quinta-feira, abril 26, 2007

Indie Report - O Garoto de Charlot by Coty Cream


Uma das acções interessantes do Indie deste ano foi a passagem do clássico de Chaplin, O Garoto de Charlot, pedindo aos Coty Cream para fazer a música que o acompanha. A banda sonora é um aspecto fundamental em qualquer fita, mas num filme mudo a música ganha um relevo ainda maior. Não é a primeira vez que uma acção deste género é efectuada, lembro-me de há pouco tempo os Clã terem musicado o Nosferatu, sessão essa que infelizmente não consegui ver.

O filme estava indicada pelo festival ser para todas as idades, e em abono da verdade foi isso que aconteceu, dos 2 aos 80 (literalmente) o público foi o mais variado que vi em qualquer sessão do Indie até hoje. Do The Kid pouco há a acrescentar, terno, divertido, é um clássico Chaplin, apesar de não estar ao nivel de por exemplo um Luzes da Cidade ou um Tempos Modernos.

O problema esteve exactamente naquilo que a sessão tinha de interessante. A música. É boa ideia misturar música actual com um filme com mais de oito décadas, mas essa música tem que estar ao serviço do filme, e não existir por si só. Os Coty Cream podem ser uma excelente banda, mas ali estão a musicar uma fita. Ou seja, têm que dar os tempos, os cortes, as emoções do filme. Não podem passar uma cena inteira sempre com o mesmo som, não podem passar de personagem em personagem sem alterar nada, não podem acompanhar uma perseguição cómica como se de David Lynch se tratasse. O trabalho de um músico de cinema é estar ao serviço do filme, e isso implica concessões. É tramado mas é assim mesmo, e em muitos momentos os Coty Cream trabalharam contra a história. A nota certa, o tom certo, a música certa faz ou destroi uma cena, acentua as emoções ou afasta-nos completamente, basta ver por exemplo o efeito que a banda sonora de Carpenter tem em Halloween (foi aliás o próprio que disse que sem a música o filme não conseguia meter medo). Mas não é só no género terror, é em todo o cinema. E aqui foram mais as vezes em que apetecia que parassem de tocar do que as vezes que ajudaram aquilo que se passava no ecrã.

Foi uma experiência que não correu bem, mas sem dúvida para repetir.

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