terça-feira, maio 09, 2006

Shooting Dogs


Quando, após longa ausência, fiz um levantamento dos imensos filmes em cartaz que me faltam ver (sem esquecer a Cinemateca e lamentando os que já passaram), deparei-me com este Shooting Dogs. O filme narra a história verídica de um padre e um professor europeus durante o massacre do Ruanda. Pensei logo num sub "Hotel Ruanda parte 2" e o facto de ser realizado pelo Michael Caton Jones não me deixou seguro. No entanto o que li sobre o filme era abonatório, o John Hurt merece sempre uma visita e ontem acabei por assistir à sessão das 19h10 no Monumental.
Para começar qualquer comparação com o Hotel Ruanda é meramente circunstancial, o tema é o mesmo, as situações descritas similares, mas Shooting Dogs apela a uma abordagem muito mais realista - motivada decerto pelos sobreviventes do massacre que se encontram na equipa de produção - desde as línguas que se falam, ao facto de ter sido rodado no local, passando pela apresentação directa e brutal dos actos cometidos naqueles dias. Mas Shooting Dogs não é um filme choque, não pretende repugnar com imagens violentas de sangue e mutilações, é antes um conto emocional, que narra o desespero de um povo e a indiferença a que foram votados pela comunidade internacional (como dizia uma reporter da BBC: na Bósnia quando via uma mulher morta pensava que podia ser a minha mãe, aqui são apenas africanos mortos). É um filme profundamente católico, defendendo o papel da Igreja em situações limite, que serve de base e apoio para gente que não tem mais para onde recorrer, mas é acima de tudo um filme de valores, de actos, gestos e imagens de angústia, de desespero, de esperança e de uma nobreza que, no meio da barbárie, sobressai da raça humana. É um filme duro, muito duro, directo, sem rodeios que nos faz em vergonha perceber que aqueles que com armas nas mãos vêm crianças a ser chacinadas sem nada fazer somos nós, cada um de nós, que no momento de agir se mantem indiferente ao sofrimento alheio.
Uma surpresa magnifica esta obra que me deixa a pensar como é que um homem que realiza este projecto a seguir faz o Instinto Fatal 2? Enigmas da vida...

2 comentários:

António Gomes disse...

Não vi o instinto fatal 2, mas o shooting dogs vale a pena ver, eu sou ateísta mas sei sempre que a igreja têm/teve na sociedade um papel de conforto para sociedades arcaicas.

MPR disse...

Não sou católico, nem cristão... Mas acho que limitar o papel da Igreja (para o bem e para o mal) às sociedades arcaicas um pouco redutor...