sábado, abril 28, 2007

Iklimler

Iklimer (Climas), é a quarta longa metragem (segunda a chegar a Portugal a seguir a Uzak - Longíquo), do cineasta turco Nuri Bilge Ceylan. Foi a minha escolha para hoje passar esta fresca tarde de sábado a tentar recuperar o (longo) atraso que tenho em relação aos filmes em cartaz. Escolhi esta obra particularmente por ter sido abundandemente aclamada pela crítica em geral, o que me aguçou a curiosidade de me aproximar de uma cinematografia que desconheço. Li muita coisa, diversos adjectivos, e foi tal a coro de vozes (ou letras neste caso) que sabia não poder falhar.
O filme conta a história de um casal que se separa, reencontrando tempos depois sem se reconciliar. E pronto. É isto. É um filme lindíssimo, sem dúvida, visualmente envolvente, com uma fotografia soberba. Mas é de tal maneira minimalista, de tal maneira reducionista, que se desvanece em nada. Planos longuissimos, câmara parada, personagens que não se movem, não falam, não evoluem, não existem, não interessam, não coisa nenhuma. Fumam e observam. Observam e fumam. Contemplativo até à exaustão, que me deixou a precisar de reanimação após tanta contemplação junta. Tudo demora uma eternidade, e para um filme de hora e meia parece não terminar.
A crítica fala-me de Tarkovski, de Antonioni, de "um timbre minimalista-impressionista e a sua visão espectral do mundo", de "um longo plano único de uma voracidade impressionante". O que ninguém me falou foi do enorme bocejo, do vazio narrativo, emocional, da passagem de um filme quase a um albúm de fotografias.
E cada vez mais sinto que a crítica está a falar sozinha. Pelo menos comigo começa a falar cada vez menos.

4 comentários:

Ander disse...

Ó rapaz, então, não percebeste nada?
Não se diz nada porque não à nada para dizer, está tudo dito. Tudo o que aquelas duas pessoas tinham para dizer um ao outro, já o disseram.
Os planos não são contemplativos, são ilustrativos daquela relação. É o sol a queimar e o frio gélido.
E sim, é minimalismo conseguir que um plano de uma avelã no chão, simbolize a relação de poder entre um homem deseperado e uma mulher dormente (eu queria dizer "numb", mas não encontro melhor tradução)

Devias fazer como eu, primeiro vês o filme e depois lês as críticas. Aliás, devias mesmo era cagar nas críticas.

Aconteceu-me uma coisa terrível neste filme, fui vê-lo à tarde ao Monumental, que está em obras e por isso de vez em quando ouvia brocas e merdas do género, o que num filme silencioso é bastante distractivo. Estive muitas vezes para sair, mas não consegui. Fiquei preso naquela tensão que se sente durante todo o filme e que só se mostra de uma maneira violenta na cena de sexo.
E pronto, o filme até me pareceu curto.

um abraço, rapaz.

MPR disse...

Pois... Aqui vamos ter que discordar. Há uma diferença entre os personagens não terem nada para dizer um ao outro e o filme não ter nada para dizer. Há momentos, cenas, planos, que parecem existir apenas por existir, sem que isso acrescente ou diminua seja o que for à narrativa, à tensão, ao delinear do personagem ou à emoção que se quer transmitir.

Ander disse...

Todos os planos dela têm o peso do final inevitável de uma relação. O peso de não aguentar estar com a pessoa que ama.

Todos os planos dele têm o peso de ele não saber o que fazer com a vida dele, porque mesmo sem deixar de a amar, ele não consegue deixar de ser um cabrão.

Todos os planos da outra definem-no a ele.

Por isso nenhum plano está a mais.

(Ainda por cima tudo isto ganha uma dimensão perversa, quando sabemos que o gajo é o realizador, e ela a sua mulher)

MPR disse...

É o realizador e a mulher, e aí o livro abre para todas as análises que se queiram fazer. Mas só os dois sabem que dimensão é que isso tem (ou se tem alguma). Quanto a todos os planos... uma vez mais vamos ter que discordar. Para conseguir argumentar ia ter que rever o filme contigo, pará-lo momento a momento para ilustrar o que quero dizer. Mas, por exemplo, não é preciso uma camera fixa durante dez minutos num jantar em que nada se diz para que sintamos a distância e a agressividade entre aqueles dois. O tempo arrasta-se sem acrescentar nada, ao fim de dois minutos já se tinha percebido.