terça-feira, março 21, 2006

Todos os que caem

Já tinham passado dois meses e estava quase a sair de cena, por isso não podia passar deste fim de semana até eu ver o Todos Os Que Caem, de Samuel Beckett. Esta é uma peça radiofónica, nem Becket enquanto vivo nem agora a sua familia alguma vez permitiram a sua adaptação a palco. Para o fazer, a Comuna encontrou um dispositivo cénico brilhante, onde estamos perante algo que cruza uma emissão de rádio clássica, à moda antiga, e uma peça de teatro actual. A cenografia é aliás algo que marca determinantemente toda a experiência do espectáculo, maravilhando-nos com os efeitos sonoros que são produzidos em palco, como se fosse rádio - duas tábuas que batem para simular um chicote, sacos plástico para a chuva são apenas alguns exemplos - numa parafernália de ruidos que acompanham toda a acção. O palco simples, quase nu, com gravilha no chão e uma escada em fundo, permite a transformação de espaços e lugares, numa fusão temporal fluída, sem quebras ou interrupções dramáticas. O texto é... bem é Beckett, os fãs não sairão desiludidos deste universo estranho e extremo, de personagens vincadas e situações não resolvidas.
Maria do Céu Guerra encabeça o elenco com uma interpretação quase solitária (os personagens que aparecem entram e saem de cena muito rapidamente, à exepção de Carlos Paulo, numa apresentação plástica soberba) que varia do brilhante ao forçado, mas que nunca nos deixa indiferente.
Só está em cena até dia 1 de Abril e não deve ser esquecida por toda a gente que goste de teatro.


Samuel Beckett, autoria;
João Mota, encenação;
Maria do Céu Guerra, Carlos Paulo, João Tempera, Miguel Sermão, Ana Lúcia Palminha, Álvaro Correia, Hugo Franco, Alexandre Lopes, Sara Cipriano e Victor Soares, interpretação
2006/01/20 até 2006/04/01Qui a Sáb: 21h30

Preço dos bilhetes: 10,00 € (normal), 7,50 € (jovens e terceira idade), 5€ às quintas

Comuna Teatro de Pesquisa
Endereço: Praça de Espanha1070-024 Lisboa
Telefone: 217 221 770/6
Fax: 217 221 771

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem amigo,

Entristece-me o "fenómeno relacional" Becket/Jorge... Entristece-me que o comentador verborreico da vida (TU!) não tenha opinado acerca do texto de "todos os que caem" para além de um deprimente: "o texto é... bem é Beckett".
Quero acreditar que a injustiça que cometes perante um texto francamente desafiante se deve ao facto de saberes que eu o leria...


Fico à espera de melhores dias......

MPR disse...

Ui, essa paixão Marta/Beckett é forte! O comentário ao texto prossegue por mais uma frase, e tens razão é curto, deveras, curto, bem como o comentário a toda a peça, como todos os comentários a peças, filmes ou o que seja que aqui posto. É um blog, não uma critica teatral e o tempo que dispendo aqui não se coaduna com grandes dissertações...