sexta-feira, maio 26, 2006

De tarde no edificio com vista sobre o comboio e sobre o cemitério do sítio de festa onde as crianças riam, passo os olhos cansados pelo monitor e aperta-me a dor de cabeça. O calor lá de fora não se sente por aqui, apenas resta a luz do sol filtrada pelo vidro e pelo cortinado transparente. Vim para o "centro" da cidade, vim da "alma" da cidade, das ruas paralelas, verticais, dos espaços largos onde desaguam os sitios esconsos do Bairro, da luz eterna guiada por milhares de passos perdidos dos turistas e dos vagabundos. Dos graffitis das lojas fechadas, dos odores a suor e mijo dos becos apertados, dos velhos de sempre, que já lá estavam quando ainda não era moda, dos restaurantes finos e dos enganos estrangeiros, das sapatarias, dos sapateiros, das igrejas escuras e velhas, que cheiram a mofo do restauro nunca acabado, dos eléctricos, dos artistas, das vizinhas, da roupa nos saguões, das pombas, dos inquéritos, dos cegos e daqueles que os não vêem, das marcas novas, das velhas cadeias, dos sons, dos espaços, das janelas, da pedra da cozinha, dos degraus inclinados, das tábuas corridas, das gaiolas, do peso das vidas e dos mortos, das tabacarias e casas de jogo, dos mercados, das lojas de tecido, da Prata, do Ouro, das ruas com nome de menina, daquele quarto andar que é vazio quando entro, que te tem nas paredes, na memória, na presença eterna dos dias, que é teu, nosso, onde tudo começou e tudo hoje acontece, na tua espera, na roupa lavada, candeeiro de tecto em luzes que marcam o andar do chão corrido, da "alma" urbana da nossa cidade, da "nossa" alma, que em si, sempre foi a tela em que pintamos os nossos dias.

4 comentários:

bolas de sabão disse...

:) fabulous!!!!

deep disse...

Gostei do texto.
Tem um bom fim-de-semana.

Anónimo disse...

tudo. assim, como um sôpro .

pinky disse...

liiiiiindo! que maravilhoso texto, bem expelido do coração.