sexta-feira, junho 23, 2006

Dissolução

Dissolução é o primeiro romance de C.J. Sansom, advocado doutorado em História. Trata da investigação de um homicídio, passado num mosteiro no século XVI, em Inglaterra. A capa diz "Um policial histórico que traz à memória O Nome da Rosa" (apesar de se passar dois séculos mais tarde), mas as semelhanças com a história de Umberto Eco param aqui, à excepção de um piscar de olho com uma referência fugaz ao segundo volume da Poética de Aristóteles, que se debruçaria sobre a comédia.
Sansom consege construir um enredo interessante durante a maior parte do livro, com uma escrita fluída e até cativante. No entanto cria um universo com um numero vasto de personagens, sem conseguir defini-las de uma forma profunda, criando em alguns casos figuras estériotipadas, lineares, planas. A maioria dos abades que se move no mosteiro onde a maior parte da acção se desenrola existe apenas para fazer número e multiplicar a quantidade de suspeitos, sem ter um papel fundamental na construção do enredo. O autor faz um esforço de tal maneira desmesurado para ilibar um dos personagens, mencionando o nome de todos menos o deste como possiveis homicidas repetidas vezes, que se torna evidente qual o culpado final. Pior ainda, a descoberta da trama é feita com base em apenas dois objectos que aparecem de forma fortuíta já em capítulos avançados, fazendo parecer que todo o resto do livro pouco mais serve do que encher espaço. A própria acusação final aparece tão infundada, tão vaga, que nos interrogamos se o autor fez sequer um esforço para arranjar uma forma de explicar como é que o nosso heroi ganhou a certeza de quem era o culpado.
Com uma crítica tosca e óbvia à Reforma Protestante em Inglaterra, nomeadamente aos métodos usados por Cromwell e por Henrique VIII, quase esquecendo que a tortura, a mentira, a ganância e o fanatismo não foram uma invenção inglesa, nem o exclusivo das ilhas britânicas ou dos reformadores.

É, infelizmente uma desilução, apesar de inicialmente prometer uma história mais envolvente e sem grandes pretensões.

2 comentários:

Lcego disse...

uhm... ninguém morde só come!

polegar disse...

é daquelas coisas... é preciso ler para se saber que não se gostou...