quinta-feira, abril 03, 2008

Turismo Infinito

Estreou no Porto, esteve no D.Maria em Lisboa onde o perdi, voltou ao S.João, casa-mãe. De passagem pelo Porto tive a sorte de poder ver este Turismo Infinito e colmatar uma falha pessoal, não tinha até então entrado no Teatro Nacional de S. João.

O S. João por si só vale o bilhete. O pequeno teatro restaurado é um regalo para a vista, dá vontade de lá ver e mais ainda de lá actuar, naquele palco. Tudo o que viesse a seguir era bónus. Foi um bom bónus.
Turismo Infinito é uma peça baseada em textos de Pessoa e Bernardo Soares, Álvaro Campos, e Alberto Caeiro, três dos seus mais conhecidos e marcantes hetrónimos. Três cartas de Ofélia Queiróz marcam também presença no espectáculo.
A primeira coisa que salta à vista é a cenografia, brilhante espaço desenhado por Manuel Aires Mateus, que, em conjunto com um desenho de luz eficaz de Nuno Meira, constroem uma ambiência particular, fria ou intimista, envolta em mistério ou dor, dia e noite, servindo os actores com um espaço amplo, mas ao mesmo tempo claustrofóbico onde actuar.
Começa a peça, José Eduardo Silva é Bernardo Soares, o texto tirado do Livro do Desassossego. Pessoalmente foi fatal para o actor a comparação com o mesmo texto que vi em Do Desassossego na Comuna com Carlos Paulo. Tudo estava correcto, bem dito, bem feito, mas notava-se a preocupação de dizer bem Pessoa e assim foi feito. Na outra peça vi alguém a representar Pessoa, o confronto foi inevitável. Mas essa mal era meu, nada a apontar à performance correcta. Destaque veio pouco depois em João Reis, com um Álvaro Campos intenso. Para mim a grande surpresa foi Emília Silvestre, com momentos a roçar o brilhantismo. De uma forma geral peca o colectivo de actores apenas por um tom algo monocórdico, quase todos encontraram um tom do qual se não desviaram prácticamente a peça inteira.
Ouvir Pessoa vale sempre a pena. Este espectáculo leva os seus textos um pouco mais longe. Vale bem a visita.


Turismo Infinito

De: António Feijó

a partir de textos de: Fernando Pessoa e três cartas de Ofélia Queiróz

Encenação : Ricardo Pais

Interpretação: João Reis, Emília Silvestre, Pedro Almendra, José Eduardo Silva, Luís Araújo

Dispositivo Cénico: Manuel Aires Mateus

Figurinos: Bernardo Monteiro

Desenho de Luz: Nuno Meira

Sonoplastia: Francisco Leal

Até 12 Abril 08

Quarta a Sábado 12h, Domingo 16h


TeatroNacional S. João

Praça da Batalha - Porto

Telefone: 800-10-8675

Sem comentários: