A Gaivota
Quando entrei na Cornucópia sexta feira passada para ver A Gaivota de Tchekov, ia com expectativas altas. O texto é considerado uma das quatros maiores peças do famoso escritor russo e a abordagem da Cornucópia foi amplamente elogiada.
Segue a história de um conjunto de pessoas na Rússia no final do século XIX, cada uma descontente, em busca, procurando algo que não tem, desiludida consigo próprio e perseguindo um amor que lhes foge. Medviedenko que ama Masha, que ama Konstantin, que ama Nina, que ama Trigorin que é possuído por Arkadina. Por sua vez Pauline, mulher de Shamrayef, ama Dorn que não ama ninguém.
Três horas e meia de peça não é fácil, principalmente a uma sexta à noite, mas não é por aí que a porca torce o rabo. Na Cornucópia peças maiores foram feitas sem que adviesse mal ao mundo. A encenação era muito boa e a cenografia impecável. O problema é que dos dez personagens principais existiam quatro que sobressaiam, o que deixava sobre os ombros desses actores carregar a peça inteira. Rita Loureiro funciona muito bem como Arkadina, uma actriz de meia idade mas que mantém o ar de uma mulher de 30, com laivos de vedetismo e forretice extrema. O problema vem dos outros três. Ricardo Aibéo, para começar pelo menos mau dos três, é igual a si mesmo. Monocórdico, incapaz da mais pequena emoção (se bem que o personagem não foge muito disto) é um dos responsáveis pela pasmaceira do segundo acto. Rita Durão não sabe fazer senão de Rita Durão. Há uma década que faz de menina, com aquele ar de menina, a cara de menina, a a voz de menina, os gestos de menina e sempre que tenta não ser muito menina lá lhe foge o corpo para a menina. É tão querida, tão ingénua, tão ai jesus, que fica presa a um único registo a peça (e a carreira) inteira. Agora a precisar de algumas aulas de teatro está Duarte Guimarães. Incapaz de carregar com a dimensão do papel que lhe foi atribuido, refugia-se em gritos e esgares, em excessos e cabotinices para aguentar as penosas três horas e trinta minutos.
Contra isto de nada serve o talento de Luis Miguel Cintra, o charme de Lima Barreto ou a graça de Márcia Breia.
A Gaivota é um espectáculo que, graças principalmente a erros de casting, se arrasta e demora. O que é pena, porque tinha todas as condições para ser uma grande peça.
1 comentário:
&%#$#&$%/#"($&%!/"#5$/&"!%$/% para esta gaivota. desculpa, amigo, mas tenho de dizer.
chata e comprida. dolorosa e medíocre. sem emoção, sem vida.
não consegui, mesmo com os devidos descontos de linguagem, gostar daquilo. nem sequer do cenário e adereços, que achei mesmo muito feios, de um realismozinho bacoco. a iluminação é assustadoramente fixa e sem vontade de criar, sequer ambientes.
salva-se a Rita Loureiro, a Márcia Breia, e poucos mais (eu não sei os nomes).
insuportável, a reverência habituada com que todos se riam e sussurravam mal o Cintra abria a boca, independentemente do que dissesse.
e revoltou-me a hipocrisia com que muita gente que dormiu e se revolveu na cadeira com o ar mais enfadado do mundo, no fim se levantou em aplausos e "bravos"... é triste, muito triste o sistema da "palmadinha nas costas". a crítica é impiedosa para os pequenos, mas para os grandes haverá sempre o comentário bajulador de quem tem medo de se sentir estúpido por não gostar. a elite, a pertença. não, isto não admito a uma companhia com tudo e mais alguma coisa para se mexer como deve ser.
só me lembrava da música... "uma gaivota, voava voava | filha da *mãe*, nunca mais parava" eheheh ;)
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