quarta-feira, março 29, 2006

Conflito

Ontem a aula do workshop foi muito diferente. Como uma das pessoas faltou pela segunda vez consecutiva e vai ter uma aula de recuperação na quinta-feira o Thiago não quis avançar com as aulas normais para ela não ficar para trás. Falou-se então das ideias para a peça, que tinham sido lançadas ao de leve na última aula. Enquanto que no sábado as ideias surgiram orgânicamente através dos exercicios, desta vez tinham sido pensadas e imaginadas por nós em casa, ou na altura através do diálogo que se gerou.
Uma das coisas que o Thiago sempre evitou foi o Verbo, a palavra como forma de comunicação principal, pois esta encontra-se demasiado agarrada ao intelecto, ao racional, ao Ego e afastando-se do tipo de trabalho que ali se procura desenvolver. A Palavra como tal é fonte de conflito e discórdia e, caso não se saiba lidar com isso, pode ser disruptiva. Outra coisa para a qual sempre fomos alertados foi para as relações de amizade. A amizade é optima fora dali, ali estamos a trabalhar e como tal temos que estar abertos e receptivos a ideias, sugestões, hipoteses, não nos podemos prender à nossa propria opinião, temos que saber aceitar a crítica e as contrariedades que surgem.
As técnicas que estamos a aprender e treinar ao longo de dois meses - respiração, focalização, concentração, posição corporal - usadas para atingir um estado que permita a representação, a criação de imagens e sensações, têm que ser seguidas SEMPRE e em todas as circunstâncias, são inclusivé tecnicas que devem ser usadas durante a vida, que nos permitem sentir, interagir, relaxar, ouvir, entender.
Ontem nada disso foi feito, como a aula não foi baseada em exercicios entrámos para lá como se entrassemos para um café, a conversa que se seguiu foi intensa, transformou-se em discussão até que um dos elementos do grupo se levantou e bateu com a porta desistindo do workshop.
A culpa é de cada um de nós individualmente, cada um de nós não usou NADA do que esteve a aprender durante estes dois meses, como se nos juntassemos pela primeira vez, e por muito que se possa dizer se foi A ou B que falou mais, gritou mais ou interrompeu mais, a verdade é que houve a falta de capacidade de lidar com o grupo e a culpa disso é de nós próprios e não exterior a nós.
A saida desta pessoa foi a saida de alguem com uma contribuição muito positiva para toda a gente, que me disse um dia que só fazia falta quem lá estava. Pois ela está lá e neste momento faz-nos falta. Resta saber se o trabalho que ali estamos a desenvolver é aquilo que ela procura e se está disposta a lidar com as dificuldades e problemas que daí advêm, sabendo que a partir daqui o desistir é deixar todos os outros com problemas, porque a partir daqui o trabalho de uns depende do grupo inteiro. Ontem falhámos todos, ontem não soubemos usar aquilo que nos foi ensinado e o resultado foi o pior possivel. Saiu um dos elementos mais criativos que lá está e cuja contribuição até à saida foi inestimável.
Sei que na vida a única coisa sem retorno é a Morte. Sei que o retorno envolve problemas complexos de lidar com a auto-estima e conflitos interiores. Mas não se diz que os artistas são temperamentais? Este grupo precisa desta artista...

3 comentários:

Lcego disse...

A continuidade é a base da produtividade... a perca está em sobrevalorizar desacelarações. O esforço tem de redobrar e o entusiasmo se for suficientemente forte num contagia. Endoidece e paga a doença ...sim?! Boa sorte e bom trabalho, tou curiosa...

Lcego disse...

Corrijo a minha dislexia
perca=perda

pinky disse...

os obstáculos são comuns nos caminhos, foi uma perca sentida, mas vocês todos são muito mais do que isso! u can do it!