quarta-feira, janeiro 24, 2007

Às quartas... porque sim!


O referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas a pedido da mulher é no próximo domingo dia 11 de Fevereiro. Quarta-feira passada fiz um post em que falava da importância deste referendo e da obrigação moral que cada um de nós tem em ir expressar a sua opinião. A partir de hoje, todas as quartas feiras, vou expor um motivo pelo qual vou votar SIM nesse referendo nacional.
São três os motivos pelos quais vou votar SIM. Hoje apresento o primeiro:

SÁUDE PÚBLICA: O aborto ilegal é um problema global de saúde pública. Por ano cerca de 10.000 mulheres entram nos hospitais com problemas resultantes de abortos ilegais, feitos nas circunstâncias mais sub-humanas que se pode imaginar. Os danos são muitas vezes permanentes, impossibilitando a mulher de voltar a engravidar (o que no caso dos adolescentes é algo particularmente grave) e até levar à morte.

A ilegalidade e a perspectiva de aborto clandestino leva a que a decisão sobre abortar seja muitas vezes adiada, levando a que sejam feitos em fases mais avançadas da gravidez, tornando-os mais penosos e arriscados.

Existe toda uma indústria ilegal que sobrevive destes abortos, cobrando preços exorbitantes. Quem os não pode pagar, nem ir ao estrangeiro, acaba por tentar fazer abortos caseiros, ainda mais perigosos, com químicos, mezinhas ou pura e simplesmente força bruta, tesouras, agulhas, quedas forçadas, todo o tipo de atrocidades feitas a si mesma no meio do desespero.
Em termos psicológicos, as sequelas de um aborto podem ser graves, sem dúvida, mas são imensamente agravadas pela forma como o aborto é efectuado. Sem acompanhamento médico, em sítios que descem muitas vezes abaixo dos níveis mínimos da dignidade humana, a mulher está sozinha e completamente desamparada.
Se o SIM ganhar os abortos passarão a ser efectuados em hospitais e clínicas públicas, com todo o apoio médico necessário, o que significa que terão consultas de genecologia, garantindo a segurança e saúde da paciente. Se o planeamento familiar e a divulgação são fundamentais, não é com o aborto clandestino que são conseguidas. É através do apoio nos locais certos às pessoas que se encontram na posição de querer abortar, é fazendo consultas com as mulheres que decidam ir para a frente, de forma a poder chegar até elas, sem censuras nem recriminações, e educá-las na sua sexualidade e nos métodos contraceptivos disponíveis, para que não sejam casos recorrentes.
Em todos os países europeus em que a despenalização existe, o número de abortos legais cresceu exponencialmente no ano da sua legalização, para depois decrescer gradualmente de ano para ano, mostrando que é levando as mulheres aos centros médicos e clínicos que se faz a educação e prevenção nos grupos de risco.
Olhando mesmo para os argumentos economicistas do NÃO, que diz não querer financiar as clínicas de aborto com os impostos, porque não dizer que os custos de tratar as mulheres que precisam ser tratadas depois dos abortos ilegais é enorme?
O NÃO está no poder desde sempre e o problema persiste, já se provou que não funciona a nenhum nível. Está na altura de mudar e votar SIM.

3 comentários:

pinky disse...

bem visto, já só faltam mesmo duas semana....
a mim não me precisas de convencer, concordo desde logo, mas são importantes todas estas manifestações e debates.

Unknown disse...

