O grito do peixe
Tive medo, é verdade, tive medo. Esta semana tenho tido algum azar de cada vez que saio de casa. Foi o ZDB que não gostei nada, o Odete pelo mesmo caminho e só me lembrava da velha frase "não há duas sem três".
Ontem fui ao CCB ver a última criação de Clara Andermatt, O Grito do Peixe. Este foi um espectáculo criado a convite da Faro Capital Nacional da Cultura e tinha como permissa base a participação de alunos de uma escola de Olhão. Quando se fala em trabalhar com crianças, principalmente crianças sem formação artística específica como estas, correm-se diversos riscos. Para começar, existem limitações óbvias áquilo que elas podem e conseguem fazer, por outro lado um projecto deste tipo envolve muito tempo de ensaio e não é fácil manter um grupo de miudos atentos e interessados, principalmente quando se fala de dança contemporânea, sem nenhum tipo de estrutura narrativa que pudesse cativa-los. Existia portanto o sério risco de se desenhar algo ou perfeitamente banal e monótono ou um engano, em que na verdade os miudos fossem mais um adereço do que uma parte integrante e activa da coreografia. Para mim foi uma surpresa. Para começar é um pouco reduto chamar a O Grito do Peixe um bailado, tem elementos muito fortes cénicos, de teatro quase, artes circenses em alguns momentos e principalmente musicais, com uma banda rock com duas baterias em palco, sendo elementos participativos na coreografia e não só suporte sonoro.
Foi uma performance enérgica, gutural, carregada de sentimento, de entrega, da utilização dos corpos como elemento plástico individual, mas principalmente como massa de conjunto, em movimento constante, atingindo momentos brilhantes e inclusivé emocionais.
Com este espectáculo para mim "à terceira foi de vez"!
O grito do peixe foi um grito vibrante...
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