segunda-feira, março 05, 2007

OPA? Oh, pá!


Uma das notícias mais importantes do fim-de-semana foi o resultado da assembleia-geral de accionistas da PT, que votou contra a desblindagem de estatutos (nos quais está expresso que nenhuma entidade pode possuir mais de 10% da empresa) pondo assim fim à OPA lançada pela Sonaecom. No Sábado, enquanto fazia as compras do mês num supermercado Sonae resolvi comprar o Público para ler sobre o assunto. Foi então que me ocorreu que este jornal era dos mesmos donos do hipermercado onde me encontrava, achei por bem comprar o DN, para ter um termo de comparação entre para a forma de tratamento da notícia. Se fosse há uns tempos atrás seria mais curioso ainda, visto o DN ter sido da PT, aí o confronto seria directo. Não achei que os irmãos Oliveira tivessem motivo para puxar por um lado ou pelo outro e portanto avancei com a compra dos dois jornais. A comparação foi incrível.
Começando logo na primeira página o título do DN lia "Era uma vez uma OPA" e o do Público "OPA sobre a PT bloqueada por um terço dos accionistas e cumplicidade do Governo"A partir daqui o Público partiu na defesa da tese de que o Governo bloqueou a OPA na secretaria e que uma minoria dos accionistas impediu que a maioria se decidisse. O pináculo chegou no editorial de José Manuel Fernandes em que, com um tom de dama ofendida, levou esta tese ao extremo: A CGD votou contra a desblindagem dos estatutos, logo, foi manipulada e controlada pelo Estado, numa cabala contra a Sonae. Estranha tese esta em que se afirma: são independentes se votarem como eu quero, não são se votarem contra. Repetiram uma e outra vez que 46,58% dos accionistas presentes votaram contra e que isso representa menos de um terço do total, indignados contra este estado de coisas. Esqueceram-se de alguns, pequenos, pormenores. Em primeiro lugar os estatutos da PT não foram bloqueados por causa da Sonae, já o eram antes de haver qualquer OPA, e que quando a decisão da OPA foi tomada já se sabia o processo necessário para os desbloquear. Em segundo lugar, quem os podia desbloquear eram os accionistas, os tais que foram "impedidos" de decidir no mercado, foram os mesmos que na maior assembleia geral da história da PT, votaram maioritariamente contra. Se o Público acha que poucos votaram contra, então que dizer da minoria que votou a favor? Sim, porque virando o bico ao prego, temos que apenas 43,9% dos accionistas presentes votaram a favor da desblindagem. O que dá que apenas 29,4% do universo global de accionistas votou a favor da desblindagem, todos os outros votaram contra ou se abstiveram (33% dos quais se abstiveram não comparecendo). Não foi o próprio José Manuel Fernandes que disse "...para desbloquear os estatutos da empresa uma abstenção corresponde, na práctica, a um voto contra"? Pois foi o que os accionistas fizeram... votaram contra. Ou seria uma minoria a dizer que a OPA devia avançar? Em terceiro lugar é preciso dizer que mesmo que a CGD votasse a favor da desblindagem a OPA cairia. A verdade é que a Sonaecom não encontrou o número necessário de apoiantes ao seu projecto dentro do universo dos accionistas, e os cerca de 5% da CGD eram insuficientes para que a balança pendesse para o outro lado. Culpar o Governo é desculpa de mau perdedor.
Mas o que é incrível no meio disto tudo é o ar de parcialidade do Público, um jornal que continua a perder dinheiro para o seu patrão e que parece agora querer tornar-se útil para quem o sustenta. E é de tal maneira óbvio que é este o tom do tratamento da notícia que José Manuel Fernandes precisou (antes que alguém o acusasse) de se justificar, dizendo no fim do seu editorial que o facto do Público ser detido pela Sonae e de ele próprio ter acções da Sonae em nada altera o que escreve. Pois se ele não consegue ler nada na opção de voto da CGD para além de uma ordem do Governo, também se torna difícil ler algo nesta edição do Público que não soe a frete ao patrão.

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