quarta-feira, janeiro 04, 2006

Palavras assim


Um tipo tenta e descobre que não consegue, falta-lhe o dom, o engenho, o talento e, no meu caso específico, até o número de livros lidos para poder usar com arte a palavra. Para quem me conhece pode parecer um pouco estranho. Nunca tive dificuldade em me expressar verbalmente e tenho a infeliz mania de escrever. Pode-se dizer que escrevi com regularidade a maior parte da minha existência, aos onze anos lembro-me de ter feito o meu primeiro texto, sem contar obviamente com tudo o que se faz no âmbito escolar. A escrita tornou-se numa constante, durante toda a minha adolescência passou a ser inclusivé o único escape que encontrei, a forma de manter a minha sanidade mental. É interessante hoje reler os meus velhos textos e perceber a evolução que ocorreu dos 11 aos 22. Desde então o teor do que escrevo mudou radicalmente. Acabaram-se os textos pessoais, virei-me para a ficção, argumentos nunca filmados, na verdade nunca acabados, e meia duzia de críticas de cinema numa tentativa vã de começar a escrever num jornal (estive perto, muito perto, mas infelizmente morri na praia). Desde Agosto que comecei um outro tipo de escrita. Menos cuidada, apressada, quase oral. Uma espécie de mini-diário público, este blog. Diário nem sempre totalmente aberto, honesto sim, mas escolhido, cuidado, que existem partes de mim que não são para escrutínio geral, que são só minhas. Raramente menciono os nomes das pessoas que me rodeiam, e muito, mas mesmo muito raramente falo da minha relação ou daqueles que me são mesmo chegados, pelo menos de uma forma explícita, com data e hora.
Posso dizer que tenho uma relação próxima com as palavras, apesar da mediania daquilo que eu próprio escrevo, já ouvi ou li um pouco de tudo, das maiores barbaridades às grandes declarações de amor, do insulto mais abjecto à mais subtil poesia.
Contudo, por vezes, sou surpreendido por pequenas palavras. Ontem ouvi oito pequenas palavras, nem especialmente diferentes, inovadoras ou que me revelassem algo que eu não soubesse já ou pelo menos fosse sabendo. Foram oito pequenas palavras e, de repente, apeteceu-me rir como uma criança. Oito pequenas palavras e a felicidade invadiu-me a jorros, sem medo nem pedir licença Há palavras assim...

2 comentários:

Mary Lamb disse...

Que bom! Ficas feliz com pequenas coisas e isso é a cereja no topo do bolo!

pinky disse...

óoooooo e não dizes as palavras?