Vou ousar expor a minha opinião que não poderia ser mais contrária.. primeiro que tudo, não sei se estás a par das manifestações em Paris e Espanha que alertaram para a ilusão de se imaginar que proporcionando clínicas para o aborto isso de alguma forma alivia o sofrimento das mães que se submeteram a ele, nem sei se ouvistes os testumnhos de culpabilidade e arrependimento das mães e pais que o fizeram... nem se sabes o impacto que um aborto mesmo espontâneo provoca na vida de um casal e dos filhos futuros.. quanto mais deliberado... e se te aprecebes no impacto na natalidae que pode ter uma medida desta numa população como a nossa, em que a educação é efectivamente escassa...
Uma mãe que aborta, exceptuando talvez os casos previstos na lei, (e mesmo esses há muitas mães que não querem abortar e são forçadas)é na generalidade uma mãe que percisa de ajuda a vários níveis e está desesperada. O mais provável é que se o sistema proporcionasse não só educação e mais recursos (digo meios contraceptivos efectivamente gratuitos e educação sexual/ sexualidade no verdadeiro snetido) mas também apoio psicológico, financeiro e social a partir dos meios públicos como C de Saúde..., ela não quereria abortar... diria que é quase contra-natura e falo assim pela experiência pessoal que tenho pois trabalho com mães e crianças de meios muito pobres e muito perturbadores.
Na realidade este referendo é contra a despenalização e não a favor do aborto, o que é bem diferente. E juridicamente há imensos subterfúgios na lei que fazem com que com muita ligeiresa não haja penalização e concretamente há abortos realizados em hospitais até há às 10 semanas se a mãe alegar perturbações psicológicas. A realidade dos abortos clandestinos é trágica sem dúvida, mas será que essas mães vão querer ir a um hospital tornando pública uma situação que geralmente querem esconder?
É que as histórias trágicas que se ouvem, de mesinhas caseiras achas mesmo que vão deixar de ocorrer? E além disso, uma questão que me coloco... se a mãe tem direito a engravidar mesmo sem condições para o fazer, que direito tem de tirar a vida ao filho que gerou lá porque este ainda não tem voz?
A perspectiva do Não não é economicista isso seria demasiado redutor dizer... custa é saber que se investe em criar clínicas para assassinar crianças e não se tem igual interesse em investir em instituições, em estruturas de verdadeiro suporte a estas mães e filhos que precisam do máximo apoio possível.
Foram estas pessoas do Não que tem anadado nos ultimos anos a criar instituições como a Ajuda de Berço...mas não chega, são percisos muito mais recursos, se calhar menos rentáveis do clínicas e hospitais.
E como médica te afianço que não serão assim tantos os profissionais de Saúde que vão aceitar provocar aboros... Decidir tão drasticamente sobre uma Vida, sem dar outras opções concretas, viáveis...
parece-me que é mesmo ultrapassar o nosso lugar e papel neste Mundo e ser conivente com o assassinato dos que, por não se verem e não falarem, ficam como imagens quase do nosso imaginário, quando são gente como nós.

Desculpa os eventuais erros e se fui bruta, não é com essa intenção, apenas de partilhar a minha opinião

beijinhos
Catarina Cordovil

MPR disse...

Ok, então vamos por pontos. Existe como é óbvio sofrimento para as mães que abortam, e claro que há arrependimentos. Mas isso nada tem a ver com o referendo em questão. Quem não quiser não aborta. Uma certeza eu tenho, abortar em condições sub-humanas agrava esses problemas, para alem de acrescentar problemas físicos. Como tal criar condições para as pessoas poderem abortar com condições e dignidade AJUDA, claro que sim, ninguém diz que resolve todas as questões. E ao menos num hospital e numa clínica têm acompanhamento por médicos e psiquiatras, coisa que num vão de escada como imaginarás não existe. É claro que uma mãe que aborta está desesperada, é claro que precisa de apoio e sim a educação poderia evitar e prevenir muita coisa, mas a verdade é que as mães que precisam abortar não podem esperar pela educação do outro. O desespero delas é real e não se resolve com supostos apoios económicos ou o que seja. Esses apoios NÃO existem. Deviam existir? Sim claro. Há muito a fazer quanto à educação e prevenção? Sim claro, mas nada foi feito e uma vez mais, não é disso que trata este referendo, quanto a isso estamos todos de acordo.
As grávidas vão passar a recorrer a hospitais para abortar? CLARO QUE SIM! É gratuito ou quase e estão protegidas, a escolha de pagar um balúrdio por um aborto clandestino deixa de fazer sentido. Haverá quem não vá? Claro que sim, mas ninguém diz que TODA a gente vai ter a vida resolvida. Lá que resolve o problema para MUITA gente disso não tenho dúvidas.
Quanto à actual lei e ao “assassinar de crianças” não te vou responder já, porque isso faz parte dos outros dois motivos que vou expor durante as próximas duas quarta-feiras, se quiseres volta daqui a uma semana e discutimos outro ponto.
Por último, segundo as sondagens há 60% de pessoas que são a favor da despenalização, suponho que a percentagem seja igual nos médicos, portanto descansa que alguém se arranjará para fazer o seu trabalho e ajudar quem precisa. Para fazer abortos ilegais não existe escassez de “profissionais de saúde” sem problemas de consciência.