Lisboetas
Foi considerado o melhor filme do IndieLisboa 2004, este filme de Sergio Trefaut, que já foi remontado duas ou três vezes. Desde já uma nota, o filme que está em exibição no Nimas não é o mesmo que recebeu o prémio no IndieLisboa, é uma outra versão, não necessariamente melhor ou mais completa.
A maior parte das pessoas que viu este documentário sobre emigrantes em Lisboa não concordará comigo, mas Lisboetas é um filme profundamente preconceituoso. Trefaut partiu para esta obra decidido a provar que todos os emigrantes vivem mal, são mal recebidos, são explorados e querem desesperadamente voltar para casa, de um país que os não sabe acolher e cheio de falhas (como o sistema educativo). É neste propósito eficaz, não necessáriamente pelo que mostra (excepção feita às cenas filmadas no Campo Grande), mas pelo tom que impõe, principalmente pela música triste e melancólica que acompanha toda a fita, sublinhando algo que muitas vezes não tem nada de bom, de mau, ou seja o que for (como sendo a entrada, que ocorre a bom ritmo, no gabinete de emigração).
Mas quem são as pessoas? Quem é aquela gente? O que viveu, o que sofreu, porque está cá? Que histórias tem para contar, que segredos, mistérios ou dores carrega? Aí Trefaut é omisso. Dá trabalho pesquisar, investigar, ganhar confiança, seguir cada um daqueles personagens pela vida, através do tempo. E sem dúvida que não faltam histórias para contar e sonhos desfeitos.
Mas Lisboetas limita-se a ser um objecto bem filmado, com momentos de uma beleza conseguida, que toca ao de leva nos reais problemas e vivências dos emigrantes de Lisboa, saltitando de uns para outros sem deixar marca nem rasto, para alem da deseperada tentativa de mostrar uma tristeza por detrás de cada olhar, mesmo que esse olhar seja feliz. É, neste ponto, um filme desonesto e preguiçoso. Quer provar o seu ponto de vista recorrendo a efeitos de cinema, ambiencias sonoras e visuais, e não através da verdadeira descoberta de algo para contar.
Merece a visita, que Trefaut prova ser um cineasta a ter em conta, mas tendo um olhar crítico para aquilo que ele quer mostrar.
1 comentário:
fiquei curiosa!
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