O fim de semana da estreia
Sexta-feira, 11 de Janeiro, 21h30. As portas abertas, o público ocupa os seus lugares. À espera de entrar eu tentava dominar os nervos. Fútil esforço. De repente um pensamento assolou-me: as cadeiras. As cadeiras, que têm um papel central na peça, não estavam no sítio. E agora? O pano está aberto! Avisar alguém, seja quem for, rápido! A tensão aumentou, a desconcentração também. Quando a peça começa eu estava um caco. Ninguém me ouvia, tropeçava, tremia (e respirar como me lembrou depois a Sofia?) falhei texto. Uma deixa pendurada, e agora foram-se as palavras, embrulhei texto, saltei falas, escorreguei periclitante à beira do percipício. Para recuperar, para me equilibrar virei-me para o exagero. Tenho uma tendência natural para o over-acting, neste caso foi catastrófico.
No final toda a gente feliz, estreámos. Eu tirava a maquilhagem da cara e nem acreditava no que me tinha acontecido.
Sábado, 12 de Janeiro, 21h30. As portas abertas, o público ocupa os seus lugares. À espera de entrar eu dominava os nervos. As cadeiras estavam no seu sítio. Mais calmo, controlado, consegui descer o tom, vencer o medo, o texto saíu, o resto também. Com problemas? Sim, muitos, o ritmo desceu, o tom monocórdico foi demasiado usual. Para controlar alguns problemas acabei por criar outros.
No final toda a gente estava desolada. A peça tinha corrido mal a todos. Eu tirava a maquilhagem da cara a sorria. Apesar de diversos problemas, tinha conseguido dominar alguns dos que me tinham perseguido durante o dia anterior e até alguns dos ensaios.
Precisávamos de mais tempo. É a diferença entre profissionais que dedicam o seu dia ao teatro e nós que dedicamos algumas noites, cansados, doridos, dormentes.
Mas queixo levantado, o espectáculo está lá, o texto é bom, os figurinos são excelentes, temos actores fantásticos que têm momentos muito bons, e o palco continua sempre a fascinar-me. Só queria ter mais tempo, mais ensaios, mais espectáculos, mais experiência, mais talento, mais teatro...
4 comentários:
e os duendes????
Eles "andem" aí...
os nervos, os nervos!
no final, vais rir dessa estreia...
;)
abraço
querias tu passar do 8 para o 80 sem passar pelos restantes 72 degraus?
já te disse que andaste foi sempre a ter tudo em bandeja de prata.
aqui, como toda a gente, tens de suar fininho e tem de te correr muito mal, e tens de te vencer a ti próprio, à tua auto-estima e falta dela, e superar obstáculos que te são postos pelo trabalho de grupo, pela falta de controlo do TODO.
mas no segundo dia já apanhaste as rédeas da coisa. já percebeste as reais dimensões infinitas que o teu caminho pode tomar.
é continuar a moldar. quando achares que estás a chegar lá, a peça acaba. é sempre assim. :P
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