear, mês e meio não é muito, e o trabalho pela frente é ainda intenso. Mas a peça começa a tomar forma. Aos soluços, tropeções, a crescer lentamente, mas com um rumo que começa a parecer cada vez mais definido. Quando a mim, sinto-me mais à vontade no personagem, começo a saber, até mais instintivamente, as reacções do Garcin, o que pensa, o que sente.
10 de Janeiro, cada vez mais perto...
quarta-feira, novembro 21, 2007
3
No Sábado passado não houve representação, falta de público. Ontem só lá estávamos dois, mas mesmo assim avançaram com a performance.
Há ideias interessantes. Para começar, o próprio local, e o percurso que se faz até à "sala", o visitar de um espaço em decadência, como se sentisse a memória do edifício. Cénicamente, o sofá virado de costas tem impacto, as mãos e pés que ocasionalmente aparecem são visualmente bem conseguidas. O video de André Godinho é de uma crueza árida, uma estética Bergmaniana, e acaba por ser o centro da peça.
Mas a base, como sempre, é o texto. Este é um espectáculo de textos, declamados, sem actores visiveis (ou quase), sem narrativa, sem ilustração. É um diálogo entre o texto, o video e o espaço cénico. A representação destes textos, a leitura dos mesmos é um desastre. Os dois actores criam uma forma estéreotipada, oh tão teatral, tão repetitiva, monótona e gasta. Não consegui perceber os textos. As palavras eram atiradas ao ar, Deus nos livre mudar ritmo, entoação, Deus nos livre representar, sentir o que se está a dizer. Não. Há uma pré-concepção intelectual do que é declamar um texto em teatro, e aqui vai disto, uma hora inteira no mesmo registo. O mais grave é que este ponto destroi tudo o resto. A ambiência, o video, até a pequena surpresa final, cuja interpretação se perde. O que é que estiveram a dizer mesmo?
É pena, a ideia tinha potencial...
3
2 a 25 de novembro, de 3ª a domingo, às 22h
na R. do Poço dos Negros, 120
reservas 96 017 47 98 (das 14h às 22h)
terça-feira, novembro 20, 2007
In Rainbows
Com Ok Computer é firmado o estatuto mundial de culto de Radiohead. Para muitos o seu melhor disco, Ok Computer é uma vez mais uma evolução sobre o passado, num caminho electrónico, com odes geniais como Paranoid Android, num conjunto de músicas inovadoras que se ouve e (re)descobre vezes sem conta.
Eis que chega Kid A. Aí tudo rebenta. O caminho da banda encontra novos territórios, e se a experimentação é algo que os define, Kid A é um album marcante, de rupturas. Muitos fãs ficaram desiludidos, Kid A não tem um som fácil que fique no ouvido, mas é um dos grandes albuns da década.
Amnesiac. Para mim o expoente máximo de Radiohead. Quando o ouvi pela primeira vez pensei que tivessem perdido o juízo de vez. As ondas de rádio ficaram (com raras excepções) prácticamente arredadas deste disco, e com motivos, quase não há uma música que possa passar, quase nenhuma que se apanhe de ouvido, que tenha uma construção melódica simples. Mas com canções como You and Whose Army?, Like Spinning Plates ou Life in a Glass House, os Radiohead atingiram um nivel de absoluto génio, uma referência única, marcante no panorama mundial, asseguraram um lugar vitalício no panteão das lendas musicais.
Em 2003 o muito aguardado Hail to the Thief é lançado. Qual seria o passo seguinte para esta surpreendente banda? Foi um regresso às origens. Hail to the Thief é um belíssimo CD, mas é quase como se Kid A e Amnesiac tivessem sido apagados e este fosse o seguimento de OK Computer. Nada de mal, não é possivel reeinventar-se a cada passo, e Hail to the Thief é um trabalho sólido.
