sexta-feira, setembro 30, 2005

Homem Branco, Homem Negro.


Ontem foi noite de teatro, em boa companhia de quem já sentia saudades.
A peça escolhida foi Homem Branco, Homem Negro, de Jaime Rocha no Teatro Aberto, encenada pelo inevitável João Lourenço. A história gira à volta de dois personagens - interpretados por António Cordeiro e Carlos Paca - um branco que cola cartazes e com fortes convicções anti-racistas e um negro que pura e simplesmente não se preocupa pelo assunto, é feliz, tem emprego e familia, é português e nasceu em Lisboa, bem como os pais. A indiferença de um sobre o tema e a fogosidade do outro vai gerar uma discussão e uma ligação entre os dois.
A visita era devida, que a peça já só dura até domingo, tinha tido boas criticas e até premios. Na verdade saí um pouco desiludido devido às altas expectativas, a peça não é má, trata temas controversos até com alguma dose de humor, mas creio que a meio perde um pouco o rumo e destroi o interesse que tinha criado até então. Seja como for fica a ideia.
A temática em debate é o racismo. Segundo li o problema seria : Poderá a negação de um preconceito ser em si mesmo um outro preconceito, tão cego e desastroso como o anterior?
Mas depois de ver a peça creio que a questão é a inversa. Não poderá a defesa extremada do anti-racismo camuflar sentimentos racistas? Afinal o que é o racismo senão a separação das pessoas pela sua cor da pele, seja essa separação feita de que forma for? Creio que o estádio máximo de evolução social será (agarrando numa frase usada contra a homofobia) o direito à indiferença. O objectivo não é tolerar as pessoas que são diferentes (seja essa diferenciação feita pela cor da pele, género ou orientação sexual), não é evitar discriminar essas pessoas. O objectivo é não ver a diferença. Estar na mesma mesa com diferentes pessoas e não tirar nenhum tipo de elacção por mais nada que não a pessoa em si. Não ver a cor da pele de uma forma mais profunda que se vê a cor dos olhos. Ninguem diz temos que ser solidários com as pessoas de olhos azuis, porque a cor dos olhos não faz com que essa pessoa seja catalogada com um grupo ou tipificada de alguma forma. Essa é a grande luta, a indiferença, o indivíduo como um ser único e singular, capaz de gerar admiração ou ódio apenas pelo seu mérito e caracteristicas pessoais. Porque a partir do momento em que agrupamos pessoas desta forma, mesmo que seja para as defender, não estamos a fazer mais do que admitir que são diferentes, não são iguais a mim. Há tempos um tipo numa discussão diz-me "Dizes-te anti-racista mas quantos amigos negros tens?" Sinceramente acho que essa frase define tudo. Porque nunca lhe passaria pela cabeça perguntar: "Quantos amigos ruivos tens?"
O direito à indiferença, à individualidade, ao eu como ser único e singular. O direito a que não olhem para mim a não ser... por mim mesmo.

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