segunda-feira, maio 14, 2007

O Mistério da Estrada de Sintra

Em 1870 Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão começaram um folhetim no Diário de Notícias, sob a forma de cartas enviadas à redacção, em que relatavam uma trama envolvendo traição, ciúme, morte e a alta sociedade lisboeta. A princípio houve quem achasse que as cartas eram reais, havendo inclusivé investigação policial ao sucedido, mas no fim do Verão já Lisboa sabia que se tratava apenas de um folhetim. Seria?
O Mistério da Estrada de Sintra é um filme habilmente construido, que relata o a conhecida obra, mas também a sua escrita, saltando entre os dois mundos, pondo a hipótese da ficção ter um fundo de verdade, que os próprios escritores desconheciam.
Este é um filme invulgar no panorama nacional. Com uma reconstrução de época irrepreensivel, habilmente disfarçando as suas próprias limitações, O Mistério da Estrada de Sintra transpira competência em todos os departamentos técnicos. Fotografia irrepreensivel, uso inteligente do som, cenários e figurinos impecáveis. Tal competência, não sendo o cerne de um filme, é um factor fundamental para o conseguirmos apreciar, e extende-se à dobragem de Bruna di Tulio, brasileira de nascença, que teve a voz emprestada (grande trabalho) por Carla Chambel. Tudo funciona como deve, os momentos de tensão, de erotismo, os diálogos e o trabalho de actores - em grande Ivo Canelas e António Cerdeira - que não deve nada a qualquer fita em cartaz.

Cinema comercial no seu melhor, um estandarte na luta contra a imagem típica da cinematografia lusa, como algo feito a olhar para o próprio umbigo, pequenos reinos vedados ao exterior onde os realizadores depositam as suas frustrações intelectuais.
Mais prova que o cinema português feito a pensar no público, não se limita a padres imberbes com o cio ou a filmes da treta.

3 comentários:

polegar disse...

tás-me a falhar! então a parte do "é boa como o milho"?! que raio de crítica isenta é esta que não aborda todas as frentes? hum??? :P

MPR disse...

Tens razão, a Bruna di Tulio é boa como o milho e a Gisele Itié (parafraseando o filme) é um tigre de bengala. Está corrigida a lacuna.

Ana A. disse...

Mas alguma coisa contra padres imberbes com o cia e filmes da treta?
Só vi o primeiro, mas o cio do padre até era algo com qualidade. Não era um cio qualquer não senhor!