Este ano voltam à carga com In Rainbows. Para os fãs, quatro anos sem música nova custa um pouco a passar. E no lançamento do disco abanam toda a indústria, as músicas estão disponiveis para download no seu site, e cada um paga o que quer, podendo inclusivé não pagar nada. É o assumir definitivo a morte da forma tradicional de venda de música. Há também uma edição especial, carregada de extras, mais cara, para colecionadores. Pode ser o início de uma revolução. E a música? Bem, a música é do nível a que a banda já nos habituou. Parece que encontraram um local confortável, um tom, um estilo próprio, e que aí se instalaram para lançar sons de qualidade, com uma boa produção, intensos, mas sem surpreender, sem inovar, sem sair desse nicho que criaram para si próprio. Mas In Rainbows é um trabalho que merece uma escuta atenta, não desilude, apenas não inova. Afinal, um bom albúm é ou não é apenas um bom albúm?
segunda-feira, novembro 19, 2007
The Invasion
Oliver Hirschbiegel realiza a quarta adaptação ao cinema do seriado de Jack Finney, The Body Snatchers. A primeira foi o clássico de Don Siegel, The Invasion of the Body Snatchers. Digamos que à quarta, já não há nada de novo a acrescentar.
Uma mulher começa a desconfiar que as pessoas à sua volta estão a agir de uma forma estranha. Descobre que cada um começa a ser transformado numa outro ser, quando é infectado por um virus extra-terrestre.
Quando os produtores viram a o que Hirschbiegel andava a fazer com o filme, trouxeram James McTeigue, realizador de V de Vingança, protegido dos irmãos Wachowski, para remontar e até filmar novas cenas. O resultado final é morno.
O filme sustenta-se em Nicole Kidman, ela é o rosto e único atractivo da fita. Mr.James Bond, Daniel Craig anda por ali, mas sem muito que fazer. Quanto a Kidman tem um papel forte, de uma mulher perseguida em busca do filho, mas que se esgota nisso mesmo. A Invasão consegue criar, a espaços, momentos de tensão, algum medo, mas não traz nada, mesmo nada, que não se tenha visto já um milhão de vezes. Não se percebe por que carga de água é que se vai repescar algo tão velho, tão batido.
Das últimas noticias que chegam de Hollywood a maior é a greve de argumentistas, deixando paralisada grande parte da indústria de filmes e séries. Neste caso pode-se dizer que resolveram fazer greve com antecedência, colando pedaços de outras fitas.
Não chateia, mas também não entusiasma. Apenas para fãs de Kidman.
sexta-feira, novembro 16, 2007
American Gangster
Ridley Scott atingiu o pico no início da sua carreira, Alien e principalmente Blade Runner são até hoje o expoente máximo do trabalho deste realizador. Gangster Americano é, no entanto, uma entrada válida para a sua filmografia.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Rescue Dawn
O último filme de Werner Herzog ia-me escapando por entre as mãos. Em Lisboa está num punhado de salas, na maioria em horário limitado. No Monumental, por exemplo, já só tem uma sessão às 18h50.
Rescue Dawn - Espírito Indomável conta a história verídica de um piloto da Marinha americana que é abatido na sua primeira missão no Laos, no início da guerra do Vietname.
A temática "prisioneiro de guerra" já foi vista e revisitada em milhares de filmes, e o último esforço de Herzog não revoluciona o género. No entanto é interessante o olhar fechado, quase claustrofóbico, intimo que ele tem sobre os seus personagens (reais), sobre o seu lento decompor físico, não fruto de uma qualquer violência ou tortura, mas do passar do tempo e das condições de sub-nutrição a que foram submetidos. "A prisão é a selva" dizem entretanto, e descobrimos que é verdade. Pior que a prisão é a vida fora dela, no ambiente mais hostil que se possa imaginar.
Christian bale volta a ter uma performance de relevo. Tal como em O Maquinista, volta a trabalhar o seu corpo como se fosse plasticina, emagrecendo e degradando-se conforme o filme avança.
Forte, bem filmado, intenso, Rescue Dawn - Espírito Indomável não merece passar despercebido por entre a enchente semanal de estreias.
terça-feira, novembro 13, 2007
Sicko
O último filme de Michael Moore, Sicko, tem, uma vez mais, um alvo controverso: o sistema de saúde norte-americano, onde não existe um serviço nacional de saúde gratuito e igual para todos, e onde as companhias de seguros são rainhas e senhoras.
Música da Semana
hoje estou numa de revival. Por isso, à mistura com pastilhas Gorila, vou por a passar aqui Ozzy Osbourne. Na verdade, na altura em que ouvi Osbourne pela primeira vez, o ex-vocalista dos Black Sabath era ele próprio um revival de outros tempos. Foi a minha altura do heavy metal, não durou muito, mas como adolescente foi uma fase de descoberta.
