quinta-feira, outubro 30, 2008

Eu até gosto do rapaz...


... sim confesso, costumo ler as Divinas Comédias do João Pereira Coutinho e até acho piada ao moço, com as suas mini-crónicas semanais no Expresso em que aborda tudo o que é tema com o seu tom ó-tão-leve e espirituoso.

Esta semana no entanto, talvez fazendo jus à capa da revista, o moço foi ao fundo.

Criticou as iniciativas de António Costa para remover os grafitis do Bairro Alto comparando-o, com uma impressionante falta de bom gosto, a uma favela. Mas começou a crónica a dizer que não frequenta o Bairro. Não frequenta mas opina... parece-me bem...

Em seguida, por causa de Obama e de um amigo que comprou uma t-shirt de apoio a John McCain, afirma que "a esquerda" tem uma "arrogância moral" e que "o pluralismo não entra na cabeça de uma esquerda moralista e intolerante". É sempre bom saber que o mundo se divide entre os intolerantes e os outros, entre os de esquerda, dogmáticos, cegos, anti-democráticos até, e as gentes sérias e com "sentido de humor" da direita. Ora aí está uma posição de alguém sem réstia de arrogância moral, uma posição nada intolerante e descriminatória... parece-me bem também.

Mas o melhor guardou para o fim. Segundo Dennis Sewell, jornalista da BBC, católico conservador e cronista na Spectator, a culpa da crise do subprime não é de Wall Street, nem dos capitalistas, nem da falta de regulação, nem da ganância mas sim... de Bill Clinton e dos pobres. Passo a explicar, na década de 90 Clinton pressionou a banca a dar crédito a pessoas com maiores dificuldades financeiras e instarou fortes medidas de prevenção de atitudes discriminatórias racistas. Em consequência entre 1994 e 1999 "dois milhões de negros e latinos compraram o seu próprio ninho". Ora "os bancos, pressionados, limitaram-se a baixar as orelhas"... coitadinhos. Conclusão brilhante: precisamos é de MENOS regulação e a culpa é dos "negros e latinos"... Para um homem de mente aberta e não dogmático é obra. Acreditar que o único culpado de uma crise financeira mundial são os "negros e latinos" americanos, apoiados pela administração Clinton e que os bancos são as vitimas faz lembrar a bela cegueira soviética! O comunismo, em teoria, funcionava, os seus principios de igualdade são inatacáveis. No entanto parte do pressuposto que o ser humano se transformaria e trabalharia de boa fé para o bem comum, que a tirania, a ganãncia e a preguila seriam não-existentes. A fé cega no dogma do mercado é exactamente igual à fé cega no dogma socialista. No papel tudo funciona, mas o elemento humano é imperfeito, as empresas são constituidas por pessoas que pensam em primeiro lugar no seu bem estar próprio e não na eficiência empresarial. Falta de informação, riscos desnecessários, visão de curto prazo, lobbys, carteis, tirania empresarial, ganância, má-fé, abuso de poder, são tudo elementos que existem e deturpam a beleza da economia de mercado. Daí a necessidade, como em tudo na vida, de controlo, dos tais "checks and balances" que suportam a democracia. Para cada governo há um parlamento, para cada parlamento um presidente da república, para cada presidente tribunais e por aí fora. Os bancos não são vitimas, são culpados. Não esquecer que desde 2000, há 8 anos, que nos EUA temos presidência conservadora republicana e nada foi feito para corrigir os "crimes" de Bill Clinton. E não me venham falar do Congresso, porque os Republicanos têm tido a maioria desde 1997 a 2007, excepto no periodo 2001-2003 com maioria repartida.
Esta fé dogmática de João Pereira Coutinho no Mercado é tão tão... sei lá... marxista-leninista... carregada de uma tão grande... "arrogância moral"...

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