O Tempo Parado
No Expresso deste sábado, dia 30 de Junho, vinha uma crítica de página e meia com fotografia a três quartos intitulada "O Tempo Parado". A crítica de João Carneiro, referia-se à peça Quando o Inverno Chegar de José Luis Peixoto, encenada por Marco Martins. Abria com grande pompa a secção de teatro do Actual, suplemento cultural de tão afamada publicação.
Não tenho nada a dizer sobre a opinião de João Carneiro, que certamente será tão fundamentada quanto possível, e digna de todo o respeito que o seu (suponho extenso) conhecimento de teatro merece. Para além das parangonas, da excelente fotografia e da crítica em si, chamou-me a atenção um pequeno detalhe. Dizia no canto inferior esquerdo da página, "no S. Luiz, termina hoje". Termina hoje... Sem esforço de memória sei que pelo menos há um mês que ouço falar nesta peça, pelo menos há um mês que a reservo no baú etiquetada "a ver", mas que, infelizmente, não tive oportunidade de visitar, tais são os constrangimentos das simples 24 horas que o dia oferece. Pensei que se calhar João Carneiro também terá o seu calendário deveras ocupado, e não terá tido tempo de ir ao S.Luiz mais cedo, até que me lembrei: o senhor é profissional da coisa, é o trabalho dele ir a estes eventos, ao contrário de mim e muitos mais que o fazem apenas por gosto. Não se pode ver tudo poderão argumentar, mas sejamos honestos, quantas peças estreiam por semana em Lisboa? Pensei eu com os meus botões, não deveriam estes senhores ir à estreia? Não deveriam escrever, já não peço no dia seguinte, pelo menos na semana seguinte? Para que serve algo escrito, com tanta pompa e circunstância, se o espectáculo termina no dia em que o texto é publicado. Li-o apenas no Domingo, de que me serviria então a opinião do senhor João Carneiro? Não será isto gozar com a cara e o trabalho de Marco Martins, Gonçalo Waddington, Nuno Lopes, Dinarte Branco e Beatriz Batarda? Mas assim vai a crítica de teatro em Portugal, sem nexo, sem tino, sem sequer se perceber o que carga de água lá andam a fazer estes senhores.
Mas escrevem e pagam-lhes...
5 comentários:
tem sido costumeiro os criticos irem nos ultimos dias. nao me perguntes porque, mas pronto... sei de uma peça cuja critica (do mesmo Joao Carneiro) saiu na semana depois de acabar o espectaculo... util. seria so para picar o ponto?
a critica especializada tem cada vez menos espaço e, convenhamos, menos peso quanto ao publico geral. mas isso sao outros campeonatos onde se gastariam horas a desfiar os problemas da separaçao publico-critica-gostos-etcs...
mesmo assim, achariam espantoso o quanto pesa a (parca) opiniao destes senhores na auto estima da equipa artistica.
coisas que fazem pensar...
besos
eu também não cheguei a ver a peça, mas hoje sopraram-me que vai repôr no início da nova temporada. Pode-se então ver a crítica do carneiro de uma de duas formas; publicou a crítica demasiado tarde ou demasiado cedo. Provavelmente ambas. Mas ficou o afago ao ego, não é para isso que eles lá estão?
A crítica não está lá para afagar o ego aos artistas. Nem para os atacar. Existe como opinião especializada para que as pessoas em geral saibam o que determinado "entendido" acha sobre uma peça, um filme, um livro, o que seja. Se essa opinião surge numa altura em que a pessoa não pode ter acesso à obra em questão então passa a ser um trabalho no vazio, de si para si mesmo, ou para o tal afago aos artistas, transformando o crítico num ser despojado de propósito, a falar cada vez mais sozinho ou com o seu grupito muito restrito. Ora para falar com o seu grupinho existem telefones, chat rooms, messenger, blogs vá...
talvez não tenha percebido o sentido irónico que dei à pergunta com que rematei o meu comentário.
Crítica de arte, seja teatro, cinema, música, literatura, pintura,dança, etc, serve para que determinadas pessoas, especialistas na matéria, ajudem a ler o que ali se passa. E que levem (ou não, mas isso já é outro ponto) as pessoas a terem pelo menos curiosidade e vontade de a desfrutar. Uma crítica publicada no dia anterior à saída de cena de uma peça tem muito pouco essa função, logo serve apenas para marcar o ponto. No afago do ego, claro. Que mais?
como vê, estou de acordo consigo. Usava apenas de uma figura de estilo que me é muito cara.
É o problema do contacto escrito, por vezes não se percebe a entoação que a pessoa quer dar às coisas, muito menos com alguém que não conhecemos. No harm done, fica reiterada a posição de ambos. :)
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