quinta-feira, dezembro 21, 2006

Morcegos

Vi sábado passado n'O Bando em Vale de Barris a peça Morcegos. Estava em últimas representações (penúltima para ser mais preciso) e sendo eu um sério aficcionado da companhia de João Brites, não podia deixar passar a oportunidade. Produções como Os Bichos, Em Fuga, Alma Grande, Merlim, ou Ensaio Sobre a Cegueira (para mencionar uma ínfima amostra do reportório desta companhia) fazem-me ir a'OBando sempre com a certeza de ver algo original, criativo, diferente, surpreendente, e com as famosas máquinas de cena que são um espectáculo em si só.
Por ser Dezembro a peça teria necessariamente que se desenrolar dentro de portas, neste caso na nova sala que foi construída na quinta. Aqui começa o problema, ainda não vi nesta companhia uma boa peça que seja feita num teatro convencional, vivi experiências fantásticas num comboio em andamento em Lisboa, passeei de noite pelos jardins da Gulbenkian, vi abismado os actores a treparem as paredes do Convento do Beato, ou então ao ar livre em Vale de Barris, mas peças de palco raramente funcionam aqui. Exemplos disso são As Horas do Diabo que esteve no D. Maria II e O Salário dos Poetas, ambas peças menores ou falhadas. Se bem que o brilhante Ensaio Sobre a Cegueira esteve em palco no Trindade, foi conceptualmente pensado para fora de palco, este antes em Palmela e só depois foi adaptado.
O segundo problema é o texto de Jaime Rocha, que se começa com um tom de estranheza e fascínio Lynchiano, acaba por se revelar um esforço frágil, sem nexo, interesse e de alguma pobreza geral.
Para criar uma ambiência diferente, desviar a atenção do vazio da peça e substituir de alguma forma a máquina de cena que, por motivos óbvios de localização, nunca poderia ser de monta, foi escolhido utilizar percussão para acompanhar o desenrolar da acção, como se de um estranho musical futurista sem canções se tratasse. Se bem que o efeito é interessante torna-se monótono e repetitivo ao longo do tempo, condicionando inclusive a performance dos actores.
Por último o estilo de representação muito marcada, vincada que é recorrente n'O Bando, aqui ultrapassa os limites, com caras transformadas em máscaras imutáveis e guinchos histéricos que nos levam a interrogar porque é que foi levada a cena uma peça que estava condenada desde a primeira leitura.

2 comentários:

pinky disse...

grande companhia de teatro, essa!
gostei sempre de tudo o que vi deles, e até o sitio onde estão é encantador.
mas essa peça escapou-se-me.
é o dá andar em cursos intensivos, algo acaba por ficar para trás.

polegar disse...

freakalhadas! :P