quinta-feira, fevereiro 08, 2007


Foi no Domingo à tarde sem aviso, tinha discutido com a namorada e saiu. Numa curva, num repente, sem alcóol no sangue, sem sequer segurar nas suas mãos o volante, foi ceifado por uma mota que literalmente rasgou o carro onde seguia em dois. Tinha 22 anos e o último olhar que deitou à namorada foi de raiva.
Era do meu grupo de teatro, mal dei por ele enquanto vivia, um bom dia, um aperto de mão, um abraço, pouco mais. Um colega dizia que se lembrava da última coisa que lhe tinha ouvido, nada que merecesse ser recordado, qualquer trivialidade sobre cabelo. Mas foi a última coisa que lhe ficou na memória. A mim nada. Nem uma frase me lembro, nem o tom de voz, nada, quanto muito o sorriso e os traços do rosto que rapidamente apagaria.
Ontem estava lá, deitado num caixote de madeira, rodeado de familia e amigos. A mãe e a namorada não paravam de lhe tocar, de lhe dar festas, de o beijar no rosto. Os olhos não fechavam completamente, e um risco de branco deixava-se adivinhar. Apeteceu-me dizer-lhe que parasse, que se levantasse e fosse para a aula, que fizesse as pazes com a rapariga que esvaia a alma em lágrimas. Mas ele, teimosamente não se mexeu.
Hoje é o funeral e a cremação.
Tudo o que foi e tudo o que poderia ter sido vai ser reduzido a uma urna de cinzas. Quanto aos pais e amigos fica apenas o vazio, e à namorada a memória torturante das últimas palavras, das acusações mútuas, o ruído de um bater de porta.

Quanto a mim... nada... a ténue memória de quem passou por mim e eu nem vi.

2 comentários:

polegar disse...

ai.

pinky disse...

assim é a vida
assim é a morte
a vida acaba numa fracção de segundo
e a morte aparece sem aviso,
por isso carpe diem,
aproveitar a vida até ao milésimo segundo!
um fim de semana intenso e sorridente