quarta-feira, abril 09, 2008

The Mist

Há um género cinematográfico que tem uma particularidade, existe em si mesmo. Esse género é o terror. Passo a explicar, os filmes são (maioritáriamente) histórias. Uma narrativa, personagens, emoções. O rumo dessa história leva-nos a classificar esse filme num (ou vários) géneros. No entanto um drama não é um filme onde se chora do primeiro ao último minuto, uma comédia não é necessáriamente um filme onde cada cena é pensada para fazer rir. Os filmes de terror são normalmente um caso à parte. A história, quando existe, está lá para criar tensão, os personagens não são desenvolvidos, as cenas são apenas um set-up para o próximo susto. Lembro-me dos comentários de Victor Salva, realizador de Jeepers Creepers (um dos grandes filmes de terror da década), que foi criticado por fãs do género pelos primeiros cinco minutos do filme, onde os dois irmãos (protagonistas da história) conversam no carro antes de encontrarem o ser que os vai perseguir o resto do filme, numa tentativa de desenvolver os personagens e criar ligações entre eles e o espectador.
Eis que chega The Mist - Nevoeiro Misterioso, último filme de Frank Darabont baseado num conto de Stephen King. Para os mais distraídos esta pode ser uma escolha estranha, Darabont realizou Os Condenados de Shawshank e The Majestic, uma temática longe do universo do terror. Mas das quatro longas metragens que realizou até agora, três foram baseadas em contos de Stephen King (entre os quais o referido Shawshank), e a única curta em carteira é também baseada em King. A ligação entre o realizador e o escritor é antiga .

The Mist - Nevoeiro Misterioso conta a história de um grupo de pessoas de uma pequena cidade americana, se vê presa num supermercado local, rodeada por um nevoeiro que traz consigo seres horriveis.
Darabont não é um realizador de filmes de terror, é um realizador de filmes, aliás de dramas emocionais. Aqui faz o mais surpreendente filme de terror em muitos anos. As relações entre os personagens, fechados naquele espaço é muito bem conseguida, as relações de poder, a reacção ao medo, ao fanatismo, à familia, as alianças e rivalidades que se criam. O que acontece às pessoas quando são colocadas em situações extremas? Para isso conta com um grupo de actores coeso, com prestações fortes (intensa Marcia Gay Harden), e um argumento tecido com cuidado. Mas eis que chega a parte do "terror" (é um filme de terror claro), a tensão é criada com uma mestria impar, ao lado dos maiores (vide a cena em que uma mãe sai para o nevoeiro para ir ter com os filhos) deixando o espectador literalmente à beira do assento. O pior são os efeitos especiais, quando os monstros aparecem (e infelizmente aparecem bastante) são feitos em computador, falsos, baratos, e isso estraga por muitas vezes a acção do filme.
Na verdade, The Mist atinge o seu expoente máximo nos últimos vinte minutos, que se destacam de toda a história e de toda a narrativa no universo do horror.
O melhor é acabar com os superlativos, a expectativa demasiado alta estraga o filme, e as opiniões sobre o valor da fita dividem-se. Para mim, encheu-me as medidas.

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