segunda-feira, outubro 06, 2008

Gomorra

Baseado no best-seller de Maurizio Braucci e galardoado com o Grande Prémio do Júri em Cannes (uma espécie de segundo lugar), Gomorra chegou a Portugal na senda do sucesso de filmes como Tropa de Elite, retratos de uma realidade brutal, desconhecida para a maioria das pessoas.

A particularidade de Gomorra é que não se passa noutro continente ou num país distante, aquilo que vemos é em Nápoles, mesmo aqui ao lado, são euros nas mãos dos traficantes, o que se traduz num sentimento de proximidade perturbador.

O filme de Matteo Garrone deambula entre vários personagens, peões numa realidade que os ultrapassa, da qual não podem, e muitas vezes não querem escapar.

Violento e directo, não se coíbe de mostrar, de uma forma fria, o incrível submundo da droga e do crime, longe da visão tradicional de uma mafia organizada em familias, onde a honra ainda e os laços de sangue são ainda pedras basilares, Gomorra imerge-nos num mundo onde tudo vale, onde crianças são postas na linha da frente, onde apenas o dinheiro manda.

Garrone tem uma visão quase documental de tudo o que se passa, não só na forma, camera ao ombro, mas principalmente no distanciamento que cria das pessoas que retrata. Flutuando entre os vários personagens, nunca conseguimos realmente sentir uma ligação afectiva, passando por todo aquele horror como pelas noticias da noite, sem lágrimas nem sobressaltos, apenas uma sensação de pasmo.

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