sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Descoberta

Primeira aula do workshop de teatro. Local e hora combinados Belém Clube 19h30. Era suposto sermos oito, primeira surpresa fomos só cinco, mas é provavel que sejamos em breve pelo menos seis, eu preferia sete, mas isso é a minha mania dos números. Segunda surpresa, o Belém Clube está em vistoria e tem todas as actividades suspensas durante pelo menos um mês. Ao voltar a entrar naquele pequeno espaço, teatro quase de bonecas, sinto pena, pela sua potencialmente, pela sua beleza, pela sua magia, mas a degradação do local merece as cautelas anunciadas. Problema resolvido, que a casa do Thiago é ali perto e ele tem um espaço aconchegante onde costuma dar aulas individuais. Lá fomos. O prédio é antigo, pequeno, de apenas dois andares numa rua esguia da Ajuda. Remodelado, soalho corrido, pé direito alto, paredes grossas, sala vazia à exepção de dois projectores de chão virados para a parede e seis bancos dispostos pela sala. A casa tem vida, como todas as casas antigas, elas têm história, pessoas viveram e morreram ali dentro, e os locais absorvem de alguma forma as experiências marcantes pelas quais passaram. É por isso que o Chiado tem um sentir diferente de Telheiras, é por isso que uma casa no Bairro não é igual a um condomínio fechado.
A principio tive medo que o grupo fosse pequeno demais, mas depressa percebi que não, que o tipo de trabalho efectuado se coaduna com este ambiente mais intimista. Sentados numa roda começámos por ouvir, perceber o que se ia ali realizar. Não era o que inicialmente se esperaria, os primeiros três meses vão ser focados em algo que não técnicas de representação, ou teoria de palco, vão ser três meses que procuram ir mais fundo, que procuram descobrir mais, três meses que nos vão permitir entrar em contacto com algo mais interior que serve de pedra basilar para todo o trabalho de actor.
Não é facil explicar o que se fez durante as três horas e meia desta reunião, não é facil descrever o que se disse e o que se passou, que fez com que o tempo voasse até depois das onze da noite. O essencial não é a lista de exercícios que fizemos, o aprender a controlar a respiração processo fundamental, nem o aprender a focar o olhar, o outro e a atenção. O essencial não é as demonstrações feitas pelo Thiago, sempre brilhante na composição quase automática de personagens e situações, nem tudo aquilo que foi dito acerca de ser actor, não só em palco mas também como forma de estar aberto e experimentar a realidade de maneira diferente, absorvento as vivências para ter a bagagem necessária para se expressar. O fundamental para mim foi o início de um aprofundamento emocional, um desbloquear, um abrir de portas que é um primeiro passo para ser capaz de um sentir, de uma entrega, de uma liberdade sensorial e expressiva que me permita incorporar mais tarde as técnicas necessárias à arte da representação. Incorporar... foi exactamente isso, a consciencialização do corpo, a interiorização do corpo em oposição à intelectualização como base esteriotipada de apresentar um personagem, uma emoção.
Foi uma noite de descoberta, de mim, dos outros e de um estado alternativo, mais aberto, mais livre, que me vai permitir atingir aquilo que procuro.

3 comentários:

Abelhinha disse...

Sabes o que já me ocorreu?

Que por ventura vou encontrar algo muito mais profundo do que aquilo que procuro... não vou procurar mais nada... vou apenas receber.

deep disse...

Foi um pouco como tu que me senti nas minhas primeiras aulas de expressão dramática.

pinky disse...

yep, there´s more to it than acting! parece que o workshop começou bem, cool!