Ora bem. Sem mais, aqui fica Ozzy ao vivo, Mamma I'm Coming Home...
segunda-feira, novembro 12, 2007
Elizabeth: The Golden Age
Em 1998, o filme de Shekhar Kapur Elizabeth foi das melhores surpresas que tive no ano. Principalmente pelo desempenho da, então ainda desconhecida, Cate Blanchett. A história era forte, visualmente bem filmado e a performance de Blanchett foi a melhor do ano (injustamente vencida no Oscar).
Quase uma década depois, a mesma equipa junta-se para Elizabeth - A Idade de Ouro, a continuação do primeiro filme. Desta feita estamos durante e era de Filipe, que ameaça Inglaterra com a sua Armada Invencível.
Para quê fazer outro filme? Kapur argumenta que não foi tudo dito no primeiro. É lógico. A vida de qualquer grande personalidade não se esgota em duas horas. Mas por essa lógica poder-se-ia sempre fazer segundas partes de qualquer biopic. Não chega. E na verdade o melhor teria ter deixado a rainha enterrada.
Cate Blanchett mantem-se ao seu melhor nível, parece que não consegue fazer um único papel que não esteja repleto de intensidade dramática. A fotografia é interessante, mas o problema é que Kapur não tem nada para dizer nem mostrar. Há Clive Owen, um Walter Raleigh convincente, há Geofrey Rush e Samantha Morton, mas não se notam. Há um filme de duas horas que parece ter três, um arrastar agonizante do tempo, sem que nada se passe e pouco se sinta. Há a sensação de dinheiro a rodos deitado ao lixo, principalmente na famosa batalha naval, em que pouco se percebe e o que se vê é irrelevante.
Elizabeth podia estar na idade de ouro, mas o filme é quanto muito de cobre...
sexta-feira, novembro 09, 2007
Mariza and friends
Ontem à noite Mariza deu um espectáculo num Pavilhão Atlântico lotado.
quinta-feira, novembro 08, 2007
The Brave One
É verdade que raramente vi Jodie Foster a fazer um mau papel. Muitas vezes vi bons filmes de Neil Jordan. Se juntarmos o realizador de Entrevista com o Vampiro e Jogo de Lágrimas, com a actriz de Os Acusados e O Silêncio dos Inocentes, o filme promete.
Uma mulher que faz um programa de rádio sobre a "vida" em NY, está noiva e apaixonada. Num passeio por Central Park com o namorado é brutalmente atacada por um gang. Ela fica em coma, ele morre. A partir desse dia vive em medo. Quando compra uma arma vê-se no papel de justiceira.
Como seria de esperar de um filme de Jordan, este não é um filme de acção, não é Charles Bronson de saias a matar “mauzões” rua fora. Esta é uma história sobre uma mulher que vive uma cidade, sente-lhe o pulso, respira-a e que, de repente, vê a sua vida ser-lhe roubada, virada do avesso, vê a sua cidade virar-se contra ela e mostrar-lhe um rosto que lhe era desconhecido, mostrar-lhe o que é viver com medo, saudade e dor. É dessa dor que emerge uma nova pessoa, mais fechada, mais dura, uma pessoa nova dentro do corpo da antiga. A amargura e confusão, o conflito entre as duas, as noções de bem e mal, certo e errado, amor e vingança, são o cerne deste filme.
Se Neil Jordan filma admiravelmente, se constrói um filme que se questiona a si próprio e nos obriga a questionar a nós mesmos, um filme intenso, pulsante, isso tem uma pedra basilar, Jodie Foster. A actriz tem aqui um papel incrível, pequena, indefesa, sente-se em cada gesto, cada olhar, a emoção vibrante, o nervo, o terror e o arrependimento. Foster abre o livro e explora cada faceta do personagem, cada camada, com uma contenção notável.
A Estranha em Mim é um dos grandes filmes em cartaz actualmente e não deve ser perdido por quem gosta realmente de cinema.
quarta-feira, novembro 07, 2007
Corrupção
Uma mulher de alterne apaixona-se pelo presidente de um clube de futebol e vê-se envolvida numa teia de abusos e corrupção.
