segunda-feira, dezembro 04, 2006

As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos


Em 1997, ainda na velhinha sala estúdio do S.Luiz onde estava sediada a Companhia Teatral do Chiado, fui ver As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos, a primeira peça que lá via sem o saudoso Mário Viegas. Fui a medo, foi para mim uma espécie de teste, saber se a companhia conseguia sobreviver ao seu fundador, mentor e actor principal, que era uma das figuras mais extraordinárias e carismáticas do teatro português. Não era tarefa fácil, a morte do Mário tinha abalado toda a gente e a sua marca era difícil de ultrapassar. João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim subiram a palco, num espectáculo que não foi inicialmente acolhido pelo público de braços abertos, e construíram, pelos seus próprios méritos, um êxito incontornável que (facto único na história do teatro nacional) se mantém há dez anos em cena.
Com a estreia a 24 de Novembro de 1996 em Portimão e depois a 28 de Novembro na sua casa no S.Luiz, a peça fez já 118 digressões e teve uma assistência de 156 mil espectadores (e trocos).
Dez anos volvidos (nove e qualquer coisa para ser mais preciso), voltei ao S.Luiz com um grupo alargado de amigos, para revisitar velhos conhecidos e saber como se aguenta este espectáculo uma década depois (agora de novo com o elenco original, ao fim de 5 mudanças). Este tempo todo mais tarde, continua com a mesma energia vibrante, a mesma força, a mesma garra e o mesmo entusiasmo que vi quando ainda tínhamos o Guterres como primeiro-ministro.
Um cenário simples (podia aliás nem ter nenhum) somos levados ao colo desde o primeiro minuto, num remoinho de loucura contagiante, onde o espectador tem muito mais que um papel passivo, pelas obras completas do mestre. O delírio é completo e as quase três horas de espectáculo (pois... não são nem de longe 97 minutos) passam a voar por entre Romeu e Julieta, Hamlet e Othelo como nunca os vimos antes. Como é apanágio desta companhia a dose de improviso é relevante e, como para tudo na vida, é preciso ter sorte no dia em que se assiste, porque se a peça vive muito do público que tem, vive também do bom humor e da inspiração dos seus actores naquela noite específica. Eu tive sorte neste regresso, a sintonia entre audiência e performers foi completa com especial destaque para a vedeta Simão Rubim. Para além de ser um actor incrível, que consegue pôr a sala de joelhos com um simples olhar (brilhante composição facial) tem também um timing cómico impecável.
Não entro em mais pormenores, mas fica aqui a recomendação, o pedido, a urgência de ir ver o show mais hilariante que está hoje em cena. A não perder.

Deixo a ferroada para o preço que... vá, não é convidativo (mas merecem). Seja como for há descontos vários e o melhor é sempre... perguntar na bilheteira.


As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos
Companhia Teatral do Chiado
Interpretação: João Carracedo, Manuel Mendes, Simão Rubim
Encenação: Juvenal Garcês
Texto: Jess Borgeson, Adam Long, Daniel Singer
Tradução: Célia Mendes
Adaptação: Companhia Teatral do Chiado
Domingos e Segundas às 21
Preço: 18,5 euros (existem diversos acordos, descontos e promoções, perguntar na bilheteira)
Teatro Estudio Mario Viegas
Largo do Picadeiro
1200-330 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 257 652
(351) 917 664 989
www.companhiateatraldochiado.pt
http://asobrascompletasdewilliamshakespeare.blogspot.com/

6 comentários:

polegar disse...

Hamlet, deleted scenes:
- apetecia-me algo
- um ferrero rocher? será que já estão na época?
- então traz-me um epá!
...
- não, oh não, não te esqueças de mim...

eu sou daquele grupo a quem o Simão já recomenda a metadona... ;)

deep disse...

Estou longe, o que é uma pena!

Boa noite e boa semana.

MPR disse...

Se metadona é mais que uma vez então estamos tramados que duas pelo menos já todos temos! LOL
Picou-se... eheh picou-se... Então e a liga dos amigos da junta de freguesia de alguidares de baixo?

polegar disse...

e os pobrezinhos do Repolho da Ramada de Baixo? hem? :P

espantaespiritos disse...

ser público deste espectáculo é ser masoquista.
e eu sou dos piores.
para começar em bem, tive de correr o palco da esquerda para a direita e vice versa. (e não tive direito a polaroid... protesto... protesto...)
já me chamaram de sem-abrigo, povo reles, drogado,entre outros epítetos.
já vi 5 vezes e aconselharam-me metadona.
mas porquê voltar?
pela alegria contagiante de ver uma peça hilariante.
por ver que 10 anos depois, os actores ainda se conseguem rir das piadas uns dos outros, ou das suas.
para ver que é possível um texto de qualidade acessivel a toda a gente.
venham mais 10 anos que comigo podem contar.

Anónimo disse...

Ontem fui ver, bem sei tarde, mas fui. Não gostei do cheiro da sala, problemas de esgoto. De resto gostei de quase tudo, quase...porque acho que nos devemos rir de nós, mas quando se chega ao exagero... ainda por cima premeditado...perde a graça e o artista perde o valor que lhe tinha dado até então. O velho, o imigrante ilegal e a loira, foram massacrados, até à completa falta de respeito, e se algum valor se podia dar pelo improviso, logo perdeu por haver uma intenção e uma procura, pois os presentes, já estavam comprados. Foi o pior da festa. Banalizamo-nos nestas pequenas coisas, perdemos os subsidios....como compreendo que decidiu.