terça-feira, abril 10, 2007

The Namesake

Último filme de Mira Nair (Vanity Fair, Monsoon Wedding) é baseado no livro de Jhumpa Lahiri, escritora que venceu o Pullitzer em 2000. The Namesake (O Bom Nome) conta a vida de uma família indiana que se mudou para Nova Iorque, dos laços que desenvolveu, dos costumes, das ligações familiares e da adaptação a um novo mundo. É uma história lindissima, um tecer lento de relações, de sentimentos, da construção de intimidade, amor, mas também do confronto geracional, de um filho que não sabe, não quer, reconhecer a sua identidade, a sua raiz cultural, e que faz uma lenta descoberta de quem é. No entanto, se alguém há a destacar é a mãe, o filme no fundo é sobre ela - soberba interpretação de Tabu, vedeta indiana desconhecida nas nossas bandas - desde os tempos de rapariga solteira atravessando mais de vinte anos da sua vida, a sua evolução, as suas dores e a sua força.
É um filme emocional (preparem os lenços), dos mais comoventes que vejo nos últimos anos, de uma delicadeza e sensibilidade que ultrapassa os clichés do drama. Aliás a tragédia não existe, apenas a vida nas suas sombras e recompensas.

Há muito tempo que um filme não me tocava desta maneira. Já sentia falta...

2 comentários:

disse...

Tb vi o filme e adorei.
Coincidência, pois tb gosto muito de Nitin Sawhney.
Um abraço

Anónimo disse...

Tinha que voltar aqui. Era imperioso! A promessa da excelência que o teu comentário deixou criou uma enorme expectativa. Gorou-se a expectativa? Talvez, nalguns aspectos de menor importância. E no entanto...
Pois. No entanto, atrevo-me à revelação intimista que por vezes critico quando feita em lugar público como um blog. Deixo para ti as considerações objectivas e a análise crítica do filme, pois são águas em que nem sei navegar. Mergulho sem máscara nas profundezas das emoções suscitadas pelas imagens que desnudaram, peça a peça, algumas das minhas paixões.
Há qualquer coisa no olhar revelado pela câmara que fez dos olhos de quem via os olhos meus. Uma janela gradeada de um hospital, uma senhora idosa encostada no balcão de uma varanda de pedra trabalhada, árvores de cores inenarráveis, duas torres brancas e verdes sobre os telhados e fios de uma cidade. A estranha beleza, pela primeira vez encontrada, dentro da miséria adivinhada das ruelas de Calcutá. Uma ponte sobre o Ganges. O cantar da mãe, e do homem que passa num barco, enquanto à beira do rio a família se reúne com as cinzas do pai que parte; vozes que trespassam o ser, se instalam na alma e roubando a respiração, soltam um caudal de lágrimas.
A paleta de corres vivas e radiantes dos cenários e do guarda-roupa. E estou tentada a dizer o aroma das especiarias que adivinhamos em cada prato...
Tudo isso e muito mais nos desperta para a sensibilidade revelada em cada imagem e na música da minha predilecção que o Nitin tão bem sabe colher das suas raízes.
E, sobretudo, uma outra imagem, a da cor vermelha da pedra de um claustro ensombreado, que os meus olhos reconheceram de tão gravada que está no meu coração e que, estranhamente, me fez perceber o que é ter saudades de um lugar que não se conhece...