O filme é um fracasso, a todos os niveis execpto o de bilheteira (por enquanto). João Botelho foi contratado para realizar este "blockbuster" nacional, e foi o primeiro erro. Botelho tem razões pessoais e familiares para fazer uma pequena vendetta, o que tolda a razão. Por outro lado, deve ser dos realizadores mais adversos a fazer este tipo de filmes, com um género de realização demasiado pessoal. Ao ver o filme que tinha em mãos, Valente tomou para si o direito de o cortar, remontar e encher de música, numa tentativa de o tornar mais comercial, ao estilo de um Crime do Padre Amaro, último filme do produtor, e enorme sucesso de bilheteira.
Em Portugal isto não é normal, mas Valente pediu dinheiro ao banco para fazer a fita, sem qualquer apoio estatal, e como tal tem que reaver o seu investimento. Isso obriga-o a mexer-se (e tem-se mexido muito bem), mas corta a liberdade dos realizadores, que têm que fazer um filme para o público. Botelho não gostou e não assinou o filme. Valente estreou-o na mesma.
Corrupção é um filme falhado. É filmado de uma forma pretensiosa, irritante, caricatural. O argumento é ridículo, nada faz sentido, nem a relação de "Sofia" com o Presidente, nem com o Polícia, nem a história episódica, sem ligação, desenvolvimento, nem coisa nenhuma. A espaços torna-se risivel, diálogos forçados, poses exageradas e prostitutas saídas directamente dos anos 70.
Ainda por cima é de tal maneira direcionado, tenta tão desesperadamente provar uma tese e ligado a Carolina Salgado, que transforma o personagem de Sofia em algo bidimensional, uma quase-super-heroína de cartão.
Quanto ao valor de choque é inexistente. A cena de sexo é metida a martelo, sem nexo, sem ser nem revoltante, nem sequer excitante, é só mal feita. Revelações nada, sabe-se mais lendo o Record, falha em todas as frentes, artisticamente, cinematográficamente e até em valor de entretenimento.
Não é um filme Botelho, nem é um Padre Amaro, não agrada a uns, nem a outros, é um zero.
Já o marketing, a venda, essa sim, é de primeira água...
terça-feira, novembro 06, 2007
Eureka
Ontem o ensaio foi curto, hora e meia quanto muito, mas teve um momento eureka. Tentámos pela primeira vez as duas irmãs no papel de criado e, apesar de ainda ser um esboço inicial, o que dali saiu teve imensa força, e imensa graça também. As duas gémeas, a falar em uníssono, como se fossem apenas um corpo, não só trazem uma qualidade arrepiante à cena, como tambem permite alguns momentos com imensa piada, que acontecem quase espontâneamente durante os ensaios...
Promete...
Música da Semana
Há muito tempo que não regresso a Tom Waits. Porque não hoje?
Esta semana, uma das vozes mais singulares do mundo, mr Tom Waits, New Coat of Paint...
segunda-feira, novembro 05, 2007
A Outra Margem
Desde cedo que o último filme de Luis Filipe Rocha me tem suscitado bastante curiosidade, pelo tema, pelo trailer, por aquilo que fui ouvindo nas últimas semanas.
Um travesti cujo namorado se matou recentemente tenta suicidar-se. A irmã vem visitá-lo ao hospital e leva-o de volta a Amarante, a terra onde nasceu, onde ele vai conhecer o sobrinho pela primeira vez, um rapaz chamado Vasco, que é mongoloide.
A Outra Margem é um filme tocante, vive de emoções complexas, mas é filmado com uma simplicidade que é, a espaços, desarmante. Não é, longe disso, um "caso da vida", um telefilme de domingo à tarde, Luis Filipe Rocha toca em pontos importantes em termos de tolerância, discriminação, amor, mas sem nunca resvalar para o fácil, sem caír num tom moralista nem puxar à lágrima. Acima de tudo cria as condições para que os actores contem a história. E que actores. Tomás de Almeida é tocante, Horácio Manuel e Maria D'Aires são equilibrados, mas quem realmente se destaca é Filipe Duarte, que é capaz de ter aqui o desempenho da sua vida.
A Outra Margem é dos filmes que prova que o panorama cinematográfico nacional está a mudar. O Milagre Segundo Salomé, Alice, O Mistério da Estrada de Sintra, entre muitos outros, são algumas das produções nacionais que se lembram que um filme é, antes de mais, um meio para contar uma história, e que essa história tem um público, o espectador. A Outra Margem é bem filmado, bem construído, delineado, emocional, muito bem representado e, antes de mais, pensado para ser visto, em vez de construído para o seu próprio umbigo.