segunda-feira, janeiro 29, 2007

Por Detrás dos Montes

No dia 22 de Dezembro do ano passado recebi um telefonema de uma amiga a dizer-me que eu tinha que ir ver a peça "Por Detrás dos Montes" que estava no Meridional e que ia sair no dia seguinte. Não consegui arranjar tempo. No entanto a peça voltou a cena e no sábado passado consegui finalmente vê-la. É excepcional.
Por Detrás dos Montes é a segunda peça do Projecto Províncias, que visa criar espectáculos que captem a singularidade das diferentes regiões de Portugal. Esta fala, como o título sugere, de Trás-os-Montes, e se como me disse uma amiga, o teatro serve antes de mais para me contar uma história, esta peça não o faz, conta mil. Estão lá todos, os emigrantes, os miúdos, os velhos, os pauliteiros e os agricultores, as bordadeiras, as professoras, as dores, os mitos, os costumes, a religião, os amores, os cheiros, as cores, os sons, um mundo transmontano quase mítico. E pouco interessa se ele existe tal qual, se as Floribelas não inundaram já as mentes e hábitos daquela gente, se é real, ou quase efabulado, mas é um retrato profundo, intenso, humano, místico e tocante, muito tocante, capaz de levar às lágrimas. Toda a peça – e será peça? não roça aqui o limite da dança? da música? - que não conta com palavras como meio de comunicação, está imbuída de um espírito quase mágico, que apenas se consegue com talento, dedicação, e trabalho, muito trabalho, estudo, pesquisa - foram cinco as residências artísticas - e empenho. Visualmente poderoso, marcante, com soluções cénicas simples, mas nunca simplistas ou simplórias, sempre inesperadas, sempre emblemáticas. Tem na música um dos seus elementos mais importantes e um imenso Fernando Mota, que concebeu inclusive a máquina musical que domina a sonoridade do espectáculo.
Imperdivel, absolutamente imperdível, dá vontade de ver e rever, saborear intensamente, até que o dia se desvaneça à nossa volta.

Por Detrás dos Montes


Teatro Meridional


Concepção e Direcção Cénica Miguel Seabra

Dramaturgia e Assistência Artística Natália Luíza

Interpretação: Carla Galvão, Carla Maciel, Fernando Mota, Mónica Garnel, Pedro Gil, Pedro Martinez, Romeu Costa
Espaço Cénico e Figurinos Marta Carreiras

Música Fernando Mota

Marionetas Eric da Costa

Até 17 de Fevereiro de 2007

Quarta, Quinta e Sexta - 22h, Sábado - 17h e 22h

Preço: 12€ (existem diversos descontos, perguntar na bilheteira)


Teatro Meridional
Rua do Açucar, 64
1950-009 Lisboa
Telefone: 218 689 245
Fax: 218 689 247
www.teatromeridional.net
teatromeridional@teatromeridional
.net

7 comentários:

polegar disse...

é, de facto, uma manta de retalhos de arte. em todas as cores do seu prisma. fico contente que tenhas gostado :)

Anónimo disse...

Eu fui sexta. Não gostei nada.
Achei bonito mas despido de conteúdo. As avulosas "mensagens" sensoriais vão-nos guiando mas não nos levam a lado nenhum.
No fim... fica o belo trabalho musical e um ou dois momentos bem conseguidos.
Ao contrário do Espectáculo "À manhã" que me deixou rendida.

deep disse...

Passou em Bragança, mas não fui ver por esquecimento. :(

Manel disse...

Este espectáculo foi a minha verdadeira noite de consoada - fui vê-lo a 23 de Dezembro. Também chorei, ri e deixei-me invadir pelas imagens, pelo som, pelos olhos dos actores, pela imensa sensibilidade, pelo silêncio. É um maravilhoso espectáculo.

Anónimo disse...

É o vazio total. Não se passa nada. Os actores não representam e é tudo escuro e sombrio. É um trabalho rigoroso mas um tiro no escuro longe do alvo.

MPR disse...

Interessante é ver que este é o post mais polémico que faço há muito tempo!

polegar disse...

podes crer, eu ainda hoje recebo comments desse post.
o que é curioso é que alguns são copy-paste dos que aqui se lêem.
não é, de facto, um espectáculo consensual...